E hoje é uma linda e fria manhã de inverno. Eu abri a janela por alguns minutos apenas, respirei aquela brisa gelada e depois fechei, está muito frio, pois havia nevado por toda a madrugada e agora as ruas estavam cobertas com um manto branco e fofo.

A casa estava com aroma de café com leite.

Estou sozinha hoje. Aprendi a confiar nele e permiti que saísse para uma caminhada na neve. Insistiu para que eu fosse, mas eu o convenci de que precisávamos ficar sozinhos, pelo menos por algumas horas.

E claro que ele, com aquela dedução diabólica, concordou.

Eu ainda podia vê-lo ao longe. O homem alto e magro, elegante a sua maneira, lindo e exuberante.

Mas afinal, o que está acontecendo comigo? Foi para pensar nisso que eu precisei dessas horas de silencio e solidão.

Já esta difícil disfarçar meu jeito de olhar para ele. Quase impossível não me perder no seu corpo, ainda mais quando anda sem camisa pela casa.

Sim Joan. Você está enlouquecendo!

Ele sumiu em uma esquina ao longe.

Onde será que está indo? O que deve estar pensando? E porque estou arrependida por não ter ido com ele?

Arrependida? Por estar livre dele, pelo menos por um tempo? Mesmo depois de ansiar tanto por privacidade?

Não, eu não posso simplesmente sentir essas coisas. Não por um homem como Sherlock Holmes. Poderia ser por qualquer um, mas nunca por ele.

São só coisas da minha cabeça. Ele é lindo e tem um corpo espetacular, e é claro que isso é só um desejo feminino. Claro que é apenas isso. Não, não pode ser paixão, de forma alguma....

Mas, se eu me lembro da primeira vez que o vi como se fosse ontem? Isso deve significar alguma coisa. Lembro-me que aqueles segundo foram eternos e como meu coração parou quando ele ficou a poucos centímetros de mim e falou aquelas doces palavras: “você acredita em amor a primeira vista?”. O arrepiou que correu pela minha espinha foi enlouquecedor, mesmo sendo encenação, e desde aquele dia eu percebi que minha vida estaria na lama.

É, eu deveria ter me mandado enquanto ainda tinha tempo. Mas agora não tem como sair desse lugar. Não de um jeito fácil.

Ainda estou tentando encontra-lo retornando pelas ruas brancas.

Que hora será que ele vai voltar?

As arvores estão tão lindas. A madeira está negra e sem folhas, cobertas por um manto branco e brilhante, como minúsculos diamantes. O céu está cinza, bem nublado. Da mesma maneira que estou agora sem aqueles lindos olhos azuis.

Merda, eu não posso aceitar. Não posso admitir que estou gostando dele.

Afinal, o que é o amor? O que é amar alguém? É ficar parada na janela da sala admirando a paisagem urbana? Suspirando e ansiando a volta dele?

Não não não não não... meus olhos estão marejados e meu peito apertado. Ok, eu estou apaixonada, perdidamente apaixonada.

Mas porque? Porque em meio a tantos homens legais o meu coração escolheu justamente o mais complicado e difícil de todos eles? Escolheu SHERLOCK HOLMES.

Esse é então o meu castigo? Amar o homem que lê pensamentos? Ótimo.

Com certeza, assim que ele voltar, ele vai sorrir e despejar aquele maldito sorriso em mim. Como se falasse: “Ahá, eu sabia!”

Mas não vejo a hora que ele volte. E meu sorriso bobo me entrega, porque no fundo eu quero aceitar, mas não posso. É perigoso e eu só tenho chances de sair machucada.

E meu coração esta paralisado agora. Ele está ali, na calçada na nossa porta, com as mãos escondidas dentro dos bolsos do casaco, o cachecol bem preso ao pescoço, botas enterradas na neve e a fumaça saindo pela sua respiração ofegante. Ele está me encarando, sorrindo por ter me pego de surpresa. E ele sabe, é claro, que eu estava pensando nele.

Como que eu não o vi chegando?

Minúsculos flocos de neve caiando sobre seu rosto. Meu cérebro fotografou inconscientemente essa cena, pois ele está impecavelmente maravilhoso. E ele ficou ali, parado de frente para a janela, olhando para o alto com os olhos fixos nos meus.

Não resisti e desviei os olhos para o chão, sorrindo como boba e coloquei meus cabelos atrás da orelha. Olhei para ele mais uma vez. Ele também olhou para o chão, rindo como se achasse aquilo... fofo? É, é isso que estou vendo nele agora. Nunca o vi sorrindo desse jeito.

E se ele estiver caçoando de mim?

Não, claro que não está.

Ele voltou a me olhar e deu uma piscada. Aquilo me desconcertou e imagino o quanto minhas bochechas se avermelharam.

Naquele momento eu percebi que, talvez, eu não fosse a única que estava confusa e com medo. Afinal, ele também é um ser humano e que nunca mente para mim. Omite, eu admito, mas não mente.

Ele moveu os lábios, sem omitir som, apenas uma nevoa embaçado saiu por seus lábios. E eu li o que ele sussurrou: “Você acredita em amor a primeira vista?”

Sim, meu coração está a ponto de saltar pela garganta e eu ri e chorei ao mesmo tempo. Como uma imbecil apaixonada.

Não devo mais negar a mim mesma e meus olhos o seguiram até ele sair do meu campo de visão. A porta estava se abrindo.

Eu ainda não havia admito, mas meus olhos nunca irão negar. E ele jamais vai deixar de saber.

É... o meu amado imbecil e “inútil” havia voltado para casa.

E eu nunca me senti tão feliz na minha vida!