Albus ainda se lembrava de cada palavra daquele dia. Mesmo tendo se passado catorze anos, a voz dela ainda martela a sua cabeça.

“O mundo não gira em torno de você Albus.”

– Agora ele gira, priminha. – Ele se ouvia murmurando pelos cantos da enorme casa que agora chamava de “lar”.

Ele tinha ouvido Hugo dizer sobre o livro que ela publicara o do sucesso que tinha feito. Também que tinha uma filha. Elas moravam em algum lugar da América do Sul, mas a garota estudava em Durmstrang.

Hugo era o único da família com quem Rose mantinha contato. Nem mesmo seus pais diziam uma palavra sobre ela.

Em compensação... Suas previsões estavam certas e Albus Potter era um sucesso. O melhor jogador durante dez anos e o melhor treinador há quatro. Todos o amavam. Tinha fãs, prostitutas gratuitas, garotinhos que usavam lentes de contato para ter olhos iguais aos seus, uma família que o incluía. Só não tinha ela. Ela e seus cabelos de fogo.

Grunhiu e socou qualquer coisa que estava por perto. De seu apartamento, tinha uma bela visão da Londres trouxa, mas era um prédio apenas de bruxos.

– Catorze anos, Weasley! Me deixe em paz!

“Ela te deixou, Potter”, Hugo o falava, “Minha irmã nunca foi uma dessas putinhas que largam o mundo por você”.

– É... Ela me larga pelo mundo! – Albus sabia que estava bêbado, mas pegou outra garrafa em seu bar. Não teria treino no dia seguinte, então resolveu tirar o atraso.

***

– Passou da conta ontem, hein tio!

Albus ainda tinha a visão turva quando acordou, mas conseguiu focalizar o rosto do sobrinho mais velho, Brandon.

– O que está fazendo aqui, garoto? – Ele colocou o travesseiro no rosto, tentando impedir a claridade.

– Meu pai foi fazer não sei o quê aqui perto e me mandou ficar aqui.

– Seu pai anda muito folgado. – Albus desistiu e se levantou. Percebeu que tinha bebido demais ao desequilibrar, fazendo o sobrinho rir.

– Bora, tio. Eu estou com fome, e aquelas panquecas na cozinha me parecem muito atraentes.

– Então o seu pai te manda pra minha casa e ainda sem comida? Vou ter que ter uma conversa com James.

– Como se você odiasse me ter por perto. – Brandon revirou os olhos.

– Se eu quisesse um pirralho por perto, teria tido um filho. – O mais velho provocou, balançando os cabelos loiros que Brandon herdara da mãe.

– Se você tivesse um filho, teria que pagar pensão. – Ele encheu a boca com a panqueca preparada pelo elfo doméstico. – Teria casar, mas isso sairia mais caro que a pensão, então só casaria com alguém que tem dinheiro para te ajudar a pagar. Mas também só casaria com uma mulher legal e bonita, porque você se cansa fácil das mulheres.
Albus observava o sobrinho estático, não era possível que ele estivesse falando aquilo, tinha apenas treze anos!

– E todo aquele lance de respeitar os mais velhos?

– E todo aquele lance de liberdade de expressão? Continuando: A minha conclusão é que a mulher que você se casaria não existe, porque ela é linda, gostosa, rica e inteligente.

– Você talvez possa estar certo. – Albus colocou a xícara de café na mesa, se inclinou para o sobrinho à sua frente e falou como se estivesse lhe contando um segredo. – Menos uma coisa: Essa mulher linda, gostosa, rica e inteligente existe.

– E você conhece ela? – O garoto perguntou divertido.

– Conhecia. – Albus arrumou sua postura e bebericou o café.

– E o que aconteceu? – Os olhos azuis de Brandon brilhavam, adorava ouvir as histórias do tio.

– Ela me deixou. – Um sorriso sádico atingiu os lábios do mais velho.

– Bom... Ela era inteligente. – Brandon murmurou.

Nesse momento, a porta do apartamento se abriu, revelando James Potter.

– Educação vai bem de vez enquanto, maninho. – Albus revirou os olhos, todos tinham a senha de seu apartamento.

– Não preciso gastá-la com você, tenho que economizar para pessoas mais importantes.

– O que foi fazer? – O garoto ainda comia as panquecas, animado.

– Ver umas pessoas. – James pegou o copo do filho e cheirou. – O que você esta tomando?

– Chá gelado. – O garoto respondeu prontamente.

– Você tem chá gelado na sua casa? – James arqueou as sobrancelhas para o irmão.

– Claro que não. – Ele revirou os olhos. – O seu filho fez o meu elfo doméstico arranjar. Aqui só tem bebida de homem.

– Enfim... – Ele foi pegar uma caneca para tomar o seu café. – Adivinha quem se lembrou da família?

– A minha mãe? – Os olhos de Brandon brilharam.

– Primeiro: você é a família dela e só. Segundo: ela nunca se esqueceu de você, só precisava de um tempo.

– Seis anos. – O garoto bufou.

James ignorou o filho e continuou enquanto se servia.

– Rose. – Ele respondeu a sua própria pergunta. – Ela voltou. E trouxe as filhas dela junto.

– Rose? Aquela prima de que ninguém fala? – Brandon perguntou confuso. Já tinha ouvido falar dela n’A Toca, mas muito pouco.

Albus engoliu em seco, fitando o irmão.

– O que ela veio fazer aqui?

– O que? Não está feliz? Rose voltou! – Albus conhecia bem o irmão para saber que sua animação era pura ironia. – Achei que estaria feliz que a sua melhor amiga inseparável está no mesmo continente que você de novo.

– O que ela veio fazer aqui? – Ele repetiu.

– Vai falar com ela. Talvez ela te explique porque voltou. Ou porque saiu. Talvez ela nem tenha que falar nada, será que vocês ainda conseguem fazer aquele negócio de conversar por olhares?

James estava alterado, estava nervoso. Era verdade que James tivera uma pequena paixão pela prima quando eram crianças, mas ela sempre escolheu Albus.

– Eu não vou falar com ela. – Albus grunhiu.

– Olha só quem tem quinze anos te novo. Vem, Brandon, seu tio tem muito que fazer hoje.

– Eu não vou falar com ela. – Albus gritou a tempo do irmão ouvir antes de sair.

Só então ele percebeu um papel em cima da mesa com um endereço.