Premonição: Espetáculo Negro escrita por PeehWill


Capítulo 2
Onde há Circo, há Fogo


Notas iniciais do capítulo

Capítulo demorou, mas tá entregue. Bem, eis-me aqui com o grande capítulo do acidente. Espero que gostem do que preparei.
As fotos dos personagens já podem ser visualizadas aqui:
http://peehwillfanfics.blogspot.com.br/2013/01/cast-de-premonicao-espetaculo-negro.html
Aproveitem!



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Os ingressos nas mãos de Freddy mostravam que ele já estava pronto para entrar no circo. Ainda esperava o vendedor de bebidas, dar-lhe o refrigerante. Assim que o recebeu, entregou-lhe a Ted, que agradeceu com um sorriso de lado. Tão gentil. Pensou Freddy. Então, Ted pegou o canudo e levou até a boca, sentindo a garganta voltar ao normal, já que antes estava seca. Um alívio. Freddy fazia de tudo para não sentir pena do irmão, ele odiava aquele sentimento, pois para ele era como se seu irmão não pudesse seguir em frente. Ele pode. Ele ainda tem vida. Quando despertou de seus pensamentos viu o irmão ser empurrado com violência em direção a um mural com um enorme cartaz.

— Ei! Seus moleques! Vão brincar em outro lugar! — Gritou, reprimindo os garotos.

Os garotos correram assim que escutaram o rapaz os repelir. Então, abaixou-se ao lado do irmão, o erguendo do chão.

— Você está bem?

— Eles riram da minha perna. — E levantou um pouco a calça, mostrando o real motivo dos garotos terem feito aquilo.

— Não liga pra isso ta? Isso é bobeira.

Ted não respondeu, apenas ficou de pé e voltou a olhar para o mural onde fora empurrado. Ele viu o grande pôster que havia ali e seu rosto mudou radicalmente. Ele não sentia mais tristeza, e sim, medo.

Freddy sentiu-se curioso ao notar a expressão do irmão. Quando se aproximou dele para olhar para o mesmo pôster, soube de imediato o porquê de ele estar daquela forma. O cartaz tinha a imagem de um leão feroz, com a frase em letras grandes: “Não deixem de assistir Stallone, o selvagem domador de leões!”. Freddy sabia que Ted havia ficado daquela forma por lembrar-se do terrível incidente no zoológico. O leão.

— Vamos?

E enquanto caminhavam, continuavam conversando. Freddy queria de toda forma distrair o irmão caçula. Fazê-lo esquecer daquele dia.



x-x-x



Adam e sua família passaram pela enorme placa que dizia “entrada”. Quando se viram dentro do circo, sentiram uma alegria maior ainda. Era tudo inacreditável. Então, viram as arquibancadas, e passaram por alguns vendedores e pessoas, antes de chegar até elas. Acharam assentos vazios e se dirigiram até eles. Vivian e Lucy foram as primeiras a sentarem, na ponta. Adam e Samuel sentaram em seguida. Os filhos olhavam distraidamente para o picadeiro, com várias luzes apontadas para o mesmo, e uma música bastante alegre tocava ao fundo.

Vivian virou-se por um instante e avistou Shanon junta de seu filho, Charlie, que parecia tirar fotos com uma câmera digital. Quando percebeu Adam ali perto, Charlie inclinou-se e deu os parabéns ao amigo, que sorriu grato. Enquanto os dois garotos voltavam a se distrair, Shanon perguntou para Vivian:

— Ele está melhor? Não viu mais nada?

— Não. Ele está bem. Acho que as consultas estão valendo à pena. Estou fazendo um bem a ele, e ele nem sequer sabe disso. Você entende muito bem isso, não é? Ele acha que é perca de tempo ir até uma psicóloga.

— Mas logo isso vai ter fim. Ele logo estará livre disso. Você vai ver. — E sorriu, mostrando total interesse na recuperação do garoto.

Vivian agradeceu e voltou-se a fitar o picadeiro, agora com malabaristas apresentando seu show.

Algumas pessoas se aproximavam das arquibancadas, inclusive: Allison, Paris, Freddy e Ted. O último trazia uma latinha de refrigerante em mãos.

— Droga! — Disse Paris, num tom de desapontamento.

— O que foi? — Allison indagou.

— Minha mãe e meu irmão estão aqui. Ela me pareceu bem cansada hoje! — Paris bufava.

Allison estranhou o comentário da amiga, mas deixou isso quieto, e continuou em direção à arquibancada. Alguns assentos estavam vazios mais acima. Então, Paris optou que nem sua mãe e nem seu irmão a vissem.

Os quatro subiram, mas Ted resolveu dar os parabéns a Adam, que estudava em sua mesma classe, junto de Charlie. Adam agradeceu novamente, e viu seu colega da perna mecânica desaparecer detrás de um jovem loiro, que parecia muito com ele.

Adam olhava fixamente para o picadeiro, agora semi-iluminado. A maioria das luzes havia sido apagada. E agora, vários refletores enormes iluminavam o centro do picadeiro. Um homem se aproximou daquele local, sorrindo para todo o público, que aplaudiu. O loiro olhou para os lados e viu as mais diferentes diversificações de pessoas: adultos, crianças e idosos. Inclusive bebês de colo.

O homem no centro do picadeiro havia acabado de anunciar uma atração.

— E dentro de alguns instantes, o tão temido Globo da morte!

O nome da atração gelou Adam, causando certa tensão. Ele não era acostumado a presenciar este tipo de apresentação. Ele sempre gostou de assistir às competições de MotoCross aos feriados, com seu pai. Mas era algo mais leve. Agora era diferente. Ele achava que estava sem proteção. E realmente estava.



x-x-x



Alguns minutos se passaram, desde o início do espetáculo, e alguns palhaços divertiam a platéia com suas trapalhadas no picadeiro. Por alguns instantes Adam gargalhou vendo o número engraçado dos palhaços, mas o medo tomou conta do garoto, antes mesmo de lembrar que o Globo da Morte ainda estaria ali. Os habilidosos motociclistas que fariam parte da atração se preparavam para iniciar o número, enquanto os palhaços ainda arrancavam sorriso de todo o público.

Perto dali, o homem que estava encarregado de cuidar da manutenção da jaula dos leões, para o número do domador, fumava um cigarro calmamente. Enquanto estava com o cigarro na boca, ele carregava uma grande parte do feno daquele local, para mais distante dali. Ele estava tendo o maior cuidado para que o cigarro não acendesse o feno, e por duas vezes quase colocou fogo.

O homem deu a última tragada no cigarro. Quando Gregory, o encarregado pela supervisão dos trabalhadores, e inclusive dono do circo, apareceu. O homem jogou rapidamente o cigarro para trás, com receio de que fosse despedido por estar fumando naquele local. Era um erro grave. Gregory chamou sua atenção:

— Preciso de você próximo do globo. — E esperou falar alguma coisa.

— Está bem.

— Vamos!

Gregory e o funcionário saíram em direção ao outro lado da lona, onde o Globo da Morte estava.

O cigarro havia caído acidentalmente sobre o feno colocado pelo próprio funcionário. Uma pequena chama se acendeu, seguida do consumo de uma parte do feno. O pequeno incêndio era imperceptível.

Enquanto isso, as motos giravam várias vezes em sincronia, dentro do globo. Adam já não estava sentindo-se bem, pois algo soprava ao pé de seu ouvido: Adeus. Normalmente, o garoto olhou para trás, vendo duas garotas conversarem. E uma delas era a irmã de Charlie, ele havia reconhecido-a de um trabalho que fora fazer em sua casa. A outra garota comentou:

— Acabei de ver a Judith... Ela estava com aquele namoradinho dela. O Clark. — E fez uma cara de nojo.

Então, ele também escutou a irmã de Charlie responder:

— Clark? Allie, eu não me importo com isso. Eu quero ver é o circo pegar fogo! — Gargalhou, vendo sua amiga continuar séria. Depois que percebeu o que havia acabado de dizer, ela ficou séria, igual à outra garota.

Enquanto isso, atrás do picadeiro, próximo do Globo da Morte, o feno havia se transformado em uma bola de fogo. As chamas começaram a esquentar equipamentos de luz, quando um deles termina por explodir. Os outros equipamentos de luz foram explodindo em cadeia, até chegar ao local onde os fogos de artifício para o “Gran Finale” estavam. A última caixa de luz explodiu, caindo sobre os fogos de artifício, que se acenderam. Aquele era o “Gran Finale”.

Todos se assustaram com o enorme clarão bem atrás do picadeiro. Mas a explosão seguinte fora bem mais assustadora. Com a força da explosão, e a proximidade do picadeiro, o Globo da Morte foi engolido pelas chamas, lançando toda a estrutura sobre a platéia. Uma das motos caiu sobre a arquibancada, atingindo um casal que tentava sair no meio da correria.

A correria tomou conta do lugar, e um grande tumulto se iniciou. Vivian colocou Lucy no colo e se preparou para correr, mas uma moto em chamas decolou da explosão do globo, atingindo as duas em cheio. Todo o sangue possível fora espirrado nos rostos de Adam e Samuel, que estavam bem próximos delas.

Não dera tempo nem de respirar para Samuel e Adam perceberem o caos que havia se instalado ali. Então, o homem agarrou a mão do filho, e os dois tentaram descer o mais rápido a arquibancada. Entretanto, estava difícil, já que ali havia várias pessoas tentando passar pelo mesmo lugar. Alguns caíam e eram pisoteados pelas outros, enquanto os gritos se espalhavam.

Quando os dois se viram próximos do picadeiro, Adam viu Ted e o garoto que parecia ser seu irmão correrem na multidão. O garotinho da perna mecânica chorava com os olhos arregalados. O medo o consumia. Seu choro se intensificava de acordo com a velocidade das chamas.

De repente, Adam viu Ted soltar a mão do irmão. Ele estava atordoado. Adam também viu a enorme jaula dos leões bem atrás dele. Os animais pareciam mais ferozes, mas eles também estavam atordoados. Adam queria gritar e avisar, mas foi tudo muito rápido. E um dos leões pulou em direção de Ted, colocando as patas entre as grades, e puxando o garoto com violência em direção a elas.

As patas do animal rasgaram seu peito, e em seguida, torceram seu pescoço cruelmente. A cabeça do garoto se deslocou em um ângulo terrível, ficando pendurada por algum pedaço de carne e tecido. Freddy viu a cena e vomitou, antes de voltar a correr entre as pessoas. O corpo de Ted tombou e terminou de ser dilacerado pelos outros leões, que estavam mais famintos.

Adam nem teve tempo de chorar, pois outra explosão o assustou, e seu pai o puxou. Em meio à multidão, Adam e seu pai encontraram Shanon e Charlie. Shanon carregava em seu rosto a expressão mais apavorada. A mulher estava temendo morrer ali, seria difícil encontrar a saída em toda aquela fumaça. Adam olhou para os lados e acabou vendo o mesmo mágico que, alguns minutos antes, estava mostrando-lhe seus truques. Ele corria ao lado de uma mulher loira muito bonita. Ela chorava muito, borrando toda a sua maquiagem.

O garoto mal viu seu rosto, quando um enorme refletor desprendeu-se e esmagou-a por completo. O mágico saltou e viu as pessoas desviarem do refletor no chão. Ele caiu, pedindo que ela voltasse, mas ouviu-se outro estrondo e Adam o perdeu de vista. Havia fogo para todos os lados, o grito agonizante das pessoas se juntava ao medo e a grande quantidade de fumaça.

Adam, seu pai, Shanon e Charlie continuaram correndo.

— Por aqui! — Samuel gritava, tentando alertar aos outros.

Quando Charlie acaba tropeçando.

O garoto caiu com o rosto em uma barra, fazendo sua testa e queixo sangrarem. Várias pessoas começaram a pisoteá-lo. Ele tentava gritar.

— Parem!

Shanon tenta se aproximar, mas um grande amplificador cai bem à sua frente, e ela recua, se protegendo com os braços. Quando Charlie consegue se erguer do chão, Adam olha para o lado e prevê o que vai acontecer.

Várias pessoas corriam apavoradas, próximas da lona. Com o empurra que elas faziam, um carrinho de churrasco é virado sobre uma enorme labareda, que havia acabado de se alastrar ali. O loiro vê as chamas consumirem o carrinho.

— Cuidado! — Ele grita.

Charlie olha para o lado instintivamente. O carrinho explode, quando Samuel puxa Shanon. Com a explosão do carrinho, vários espetos são lançados contra Charlie. Os espetos atravessaram seu rosto, tórax e braços com força, espirrando sangue nos outros. Seu corpo tombou para o lado, como um boneco. Boneco revestido de espinhos.

— Não! — O grito de Shanon fora inevitável.

Samuel tentou consolá-la, mas naquele momento, e naquele lugar, o mais importante era encontrar logo a saída. Então, Samuel abraçou Shanon e segurou firme o braço de Adam. Ele havia achado a saída.

— Ali! — Apontou o homem, fazendo os outros dois o seguirem.

Enquanto isso, três jovens corriam desesperados na multidão. Eles desviavam agilmente de vários obstáculos que teimavam em querer os atingir. Allison corria mais na frente, enquanto atrás, Paris e Freddy permaneciam de mãos dadas. Os dois se entreolhavam cada vez que escutavam uma explosão. As explosões jogavam as pessoas por várias partes. Viam-nas decolarem sobre eles, e assustados, se defendiam como podiam.

Todo o espaço estava sendo cada vez mais consumido pelo fogo e pela fumaça. A grande quantidade de fumaça atrapalhava suas visões, e faziam as garotas tossirem incansavelmente. Allison pensou em morrer ali, e naquele momento, seu coração pulsou mais forte e mais alto. Quer ver o circo pegar fogo mesmo, Paris? E pularam mais obstáculos.

De repente, Freddy parou.

— Encontrei uma saída!

E realmente ele havia visto. Uma brecha que fazia entrar uma luz. Ninguém havia notado aquela brecha, e seria sua salvação. Então agarrou novamente o braço da namorada, e a puxou. Não conseguira salvar o irmão, mas a salvaria de qualquer forma. Paris mantinha os olhos marejados, pois não adiantaria deixar uma lágrima cair, se aquele fosse realmente seu fim.

De repente, tudo que viram foram várias pessoas correndo naquela direção. Eles também viram a brecha. E Freddy se apressou para sair.

— Droga! Assim não conseguiremos passar! — Exclamou o rapaz, já com a esperança se extinguindo.

As pessoas empurravam, e impediam que os três conseguissem passar pela brecha. Repentinamente Paris gritou e os três se afastaram. Olharam para cima e viram uma enorme estrutura metálica ruir, e desmoronar sobre aquelas pessoas que tentavam passar pela brecha. O barulho dos metais se retorcendo fora audível, e fez Allison comprimir os olhos. Uma grande e extensa fumaça se formou, mas no meio dela deu para ver que o pequeno desmoronamento havia soterrado todas as pessoas, e de brinde, tapado a passagem.

Um ruído estranho os fez olhar para cima, e um objeto veio girando em chamas, em uma velocidade absurda. Só dera tempo de Allison e Paris se protegerem. Pois, o objeto flamejante atingiu Freddy em cheio, cortando-o na vertical. Suas duas metades caíram em direções opostas.

As garotas não pensaram duas vezes e correram para longe dali, na direção da entrada do circo. Era sua última escolha. Única opção.

Quando as duas chegaram até a entrada, e perceberam que ainda estava de pé, se apressaram para sair. Entretanto, no meio do percurso encontraram Samuel, Adam e Shanon. Mais do que nunca, Paris queria abraçar a mãe e chorar muito, como fazia quando era criança.

— Paris? — Disse Shanon, incrédula. — Você não me disse que...

Não conseguia falar. Era tudo muito apavorante para ela.

Adam olhou para trás, ouvindo um barulho ensurdecedor e estridente. Ele viu o exato momento em que uma enorme coluna de madeira desabou sobre o mágico. O mesmo mágico. A coluna prendeu seu corpo, começando das costas. E ele soltava muito sangue pela boca. Gritava muito. Seus olhos estavam vermelhos. Estava morrendo. Um refletor caiu, e explodiu. E queimou o mágico vivo, transformando-o em uma tocha humana.

Foi depois disso, que eles escutaram outra explosão lateral. O clarão iluminou seus rostos assustados. Ela vinha do lado da arquibancada. Esta explosão arremessou Paris e Shanon, jogando-as contra várias barras de metais pontudas, que estavam no lado contrário. Allison tapou a boca, vendo Paris empalada por uma das barras bem na barriga. Ela cuspiu algum sangue, antes de baixar a cabeça e morrer. Shanon gritou o mais alto que pôde quando viu a filha morta ao seu lado. Mas ela também havia sido empalada. Seus ombros haviam sido atravessados por duas barras. Um de seus ossos estava amostra. Seu sofrimento acabou quando uma pequena passarela bem acima dela se desprendeu e caiu, esmagando-a.

Samuel empurrava as pessoas, e algumas delas caiam, e eram pisoteadas. Sentiam-se encurralados. Olharam para trás e viram o inferno. Toda a estrutura começou a desabar, toda a lona estava em chamas. O picadeiro não era mais o mesmo, somente um monte de cinzas.

Adam começou a chorar. Estava com muito medo, e mesmo que Samuel tentasse lhe acalmar, não funcionaria. O garoto estava em prantos, com muito medo.

Mas a luz no fim do túnel se aproximou. E Samuel viu a saída se aproximar. Entretanto, ele não conseguiria sair dali, porque a lona bem acima dele acabou por desabar, e a estrutura que a segurava o esmagou. Esmagou todos que estavam próximos a ele. Adam fora puxado no último segundo por Allison.

Havia corpos por todos os lados. Corpos e chamas. A fumaça já tomava quase todo o lugar. Estava ficando muito difícil respirar ali dentro, e Allison sabia daquilo, pois ela já estava usando um casaco que havia achado no chão, como protetor. Adam tossia muito.

— Vamos morrer! — Disse o garoto, caminhando lentamente em direção ao picadeiro.

— Se depender de mim, não. — Allison respondeu convicta de que os dois sairiam dali com vida.

Parecia ironia. Somente os dois estavam vivos, e mais ninguém. Ao seu redor, todos estavam mortos, e seus corpos estavam jogados sobre o fogo, e embaixo dos escombros. Os dois se ajoelharam no meio do que restara do picadeiro e se abraçaram. Os dois olharam para cima fixamente. A lona pegava fogo e derretia rapidamente. O líquido que se formou acabou chovendo sobre eles, mas Allison o protegia. Ela gritava de dor, enquanto sentia o fogo arder sua carne e penetrar em cada centímetro de seu corpo.

Adam apenas chorava.

De repente, Adam viu a lona despencar sobre eles. Quanto mais ela se aproximava, mais ganhava velocidade. Ele conseguia sentir as chamas mais próximas e gritou. O grito ecoou por todo o lugar, antes da lona os atingir. Seus olhos continuaram comprimidos, até o garoto abri-los.

Estava novamente no circo. As luzes coloridas batiam em seu rosto. O circo estava inteiro, em perfeito estado. Seus olhos continuaram marejados e viram tudo em devido lugar. O globo da morte não havia explodido, nem todos haviam morrido. Havia sido somente um pesadelo. Pensou em não contar para seus pais, até escutar o locutor anunciar o globo da morte. Ele arrepiou-se ao ouvir novamente aquilo. Os palhaços. Então três palhaços entraram no picadeiro, tirando sorrisos do público. O garoto olhou para todos, estavam muito sorridentes. Eles não sabem que vai acontecer.

Adam se ergueu do banco de madeira da arquibancada. O loiro virou-se para seus pais e gritou:

— Vai acontecer um acidente pai! Eu vi! Todos vão morrer!

As expressões de espanto estampadas nos rostos de Vivian e Lucy eram evidentes.

— Não diga besteira, Adam. Você está assustando sua irmã. — Disse-lhe sua mãe.

— Meu filho, volte para seu lugar. Ou vamos ter que ter uma conversinha séria quando chegarmos em casa. — Samuel falou rudemente.

— Acreditem em mim! Eu vi o circo todo pegando fogo! E todos gritavam e...

Shanon e Charlie observavam-no assustados. A psicóloga temia ser mais um dos surtos que Vivian havia falado alguns dias atrás, que seu filho tivera.

— O que ele tem? — Paris perguntou um pouco mais atrás. Ela sussurrava para Allison, pois sua mãe poderia escutá-la.

Allison estava estóica, não respondeu a nenhuma pergunta que Paris havia lhe feito. Num rompante, ela se ergueu de seu lugar e falou:

— O que você está dizendo é sério garoto?

O medo estava rotulado em seu rosto.

— É tudo verdade! Todos vão morrer! — O garoto chorava.

Foi ai que ele correu na arquibancada, ignorando os pais. Samuel se levantou e pediu que Vivian não se preocupasse.

— Eu trago ele, querida. Uma conversa de pai para filho será mais adequada. — E saiu atrás do filho.

Paris viu Allison surtar.

— Vamos sair daqui, agora! — Ela gritava para os três que estavam sentados próximos a ela.

— Você vai dar ouvidos pra esse garoto maluco? Você não está vendo que ele só quer chamar atenção?

— Você é minha amiga ou não? Se for, vem comigo! — E puxou-a do assento.

— Allie, fica calma! — Paris agarrou seus braços.

Charlie olhou para trás, vendo duas garotas discutirem, e logo reconheceu uma delas.

— Mãe, aquela ali não é a mana? — E apontou.

Shanon olhou para trás e viu a filha empurrar um vendedor de pretzels. O homem havia perdido todo seu estoque e reclamava com ela.

— Ela já está arrumando problemas. — Suspirou.

E a viu sair, seguida do namorado e de seu irmão mais novo. Shanon saiu rapidamente à sua procura, e Charlie a seguiu.

— Mamãe, o que aconteceu? — Lucy virou-se para a mãe, confusa.

— Não foi nada querida. Adam estava apertado e foi ao banheiro. — Sorriu, pois não queria mostrar preocupação.

Vivian olhou para o lado e logo percebeu que Shanon e seu filho também não estavam ali.




 

x-x-x



Próximo às arquibancadas, Betty e Bruce conversavam. O mágico fazia um truque para a namorada, enquanto ela retocava a maquiagem, sem dar-lhe atenção. Alguns jovens passaram por ela, empurrando-a. Sua maquiagem caiu e quebrou-se ao chocar-se com o chão. Ela queria tirar satisfações, mas preferiu apanhar os restos da maquiagem. Foi quando ela deixou sua bolsa cara cair. Uma mulher e seu filho passaram apressados e pisotearam a bolsa, estragando-a.



 

Betty ficou furiosa e fora atrás dos dois. Bruce seguiu atrás, preocupado com o que ela poderia fazer.


 

Adam passou por uma mulher de cabelos negros e sua filha segurando um balão. Com elas também havia uma mulher ruiva. Mas Adam não ligou e passou gritando, seu pai vinha atrás. Sem perceber, o garoto acabou empurrando a garotinha com o balão, e ele voou para longe. Ele viu a garotinha correr atrás dele, seguida da mulher ruiva. A outra mulher de cabelos negros havia entrado no circo. Ele queria avisá-la do perigo iminente que ela corria, mas estava apavorado demais para fazer aquilo.

Foi quando parou e sentou-se em um banco de madeira. Seu pai se aproximou enchendo-lhe de perguntas e broncas, mas ele não queria escutá-las. Apenas chorava assustado.

Logo chegaram Allison, Paris, Ted e Freddy. Eles estavam seguidos de Shanon e Charlie. A psicóloga logo tratou de indagar a filha sobre sua presença no circo e sobre a confusão que havia causado. Allison pedia que Adam se acalmasse.

— Gente, ele só está com medo. — Falou Freddy. — Vamos voltar.

Já estava pronto para voltar com Ted, quando Allie os interferiu.

— Vocês não vão entrar lá!

Adam viu o mágico e a mulher loira de cabelos ondulados novamente. Ela falava algumas coisas sobre uma maquiagem e uma bolsa, mas era repelida por Paris.

— Espera! — Allison se lembrou. — Onde estão Vivian e Lucy?

Foi quando todos escutaram um enorme estrondo e um clarão invadiu o lado de fora. Todos olharam assustados para a lona do circo, que agora estava tomada pelas chamas. Samuel tentou correr para ajudar sua mulher e filha, mas era tarde demais.

As pessoas corriam e se espalhavam como formigas fugindo de uma enchente. Era uma enchente de fogo.

Samuel gritou:

— Vivian! Lucy! — E foi consolado por Shanon.

Entre os soluços do choro de Adam, o garoto podia ver nitidamente a mesma mulher ruiva e a mesma garotinha do balão do outro lado. As duas choravam abraçadas. A garotinha do balão clamava pelo nome da mãe. Mãe? E o garoto se ergueu do banco, com os olhos e o rosto vermelhos. Ele também queria sua mãe, queria sua irmã...

— Mãe! — Lágrimas desciam pelo seu rosto. — Lucy!

Seu grito se misturava às batidas ligeiras de seu coração, que agora se despedaçava aos poucos.


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Notas finais do capítulo

Bom, não deixem de comentar! XD