Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 8
Pesadelo




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  Boh acompanhou novamente Chihiro até sua casa. O silêncio entre os dois beirava a hostilidade. Ele abria os lábios de vez em quando, mas cerrava-os antes que qualquer palavra saísse, o movimento parecia o de um peixe.

  Ela andava de cabeça baixa, nunca desviando seu olhar da calçada. Forçava seu cérebro a associar a figura alta caminhando a seu lado a alguma pessoa que já tinha conhecido, qualquer que fosse... não conseguia.

  Ele estancou na frente do portão escuro, a garota não notou e continuou o caminho. Sentiu seu pulso ser segurado.

  - Chihiro. - disse com alguma brutalidade, os olhos tornaram-se subitamente calorosos quando encontraram a expressão dela. - Chegamos.

  - Ah! - ela exclamou simplesmente.

  Repentinamente, ela perdeu a vontade incontrolável, que antes a tomava, de penetrar na calmaria de sua casa. Permaneceram ambos, alheios ao movimento no entorno, só restando aquele mínimo toque que os unia, causando-lhes arrepios apesar da distância entre seus corpos. Uma pessoa trombou com Chihiro; Boh segurou-a ainda mais forte e puxou aquele pequeno corpo em direção ao seu.

  Apertou-a fortemente contra seu peito, como acalentando a uma criança pequena. Deixou seus lábios pressionados na testa de Chihiro. A qual não pode ver a expressão de dor que lhe passou pelo rosto. Ele lançou-lhe um último olhar dolorido e foi embora sem dizer uma palavra. Chihiro ficou parada, trêmula vendo-o partir, o coração apertado  e o nome de Boh aprisionado em algum lugar entre seu cérebro e a garganta.

  - Idiota! - disse a si mesma, riu baixinho por um instante e entrou em casa.

  Agradeceu pela demora dos ônibus, o que sempre causava o atraso dos pais. Tomou um banho demorado que relaxou-lhe os músculos. Estava completamente exausta. Os pais chegaram em casa coincidentemente na mesma hora. Fizeram uma refeição silenciosa e cortez de uma forma enganosa.

  Depois cada um foi para um canto afastado da casa. A mãe parou no quarto de Chihiro e felicitou-a por estar sendo mais sociável. Recolheu-se para seu quarto alegando uma dor de cabeça.

  A garota ficou deitada, encarando o teto de seu quarto, acertou o despertador. Apagou a luz e embarcou para o reino dos sonhos.

  Ela corria atrás de Sem Rosto, que parecia incansável, pois sempre que ela estava prestes a alcançá-lo, tratava de sumir e tornar a aparecer em um lugar distante. A infrutífera perseguição deixou-a terrivelmente casada.

  Daquele ambiente estéril, surgiram prédios estranhos que estavam moles e se dissolvendo, a garota parou para descansar e tocou um dedo num daqueles prédios. Uma gosma se prendeu, tinha o mesmo aspecto do corpo de Sem Rosto, aquilo começou a cobrir seus dedos e se espalhou rapidamente por toda sua extensão, englobando-a. Debatia-se, lutando desesperadamente para se livrar daquela sensação de sufocamento. Quando parecia não haver mais esperanças apertou os olhos e se entregou.

  Viu-se livre de repente, para ingressar em outro terror. Sem Rosto estava devorando todas as pessoas que encontrava em sua frente, crescendo descomunalmente; cada vez mais, aquela máscara criava uma expressão assustadora, tornando-se negra, um sorriso torto se expandindo.

  - Sen! Vamos ficar juntos, Sen! - a voz cavernosa repetia.

  Seu corpo se afastou, revelando uma pessoa que antes se encontrava oculta.

  - Haku! - Chihiro tentava gritar, mas seus lábios estavam selados. Colocou as mãos na boca. Não havia nada ali.

  Haku estava envolto por um líquido claro, que impedia Sem Rosto de se aproximar. Mas para manter aquela barreira era necessário sangue, fazendo com que inúmeros cortes surgissem por toda sua extensão. Ele virou o rosto e subitamente seus olhos se abriram, divisando Chihiro a distância. Ela começou a correr, o braço estendido. Algo barrou-lhe bruscamente o caminho. O ar faltou, tentou bater naquela pata dourada, mas não surtira efeito. Foi jogada para trás. Era uma esfinge! O horror da menina aumentou quando viu seu rosto, era o de Boh!

  Ele encarava-a sem dizer nada. Ela já sabia o que tinha que decifrar e não iria ser devorada se não soubesse a resposta, mas aquilo não lhe surgia! Sem Rosto lançou-lhe um último olhar antes de se atirar sobre o corpo inerte de Haku.

  Acordou tremendo, o choro irrompedo. Os dedos apertando firmemente a boca, impedindo-a de gritar. Esperou que aquilo dissolvesse, afirmando a si mesma que fora apenas um sonho.

  Procurou o relógio, marcava quatro e dezz. Abriu a janela deixando o ar frio amainar o suor. De novo, aquele inquietamento lhe tomava. Queria sair para ver Boh, mas repreendeu-se por pensar nisso aquela hora. Cruzou os braços junto ao peito.

  "Quando isso vai passar?" - perguntou em sua mente. 


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