Não queria ser vista assim, deste jeito, com o rosto metido dentro de uma poça d’água. Meu nome é Diana e tenho 15 anos. Caso desejem saber, eu acabo de ser derrubada por um grupo de garotos imbecis do meu colégio, enquanto voltava para casa. Minha sorte é que desta vez eles não portavam coisas para atirar em mim, mas gastei um bom tempo catando as folhas rasgadas e ensopadas dos meus livros que boiavam nas poças de lama. Pelo que podem ver, não sou uma garota de muita sorte.

Consegui chegar em casa sem ser vista e escondi os meus úmidos materiais dentro do meu armário enquanto tomava um banho e retirava os galhos e folhas de dentro dos meus enrolados e ruivos cabelos. Parece que as pessoas da minha escola não me aceitam muito bem, mas parece que depois de alguns anos já me acostumei com isso, apesar de achar errado. Não tenho muitos conhecidos, muito menos amigos, e, por morar em uma cidade pequena, os novos estudantes do meu colégio já são informados de não se aproximarem de mim, o que torna minha vida pior ainda.

Como sempre, almoçava com minha mãe que sempre parecia abatida por seu exaustivo trabalho, mas ainda assim se forçava a me dar um sorriso e perguntar sobre minha escola e sim, eu escondia noventa por cento das coisas que aconteciam comigo só para não deixa-la pior ainda. Moro só com minha mãe, que mesmo com seus quarenta e oito anos aparenta ter muito mais pelas rugas e o cansaço evidente. Meu pai é uma incógnita em minha vida, já que fugiu enquanto eu ainda era um bebê, mas não me importo em não conhece-lo, já que minha mãe fazia questão em mudar de assunto cada vez em que eu pronunciava a palavra “pai”.

Por mais que eu tentasse ser mais uma aluna normal naquele meio de estranhos, eles não me tratavam como mais uma, mas como um alvo. Eu tentava checar algum problema em minha aparência, mas eu não era gorda e sim normal, tinha algumas cicatrizes nas pernas e acima do umbigo, mas minha mãe me dissera que era de nascença. Eu era uma adolescente normal, com os cabelos ruivos um tanto emaranhados e os intensos olhos verdes, eu achava ridículo eles serem um motivo de zoação, mas realmente eu nunca vira olhos com um tom verde tão intenso e escuro quanto os meus. Havia talvez, uma característica em especial que estranhamente eu nunca notara, mas sempre me diziam que eu tinha um odor diferente. Isso talvez afastasse muitas pessoas e até mesmo meus professores, mesmo gastando tantos tipos de perfume a cada semana.

Aquela semana foi mais uma torturante como tantas outras. Hoje, em especial, aconteceu algo um pouco estranho, mais estranho pelo fato de alguém ter vindo falar comigo.

- Diana?

- Olá, Michael. – Respondi para o aluno novo no colégio, o primeiro a vir falar diretamente comigo sem ser alvo de aposta.

Ele estava com um olhar preocupado e assustado, andando em minha direção, pois lá estava eu no asfalto com umas pedras ao lado atiradas em mim por alguns estudantes. Ele pegou meu braço e me ajudou a levantar, parecendo checar algum ferimento.

- Incrível. – Exclamou ele.

- O que é incrível?

- Não há ferimentos. Mesmo com pedras tão afiadas. -  Disse ele analisando algumas pedras despedaçadas no chão. – Como você...?

- Eu não sei. Isso é estranho, mas nunca me feri com as agressões daqueles garotos nem de qualquer pessoa. – Ele continuava olhando para mim com um olhar de espanto e surpresa, até que me senti desconfortável e me despedi rapidamente pegando meus pertences do chão.