Capítulo 1 – Dark Side

"Lado Obscuro"

– Belle -

Minhas memórias me afetavam como facas à pele, cada palavra dita nesses dois anos agora me torturava, estavam fincadas em meu peito, e não havia nada que se pudesse fazer a respeito. Precisava sair daquela casa, cada cheiro, móvel ou mesmo os retratos na parede me causavam náuseas.

Deixei meus aposentos com tal urgência que mal percebi o choro no quarto ao lado. Regina. Suas lágrimas agora se tornaram rotina. Desde que Henry encontrou Emma, sua mãe biológica, Regina deixou de existir em sua vida. Embora não admitisse, isso a machucava, a cada indiferença seu coração era partido em mil pedaços. Pensei em falar com ela, confortá-la, como eu sempre fazia, mas não o fiz, apenas rompi os corredores o mais rápido que pude.

No momento em que cruzei a porta, deparei-me com uma multidão furiosa vindo em minha direção. Então lembrei-me das injustiças que praticara, afinal, como irmã da prefeita Mills, tinha que demonstrar firmeza e esconder qualquer tipo de sentimento, o que machucou e humilhou muitas pessoas. Dr. Whale estava à frente, o que me surpreendeu, pois ele era um dos “comparsas” da Regina.

– Onde está sua irmã?!!

– Se estiver falando da Regina...

– Sim, Regina! Onde está aquela bruxa?

Whale estava furioso, gritava muito, e isso me deixou nervosa, ele não podia falar assim comigo!

– Dobre sua língua para falar comigo nesse modo, não admito que gritem comigo! E não, não sei onde está, e sinceramente? Não me interessa!

– Quem é você afinal? – essa pergunta me pegou de surpresa, mas logo caí em mim, ninguém me conhecia - Nunca a vimos na Floresta Encantada, e para a “rainha” tê-la protegida, deve ter algum interesse pessoal... – disse rispidamente.

Isso estava indo longe demais, como dizia Regina: “as pessoas devem saber seus lugares”, e estava na hora do Dr. se colocar no dele.

– Meu nome é Belle e há anos atrás era um empecilho nos planos da Rainha. Portanto, já deve imaginar o que ela fez para “resolver” esse problema. Desde então vivo presa, aqui não foi diferente. Agora, você pode, por favor, soltar meu braço? Tenho coisas para resolver. – minhas palavras me surpreendiam, eram frias e rancorosas...tinha que fugir, pois estava prestes a dizer coisas das quais me arrependeria mais tarde.

– E por que a Rainha iria querer como irmã uma prisioneira? – Whale impedia meu caminho. Por um momento desejei colocar em prática as aulas de auto defesa que Regina me ensinara...mas isso só complicaria minha situação.

– Não sei, talvez por conveniência, ou simplesmente por estar sozinha... – tentei ser o mais convincente possível, quanto mais verdadeira parecesse, mais chances tinha de sair dali.

– Quer que acreditemos que a Regina, uma poderosa feiticeira, estava se sentindo sozinha e por isso resolveu trazer uma das prisioneiras, que provavelmente a atrapalhou bastante no outro reino, para ser sua irmã?! Para compartilhar a casa e o próprio filho? Acha que vamos realmente acreditar nessa história?!! – Whale estava descontrolado, e eu encurralada, não tinha como fugir, se me afastasse um milímetro sequer, seria pega.

– Bom, se acredita ou não o problema é seu. Já contei minha história e não darei mais detalhes, até porque não é da sua conta. Se me dá licença, tenho que encontrar uma pessoa... – apressei-me a sair, mas fui impedida por Whale, que me prendeu contra a parede. Sabia o que viria em seguida.

– Não vai a lugar algum! Você causou muitos danos às pessoas dessa cidade e agora que não tem influência alguma vai pagar por cada um deles!!

– Quer dizer que serei punida por algo que a Regina me manipulou a fazer? Se eu tivesse consciência de quem era, nunca faria aquelas coisas horríveis! Vocês têm que acreditar em mim!

– Temos mesmo? Pelo que eu saiba, ninguém aqui te conhece de Floresta Encantada, e em Storybrooke já mostrou quão perversa é! Sabe o que eu acho? Que você é uma cúmplice da Rainha, só esperando para dar o bote! Agora, vamos te punir por tudo que fez, você desejará nunca ter saído daquele manicômio!

A multidão gritava. Dr. Whale me segurava pelos braços firmemente, deixando-os doloridos. Estava com medo, mas se esse era o preço a se pagar por me apaixonar pelo homem errado, se esse era meu destino, então o receberia de bom grado. Fechei meus olhos, desejando poder vê-lo uma última vez.

– Acho melhor soltá-la Dr. Whale. Ela é de minha responsabilidade agora. – disse uma voz ao fundo. Não precisava abrir meus olhos para saber quem era.

Rumple!

Ao vê-lo novamente, o mundo parou. Tudo e todos deixaram de existir, e pela primeira vez em anos, uma lágrima fugiu de meus olhos. Sim, ele estava diferente, mais charmoso, devo dizer. Seu rosto divertido e curioso agora fora substituído por seriedade e insensibilidade, e então recordei tudo que disse a ele. Sempre que discutíamos, eu era a única a gritar e ofender, nunca pestanejou ou rebateu minhas indiretas, sempre paciente. E agora estava ali, bem na sua frente, protegendo-me daquela multidão enfurecida. Ou talvez seja apenas um meio de punir-me mais tarde?

– E o que o Senhor das Trevas quer com a moça? Que eu saiba você deveria ser o primeiro a querer um castigo para ela, já que a “irmãzinha da prefeita” humilhou tanto o poderoso Sr. Gold, dono da cidade. – Whale cuspia as palavras, com certeza o “espião” da prefeita já não existia.

– O que quero com ela não é da sua conta, só diz respeito a mim. Agora você será gentil e me entregará a moça ou terei que tomar alguma providência?

Tudo me deixava confusa, Rumple aparentava firmeza e confiança, porém, algo em seu olhar lhe dizia o contrário. Vencido pelo “monstro”, Whale me entregou ao Mestre das Trevas, praticamente me empurrando para seus braços, que para minha surpresa cercaram-se delicadamente.

– Pode ficar com ela, nossas contas são com a Regina. Então, se nos derem licença, temos uma rainha para matar.

Matar? Não! Não podem fazer isso!

Por mais má que fosse, Regina cuidou muito bem de mim nesses dois anos, protegendo-me de tudo e todos, por mais que me incomodasse, me importava com o destino de Regina.

Então, antes que eu pudesse fazer algo, Rumple nos envolveu com uma fumaça roxa, e, em seus braços, desaparecemos.

A magia estava de volta.