Telling Lies escrita por Yokichan


Capítulo 10
Doente


Notas iniciais do capítulo

Shipper: Sabaku no Gaara x Haruno Sakura
Classificação: +13



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— Ainda sente dor?

Ele assentiu.

— Onde?

— Aqui. — e tocou o próprio corpo na altura das costelas.

Sakura largou a prancheta com os dados dele sobre a mesinha de cabeceira e aproximou-se da cama. Abriu-lhe a camisa branca de hospital e examinou-o pela décima vez naquele dia. E como sempre, ele fingiu caretas de dor enquanto ela apalpava-lhe o tórax com uma habilidade profissional. Na verdade, ele só estava pensando que as mãos dela eram tão macias e delicadas e que ele gostava daquilo. Gostava mais do que deveria.

Ela apoiou as mãos na cintura e suspirou.

— Que estranho...

Gaara a olhou como se não soubesse de nada.

— Você não tem nenhuma costela quebrada.

— Você tem certeza?

É claro que eu tenho certeza.

— Porque, bem... Eu ainda sinto aquela dor.

Ela estreitou os olhos e mordeu o canto de um lábio enquanto encarava aquele peito pálido sem realmente vê-lo, como se estivesse brigando por uma resposta num mundo bem longe dali. Porque aquilo era mesmo muito estranho. Gaara já estava internado ali há mais de uma semana — porque, segundo ele, o hospital de Suna não estava devidamente preparado para cuidar de suas feridas de batalha —, sem ossos quebrados, sem contusões mais sérias, sem hemorragias internas ou qualquer tipo de sequela — os arranhões e os hematomas que realmente tinha quando chegou ali já haviam desaparecido —, e aquela maldita dor estava começando a irritá-la.

Sakura não fazia a mínima idéia de qual era o problema.

— Talvez seja o analgésico. — uma pausa. — Vou mandar trocá-lo.

Ele limitou-se a olhá-la em silêncio, não era de falar muito. Gostava mais de observar. E de observar aquela mulher. A brancura e a maciez de sua pele. Seus dedos finos e gentis enquanto o tocavam em busca de um sinal, de um alerta vermelho. Seu perfume de flor de cerejeira. O contorno delgado do corpo por debaixo das roupas brancas, do jaleco com o nome dela. A sensualidade ingênua que se mostrava sem querer em pequenos detalhes como um movimento distraído de pernas ou quando ela ajeitava o cabelo atrás da orelha.

Gaara poderia fingir-se de doente só para poder observá-la todos os dias.

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Se não eram as costelas que doíam, eram os olhos.

— Então, como está se sentindo hoje? — ela perguntava.

— Não muito bem. Tenho sentido uma ardência nos olhos...

E os esfregava com as mãos até ficarem vermelhos.

Então Sakura se inclinava sobre ele com uma lanterninha irritante e Gaara sentia-se estremecer com a proximidade, com o cheiro da pele dela assim tão perto, o calor daquelas mãos sobre seu rosto enquanto ela puxava-lhe as pálpebras para cima e quase o cegava com a luz da maldita lanterninha dos diabos. Mas o esforço valia à pena e nem mesmo a luz de um holofote fritando-lhe os olhos o faria pensar o contrário.

Tudo o que Gaara mais queria naqueles momentos era puxá-la para junto de si e beijá-la até que ela descobrisse que todas as suas dores não passavam de uma e resolvesse acabar de uma vez por todas com ela arrancando-lhe o coração com as próprias unhas. Então ele poderia morrer feliz.

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E se não eram os olhos, era a cabeça.

Ela tocava-lhe a mão na testa de meia em meia hora para medir-lhe uma febre que não existia — e ele adorava a sensação dos dedos dela afastando-lhe os cabelos como num carinho. Dava-lhe comprimidos que ele fingia que engolia, mas escondia debaixo do travesseiro quando ela saía. E como nada nunca funcionava, Sakura deixava os ombros caírem num suspiro e ficava olhando-o naquela cama, parecendo tão saudável.

Ele dizia que a dor de cabeça não o deixava dormir e pedia que ela ficasse quando Sakura poderia ir pra casa e dormir como uma pedra até o próximo plantão. Então ela o olhava, tão sozinho naquele quarto de hospital e tão bonito enquanto a encarava com olhos que pareciam queimá-la, e puxava uma cadeira para perto da cama dele.

E aquilo costumava se estender por toda uma madrugada.

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Eles já haviam conversado sobre quase tudo que se possa imaginar, incluindo guarda-chuvas vagabundos, cogumelos venenosos e comida de hospital, e agora ela estava bocejando naquela cadeira, uma mão sobre a boca e os olhos úmidos de sono. Eram três da madrugada e o hospital estava silencioso como um túmulo.

Gaara sentiu que se não falasse alguma coisa ela iria embora.

— Eu acho que é grave.

Ela o olhou e piscou sem entender.

— O quê?

— Você sabe. — ele ergueu os olhos para o teto. — A minha doença.

— Oh.

Sakura começou a torcer os dedos sobre o colo, distraída.

— Por que você acha? — quis saber. — Quer dizer, você sente algo em especial?

— Sim.

— Mesmo? — e agora ela o encarava curiosa. — O que é?

— Não sei se consigo explicar.

— É importante que você me conte tudo.

— Como eu disse, é grave.

O sono havia passado como que num estalar de dedos e Sakura estava mais desperta do que nunca. Sentia que estava bem perto de solucionar aquele mistério, descobrir de uma vez por todas que diabo de doença era aquela que parecia se espalhar pelo corpo todo como um câncer numa velocidade jamais vista.

Gaara viu seus olhos brilhando num verde ávido e sentiu vontade de rir.

— Me diga o que está sentindo. — ela pediu. — É uma nova dor?

— Eu acho que sim. É um tipo de dor esquisito.

— E onde dói?

— Venha aqui.

Ela levantou-se e foi até a beira da cama, uma sombra de preocupação pairando sobre o rosto. Então ele abriu os primeiros botões da camisa — Sakura quase esperava ver um monstro saindo dali — e conduziu a mão dela até seu peito, exatamente onde ficava o coração. O silêncio os engoliu e eles ficaram parados ali como que congelados, os dedos dele fechados ao redor do pulso dela e ela sentindo as batidas do coração dele na palma da mão.

— Está sentindo?

— Estou sentindo... Seu coração.

— E ele está batendo...

— ... tão forte.

Sakura parecia assustada e absorta ao mesmo tempo.

— Você acha que eu posso ter uma parada cardíaca? — ele perguntou.

E quando percebeu que ele estava sorrindo, um sorriso torto que, ao que tudo indicava, estava tirando sarro da cara dela, Sakura apertou os lábios numa careta de raiva e puxou a mão de volta. Sabia que o rosto estava vermelho — na verdade, estava praticamente pegando fogo — e odiou-se quase ao ponto de começar a bater em si mesma.

— Pra sofrer uma parada cardíaca, seu coração precisaria estar quase parando!

E saiu furiosa como uma tempestade, batendo a porta atrás de si. Gaara ainda a ouviu amaldiçoá-lo aos berros — coisas como idiota e cretino e estúpido — enquanto se afastava, os passos pesados ecoando pelos corredores do hospital quando todo o resto era silêncio. E soube, aquele gosto agridoce de risada e adrenalina na garganta, que tão logo se recuperasse da vontade de trucidá-lo, ela o expulsaria dali com as próprias mãos.

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E, bem, foi quase assim.

Ela tinha fogo nos olhos quando adentrou o quarto na manhã seguinte e ele a decisão tomada. Os planos de Sakura envolviam coisas frias e cruéis como envenená-lo com estricnina e vê-lo agonizar até a morte, porque ele a havia enganado aquele tempo todo e roubado várias de suas preciosas noites de sono — principalmente a noite passada —, mas simplesmente não foi capaz de controlar aquela coisa quente serpenteando dentro da barriga e começou a gritar e a xingar como se o mundo fosse acabar ali.

Gaara pouco ouvia do que ela berrava. Estava pensando que aquela mulher possuída pela própria fúria, com os olhos cheios de água e mais bonita do que qualquer pôr-do-sol que ele já tinha visto precisava ser sua mulher. E ele a teria, não importava quantas doenças tivesse que inventar.

E ele nunca imaginou que pudesse ser tão fácil. Ele apenas foi até ela, segurou-a pelos braços e beijou-a. Simples assim. Nada de matar leões ou enfrentar toda a ANBU de Konoha. Nada de missões absurdas ou batalhas homéricas. Tudo o que Gaara precisou fazer foi beijá-la e vê-la amolecer nos seus braços, cansada de lutar uma guerra que já estava perdida. Porque, por Deus, aquele homem era como a areia quente do deserto e ela sentia-se queimada até à alma.

Quando sentiu-se outra vez capaz de falar, Sakura agarrou-se à camisa dele — os joelhos ainda estavam meio moles — e murmurou:

— Acho que tenho a cura pra sua doença.

Ele pegou-a pelo queixo e ergueu seu rosto para que pudesse olhá-la.

— É claro que você tem. — sorriu. — E é essa.

Gaara beijou-a. Beijou-a mais. E beijou-a ainda depois e depois.

E pensou, enquanto ela trancava a porta por dentro para ir pendurar-se no seu pescoço, que o nome de sua doença só podia ser Haruno Sakura e que ele nunca se curaria daquilo.


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