Telling Lies escrita por Yokichan


Capítulo 12
O mentiroso


Notas iniciais do capítulo

Shipper: Hatake Kakashi x Haruno Sakura
Classificação: livre



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Na época do namoro, Hatake Kakashi costumava mentir bastante. A todo momento e sobre qualquer coisa. Era como um daqueles maus hábitos tão corriqueiros que não se tem consciência deles até que chegue alguém para aplicar a palmatória. E, bem, esse alguém se chamava Haruno Sakura e tinha um cabelo cor-de-rosa que ele jamais veria igual.

Kakashi era louco por aquela garota.

Tão louco que casou-se com ela depois de três meses de namoro.

Foi então que ele parou de mentir.

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Ou quase parou.

Na verdade, havia apenas três situações em que ele mentia para Sakura.

A primeira era quando a comida dela ficava tão ruim que ele sentia vontade de chorar diante do prato. Geralmente isso acontecia quando ela se arriscava a tentar receitas novas, coisas tão absurdas que ninguém em seu juízo perfeito jamais havia sequer imaginado, ele tinha certeza. Mas o que se podia fazer? Sakura era uma garota criativa e ele era seu marido — ou seja, sua cobaia naqueles experimentos.

Não havia saída.

Assim como não houve na noite em que Kakashi voltou para casa morto de fome depois de um longo dia de treino na ANBU e se deparou com algo estranho e gelatinoso no lugar onde deveria estar sua comida normal e gostosa. E enquanto olhava para aquilo, ele pensou que teria ficado mais do que feliz com uma simples tigela de arroz e um pouco de peixe.

Do outro lado da mesa, Sakura sorria com ares de orgulho.

— Querida... — ele tentou sorrir de volta. — Pode me dizer o que é isso?

— Creme de espinafre com nabo.

— É mesmo? — Kakashi engoliu a seco.

— Sim. Eu mesma que inventei. — piscou. — Altamente saudável.

— E estranho. — resmungou.

— O quê?

— Disse que parece ótimo.

Como Kakashi poderia não comer aquela coisa verde e gosmenta quando tinha sido preparada com tanto carinho especialmente para ele? E além do mais, Sakura era médica, especialista em venenos. Não iria fazê-lo comer algo que pudesse matá-lo. Então encheu-se de coragem e começou a comer.

E, sim, era horrível.

— E então? — ela inclinou-se na sua direção cheia de expectativa. — Como está?

— Oh, está... Está ótimo!

Mesmo?!

— Mas é claro. — mentiu com um sorriso. — Nunca comi nada tão... Original.

Então Sakura pulou para o seu colo com um gritinho de vitória e encheu-o de beijos. E enquanto passava os braços ao redor dela e a puxava para mais perto, aquela garota estranha que rescendia à flor de cerejeira, mas que inventava comidas que nem o diabo enfrentaria, Kakashi só quis não estar com um gosto tão ruim na boca.

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A segunda era quando precisava sair em longas missões e passar até duas semanas longe de casa. Porque, bem, ele era um capitão ANBU, não era? E capitães ANBU sempre cumprem com suas responsabilidades, mesmo que precisem atravessar as cinco nações shinobi e passar meses acampados no meio do nada, dormindo com um olho aberto e uma arma ao alcance da mão.

Mas então havia Sakura. Uma Sakura de olhos úmidos e — oh, maldição — tão lindos que o agarrava pela gola do colete e o olhava daquele jeito que só ela sabia fazer e que suplicava para que, por favor, ele não fosse na droga de missão. Uma Sakura que não ousava pedir com palavras para que ele ficasse ali com ela, são e salvo — aquele era o trabalho dele —, mas que também não sabia fingir que estava tudo bem em não ter notícias de Kakashi por dias.

Então ela começava com as perguntas.

— Que tipo de missão?

— Longa.

— O quão longa?

— Quinze dias. Talvez mais.

Talvez mais?

— Eu não posso ter certeza, querida.

— Onde?

— Iwagakure.*

— Oh, mas tão longe... Quem vai com você? Não me diga que é aquela tal de Uzuki.*

— Não, não é ela. — um suspiro cansado. — É o Yamato.

Sakura cruzava os braços e lhe dava as costas como se pensasse na questão — será que ela deveria gritar e se descabelar ou simplesmente deixá-lo ir? —, como se de alguma forma pudesse roubá-lo só para si e impedi-lo de fazer o que Hatake Kakashi sabia fazer como ninguém, só para depois atirar-se sobre ele e cobri-lo de beijos enquanto ele ainda estava ali.

Então Kakashi a levava para a cama — para o sofá, para o tapete da sala, para onde fosse mais perto — e enquanto brigava com a roupa dela para tirá-la do corpo e a devorava com uma fome de outro mundo, acabava prometendo que faria a missão na metade do tempo só para voltar correndo para ela, mesmo sabendo que seria humanamente impossível.

Uma mentirinha irresistível.

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E finalmente, a terceira exceção.

Quando Sakura o assustava.

Porque apesar de ter imaginado que já tinha visto coisas demais naquele mundo para assustar-se como um garotinho perdido num quarto escuro, Kakashi acabou se dando conta de que a mulher que tinha em casa era bem capaz de deixá-lo com as pernas bambas, branco feito um fantasma. E nesses momentos, o corajoso capitão ANBU, o ninja de elite e filho do lendário Presa Branca da Folha experimentava aquele terrível frio na barriga que não sentia nem mesmo quando lutava com inimigos muito mais fortes do que ele próprio.

Como aconteceu quando Sakura lhe disse que estava grávida.

Assim do nada, num dia como qualquer outro, quando estavam simplesmente aninhados na cama vendo o tempo passar. Então ela chamou-o pelo nome como se fosse pedir para que ele trocasse a lâmpada do banheiro ou consertasse a fechadura da porta dos fundos que andava emperrando. E quando ele respondeu com um “hum?” preguiçoso de quem só queria ficar ali pelo resto da vida, ela disse:

— Estou esperando um filho seu.

Kakashi não conseguiu dizer nada por muito, muito tempo. Tanto que Sakura se perguntou se afinal ele não havia pegado no sono e apoiou-se sobre um cotovelo para vê-lo melhor. E percebeu que ele tinha os olhos bem abertos e pregados no teto.

Era como se ele tivesse sido chutado para fora de órbita.

Como se tivessem lhe acertado um belo soco no estômago.

Como se tudo tivesse desaparecido, menos a palavra FILHO.

— Querido? — ela o cutucou de leve com um dedo. — Você está aí?

Silêncio.

— Kakashi?

— O quê?

— Você está bem?

— Sim. — ele mentiu, ainda aquela coisa pálida e distante.

— Então por que será que você está parecendo uma assombração?

— Dor de barriga.

— Oh. — ela ergueu as sobrancelhas. — É mesmo?

— Eu já volto, querida.

Ele levantou-se da cama e saiu caminhando meio tonto, meio duro, sem saber ao certo para onde estava indo. Mas não importava. Kakashi apenas precisava de um pouco de espaço para ser um pai bobo pela primeira vez. E quando decidiu que Sakura não poderia vê-lo naquele canto da cozinha, porque, bem, aquilo era ridículo e tão bom, começou a dar socos no ar e a gritar em silêncio uma série de “YES-YES-YES-É ISSO AÍ!” enquanto o coração batia tão forte que ele pensou que poderia enfartar.

Depois, retornou ao quarto e mentiu que a dor de barriga havia passado.

E abraçou-se à barriga de Sakura como se todo o seu mundo agora estivesse ali.

Porque dessa vez era verdade.


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Notas finais do capítulo

*Iwagakure: Vila Oculta da Pedra, localizada no País da Terra.
*Uzuki: Yugao Uzuki, kunoichi membro da ANBU de Konoha (a mulher do cabelo roxo).



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