Nossa Eterna Usurpadora escrita por moonteirs


Capítulo 74
30 Horas e a Conversa.


Notas iniciais do capítulo

Feliz ano novo, meus amores!!!
Desculpem a demora em postar esse capitulo, eu realmente tentei de tudo para terminar de escrever logo, mas não teve como. Mas mesmo assim, eu espero que vocês gostem do capitulo, ele foi o maior que eu já escrevi.
Boa leitura ♥



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As horas posteriores foram as piores para os dois, tanto Paulina quanto Carlos Daniel sofreram pelo peso de uma realidade que dificilmente poderia ser mudada. Aquela sexta-feira de revelações, aflições, descobertas, idas ao hospital e discurssões deixou como presente duas mentes atordoadas, duas consciências que gritavam por serem ouvidas e dois corações machucados por amarem tanto.

Um Carlos Daniel aflito e seu olhar perdido eram a reflexão do que se passava por sua cabeça. Após chegar em casa, ele não conversou ou desabafou, apenas decidiu fugir de sua nova realidade e se trancar no escritorio da mansão, com suas tristezas, culpas e aflições. Talvez pensando que o álcool pudesse calar a voz da sua consciência, ele também levou consigo uma garrafa de uísque, e mesmo com o passar das horas e o fim do líquido, ele não havia sido capaz de esquecer tudo o que o atormentava.

A vida não é sobre o que acontece com você, mas o que você faz com o que acontece com você.

“30 horas. Se passaram trinta intermináveis horas desde a minha conversa com a Lizete. Uma conversa que me abriu os olhos, me fez pisar na realidade, mas acima de tudo me permitiu ter forças para seguir em frente na minha vida. Não posso ficar parado remoendo essa realidade, infelizmente não posso fazer nada para mudar o passado e sua consequências, mas posso agir e trilhar o meu futuro, um futuro que eu quero dividir com a mulher da minha vida. Não ouso dizer que fazer a Paulina me perdoar e voltar pros meus braços vai ser fácil, pelo contrario, minha mente grita dizendo que isso é só uma ilusão, que nunca mais vou voltar a tê-la em minha vida, mas não posso desistir. Morro de medo que a voz da minha razão acabe ganhando a batalha com o meu coração, morro de medo de ver nos olhos verdes dela rancor ao invés de amor, morro de medo de ter a certeza que eu já a perdi. Mas não posso me render, não depois da minha filha ter olhado em meus olhos e ter dito que ainda acreditava no amor que sempre viu enquanto crescia, um amor que já venceu inúmeros desafios, um amor que era taxado de impossível, um amor que preencheu meus dias mais sombrios, um amor que não tem fim, um amor que não pode ter fim. Por esse amor, eu vou lutar contra tudo e contra todos. Vou lutar pelo perdão de Paulina e por um sinal de esperança para nossa história que só ela pode me dar. Por essas 30 horas, a palavra “lute” dominou minha mente e me acompanhou enquanto Lizete e Isabela recebiam alta do hospital. Voltamos para casa no sábado pela manhã, e desde aquele momento eu fiquei trancado nesse escritório, pensando e refletindo nos próximos passos da minha vida. Não posso mentir ao dizer que não fiquei triste ao rever nossas fotos de casamento, ao ver as recordações dos nossos primeiros anos juntos, ao ver o sorriso dela em cada fotografia, ao saber que aquilo eram apenas memórias de uma outra vida. Uma vida onde rimos e choramos, onde cada dia era o paraíso, onde eu podia sentir o cheiro e olhar nos olhos dela, onde nossos filhos cresciam felizes e fortes, onde nosso amor prevalecia... uma vida que foi transformada em pesadelo quando ela teve que ir embora. A voz de Lizete falando “lute” fraquejou quando me lembrei de outro lado da moeda, de outra situação que eu daria tudo para poder ter evitado, Deus sabe como a idéia dela estar casada me atormentava. Não, ela era casada comigo, comigo. Eu era o único que podia ter o privilégio de chama-lá de esposa, o único que podia tê-la nos braços, o único que podia tê-la perto, o único que podia dizer as palavras que ela precisava ouvir, o único que ela dizia que amava. Mas a realidade é que agora quem podia fazer tudo isso era outro, e isso me matava aos poucos. O que piorava era saber que o amor que eu via refletido nos olhos dele por ela, era algo recíproco. Infelizmente, ela também o amava. Minha Paulina amava outro homem e eu senti isso no momento em que a beijei. Aquele foi um beijo diferente, não apenas pelos 15 anos que nos separaram, mas por sentir que ela estava dividida. Sim, quando nossas bocas se encontraram eu senti amor, mas também senti culpa. Meus medos em lutar por ela vem daí, do amor que ela sente por ele ser maior do que o que ela sente por mim, ou pior, da raiva e decepção vencerem qualquer lampejo de amor que ainda existe. Mas não posso desistir, não posso, se eu tiver 1% de chance eu vou me agarrar a isso, por que nada é impossível para os que amam, e eu vou provar para a Paulina que o meu amor é sim verdadeiro.”

Do outro lado da cidade, outra pessoa também havia sido atingida por sua razão, sua consciência e seu coração. Ver Alejandro passar pela porta furioso, mas sobretudo magoado com as ações que ela tomou, fez com um o chão de Paulina desaparecesse e a culpa lhe invadisse.

“30 horas. Já se passaram mais de trinta horas desde que o Alejandro saiu de casa e até agora não mandou nenhum sinal de vida, e toda a culpa é minha. Eu magoei o melhor dos homens por não medir as consequências de meus atos, mas não pude evitar, eu não tive a capacidade de recuar a aproximação ou impedir o beijo, e esse é o pior dos problemas. Minha culpa não vem do beijo, o Carlos Daniel não forçou ou me obrigou a beija-lo, pelo contrário, eu também queria sentir novamente o sabor de seus lábios. Não posso culpar pela preocupação com Lizete ou a fragilidade que dominava meu corpo por ver minha princesa na cama naquele hospital sem poder fazer nada, não! A verdade toda é que eu continuo amando o idiota do meu ex-marido, e precisava sentir novamente o toque de seus lábios nos meus. Apesar de tudo que aconteceu, eu o amo, e infelizmente, acho que sempre vou amá-lo. Tudo seria tão mais simples se eu tomasse uma decisão e seguisse meu coração, mas o problema esta justamente aí, meu coração está dividido. Amo o Carlos Daniel, mas também amo o Alejandro. Como pode ser isso? Como posso estar dívida entre dois amores? Como posso amar dois homens? Eu sempre acreditei que na vida nós temos uma só alma gêmea, e que quando a achamos temos a certeza de que nosso coração pertence a aquela pessoa. Quando estava com Osvaldo, eu pensava que ele era o amor da minha vida, mas depois que conheci Carlos Daniel, vi que o que senti por ele era muito maior do que eu sentia por aquele com quem eu pretendia me casar, isso é claro, antes dele me abandonar. Assim que vi o Carlos Daniel meu mundo veio a baixo. Naquele aeroporto eu estava atormentada por ter que viver a vida da minha irmã por um ano, eu temia que logo me descobrissem ou que pior, o marido dela quisesse ter sua mulher a todo o custo na cama. Mas quando Lizete veio até mim e se abraçou em minhas pernas, ali meus temores sumiram por um instante, voltando apenas, com toda a força, quando Carlos Daniel chegou perto e selou nossos lábios. Lembro que meu sangue congelou e eu não consegui pensar em nenhuma reação cabível, apenas parei e o olhei. E no momento que vi seus lindos olhos castanhos fitando os meus, e aquele enorme sorriso que dominava seu rosto, eu senti meu coração pulsando mais forte. Se foi amor a primeira vista? Talvez. Eu tentei de tudo para não me render a aquele amor, mas quando dei por mim, era tarde demais. Eu o amava e sofria por o amar. Depois de vencer todos os obstáculos e nos casarmos, eu tinha a certeza que estava vivendo um amor de conto de fadas, onde todos viveriam felizes para sempre. Mas infelizmente, não foi assim. Se vivemos felizes? Sim! Carlos Daniel foi o motivo de meus sorrisos e ele me deu meus tesouros, meus filhos. Porém, como posso fazer com que as boas lembranças sejam perpétuas quando a cena dele e da Paola vivendo felizes e apaixonados não saí da minha mente. Todas as vezes que eu fecho os meus olhos, eu vejo ela vivendo a minha vida, sendo a mãe dos meus filhos e ele a olhando com o mesmo olhar apaixonado que antes era destinado a mim. Ele não havia percebido a troca, não foi capaz de notar as diferenças entre duas mulheres tão iguais por fora, mas totalmente opostas na personalidade, e esse sempre foi o meu maior medo. Desde o tempo que me apaixonei por ele até inclusive nos nossos anos de matrimônio, a possibilidade do amor dele ser condicionado a minha semelhança com Paola me assustava. Eu nunca consegui tirar completamente a voz da minha cabeça que me dizia “Você é apenas uma substituta. Ele só esta com você por você se parecer com a mulher que ele nunca vai deixar de amar. Ele só esta com você por você ter o mesmo rosto, mas sem o passado podre. Você sempre vai ser uma usurpadora. Ele não te ama, ele sempre vai amar ela”. E essa voz ganhou força quando acordei na cama daquele hospital e descobri que ele continuou a vida dele, feliz e apaixonado por uma mulher que não era esposa dele. Quando meu mundo caiu, Alejandro surgiu como um anjo para me resgatar da escuridão que estava a minha vida. Eu não tinha perspectiva nenhuma a não ser a vingança, meu coração estava sendo tomado pelo rancor e pelo ódio, e eu estava me tornando uma mulher fria e amargurada. Mas o Ale me puxou de volta para a luz com o seus cuidados, seus carinhos, suas mensagens de apoio e amizade. Sem perceber, nossa amizade, nossa irmandade cresceu e ultrapassou os níveis de apenas solidariedade. Aos poucos eu comecei a ama-lo de uma forma pura e sincera, aos poucos fui me recuperando da dor que sentia, aos poucos eu fui deixando o ódio dar lugar para um novo amor. Talvez a convivência do dia a dia tenha ajudado, talvez a forte presença dele em cada momento dos meus dias tenha contribuído, talvez tenha sido todo um conjunto de circunstâncias que nos uniram, talvez não, talvez tenha sido o universo me dando uma nova oportunidade de ser feliz. Foi em isso que acreditei e foi nisso que me agarrei, tanto que três anos depois de termos nos conhecido, nós nos casamos. E tempos depois de ter começado uma nova vida, meu filho Fernando chegou para completar ainda mais nossas vidas. Alejandro me deu um filho, me deu uma vida nova, mas acima de tudo ele me deu a oportunidade de amar novamente. E o que eu faço? No primeiro dia que encontro o homem que quebrou meu coração, eu o beijo. Meu Deus! Como detesto não poder deixar de amar Carlos Daniel e como me sinto absurdamente culpada por estar dividida. Tenho todos os motivos para amar o Alejandro, e tenho todos os motivos para odiar Carlos Daniel, mas sou incapaz de fazer. Durante essas 30 horas que o Alejandro saiu de casa, eu fiquei trancada aqui nesse quarto encarando o movimento das cortinas com o toque do vento, não necessariamente observava, minha mente apenas estava perdida e meu coração estava confuso por amar os dois. Chorando e pensando, eu vi o tempo passar, vi o dia se transformar em noite e vi o sol dando lugar para as estrelas. Ignorei também todas as chamadas da minha empregada me avisando sobre cada refeição pronta ou apenas questionando-me se eu estava bem, deixei que o silêncio a respondesse. Meu coração foi mais esmagado quando ouvi a voz preocupada de Fernando batendo na porta, ele chamava por meu nome, implorava para que eu o deixasse entrar, mas eu apenas conseguia dizer que precisava ficar só. Sabia que ele não se daria por vencido e também odiava o deixar angustiado, mas não podia mostrar o meu desespero e minha fragilidade para o meu filho, para isso eu teria que contar sobre o que estava acontecendo, e eu não podia contar dos segredos da minha vida, do meu passado, uma vez que também refletiam nos dele. Não! Eu não podia revelar o segredo que carreguei e escondi dele por anos, não! Preferia deixar o tempo passar e tudo se ajeitar, talvez fosse rápido, talvez demorasse, talvez levasse uma eternidade, eternidade esta que já se perdura por trinta horas”.

Cansada de ficar sofrendo pela voz que ecoava em sua mente, Paulina decidiu levantar da cama e sair daquele quarto, devia isso não apenas a ela, mas também ao seu filho que havia passado esses quase dois dias batendo na porta do aposento preocupado com ela.

Paulina: Bom dia, Rosa. – Disse a tentando sorrir a doce senhora que estava na cozinha.

Rosa: Senhora, Paulina! Bom dia! Nossa, graças a Deus a senhora saiu do quarto, eu estava tão preocupada.

Paulina não conseguiu responder, apenas tentou esboçar algum tipo de sorriso para acalmar a senhora aflita a sua frente. A verdade era que para ela Rosa era mais que uma empregada, assim como Alejandro, ela também esteve presente nos piores dias de sua nova vida, e de uma forma ou outra ela foi o apoio e conforto que Paulina necessitava. Era como sentir-se protegida, como se sua mãe ou a vovó Piedade estivessem presentes.

Rosa: A senhora quer alguma coisa? Já já eu preparo o seu café da manhã.

Paulina: Não, Rosa, não se preocupa. Não estou com fome.

Rosa: Como não se a senhora não comeu nada durante todo esse tempo? Não pode, vai acabar ficando doente assim. Tem que comer algo, nem que seja uma fruta.

Paulina: Ta, tudo bem, vou comer uma maçã então.

Rosa: Vou buscar agora mesmo.

Paulina: Eh...Rosa, o Alejandro ligou ou veio aqui?

Rosa: Sinto muito, senhora, mas não. Desculpe.

Paulina: Não se preocupe, ele vai aparecer. Ele tem que aparecer. – A segunda parte da frase soou como um sussurro, como se fosse algo que ela mesma tentava se convencer.

Rosa: Vai sim, dona Paulina. O seu Alejandro não consegue viver longe da senhora. A senhora vai ver como daqui a pouco ele vai estar passando por essa porta.

Paulina: Assim eu espero, mas... e o Fernando? Sabe se ele já acordou?

Rosa: Ai dona Paulina, aquele ali pulou da cama hoje. Acordou junto com o sol e já saiu.

Paulina: Saiu?? Ele disse onde ia?

Rosa: Ele disse que ia resolver o problema, não sei se ouvi direito, mas parece que ele ia procurar o pai.

Paulina: o Fernando foi procurar o Alejandro???

Rosa: Sim senhora, acho que sim. O fato é que ele ficou muito preocupado com a senhora, bom, todos nós ficamos. E como o seu Alejandro não aparecia em casa, eu acho que ele ligou os pontos.

Paulina: O Fernando não devia ter ido atrás do pai.

Rosa: Por que? A senhora não quer que ele volte.

Paulina: Não, não é isso. É que... é...ai Rosa, a culpada fui eu. Eu fiz besteira e não sei se o Ale vai poder me perdoar um dia. – Paulina não aguentou tudo o que sentia e começou a chorar.

Rosa: Senhora, não fale isso. O seu Alejandro lhe ama, e independente do que tenha acontecido, eu sei que tudo vai se ajeitar e vocês vão superar esse problema.

Paulina: Não é tão fácil assim, Rosa.

Rosa: Sei que não é, mas você precisa ter fé que tudo vai se resolver e acima de tudo, precisa acreditar que o amor de vocês é forte o bastante para superar qualquer problema. Querida, o amor é capaz de ferir nossos corações, mas ele também é poderoso o bastante para nos curar. E sei que logo logo o seu amor vai estar entrando por aquela porta e vocês vão se acertar. Eu acredito nisso, dona Paulina, acredite também.

Por coincidência ou jogo do destino, naquele exato momento a campainha toca fazendo surgir um lampejo de esperança nos olhos de Paulina e na empregada. Enquanto Rosa vai rápidamente abrir a porta, ela permanece na cozinha com o maior dos sorrisos nos lábios e com o seu coração saltidando pela expectativa. Sua expressão apenas muda quando vê Rosa voltando da sala sem Alejandro e com uma expressão questionadora.

Paulina: O que foi, Rosa? Cade o Alejandro?

Rosa: Ah...Não é o seu Alejandro.

Paulina: Então quem é?

Rosa: É um senhor que disse que precisa falar com a senhora.

Paulina: Ele disse o nome ou qual era o assunto?

Rosa: Não, ele só disse que precisava falar com a senhora, mas é que eu achei estranho uma coisa.

Paulina: O que?

Rosa: É que eu sei que pouca gente sabe que seu nome verdadeiro é Paulina.

Paulina: Sim é verdade, apenas você e o Alejandro, nem o Fernando sabe disso. Por isso que vocês evitam me chamar por esse nome aqui em casa.

Rosa: Pois é, mas esse homem sabe. E o pior é que ele não lhe chamou por Paulina, ele lhe chamou de Lina.

Paulina: Li...Lina? Ele me chamou de Lina? Ai não. – Disse ela e logo em seguida foi em direção a sala onde o tal homem misterioso a aguardava. Misterioso talvez para Rosa, porque Paulina sabia perfeitamente quem ela encontraria.

Paulina: O que você esta fazendo aqui? Como descobriu onde eu morava?

Carlos Daniel: Eu precisava falar contigo.

Paulina: Carlos Daniel, eu não tenho nada, NADA pra falar com você. E você ainda não me respondeu, como descobriu onde eu morava?

Carlos Daniel: Bom, a Lizete pensou que...

Paulina: Não precisa terminar, conhecendo-a do jeito que eu a conheço eu já imagino. – Ela respirou fundo, fechou os olhos e tomou coragem para enfrentar aquela situação. Ela não podia fugir da conversa com Carlos Daniel, mas também não podia permitir que Rosa ouvisse qualquer coisa, apesar de estar com ela desde o começo dos dias turbulentos, a empregada não sabia de todo o passado de Paulina.

Paulina: Rosa, você pode ir no supermercado e comprar os ingredientes daquele prato que o Ale gosta? Hoje eu vou fazer uma comidinha pro meu maridinho. – Disse enfatizando a última palavra.

Rosa: Eh...tudo bem, senhora. Vou agora mesmo.

Depois de ver a empregada sumindo de seu campo de visão, Paulina conduziu Carlos Daniel até o seu escritório, onde indicou a cadeira frente a mesa dela para ele se sentar e sentou-se na sua poltrona executiva.

Paulina: Pois bem, senhor Bracho. Qual é a urgência do assunto que o senhor tem a falar que o obrigou a me importunar em um domingo de manhã?

Carlos Daniel: Para com esse formalismo, Paulina.

Paulina: Não vejo porque parar, uma vez que isso trata-se de uma conversa de negócios.

Carlos Daniel: Não vim aqui para falar sobre negócios, e você sabe disso!

Paulina: Se não veio por isso então não temos mais nada a falar. Passar bem!

Carlos Daniel: Nem pensar que eu vou embora sem conversarmos, não adianta me tratar como um desconhecido, nós sabemos nossa história.

Paulina: Meu maior sonho é esquecer desse passado que vivi contigo!

Carlos Daniel: Mentira.

Paulina: Agora eu sou mentirosa?

Carlos Daniel: É sim, é mentirosa a ponto de não aceitar o que sente.

Paulina: Carlos Daniel, vai te pra merda. Quem você pensa que é pra dizer que eu não aceito o que eu sinto?? Se isso acontece é por sua culpa, por sua maldita culpa!

Carlos Daniel: Sim, a culpa é minha, pode falar, pode gritar, pode me bater, eu mereço. Sei que eu tenho a culpa, só eu.

Paulina: Ainda bem que sabe! – Ela se levanta da cadeira e segue em direção a janela que havia ali com vista para o jardim, e de costas para ele, ela tenta limpar as lágrimas que escorriam por seu rosto.

Carlos Daniel: Lina, me escuta, só te peço que me escute. A minha intenção ao vim aqui não foi te fazer chorar ou te causar problemas. Deus sabe como a última coisa que eu quero é te fazer sofrer mais do que eu já fiz. – Ele também se levanta e segue até ela que continua de costas para ele – Mas eu preciso que você me escute, pode me bater depois, mas agora escute o que eu tenho pra te falar.

Paulina: Fale. – Foi a única coisa que ela consegiu falar sem que o choro embargado não atrapalhasse.

Carlos Daniel: Por favor vira, Lina. Quero falar olhando nos teus olhos.

Paulina: Não, Carlos Daniel, fala logo.

Carlos Daniel: Por favor.

Paulina mesmo relutante aceita o pedido e se vira para Carlos Daniel, deixando que ele visse que seus verdes olhos já haviam sido tomados pelas lágrimas que insistentemente escorriam por aquele alvo rosto. Mesmo sabendo que deveria manter limites entre os dois para que ela não o desprezasse de uma vez por todas, ele aproximou-se e tocou em sua face, limpando com os dedos os rastros molhados da pele dela.

Carlos Daniel: Meu amor, me perdoe.

Paulina não aguentou o contato das mãos dele com o seu rosto, nem a proximidade entre seus corpos, muito menos a mirada dele indo de encontro com a sua, e após ouvir aquelas palavras ela caiu no choro. Chorando tudo o que havia sido guardado em seu peito por 15 anos, tudo o que ela havia escondido em seu coração para se fazer de forte, tudo aquilo que a atormentava todas as noites e em cada fechar de olhos.

Carlos Daniel não pensou nenhum instante antes de puxa-la para seu corpo e envolve-la com seus braços. Ele a abraçava com toda a força tentando fazer com que a dor dela se transferisse para ele. Ele sabia que era o culpado por cada lágrima, e isso era o que o torturava mais. A mulhe da sua vida havia sofrido mais do que ele podia imaginar e ele não pode a proteger, não pode a proteger de si mesmo e da cegueira que o dominou durante aqueles anos.

Carlos Daniel: Por favor, me perdoe, me perdoe, eu não aguento te ver assim. Me perdoe, minha vida.

Paulina: Como espera que eu te perdoe? Se coloca no meu lugar, você não percebeu que não era eu!

Carlos Daniel: Eu sei, eu fui o maior estupido de todos. Nem eu consigo me perdoar.

Paulina: E como espera que eu o faça? Carlos Daniel, você não tem ideia da dor que eu senti quando te vi com ela, quando te vi feliz com ela, quando vi que você a olhava como me olhava.

Carlos Daniel: Lina, me escuta, eu não vivi feliz com ela.

Paulina: Hipocrita! Eu vi, Carlos Daniel, deixa de mentir. Eu estava lá naquele evento em que você anunciou que ia ser pai novamente, eu vi.

Carlos Daniel:Espera! Você estava la? E por que não a desmascarou? Por que não disse a verdade?

Paulina: Minha intenção era justamente essa, mas quando ouvi a Gabriela a chamando de mãe, correndo para os braços dela, meu mundo desabou. E também logo depois eu soube do anúncio da grávidez dela. Como você queria que eu me sentisse?

Carlos Daniel: Me perdoa! Eu nunca quis te fazer sofrer, meu amor.

Paulina: Para de me chamar de meu amor, Carlos Daniel. Isso não tem fundamento!

Carlos Daniel: Eu sei que você nunca mais vai acreditar em mim, mas eu te amo e isso é uma verdade que eu não posso negar e você sabe.

Paulina: Como você tem a coragem de dizer isso? Eu comprovei a sua falta de amor cada dia desses 15 anos, a cada dia que você continuava casado com ela era a resposta de uma dúvida que eu sempre tive. Você nunca me amou de verdade, Carlos Daniel, você só amou o reflexo da Paola, sempre foi isso.

Carlos Danie: Isso é mentira! Eu te amei, Paulina, eu ainda te amo, meu amor.

Paulina: Mentiroso!!

Carlos Daniel: Paulina, me escuta. Depois do que aconteceu na cabana, eu sim notei que “você” estava diferente, mas eu pensei que era algo causado pelo trauma do sequestro e também pela batida na cabeça.

Paulina: Ham? Que batida??

Carlos Daniel: No hospital, depois que a cabana explodiu, foi diagnosticado que “você” tinha sofrido uma batida na cabeça, e que isto, poderia gerar sequelas. E eu burramente pensei que a mudança de personalidade poderia ser algo relacionado a isso. Eu falei com a equipe médica quando comecei a notar as diferenças, mas eles me fizeram acreditar que isso era algo passageiro. Eu nunca poderia pensar que a história da usurpação estava se repetindo, era mais lógico acreditar que tudo era fruto dessa lesão na cabeça.

Paulina não falava nada, apenas o olhava e o analisava tentando achar sinceridade em suas palavras.

Carlos Daniel: Quando eu descobri a gravidez eu fiquei muito feliz porque acreditei que tava tudo voltando ao eixos. Mas eu estava enganado. Tudo virou de cabeça para baixo quando vovó Piedade morreu, você sabe que ela era tudo pra mim e era a base e fortaleza daquela família, e quando ela se foi eu perdi o chão e me apeguei pelo amor que achava que ainda sentia por aquela que eu pensava ser minha mulher. A grávidez dela foi complicada e obrigou a Bela a nascer prematura, ela nasceu com pouco mais de 7 meses e com um problema no coração.

Paulina: Que...que problema?

Carlos Daniel: Sopro no coração. Paulina, ela era tão pequena e tão frágil, que quando eu a vi ainda na incubadora, eu jurei a mim mesmo que não permitiria que ela sofresse. Eu a protegi demais, a protegi da própria mãe.

Paulina: O que? Paola a maltratava?

Carlos Daniel: Não, pelo menos não na minha presença. Mas ela não queria ficar com a menina, nem a amamentou, mesmo sendo necessário por causa da fragilidade do corpo da Isabela. Naquela época, todo mundo achou que ela estava sofrendo de depressão pós-parto. Era a única coisa que explicava o fato de todo amor de mãe ter de repente sumido de “você”. Paulina, entenda, os anos que passaram foram os piores para todos naquela casa, ninguém era feliz. Eu só continuei com aquele casamento por medo de fazer a Isabela sofrer e acabar lhe acontecendo alguma coisa, mas foi só por ela. Eu vivia angustiado por ver que o amor que eu sentia não existia mais. Ela e eu quase nem nos olhavamos em casa e muito menos dormiamos juntos. Acredite em mim, Paulina.

Paulina: Olha, Carlos Daniel, eu...

Nesse momento, o som da porta da frente se abrindo assustou Paulina. Seu primeiro pensamento foi que Alejandro havia voltado para casa, e que tudo iria por água a baixo se ele visse Carlos Daniel ali. Fazendo sinal para que ele ficasse calado e um tanto escondido no canto no escritório, ela saiu do lugar e foi em direção ao corredor principal. Chegando lá, ela soltou a respiração ao ver outra pessoa sem ser seu marido.

Paulina: Filho.

Fernando: Mãe!!! Mãe, como você ta? Você ta bem? Já comeu algo? Ta sentindo alguma coisa?

Paulina: Ei ei ei, calma. Eu to bem. Desculpa ter feito você ficar preocupado, mas eu precisava ficar quietinha no meu canto.

Fernando: Eu entendo, mas fiquei desesperado quando vi você trancada naquele quarto e o papai fora de casa.

Paulina: Rosa me disse que você foi procura-lo.

Fernando: Fui, acabei de voltar de lá.

Paulina: Como ele está?

Fernando: Com o mesmo olhar triste que você.

Paulina: E ele te disse o que aconteceu?

Fernando: Não, só disse que vocês tinham brigado. Eu tentei fazer ele voltar pra casa pra vocês conversarem, mas não deu muito certo.

Paulina: Tudo bem, nós dois precisamos de tempo.

Fernando: Foi isso mesmo que ele disse.

Paulina: Mas mudando de assunto, e você? Por que você está aqui? Não iria para um acampamento da sua escola?

Fernando: Sim, eu ia ontem, mas não podia deixar você. Eu te amo, mãe, e eu fiquei pra cuidar de você.

Paulina: Eu também te amo, meu amor. E te agradeço muito por todo esse carinho, mas eu estou bem, acho que você deve ir. Não pode atrasar seus planos por culpa dos problemas que são apenas meus e do seu pai.

Fernando: Mas mãe...

Paulina: Mas nada, não discuta comigo. Eu sei que esse acampamento é importante pra você. Seria lá que você poderia ganhar um premio com o seu time não é?

Fernando: Sim, lá vai ser a final do campeonato. Mas eu não posso te deixar, mãe.

Paulina: Filho, eu não estou doente, só estava chateada por ter brigado com o seu pai. E vou ficar pior se você adiar seus planos por mim.

Fernando: Mas...

Paulina: Fernando, eu já disse que estou bem. Não vou ficar sozinha, vou ficar com a Rosa e sei que seu pai não vai demorar a voltar pra casa.

Fernando: Você tem certeza?

Paulina: Tenho sim. Agora suba, vá se arrumar e vá ganhar esse troféu, meu amor.

Fernando: Vou ganhar ele e vou dar pra você, mãe.

Fernando subiu as escadas correndo e Paulina voltou-se para o escritório com a intenção de acabar de uma vez com aquela conversa com Carlos Daniel, ela sabia que se não fosse o seu filho chegando seria Alejandro, e ela não poderia se arriscar com que os dois se encontrassem.

Carlos Daniel: E então? Era o seu maridinho? – O tom debochado na voz dele não passou despercebido por ela.

Paulina: Isso não te importa. E Carlos Daniel, se você já acabou o que queria falar te peço que vá embora.

Carlos Daniel: O que?? Você escutou tudo o que eu te disse?

Paulina: Claro que escutei, não sou surda.

Carlos Daniel: E então?

Paulina: E então o que, Carlos Daniel? O que você espera? Espera que depois de umas desculpas esfarrapadas e umas palavras doces, eu esqueceria tudo e cairia em seus braços? Desculpa, mas isso não vai acontecer!

Carlos Daniel: Mas...mas...

Paulina: Mas nada, Carlos Daniel! Vá embora.

Carlos Daniel: Não! Eu não vou embora até você ser sincera e me dizer o que esta sentindo.

Paulina: Dizer o que eu estou sentindo? Além de ódio, o que você quer que eu sinta mais?

Carlos Daniel: Você não me odeia, não é verdade. – Ele diz se aproximando lentamente.

Paulina: E mais uma vez você me chama de mentirosa. Claro que é verdade, eu te odeio. Odeio você, Carlos Daniel Bracho. Eu odeio você. – A cada passo que ele dava para frente, era um passo que ela recuava.

Carlos Daniel: Não, você pode tentar me enganar, pode tentar enganar a si mesma, mas não pode mentir sobre o que eu vejo em teus olhos, você não me odeia, meu amor. – Sem perder o contato visual, ele continuava se aproximando dela.

Paulina: Já falei pra não me chamar de meu amor, eu não sou o seu amor. – Ela parou de recuar assim que sentiu a parede do escritório em suas costas, ela estava cercada.

Carlos Daniel: Sim, você é. Assim como eu sou o seu. – Sem que ela pudesse fugir, ele aproximou-se mais um pouco deixando com que seus corpos ficassem quase colados e suas respirações se misturassem.

Paulina: Eh...eh...eu...

Carlos Daniel: Pare de negar, meu amor. Seus olhos não mentem, seu beijo não mente, sua pele arrepiada e sua respiração ofegante não mentem. Vamos meu amor, diga.

Paulina: Di...dizer o... o que?

Carlos Daniel: Diga o que você e eu já sabemos, diga que ainda me ama. Vamos meu amor, quero ouvir se seus lábios.

Carlos Daniel praticamente sussurrava há centimentros do rosto de Paulina, continuamente fitando os olhos dela, ele viu sua boca abrir diversas vezes tentando falar algo, mas ela não conseguia. Ela apenas olhou nos olhos dele e respondeu mesmo que em silêncio o que ele havia perguntado.

Carlos Daniel: Meu amor. – O sorriso dele foi se desfazendo conforme suas bocas se aproximavam.

Respirações misturadas, corações batendo no mesmo ritmo, peles arrepiadas, olhos fechados e lábios quase se tocando, foi ali que o tempo parou para os dois. Carlos Daniel e Paulina estavam fora da realidade, perdidos apenas nas sensações que sentiam e permitindo que seus corações tomassem controle de suas ações. O mundo parou quando suas bocas se encontraram, quando nenhum deles podia fugir do que sentiam, quando o beijo trocado foi a comprovação de um amor que não havia morrido, que nunca poderia morrer.


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Notas finais do capítulo

O que vocês acharam? Valeu a pena esperar?
@deafmonteiro