Um forte calafrio percorreu a minha espinha. Eu não sabia se eram os Ceifadores que se aproximavam ou se era algum tipo de aviso.

– Lissa. - eu disse. - Zattara vai atrás de alguém que eu conheço. Parece que esse alguém vai morrer.

– Ou...ela está usando isso pra assustar você. - acrescentou ela. - De qualquer forma, é um risco que estamos correndo.

Uma feroz batalha estava prestes a acontecer, e eu tinha que impedir. Além disso, teria que correr contra o tempo a fim de saber quem era a pessoa que iria morrer.

Mil imagens passaram na minha cabeça, mas nada se concretizava, devido ao meu desespero.

– Você vai na frente com os seus amigos. - Lissa propôs. - Vou tentar interceptá-los pra evitar o pior.

– Mas, e se você não conseguir? - eu disse, com medo.

Ela girou meus ombros e me olhou.

–Não vai acontecer nada. Confie em mim.

Eu sustentei aquele olhar. Por muito tempo, considerei Lissa como a irmã mais velha que eu nunca tive. Ela me transmitia uma sensação terna quando estava por perto. Com certeza, ela não era a minha Morte.

– Vai! - ela me empurrou. - Vocês também! - chamou Jane e Jennifer, e, depois, se virou para Leon. - Você, grandão, cuidado com ela, ouviu? - e deu um sorriso maroto, o qual Leon respondeu com uma gargalhada.

– Que história é essa de que alguém vai morrer? - Leon quis saber.

– É verdade - contestei. - Pode ser qualquer um; a qualquer momento.

– Então, temos que nos apressar.

Ao olhar para trás, não vi mais sinal de Lissa ou de outro Ceifador. Estranhei. O grupo de Kate parecia tão perto...Seria uma tática? Uma distração? Uma armadilha?

As Mortes são instáveis...nós nos aproveitamos dos detalhes e dos descuidos, dissera Lissa.

– Os Resgatadores não podem vir contra o território dos Ceifadores dessa maneira! - falei.

– Luna, seu pai não vai medir esforços pra te salvar. - Leon disse.

Alguns galhos estalaram próximos a nós.

– As fugitivas! - era a voz de Kate. - Rápido!

– Corre! - Jane esbarrou em mim quando correu.

Um forte ronco de motor irrompeu os meus ouvidos.

– Como sabe que Zattara vai matar alguém? - Leon perguntou, segurando minha mão.

– Ela sentiu - contei. - Ela simplesmente saiu dizendo que tinha chegado a hora de um "certo alguém" morrer.

– Luna. - Leon me parou, segurando meu rosto. - Me prometa que não vai mais correr atrás de perigos. De certa maneira, a Morte só está fazendo o seu trabalho. Existem zilhões delas.

– Mas Zattara não é uma Morte qualquer - eu o lembrei. - Ela quer passar por cima de mim!

Ele me olhou ternamente.

– Zattara quer passar por cima de todos nós. Você precisa ter cuidado. Um Resgatador sempre tem que desconfiar. A esperteza é a maneira mais fácil de manipular alguém. E aqui, no mundo paralelo, ela é mais utilizada do que nunca.

– Está dizendo que não sou esperta?

Ele deu um sorriso sexy.

– Me preocupo com você. Não quero e não posso perdê-la.

– Está dizendo isso por mim ou pelo meu pai? - fui sucinta.

Ele fez um muxoxo depreciativo.

– Meio que...as duas coisas.

– Idiota! - ele me puxou, e não pude conter a risada, e nos beijamos.

Mesmo no meio daquele caos, nosso beijo não deixou de transparecer todo o ambiente. A sensação parecia irradiar por todos os lados. Os Ceifadores podiam aparecer, mas nada estragaria aquele momento. Eu não tinha mais dúvida - minha alma queria a de Leon, como a deles ansiava pela minha.

– Mas o que é isso?!

A voz indignada soou surpresa também. Tive que me esforçar para tirar os olhos do semblante de Leon. Suas safiras azuis-turquesa faiscaram.

Airon nos olhava estranho. Ele parecia não entender o porquê de estarmos ali, enquanto éramos caçados por Ceifadores.

Ou ele nos viu dando um beijo?

– Leon? - ele disse novamente, olhando para Leon de um jeito azedo. - Pode me explicar por que estava beijando a minha filha?

Não. Ali não.

– Não devia perguntar por que não estamos fugindo? - eu tentei ser brincalhona, o que não deu certo. Airon parecia muito perigoso naquele momento.

– Você foi somente o Resgatador dela. - ele continuou se dirigindo somente à Leon, me ignorando totalmente.

– Airon...as coisas mudam. - Leon foi até ele. - Eu me envolvi demais, só isso.

– Não quero que isso se repita. - decretou Airon. - Você não pode namorá-la. - e apontou-lhe o dedo em riste.

Leon riu.

– Está falando sério? Escutou o que acabou de dizer?

– Eu estou aqui! - lembrei. - Você não pode fazer isso. Não tem o direito de interferir na minha vida. Você só apareceu agora.

Aí ele me notou.

– Leon é um bom rapaz - ele voltou a olhá-lo devagar. - Mas ainda tem muita coisa pra provar. Luna... - ele parecia nervoso em pensar em opções para impedir nossos argumentos. - Ainda é nova nisso. Vocês dois podem não dar certo.

Como ele podia fazer aquilo! Não podia se intrometer na minha vida daquela maneira!

– Airon - engoli em seco. Não quis chamá-lo de pai. Meu orgulho não permitiu. - Alguém corre perigo. Zattara vai matar alguém que conhecemos.

– E quem é?

– Aí é que está. Essa pessoa...

Fui interrompida por um espasmo repentino, seguido de um lampejo com um forte calafrio. Segurei atônita as mãos de Leon, enquanto tudo o que eu enxergava ia virando imagens borradas.

Mais uma visão tomava conta de mim.

Me vi novamente em meu próprio corpo. Dessa vez, eu estava invisível para os outros. Eu andava no meio da multidão desesperadamente; com o peito apertado - mas não por mim.

Era por outra pessoa.

A multidão parecia não ter fim. Por todos os lados, enxergava várias formas negras que tomavam conta de tudo. Estavam nos semáforos e hospitais - em toda a parte.

Até que cheguei em um lugar conhecido. Forcei meu cérebro a lembrar que local era aquele.

Foi quando vi Jason saindo do colégio. Ele estava muito triste e abatido; parecia até que tinha chorado.

Ele pensava em mim. Achava que eu estava morta.

Assim que chegou no carro, uma garota de cabelos castanhos se aproximou dele e o beijou.

A visão mudou. Jason agora estava em uma festa agitada. Ele tinha bebido muito. Quando me aproximei, vi que ele olhava uma foto minha. A mesma garota o pegou pelo braço e foi subindo com ele até um quarto, onde começaram a tirar a roupa e se jogar na cama.

A visão mudou novamente. Eu estava mais angustiada dessa vez. Jason saía do que parecia ser o cinema, com a mesma garota. Ele parecia mais feliz, só que eu sentia que algo terrível ia acontecer com ele.

Era um fim de tarde, e o trânsito estava agitado. Jason e a garota entraram no carro dele e encararam o trânsito perigoso.

Foi quando vi Zattara. Ela observava o carro de Jason se aproximar, sorridente.

Quando o carro de Jason passou pela encruzilhada movimentada da Grande Avenida em alta velocidade, uma buzina alta de um caminhão soou; mas não teve tempo.

Eles se chocaram e o carro de Jason ficou completamente destruído.

Voltei a mim mesma completamente desnorteada.

– Luna! - Leon me chacoalhou. - Teve outra visão?

– Ah, meu Deus... - gemi baixinho. - Zattara, não...

– O que você viu? - Airon quis saber, esquecendo a situação tensa com Leon, ficando preocupado.

Eu fiz silêncio por um momento.

– Acabei de descobrir quem é a vítima da Zattara.

– E quem é? - Leon perguntou com cuidado.

– Jason. - respondi. - Ela vai atrás de Jason...e vai matá-lo.