Telling Lies escrita por Yokichan


Capítulo 8
Vinte e um


Notas iniciais do capítulo

Shipper: Hatake Kakashi x Haruno Sakura
Classificação: +16



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Numa manhã insuportavelmente quente — Konoha inteira estava ardendo em chamas ou era só ele? —, Kakashi acordou sobressaltado e percebeu que, droga, havia sido apenas um sonho. Ele estava sozinho naquela maldita cama e nada acontecera de verdade, para sua decepção e salvação. Ela ainda era apenas uma garota — não era? E uma garota que fora sua aluna! Mas, diabos, por que ele precisava ter aqueles sonhos e acordar daquele jeito todas as manhãs?

Kakashi olhou para baixo, um volume empedernido no meio das pernas e aquela dor latejando debaixo das calças, e sentiu vontade de berrar palavrões.

Maldição.

Ela ainda nem tinha vinte e um anos!

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Àquela altura, Sakura já tinha percebido três coisas muito importantes. A primeira era que ela não era mais uma criança, mas uma mulher — embora continuasse a usar calcinhas de bichinhos. A segunda era que estava apaixonada por Hatake Kakashi, apesar de não saber por que. O fato era que seu coração derretia como manteiga toda vez que o via, sem contar que pensava nele mais ou menos vinte e quatro horas por dia. E a terceira coisa importante era, atualmente, a razão de todo o seu mau humor: ele era tão cego quanto um velho de duzentos anos com catarata.

Ou fingia ser.

Logo, ela resolveu que precisava tomar certas atitudes o quanto antes.

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Começou devagar — não queria parecer vulgar ou desesperada como aquelas mulheres de pouca moral. Apenas sentou-se ao lado dele numa sombra e puxou conversa enquanto seus novos alunos treinavam logo mais à frente. Mas era inútil como tentar conversar com uma pedra. Ele apenas continuava lendo aquele seu maldito Icha Icha Paradise e ocasionalmente respondia com um “hum” que, Sakura imaginou, quisesse dizer sim ou algo parecido.

Então lembrou-se do que Ino lhe dissera uma vez, que homens adoram cabelos, e uma pequena chama de esperança brotou das brasas dentro dela.

— Kakashi?

Há muito não o chamava mais de sensei.

Quando ele finalmente tirou os olhos do livro e a encarou — oh, ela quase não acreditou que ele estivesse mesmo a olhando, depois de ser ignorada como algo tolo e sem importância —, Sakura abriu seu melhor sorriso sedutor, ou que ao menos pretendia ser, e mexeu nos cabelos, jogando-os para trás de um ombro. Havia deixado o cabelo crescer e agora ele quase tocava-lhe a metade das costas.

— Sim?

— O que você acha do meu cabelo?

No silêncio que se fez, ela podia escutar as batidas do próprio coração como batidas retumbantes de um tambor e temeu que Kakashi pudesse ouvir também. Mas então ele apenas ergueu uma sobrancelha e respondeu num muxoxo:

— Chamativo demais.

E voltou os olhos para o livro pervertido que tinha em mãos.

Chamativo demais.

Sakura amaldiçoou-o em pensamento antes de sair marchando dali.

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Numa noite em que voltava para casa, avistou-o sob a tenda do Ichiraku e resolveu tentar a sorte. Ajeitou a roupa no corpo, penteou rapidamente os cabelos com os dedos, olhou-se para ter certeza de que estava tudo em seu devido lugar e foi até ele. Sentou-se ao seu lado num banquinho alto, cruzou as pernas e esperou que ele percebesse sua presença.

Esperou mais um pouco.

E ainda mais.

E quando cansou-se de esperar como uma idiota, chamou-o. Kakashi parou de comer e olhou-a com um ar de surpresa que não convenceu.

— Oh, Sakura.

Ela deu-lhe um sorriso e disse olá. E esperou, mais uma vez, que ele dissesse alguma coisa, qualquer coisa — poderia até mesmo comentar sobre o tempo como todo mundo fazia quando não havia assunto —, mas tudo o que recebeu foi seu silêncio irritante. Então ficou ali, calada, observando-o comer com um olhar firme e insistente. Tão insistente que ele virou-se outra vez para ela e fitou-a nos olhos.

— Por que está me olhando assim? — ele quis saber.

Sakura apenas aproximou um pouco mais o rosto e seu olhar pareceu ganhar uma força estranha. Na verdade, ela estava se perguntando se ele se sentia atraído por aquele olhar como um imã pela porta da geladeira.

— Isso o incomoda? — sorriu.

— Não exatamente.

— Então gosta dos meus olhos?

Mais tarde, ela decidiria que aquela era a pergunta mais estúpida que poderia ter feito naquele momento e sentiria vontade de enfiar a cabeça num buraco fundo de tanta vergonha.

— Bem... — ele disse. — Seus olhos são meio grandes demais.

E como se aquilo não bastasse, acrescentou:

— Desproporcionais.

Sakura ainda permaneceu ali por um momento, a boca meio aberta e um olhar estarrecido grudado no rosto dele, incapaz de se mover ou dizer qualquer coisa. Kakashi havia mesmo dito aquilo? Seus olhos eram... Desproporcionais? Se lhe perguntassem o próprio nome naquele momento, ela não saberia dizê-lo. O chão havia desaparecido debaixo de seus pés e alguém havia apagado todas as luzes. Então ela simplesmente levantou-se e foi embora.

Sakura nunca soube como conseguiu achar o caminho de casa.

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Duas semanas depois, quando finalmente conseguiu encará-lo outra vez, ela deixou-se arrastar por Ino até o restaurante onde estavam comemorando o aniversário de Chouji. E é claro que tinha que ser num restaurante, um lugar onde a comida nunca acabava.

Sakura sentiu um vazio na barriga quando percebeu que já estavam todos sentados ao redor da mesa e o único lugar sobrando era bem ao lado de Hatake Kakashi. Ela já não sabia mais se aquilo era bom ou ruim, mas sentou-se e sentiu o perfume dele arrepiando cada pêlo de seu corpo, aquele cheiro de homem. E entregou-se ao sake numa tentativa de não surtar.

O efeito acabou sendo exatamente o contrário.

Antes do final da noite, ela já estava rindo como louca e atirando-se sobre ele. Num dado momento, seus rostos ficaram tão próximos que ela chegou a fechar os olhos e entreabrir os lábios. Kakashi sentiu-se perigosamente tentado a beijá-la — só Deus sabia o quanto ele estava sendo forte durante todo aquele tempo —, mas sentiu o olhar estarrecido de Ino sobre eles e afastou rapidamente o pensamento.

— Sakura, sua boca... — ele disse.

— Sim, Kakashi. Eu sei que você...

— É estranha.

Ela abriu os olhos de repente e encarou-o sem entender.

— O quê...?

— Sua boca é estranha. — e ergueu uma sobrancelha. — Parece meio... Torta.

Torta?!

Depois daquilo, Sakura começou a odiá-lo.

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Agora, ela pensou, iria jogar pesado — embora ainda sentisse raiva dele. Aquilo tudo havia se tornado uma questão de orgulho e ela definitivamente não ia perder. Até mesmo um homem como Hatake Kakashi poderia ser seduzido e ela saberia escolher as armas certas dessa vez. E nem mesmo precisava de Ino para descobrir o ponto fraco dos homens, qualquer criatura feminina sabia muito bem.

Eram as pernas.

Homens sempre eram loucos por pernas.

E, bem, Sakura tinha um par delas. Não eram as mais bonitas nem as mais sensuais, mas também não eram ruins e ela pensou que serviriam para o caso. Então colocou um short mais curto do que o de costume — quase sentiu vergonha de sair com ele na rua — e foi caçar Kakashi pelas ruas de Konoha. Encontrou-o sentado num banco lendo um dos livros pouco decentes da série Icha Icha.

— Olá, Kakashi. — ela disse enquanto se aproximava.

Tudo o que ele fez foi erguer um pouco a mão no que pretendia ser um aceno.

— Yo.

— Como tem p... — Sakura parou e fingiu surpresa. — Oh, minha sandália está solta.

Então foi até o banco, ergueu uma perna e colocou o pé sobre o assento ao lado dele. Ela só tinha que seguir o planejado e parecer casual. Casual, Sakura. Casual. Inclinou-se para ajeitar a sandália no pé e percebeu, um gosto quente — picante, ela diria — de satisfação subindo pela garganta, que ele espiava sua perna na altura da coxa e parecia realmente gostar do que via.

Mas então foi como se tivessem jogado um balde de água sobre o fogo.

Sobre ela.

— Sakura.

— Diga. — ela apoiou uma mão sobre o joelho e sorriu.

— Você precisa depilar as pernas.

O grito de raiva que Sakura deu ao chegar em casa assustou a vizinhança.

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Ela jurou para si mesma que aquela seria sua última tentativa. E se dessa vez ele dissesse qualquer gracinha que a fizesse se sentir remotamente incomodada, ela o faria acabar a noite no hospital, não importava se ele havia sido ou não seu sensei. Sakura apenas precisava tentar mais uma vez, só mais uma, para então ter certeza absoluta de que eles nunca dariam certo juntos.

Afinal, que mulher suportaria aquilo por mais tempo?

E se havia uma coisa além de pernas que fazia qualquer homem subir pelas paredes, eram peitos. Nenhum homem de verdade resistia a um par de peitos, ela sabia. Os seus não eram lá essas coisas, não eram como os de Hinata e muito menos como os de Tsunade, mas ainda assim eram peitos, não eram? No entanto, só pra garantir, ela vestiu por baixo da blusa o sutiã com mais enchimento que Ino tinha para lhe emprestar.

Contou para a mãe uma mentira qualquer sobre precisar ir até o hospital e escapuliu para a rua. Atravessou as ruas escurecidas de Konoha tentando evitar qualquer rosto conhecido, sentindo-se uma criminosa com aquele sutiã de renda e enchimento, e, depois de hesitar um momento — o que ela faria se ele estivesse com alguém ali? —, bateu na porta do apartamento de Kakashi.

E esperou.

Quando já estava pensando em ir embora enquanto havia tempo, o trinque girou e a porta se abriu com um rangido de velhice. E ele apareceu do outro lado, a máscara meio torta no rosto. Primeiro, Kakashi a olhou com espanto. Era óbvio que não esperava vê-la ali, muito menos àquela hora da noite. E depois seu único olho visível foi ficando gradativamente maior até se tornar um olho arregalado que não acreditava no que via.

Só então Sakura percebeu que ele olhava para seus peitos.

— Espero não estar atrapalhando. — ela mordeu o canto de um lábio tentando parecer sensual.

— N-Não...

— Eu só queria pedir umas dicas sobre uma missão que Tsunade me deu.

Não havia missão nenhuma, mas aquela fora a melhor desculpa que ela conseguira arrumar. E, de qualquer jeito, não era como se Kakashi estivesse prestando muita atenção no que ela estava dizendo. Toda a sua concentração e mais uma coisa que ela imaginou ser desejo estavam em seus novos peitos postiços.

Sakura sentiu o rosto esquentar e pensou que tudo estava dando certo.

Mas então ele apontou um dedo para os seus peitos e perguntou:

— São... Seus?

Tudo o que ouviu como resposta foi um “IDIOTA!” gritado com tanta força que pareceu que as paredes do prédio haviam estremecido por um momento.

Oh, maldito Kakashi...

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Então um dia ela fez vinte e um anos.

E vinte e um anos significava poder tê-la para si do modo como sempre quis. Significava poder tocá-la como um homem anseia tocar uma mulher, poder beijá-la sem ter uma vila inteira querendo a sua cabeça, poder andar com ela por aí sem precisar fingir nada, poder fazer amor com ela e poder chamá-la de sua. Vinte e um anos significava o momento pelo qual ele tanto havia esperado.

E ele ainda a amava como nada naquele mundo.

Então na noite de seu aniversário, Kakashi simplesmente pegou-a pela mão e disse “venha”. E ela foi. Deixou que ele a levasse até o topo da montanha com os rostos dos antigos Hokages, de onde podiam ver todas as luzes de Konoha brilhando no escuro, tão distantes e tão bonitas. Deixou que ele a levasse para aquele lugar onde ninguém poderia encontrá-los, e então seriam só os dois, juntos no silêncio de um céu estrelado.

Eles sentaram-se lado a lado, mas parecia que assim não estava bom e Kakashi puxou-a para seu colo. Ela passou-lhe a mão pelos cabelos e, nas sombras daquele lugar só deles, removeu-lhe a máscara. Pela primeira vez em muitos anos, viu a boca dele e sentiu vontade de beijá-la. Ele o fez primeiro.

Agora ela era sua e nada poderia mudar aquilo.

— Sakura.

— Hum?

— Preciso dizer uma coisa.

Ela aninhou-se melhor contra o corpo dele e suspirou baixinho.

— E o que é?

— Eu acho que seu cabelo é a coisa cor-de-rosa mais bonita que já vi, seus olhos os mais verdes, sua boca me dá vontade de beijá-la o tempo todo, seus peitos são perfeitos e eu realmente amo as suas pernas.

Silêncio.

Então a risada de Sakura no escuro.

Ele a abraçou pelas costas e colocou o queixo sobre o ombro dela.

— Por que só agora? — ela quis saber.

— Porque agora você já tem vinte e um.

— Você é um idiota, sabia?

E virou-se para beijá-lo, aquele idiota que sabia mentir tão bem.


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