Premonição: Espetáculo Negro escrita por PeehWill


Capítulo 10
Lápides


Notas iniciais do capítulo

Galera, que bom estar de volta com mais um capítulo!
Um cap. especial! Antes de mais nada, quero dedicá-lo à uma pessoa, que está fazendo aniversário hoje. Leanderson (vulgo, Lerdog, um grande escritor e um amigo, que merece muito mais) esse cap. é meu presente pra ti. Meus sinceros parabéns e que você possa ter MUITAS inspirações para fics novas! o/
Bem, felizmente a fic está no fim (felizmente no sentido de tê-la concluído com sucesso) e agradeço a todos que a acompanharam desde o início.
Um capítulo especial, cheio de revelações e ação.
Espero que gostem!

Aproveitem!



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Você é meu anjo

Vindo de cima

Para me trazer amor

Os olhos dela

Ela está do lado escuro

Neutralizada

Cada homem na vista

Para te amar, te amar, te amar...

Você é meu demônio

Veio para mim, vindo de baixo

Para me trazer ódio

Para te odiar, te odiar, te odiar...

(Angel – Sepultura)

Haviam duas ambulâncias. Uma estava no estacionamento do supermercado, enquanto a outra estava pronta para atender a qualquer chamado em frente à boate Neon Explosion. A primeira ambulância prestava socorro a Adam, com uma enfermeira que colocava curativos em seus cortes. A segunda estava partindo, com suas sirenes ligadas, seguidas do carro da perícia que havia acabado de recolher dois corpos. Os dois, coincidentemente, eram de mãe e filha.

Allison e Bruce estavam ao lado do garotinho loiro, que olhava para uma poça de sangue deixada bem ao seu lado, pelos seus ferimentos. Em seguida, girou os olhos na direção de Allie, fazendo-a encará-lo com certa delicadeza. Antes que ele pudesse falar algo, a paramédica saiu e deixou os três sozinhos.

— E agora? — Adam pode perguntar. — O que vamos fazer? Eu sei que meu pai é o próximo! Eu sei que ele vai morrer!

— Não, Adam. Ele não vai morrer. — Então, Allie tentou acariciar seu rosto, em um ato singelo, mas recebeu apenas uma virada de cabeça de Adam.

Allison sentiu um vazio, dentro de si mesma. Ela estava esgotando as esperanças do garoto. Era como se ela fosse a responsável por ele desacreditar que pudessem fazer algo para destruir a lista da morte. E poderiam, mas se fossem parar para pensar, eles estavam em um beco sem saída, sem uma luz para ampará-los. E amis uma vez a imagem do notebook do empresário veio até sua mente, bagunçando completamente seus pensamentos. Inclusive, seria arriscado voltar para casa e dar de cara com ele, provavelmente bêbado pelo uísque que ficou bebendo.

— Vamos levá-lo para casa. — Bruce soltou em um rompante.

Allison pode pensar em Bruce e em como ele estava ajudando-os. Ele havia sido pulado e sua vez só voltaria quando passasse a vez dela e Adam, que morriam juntos na visão. Por um segundo ela se arrepiou, refletindo o fato de não saber se era o garoto ou ela quem morria primeiro. O medo de acabar deixando a morte levá-los passou pela sua cabeça, fazendo-a tremer.

De repente, enquanto ela olhava para a traseira da ambulância, sentiu a mão do mágico entrelaçar na sua. O frio da mão áspera do homem percorreu até a sua, trazendo-lhe uma sensação esquisita, mas ao mesmo tempo agradável. Era como tocar o fogo e não se queimar, ou ser picado por um escorpião e não sentir dor alguma. Era como Bruce passou a representar para ela, um completo estranho conhecido, daqueles com aroma de tragédia.

Os dois se entreolharam, antes da jovem soltar sua mão e ir de encontro da calçada de frente à boate. Viu a outra ambulância partir, sendo seguido do carro da perícia. Era difícil sentir sua melhor amiga, indo embora.  Assim como Chase ou Katie. Sim, Katie, aquela com quem dividia poucos segredos ou com quem protagonizou cenas inesquecíveis, mas quem ficou guardada em um pedacinho de seu coração. Outra vítima fatal da maldita lista.

Allison estava distraída e não notou que Adam, ainda com os curativos, caminhava lentamente até a rua. Quando notou o viu atravessá-la.

— Aonde você vai?

— Eu vou para casa. — Disse ele, sério. — Eu vou atrás do meu pai. Ele corre perigo.

A jovem sentiu que deveria contar-lhe o que estava acontecendo com seu pai e com sua irmã mais nova. O que havia no notebook ou como a mente de seu pai era doentia. Mas ela só traria mais sofrimento a ele. Já não bastasse o pai ter se ausentado por todos estes anos, ainda tinha a questão da lista. Adam não vá! Eu vou deter a lista, custe o que custar! Então, decidida a quebrar o ciclo, Allison o alcançou e deu-lhe a mão. Bruce veio logo atrás.

— Nós vamos!

x-x-x

No meio do percurso, já próximos da residência dos Berry, Allie teve de dar uma parada para fazer uma ligação. Ligação essa que não poderia esperar mais nem um minuto. Se ela demorasse mais, estaria auxiliando um maníaco a sair impune disso tudo. Naquele quesito não importava lista alguma, ele deveria pagar, mas não com a morte, e sim, com a vida. Depois da ligação, não demorou nem um minuto para que estivessem diante da casa de Adam. Bruce preferiu ficar do lado de fora e esperar que Allison contasse para Samuel. Eu não preciso estar lá dentro. O mágico achava que seria intromissão demais na vida deles, e que, mesmo com a morte indo atrás deles, não teria nada a fazer, além de deixar que os familiares resolvessem.

Allison respirou fundo e abriu a porta, sentindo um grande calafrio percorrer em sua espinha. A sala estava completamente escura. Adam foi entrando junto dela, ultrapassando-a e se pondo dentro da casa primeiro. Os dedos de Allie, que seguravam na porta, tremiam. Será que ele já foi dormir? Então, a jovem olhou uma última vez para Bruce e mostrou um sorriso torto e indeciso.

— Não precisa se preocupar. Eu ficarei bem. — O mágico acenou positivamente com a cabeça.

— Eu volto em um minuto. — Disse ela, concordando.

Bruce viu-a deixar a porta entreaberta. Depois disso, não a viu mais.

Allie girou os olhos claros por toda a sala, não avistando mais Adam. Provavelmente ele deve ter subido para ver o pai. De repente, em um piscar de olhos, uma mão pousou em sua cintura, assustando-a. Allison soltou um gritinho abafado, virando o rosto para a silhueta negra que havia acabado de surgir ao seu lado. Era baixa e magra, como o garotinho loiro, mas foi só sua visão desembaraçar um pouco, pela luz da lua, que ela pode ver que era realmente ele. Adam sorriu de lado.

— Meu pai não está lá em cima. — Disse ele, convicto.

— Como sabe? Você já deu uma olhada lá em cima? — Indagou ela, um pouco confusa.

— Eu sei, porque ele está aqui embaixo.

Por um segundo, enquanto a luz da lua entrava pela janela da sala, ela pode ver os globos oculares do garoto completamente esbranquiçados. Um medo intenso formou-se dentro de si, fazendo suas pernas ficarem bambas. Logo, o que o garoto havia dito fez sentido. Ela apenas virou o corpo alguns centímetros, junto do rosto, para notar uma silhueta maior de frente aos degraus da escada. Era alta e forte, e não bastou muito para a jovem assistente de veterinária saber de quem se tratava. Samuel apenas abriu a tela do que, naquele breu, parecia ser seu notebook. O brilho da tela do aparelho clareou apenas seu rosto e o que havia atrás dele.

Apenas um olhar fixo e medonho. Nem mesmo Adam, em toda sua vida, vira seu pai lançar-lhe um olhar daquela forma. Os olhos de seu pai transmitiram um medo inconfundível. Adam se encolheu atrás da jovem, que estremeceu. Ele sabe. Disse ela para si mesma, enquanto tentava descobrir o que se passava na mente do empresário.

— Vocês demoraram. — Foi o que Samuel disse, ainda parado diante da escada.

— Aconteceram muitas coisas, pai. — Adam começou, se aproximando. — A doutora Robynson morreu e aquela filha dela...

— A lista continua Sr. Berry... Desculpa... Samuel. — Allison tentou contornar.

— Chega! — Exclamou Sam, antes mesmo de Adam chegar próximo dele.

O garoto parou como uma estátua, observando as feições do pai.

— Chega dessa droga toda de lista da morte, de que todos nós vamos morrer, de que acidentes terríveis nos esperam, de que a morte só quer o que é dela e... Que se dane a morte! Eu quero mais é que ela se foda! — Gritou ele, sem se censurar por seu filho estar ali.

— Pai...

— Porra! Agora deu pra vocês ficarem falando nessa merda o tempo todo! Acordem! Vocês tiveram uma nova chance e vão descarregá-la nessa lenda idiota? — Em um momento de fúria, Samuel lançou o notebook sobre o sofá, sem danificá-lo.

Adam permanecia estático, sem mexer um dedo sequer. Você precisa ser forte, Adam, forte! Suplicava para sua mente, enquanto Allison caminhava um pouco mais, passando a sua frente.

— Você não acreditou em nada do que dissemos? — Perguntou ela, com os olhos marejados. — Nem no seu próprio filho você acreditou?

Sam soltou uma risada sarcástica.

— O Adam diz coisas assim desde pequeno, Allison. Ele sempre inventou histórias desconexas e coisas sem sentido. Não era nada real, tudo não passava de sua imaginação. Que por sinal, era muito fértil, não é, filhão? — Disse ele, seriamente.

Adam cerrou os punhos, sentindo uma raiva do pai. Raiva esta, que ele nunca sentiu antes, pois só tinha admiração pelo mesmo. Como ele pode dizer tudo isso? Afinal, ele é meu pai. O garoto não teve outra escolha a não ser ir à direção de seu pai e empurrar seu abdômen nu. Samuel deu um passo para trás, apenas, observando a face tristonha do filho. E mesmo assim, com a raiva que o garoto sentia, conseguiu envolver-lhe em seus braços fortes, enquanto ele se debatia e dava socos no ar, tentando se soltar.

— Tentamos de tudo. Não foi a toa que começamos as consultas com a Dra. Robynson. Ela estava tentando ajudá-lo a parar com isso, mas pelo contrário, ele estava só piorando, e as mortes da mãe e da irmã foram o basta para tudo ficar como está. Assim... Tão fora do controle. — Então, Sam o abraçou mais forte, fazendo com que ele se acalmasse.

Allison não identificou nenhuma lágrima, além de nenhuma expressão de tristeza. Ele parecia ressentido, imparcial, vendável. Nenhuma lágrima... Esta frase ecoou na sua mente, fazendo-a lembrar da conversa que ela e Adam tiveram há semanas atrás:

“— Ele acha que ainda sou criança!”

“— Adam, não é questão de ser criança ou não. Olha, vamos ver se você consegue me entender. Seu pai gosta muito de você e ele só quer seu bem. Ele se preocupa com você. E ele pediu este favor a mim porque ele confia em mim. Ele sabe que eu não seria capaz de te machucar... De te fazer mal.”

Agora era difícil pra jovem identificar quem era quem. Quem fazia o bem e quem fazia o mal ao garoto. Se seu próprio pai não acreditava mais nele, quem acreditaria?

— Adam, suba para seu quarto, agora! E fique lá até eu mandar você sair!

— Não! — O grito do loirinho surpreendeu a todos.

Samuel encarou fixamente Allie.

— O que você fez com ele? — Olhava friamente.

— Não foi a Allie quem em fez ficar assim! — O garoto continuou gritando. — Foi você, pai, você que sempre me tratou mal! — Lágrimas desciam incansavelmente do rosto alvo do menino.

— Você ainda não sabe julgar ninguém, Adam... — Murmurou seu pai. — Agora, já para seu quarto!

O loirinho não teve outra alternativa, a não ser passar pelo pai, resmungando e subir as escadas, se posicionando no final dela, escutando tudo.

— Pode até ser que ele não saiba julgar ainda, Samuel, mas eu sei muito bem fazer isso. E digo, e não peço segredos, de que te julguei errado. — A repulsa pelo homem só crescia a cada palavra dita.

— Não entendi o que você quis dizer, garota. — A mesma feição sarcástica de antes, permaneceu no rosto dele.

— No começo eu lhe julguei pela aparência. — Respirou fundo. — Um homem bem sucedido, simpático, inteligente, bonito... — Engoliu em seco antes de continuar. — Um bom pai.

— Muito obrigado. — Ele interrompeu, rindo cinicamente.

— Mas depois que os dias foram se passando, fui ficando indecisa quanto a te classificar com os mesmos aspectos. — Então, baixou o olhar para o piso da sala. — Fui notando que você caía em cada quesito... Em cada qualidade. Como dizem, as aparências enganam.

— Não sabe o quanto. — Sam interrompeu novamente, indo em direção ao sofá e pegando seu notebook.

— Você pode até ser bem sucedido, mas não é simpático, nem inteligente. Muito menos bonito e um bom pai. — Ela se aproximou, sentindo seu nojo crescer ainda mais. — Você é apenas um homem podre! Um verdadeiro monstro! — Gritou como se quisesse a atenção de uma multidão.

Bruce logo se pôs de pé, do lado de fora da casa, ouvindo o que a garota dizia. Ela deve ter tudo sob controle. Fique aqui até ela voltar, Bruce. O mágico tentava se convencer de que Allie também ficaria bem.

Enquanto isso, Adam ouvia tudo atentamente no topo dos degraus.

— Quem é você pra me julgar? Sua vadia! — Samuel também revidou com um tom elevado.

Allison teve a chance de permanecer quieta, mas ela queria dizer tudo. Até o fim.

— Como você pode? Como teve coragem de fazer aquilo com sua própria filha? — Logo depois, muitas lágrimas vieram à tona, despencando dos olhos da jovem e deslizando sobre seu rosto.

— Eu sabia que havia sido você. — Afirmou. — Quem mais poderia invadir o computador dos outros? — Gotas de suor desciam pelo peito peludo do homem.

— Era sua própria filha... E você conseguiu destruir sua infância... Lucy era uma garota linda. — Mais lágrimas molhavam o rosto de Allie. — Você abusava dela e ainda publicava as fotos em um site. — Allison dizia a sangue frio.

— Cala a boca!

Adam não agüentou e desceu as escadas correndo.

— Você fez isso mesmo, pai?

Samuel levou o olhar diretamente nos olhos do filho.  Não disse nada.

— Você estuprou sua filha e publicou suas fotos! Seu pedófilo filho da puta! — Allison gritou e cuspiu no rosto do homem.

A saliva atingiu o olho esquerdo dele, enquanto, ainda com o outro aberto, deferia um soco no maxilar da adolescente. Allie caiu sentada, observando o homem limpar a saliva do rosto.

— Eu já mandei calar a porra dessa boca, vadia!

x-x-x

Meses antes...

Lucy esperou a mãe estacionar o carro prata na garagem da casa, para que pudesse abrir a porta do veículo e finalmente ir brincar com sua coleção nova de bonecas. Seu cabelinho fino loiro balançava, enquanto ela corria com sua mochila rosa, toda apressada, na direção da porta. Lá, seu pai lhe esperava.

— Minha princesa. — Disse, abraçando-a e dando um beijo em sua testa. — Chegou mais cedo hoje...

— Reunião de pais hoje, papai. Você esqueceu? — Disse Lucy, com um sorriso no rosto. — É, esqueceu. — Seu rosto mudou para desapontamento.

— Claro que não esqueci princesa. Papai chegou agora, teve um dia muito cheio hoje. — Ele viu-a correr pela sala, jogando a mochila no sofá. — Veja, o papai está suando!

— Ah não, pai! Vai tomar um banho! — Depois de dizer isso, a garota soltou uma risada.

Seu pai devolveu um riso, enquanto tirava a gravata.

Alguns minutos se passaram desde a chegada da filha. Vivian estava pronta para sair novamente. Samuel estava apenas com uma calça moleton branca e chinelos. Havia acabado de deitar-se no sofá.

— Aonde você vai, querida? — Perguntou ele, erguendo um pouco a cabeça, na intenção de vê-la.

Vivian estava deslumbrante em um vestido de cor creme e um par de scarpan branco. Uma bolsa marrom estava colocada estrategicamente sobre seu ombro. Ela sorriu e acenou.

— Preciso resolver alguns negócios da compra do novo espaço da clínica. — Ela deu meia volta e se aproximou do homem, beijando seus lábios singelamente.

Ele devolveu o beijo na mesma intensidade.

— Você me promete que tomara conta da Lucy? — Perguntou a veterinária, andando pela sala, indo em direção à porta.

— Prometo. — Ele sorriu. — A que horas Adam vai chegar? — Perguntou ele, impaciente.

— Daqui à uma hora. — Respondeu ela, fechando a porta devagar. — A irmã de Charlie irá trazê-lo. — Ela fechou a porta completamente.

Não haviam se passado nem cinco minutos desde que Samuel ouviu o barulho do motor do carro da esposa, quando Lucy apareceu correndo de seu quarto.

— Papai! — Ela gritou, despertando a atenção do mesmo.

— O que houve princesa?

— Tem uma barata no meu quarto! — Ela gritava e esperneava.

O homem ergueu-se do sofá, um pouco desinteressado e caminhou até o quarto da garota, com certa indiferença. Abriu a porta e viu que a garota estava ao seu lado.

— Onde ela está? — Ele estava com seu chinelo em mãos.

— Ela entrou debaixo da cama. — Ai, papai! Estou com muito medo! — A menina saltou, agarrando a perna do pai, pela calça moleton.

Naquele instante, Samuel sentiu que aquela era a hora mais apta para ele fazer o que tanto queria. Então, conferindo se não havia ninguém na casa, ele aproveitou e abraçou a menina com força, tirando-a do chão imediatamente. Ele aproximou seu corpo do dela por alguns segundos, pondo-a em sua cama de solteiro e deitando sobre ela. Sem se importar se estava sufocando-a ou não, seu pai apoiou os braços na cama e, apenas com uma mão, foi subindo devagar a roupinha rosa e florida da filha.

Ela era apenas uma criança. Ingênua e pura, Lucy não estava entendendo nada do que estava acontecendo.

— O que você vai fazer papai? — Perguntou ela, confusa.

— É uma nova brincadeira que o papai inventou, princesa. — Disse ele, com uma voz mais baixa e solene. — O nome dela é pônei. Você quer subir no pônei?

Com os olhinhos brilhando e sem ter noção do que aconteceria a partir dali, Lucy apenas riu para o homem e disse entusiasmada:

— Sim, papai!

x-x-x

O ódio pela adolescente já estava ao máximo. Samuel cerrava os punhos, retorcendo os dedos das mãos como se espremesse algo entre eles. As veias de seus braços e pescoço já eram visíveis, tamanha a fúria que sentia. Então, sem nem limitar-se, ele agarrou o primeiro objeto que viu, um abajur sobre uma mesinha de canto, e o jogou na direção de Allison. O objeto bateu contra o peito dela, fazendo-a gritar de dor. Allie caiu de costas no chão, quase com a nuca na mesinha de centro da sala.

Sobre o sofá, ela viu o notebook que Samuel havia acabado de por lá novamente. Com um esforço ela se ergueu do chão e viu a porta da frente abrir. De lá, ela conseguiu ver Bruce entrando ligeiramente, batendo-a em seguida. O homem, no escuro, parecia um felino olho de lince, que se movia astutamente, enquanto Samuel quase não pode reagir. O empresário tentou socá-lo, mas ele foi mais rápido e o derrubou com um empurrão. Samuel teve sua costa prensada à parede, isso, porque as mãos do mágico o prendiam contra a estrutura.

O pai de Adam se moveu ainda mais rápido, segurando os braços do mágico e arremessando na direção da mesinha de centro. O móvel quebrou-se de imediato, espalhando os estilhaços por todo o local. Allison já havia se erguido, então, se aproximou de Adam, que parecia “perdido”. O menino ainda chorava abalado pelo que descobrira sobre o pai.

— Meu pai é um monstro? Um monstro? — Ele repetia, enquanto não sabia o que fazer além de derramar lágrimas.

— Eu não sou ninguém para destratar seu pai desse modo, Adam. Desculpe, mas tenho que admitir que ele é asqueroso e repugnante. — Ela afirmou, mesmo que aquilo doesse no garoto.

Aí sim, Adam desabou em lágrimas, correndo para longe dali. O menino só parou quando chegou até um corredor escuro da casa. O mesmo estava com a lâmpada quebrada. Apenas sentou no canto, tapou os ouvidos e pôs-se a gritar, pedindo para que tudo aquilo tivesse fim.

Na sala, Allison via tudo com dificuldade. Apesar da luz da lua, o espaço ainda continuava um breu, e os dois corpos no chão, deferindo golpes um contra o outro, ela não conseguia diferenciá-los. Não sabia dizer quem estava por cima e quem estava por baixo, pois escutava apenas os gritos de fúria e os palavrões que eram despejados.

De repente uma silhueta se ergueu do chão, enquanto a outra, inerte, continuou caída ali. Ela torceu para que fosse Bruce trazendo a notícia de que eles teriam tempo até chamarem a polícia, mas o que viu parecia ter sido enviado diretamente do inferno. Samuel estava de pé, diante dela. Em seus olhos, bolas de fogo brilhavam e em sua pele muito suor e hematomas. Ele a encarou por alguns segundos e murmurou:

— Quem sabe a morte seja um pouco menos cruel com você.

Allie tremeu. Criou coragem para dizer algo mais a ele.

— Se fosse a minha hora, talvez eu repensasse sobre isso, Sr. Berry. Felizmente, quem está na mira dela é você. — Se atreveu a rir dele.

— Quem decide isso sou eu.

Allison olhou para o lado e, com sua vista bem melhor, viu Bruce desacordado sobre os estilhaços da mesinha de centro. Naquele instante, ela queria desabar com ele, não queria estar enfrentando o pai de Adam daquela forma. Mas, seu consciente suplicava a ela que ajudasse o garoto, que o tirasse daquele buraco, lhe trouxesse amor novamente. E foi derramando uma lágrima que ela continuou:

— Está tudo acabado para você, seu porco. — Primeiro ela hesitou em gritar, apesar de que seria bem melhor despejar os mal que estava fazendo-a ficar com aquele pressentimento dentro de si. Mas em seguida, o grito significaria sua imensurável vontade de matá-lo. — Eu já liguei para a polícia, eles já devem estar vindo! Perdeu! Estuprador de merda!

Samuel congelou, não sabia como reagir àquilo. Ela poderia estar blefando, mas naquela altura do campeonato, ela já deveria ter feito isso. Então, com um furacão de pensamentos invadindo sua cabeça ele saiu da sala às pressas, deixando Allison e o outro homem desacordado lá. Encontrou uma blusa branca de mangas e vestiu, ainda de pés descalços. Passou por um dos corredores escuros da casa e avistou Adam sentado no canto da parede, choramingando.

— Vem comigo! — O homem disse, puxando o garoto pelo braço.

— Han? — Adam estava visivelmente perdido. — O que? Pra onde vamos?

Seu pai não disse mais nada, apenas o levou até a garagem e o pôs dentro do carro. O menino queria se espernear, sair do carro, gritar com seu pai, mas não conseguia, estava sem forças para aquilo. Não a força física, porque abrir a porta do carro era uma tarefa extremamente fácil, mas sim, ter força psicológica para dar tal suporte emocional. Seu pai entrou no carro em seguida, ligando o motor. Adam estava com medo de que seu pai fizesse alguma burrada, devido ao seu estado crítico de temperamento. E ele faria, com certeza, por isso ele desejou nunca ter entrado no veículo prata.

A porta da garagem abriu, revelando uma rua deserta, cheia de neblina. Samuel acelerou e, ao mesmo tempo em que o carro se aproximava da rua, ele via uma mistura tênue de duas cores. Azul e vermelha. As cores pintavam as árvores e as casas, tingindo-as de azul-avermelhado e vermelho-azulado. Tudo correu em câmera lenta para ele, e só depois que o carro chegou à rua e dobrou a esquina, fora que ele escutou a sirene estridente da viatura policial.

Allison erguia Bruce do chão, quando escutou as sirenes e viu as luzes do lado de fora da janela.

— A polícia chegou, vamos Bruce! — Disse ela, ajudando o homem a ficar de pé.

O mágico e ela abriram a porta da frente e assim que viram a porta da garagem aberta se dirigiram o mais depressa possível para a viatura que havia acabado de estacionar. Rapidamente dois policias saíram simultaneamente do veículo ainda ligado.

— Ele escapou! — Foi o que Allie gritou, antes mesmo dos oficias abrirem a boca para falarem algo. — Fugiu no carro prata dele, e também está com o filho de treze anos!

Um dos policiais, assentindo com a cabeça para o outro, voltou à viatura e entrou. Os demais entraram e o policial que estava conduzindo a viatura chamou reforços. Em instantes a viatura partiu, cantando pneu pela rua.

x-x-x

A mão rude do pai de Adam movia o volante com certo nervosismo. Seus dedos davam espasmos involuntários, decorrentes dos calafrios insistentes que ele estava tendo. Poucos carros circulavam na rodovia e ele não sabia exatamente para onde estava indo, apenas queria ir para longe daquela casa, pelo menos por enquanto. Provavelmente e obviamente os policias estavam a sua procura, mas ele estava convicto de que havia os despistados.

Adam, no banco de trás, movia os dedos incansavelmente, mostrando-se preocupado com ele e com o pai, mesmo com tudo que ouviu na sala de estar a alguns minutos. Era como se seu mundo houvesse desabado em três míseros segundos. Segundos esses que embaralharam perguntas e milhares de pensamentos em sua cabeça.

— Pra onde você vai me levar? — Estava com a voz embargada.

— Isso não interessa muito. — Respondeu friamente. — Apenas fique quieto enquanto penso no que fazer.

Foram aquelas palavras que gelaram o corpo do menino. Talvez, se seu pai não tivesse surtado de uma hora para outra, eles poderiam conversar. Ou talvez, ele já estivesse assim há algum tempo, e só ele não percebeu.

x-x-x

Anos antes...

O pequeno Sam havia acabado de chegar em casa, estava tarde e ele estava cansado. Eram poucas as luzes acesas, e apenas a da cozinha estava clara e visível de onde ele estava. Fechou a porta devagar e após verificar o andar de baixo todo, constatou que não havia ninguém ali. Àquela hora seus pais já deveriam estar dormindo o bastante para não escutar qualquer barulho que ele fizesse. Suas duas irmãs, Bailey e Avril, também já deveriam estar na cama faz tempo, então ele caminhou e passou pela sala, indo de encontro à cozinha.

Ao chegar lá, o susto que tomou o faria gritar, se não fosse pela sua mão impedi-lo e abafar o som. Bem na sua frente estava sua tia, Virginia, que estava passando uns tempos com a família, depois que sua casa fora comprada e demolida para uma construtora terminar de erguer um grande Shopping Center. Virgina era mesmo uma mulher largada e se achava descolada, mas era apenas uma ilusão dela, já que era uma mulher desamparada conjugalmente e livre das obrigações de criar filhos.

Mesmo sabendo que a irresponsabilidade da irmã em largar a casa fora grande, os pais do pequeno Sam resolveram abrigá-la lá até ela se estabilizar financeiramente de novo. E foi nesse novo abrigo, que ela conheceu o menino de quinze anos. A janela no quarto do garoto fora o fator principal que influenciou na sua saída naquele horário. Ele tinha ido à casa da garota pelo qual estava afim e os dois haviam conversado muito, trocaram beijos, até que o pai dela o pegou em flagrante e o expulsou de lá.

Essas saídas noturnas era um segredo que ele e Virginia mantinham no caso de necessitar ter um álibi.

— Achei que ficaria mais tempo na casa da Shanon. — Comentou sua tia, mexendo um copo de achocolatado.

— Foi o pai dela. Aquele velho interrompeu tudo! — Sam bufou.

— O que importa é que você chegou em segurança, não é mesmo?

— Eu sempre chego em segurança. Relaxa, tia.

No tempo que Virginia passara na residência do irmão, nunca gostou o fato de ter que ouvir o pequeno Sam chamar-lhe daquela forma. Pelo contrário, ela queria era ser apreciada de outra forma pelo jovem.

— Por que está me olhando com essa cara?

Virginia não esperou mais nenhum segundo, e em um único movimento com o corpo, se inclinou e segurou o rosto do menino, beijando-o suavemente. Não demorou muito para que as luzes da cozinha estivessem apagadas e os dois estivessem no quarto da mulher, que ficava no andar de baixo. Era abafado, não havia possibilidade de se ouvirem a acústica. Era só o garoto e sua tia. O pequeno Sam não tinha como não recusar, ele já era um adolescente, não formado completamente, mas já sentia as atrações de um garoto. E sua tia não fizera muito esforço para seduzi-lo, e de repente ele se viu envolvido por ela.

A partir daí, eram quase todos os dias da semana. De segunda a sexta os dois ficavam acordados até tarde para poderem desfrutar de uma noite de amor. Seus pais nunca desconfiaram. Nunca da boca para fora, já que em uma noite os dois foram pegos em flagrante. A mulher fazia sexo oral no adolescente quando a sua cunhada, mãe do pequeno Sam, os viu. No mesmo momento ela ficou consternada e acabou sendo denunciada e expulsa da residência, mas a polícia nunca conseguiu encontrá-la. Depois disso, Samuel nunca mais pode reencontrá-la, pois alguns meses depois receberam a notícia de sua morte.

Virginia havia se ido, mas a experiência do pequeno Sam permaneceu grudado a ele. E isso foi o pontapé inicial para desencadear seu desejo doentio.

x-x-x

Dentro da viatura, Allison apertava a mão de Bruce com força. Ela transpirava e olhava freneticamente para os lados e para frente.

— Espero que o Adam esteja bem.

— Ele vai ficar bem, Allison. Estamos aqui, não estamos? A polícia já está seguindo-os.

Allison olhou para o céu estrelado do lado de fora do veículo. A sirene atrapalhava um pouco seus pensamentos, e ela fazia de tudo para tirar a idéia do mal que Samuel pudesse fazer ao filho, da cabeça. De repente, ao olhar para a estrada, Allie viu um vulto negro, com um aspecto grotesco e medonho. Ela deu um gritinho, tapando a boca. Bruce olhou-a sem entender nada. Olhando novamente ela pode ver em seu reflexo no vidro da viatura, seus olhos estarem desaparecendo, dando lugar a órbitas negras e vazias. Também estava com a pele ressecada, quase se esvaindo, como pó. Em questão de segundos, olhando o reflexo dar forma à figura, Allie entendeu. Era ela, só que seu rosto se transformara em uma caveira.

Um arrepiou passou velozmente pela sua espinha, fazendo-a dar um espasmo e abraçar Bruce.

— Eu entendi tudo.

Bruce estava prestando atenção nela, escorando com a cabeça em seu peito.

— O Samuel é o próximo e Adam está com ele. Após seu pai, somos eu e ele. Mas um de nós dois morre primeiro e não sabemos quem. Se não descobrirmos antes da morte agir, morreremos todos. — Explicou ela.

— Eu também já saquei. — O mágico retrucou. — A morte quer aproveitar que o garoto está com o pai.

— E levar os dois de uma vez. — A jovem interrompeu. — Eu já vi o sinal. Eles correm perigo! Isso significa que Adam morre primeiro! Eu sou a última da lista! — Exclamou.

— Depressa policiais!  Pode ser tarde demais! — Bruce gritou. A frase pesou em sua mente ao ser dita.

x-x-x

A rodovia estava no fim, a partir daí Samuel não conseguia enxergar mais nada, pois uma neblina espessa cobriu o lugar. Só depois ele notou que era o único motorista a estar ali. Quando escutou a sirene das viaturas da polícia ele pisou no acelerador como nunca, fazendo o carro arrancar pela pista. Adam se segurou no banco, sentindo que aquele poderia ser seu final. E só ali, naquele instante, ele pensou em como seria sua morte. Ele encostou a mão no vidro do banco do passageiro e inclinou o corpo, percebendo onde estavam. Logo abaixo da pista havia um grande lago. A última coisa que Adam avistou foi o lago, por que logo em seguida tudo escureceu.

— Pai, para o carro!

Samuel bufou afim de não responder o filho com repugnância.

— Eu prefiro você quieto, Adam.

— Para a porra desse carro! Me deixa sair!

Seu pai arregalou os olhos e engoliu em seco quando escutou a mudança drástica no tom de voz de seu filho. Olhou devagar no retrovisor e o que viu fez seus batimentos cardíacos aumentarem num rompante. Adam saltou sobre o banco onde ele estava e segurou o pai pelo pescoço, prendendo seus braços ossudos na garganta do homem. Apesar disso, Samuel não largou o volante, tentando manobrá-lo com rapidez até o acostamento. Mas não tinha acostamento e muito menos como parar, então, apertou o freio com toda a força, ainda escutando a outra voz de Adam falar:

— Você vai arder no fogo do inferno!

Ainda era Adam, só na aparência. Entretanto, Samuel não acreditava que poderia ser ele.

Não. Não era Adam.

O carro parou na lateral de uma ponte em construção, com o lado de Samuel colocado na beirada, protegido por um bloco de concreto que estava ali. As duas viaturas pararam logo em seguida. Allison e Bruce foram os primeiros a saírem dos veículos. Ao todo eram sete policias. Todos preparados e capacitados. Eles esperaram que pai e filho saíssem do carro, porém, nada aconteceu. Allie, em um impulso repentino, corre na direção do carro e Bruce pede que ela volte. Nada além de seus passos é audível, então ela continua a correr, até parar. Parou como se alguém tivesse gritado pelo seu nome, e não havia sido Bruce. Era a voz de sua mente.

Sua mente girou ao redor de toda a ponte em construção. Havia apenas uma luz ali, a que iluminava dois cabos de aços suspensos bem acima do carro. Na hora a jovem percebeu o que viria a seguir. Os cabos tremeram e rangeram. Ela se afastou, dando três passos, então gritou:

— Saiam do carro! — Gritou o mais alto que pode.

— Vocês dois, saiam do carro! — Bruce também gritou mais ao longe. — Os cabos, eles vão despencar!

Ele também percebeu.

Pai e filho abriram os olhos no mesmo instante, escutando os mesmos gritos. Adam foi rápido e viu Allison pelo vidro traseiro. No mesmo momento, abriu a porta traseira. Samuel tentou abrir sua porta, entretanto, um bloco de concreto enorme barrava a porta. Merda! Bufou ele, desesperado pela porta mais próxima. Abriu a do carona e saiu, segurando Adam pelo braço. Por um segundo, o menino achou que estaria livre daquilo tudo, mas quando seu pai tocou seu braço mais uma vez, ele soube que estaria perdido para sempre. Os dois correram na direção contrária das viaturas.

No último piscar de olhos um dos cabos se desprendeu da estrutura, despencando e se chocando violentamente contra o carro, que foi arremessado para fora da ponte. O retorcer do metal foi estridente, e um dos policiais fez uma careta de espanto.

Um brilho brotou no olhar de Allison e ela pode derramar uma lágrima ao ver Adam a salvo, por enquanto. Samuel ainda estava vivo, ele havia se salvado de sua morte, agora, havia ido para o fim da lista, logo depois de Bruce. Ela sentiu um aperto no peito, mas não desejaria sua morte. O que ela queria é que ele pagasse pelo seu terrível crime. Ele levou a pureza da própria filha. E sentiu um nojo dele novamente.

De repente, sem nem dar tempo para respirar, Samuel agarrou Adam e começou a levá-lo em direção à beirada da ponte, próximo de onde o carro estava segundo antes.

— O que ele pensa que está fazendo? — Bruce disse em voz alta, apesar de que só ele tivesse escutado.

Agora, muitas coisas passavam pela mente de Allison. Será que os cabos matariam apenas Samuel? Será que ainda é a vez do Adam? Será que eu morro antes e ele depois? Estava difícil poder raciocinar com Adam e o pai à beira da lateral da ponte. Sem se importar com essas perguntas, ela arriscou se aproximar.

— Sr. Berry, deixei-o... — A jovem deu dois passos e viu o que temia.

Samuel sacou uma arma da calça e apontou na direção dela.

— Não se mova! — Ele gritou.

Allison instintivamente parou, sentindo um embrulho no estômago. E ver aquela arma sendo apontada para ela só despertou ainda mais o que já estava óbvio. Seu medo da morte. Não poderia fazer nada, nem mover um músculo para ajudar o loirinho. Ao seu redor tudo girava em câmera lenta. Olhou por cima dos ombros e viu apenas os policiais gritando coisas inaudíveis para Samuel. Porém, Bruce não estava lá. O mágico sumira da sua perspectiva de vista.

O mundo ainda estava lento. Allie fechou os olhos, mas os abriu assim que ouviu Samuel.

— Morra. — Ele disse baixinho, como se só quisesse que Adam e ela escutassem.

E apertou o gatilho. Uma, duas, três vezes. Os “clicks” que ela fez a seguir assustaram o empresário. A arma falhou nas três vezes.

Assim, Allie pode repensar. Adam... Ainda é a vez dele. Isso fez com que ela se apavorasse mais ainda. De repente ela viu um vulto por trás dos dois. Bruce surgiu ao lado deles, agarrando Adam e se jogando para frente, para longe da beirada. Antes de notar o cabo se partindo bem acima de sua cabeça, Samuel disparou mais uma vez contra a jovem e o tiro acertou seu braço.

Um dos policiais deferiu dois tiros contra ele, que foi atingido na coxa e no ombro. O homem urrou de dor e sentiu sua carne queimar. Então o cabo se partiu. E despencou a mesma altura que o outro. Bruce e Adam, que ainda estava no chão, abraçados, saíram dali de imediato e o cabo atingiu o lugar em que Adam estava. Allison gritou. É a minha vez. Foi ai que, empunhando a arma ainda, Samuel atirou outra vez.

O disparou acertou o ombro de Allison em cheio, fazendo-a tombar e cair.

Houve outro disparo e esse, por sua vez, foi certeiro na cabeça de Samuel, que caiu para fora da ponte. O policial que o deferiu estava estático, com o coração acelerado. Todos se entreolharam e correram para próximo da vítima. Outro policial pedia que ela se acalmasse, uma ambulância já estava a caminho. Adam, por sua vez, estava nos braços de Bruce, que conferia se ele não estava ferido.

Os policiais faziam coisas diferentes, enquanto um deles ainda permanecia ao lado de Allison, auxiliando-a a não se mover por hipótese alguma. Ela deveria suportar a dor até os paramédicos chegarem. Ouvindo as coordenadas dele, ela ficou a pensar.

Era minha vez. Samuel causaria minha morte, mas ele foi baleado. Ele morreu quando eu deveria ser levada pela morte... Tudo finalmente acabou?

A vista da adolescente foi ficando turva, quando uma lágrima desceu. Depois disso, ouviu apenas as sirenes e então, não viu mais nada.

x-x-x

Quatro meses depois...

Estavam os três, Adam, Allison e Bruce se divertindo em um parque de diversões recém-chegado na cidade. O garoto loiro segurava um algodão doce, enquanto a jovem estava admirando o presente dado pelo mágico, um lindo urso de pelúcia gigante. Eles caminhavam por entre as inúmeras pessoas que faziam várias coisas naquele momento. De longe, ela avistou o mágico se apresentando em um espaço improvisado, mas bem animado. Estava feliz por ele, e queria que ele fosse muito feliz, com ela ou sem ela. Era o início de um relacionamento, algo nascera entre eles desde que tudo aconteceu e ela não queria desperdiçar nenhum sentimento, nenhum momento que fosse.

Ainda de longe, ele soltou uma piscadela para ela, enquanto tirava um buquê de flores da cartola que utilizava. Sim, era um mágico à moda antiga.

Eles passaram pela montanha-russa e Allie a encarou fixamente.

— Teria coragem? — O loiro apontou com um tom desafiador.

— Você está perguntando pra mim se tenho coragem de ir em uma montanha-russa? Adam, você realmente não me conhece, em? — Brincou.

Por trás deles surgiram duas figuras femininas. Tinham idade para serem mãe e filha, e eram. Bailey e Gale, a tia e a prima de Adam. A mais velha sorriu e o abraçou.

— Eu não esperava te encontrar aqui, querido.

— Nem eu. — Devolveu um sorriso amarelado.

Gale acenou, colocando suas duas tranças finas para trás.

— Vamos na roda gigante? — Perguntou a menina, dando pulinhos de felicidade.

Allison e Adam se entreolharam.

— Vamos. — Responderam simultaneamente.

Os quatro viraram na direção do brinquedo e seguiram, por entre as pessoas. E o último pensamento que ecoou na mente de Allison era o mais intrigante.

Finalmente acabou.


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Notas finais do capítulo

NÃO LEIAM ANTES DE LER O CAPÍTULO. CONTÉM SPOILERS!!!

Aê, caros leitores, espero que tenham gostado do Gran Finale do cap., pois me empenhei bastante (assim como fiz em toda a fanfic) nele.
Quanto ao desfecho surpreendente de Samuel, eu o planejei desde sempre. Desde o início da fic. E isso, além de seu plot com relação ao incesto. Espero ter explorado este lado doentio do homem na medida certa. O papel de Lucy na fic (como podem ver), não foi apenas morrer, pois planejei esse plot para ela e ele desde o início.
Virginia foi um "elemento" surpresa que eu deveria ter pensado antes, mas só veio na minha cabeça de última hora, e mesmo assim eu ADOREI que isso tenha vindo de repente.
Em suma, galera, é isso. Não esqueçam de comentar e recomendarem esta história (Fariam um bem ainda maior pra mim e pra vocês).
Estou esperando ansiosamente vocês nas reviews.
PS: Sim, haverá uma fic 5 e já está em andamento.
Abração e até breve!



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