Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 12
Anacronismos




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  - Pronta? - indagou Boh.

- Sim. - ouviu-se o murmúrio fraco que era a voz de Chihiro.

Ela foi à frente, apertando a mão de Boh, ambos ignorando o suor nas palmas. Chihiro voltou sua cabeça para trás uma última vez. Podia jurar que tinha visto uma máscara branca se escondendo nos arbustos. Atravessaram o portal, caminhando sem pressa. Os passos ecoando naquele ambiente imutável. A claridade cegou-os por um momento enquanto saíam.

- Tudo está mudado. – avisou Boh, tentando prepará-la. Porém sua surpresa não ficou oculta.

O céu e a terra haviam perecido no fogo. Restava uma crosta gosmenta e o calor escaldante. Seria um destratamento de milhões de anos que faria aquele estrago. Tudo estava tão infértil e desolado.

- Tem certeza que estamos no lugar certo? – perguntou a garota.

- Tenho. – respondeu ele quase inaudível.

Mesmo assim, restava alguma dúvida. Deram alguns passos incertos rumo a lugar nenhum. Até que se aperceberam desse fato.

- Para onde, Boh?

- Não tenho muita certeza. – ele respondia confuso, tentando encontrar a lógica.

Voltou-se para Chihiro e encarou-a de olhos límpidos.

- Confia em mim?

- Mas é claro que sim, Boh. – a expressão suavizando-se por alguns instantes.

- Ótimo, então não faça perguntas. – estava com pressa. – Suba nas minhas costas. – Ele se tornou novamente aquele gigantesco dragão. Chihiro não teve tempo de assustar-se com a súbita mudança de forma, pois perdeu os sentidos.

O dragão ajeitou a posição da garota, tomando cuidado para que não caísse. Concentrou-se de pálpebras cerradas e desapareceu.

Ouviu-se um grito abafado e o dragão deu um animalesco sorriso e um som gutural saiu de sua boca.

- Rapaz! O que pensa que está... – as palavras foram morrendo. O terrivelmente idoso Kamaji estava estupefato com três de suas mãos depositadas no peito. As sobrancelhas se ergueram e ele avançou para cima do dragão.

- É ela? – perguntou enquanto vistoriava a jovem. – Ela sempre foi tão magra assim? – perguntou a si mesmo. A alegria dominou seu rosto durante um fugaz instante, antes de ser substituída pela fúria. – O que você fez?

Boh voltou a sua forma humana. Depositando Chihiro num colchão puído. Contemplo-a por um segundo e virou-se para o ser irado.

- O selo que Haku fez foi quebrado. Sempre disse que aqui ela estaria mais segura, mas todos vocês foram tolos! – seu doce rosto ficou afogueado e frustrado. Passou a mão pelos cabelos. – Ela está tão infeliz! Ficou esperando que Haku aparecesse durante seis anos!

- Bou, francamente! Pare de agir como aquele menininho saltitante e apaixonado! Era o certo a fazer e nada do que diga vai mudar o fato! Ela pode estar infeliz, mas pelo menos estava viva! E esse foi o presente de Haku,

- Não funcionou...

- Não seja um bebê! Agora me diga por que ela está desmaiada. – exigiu, avançando e segurando-a pelos ombros. Fez ela se sentar, lhe dando tapinhas no rosto com um dos braços remanescentes. Olhava-a com atenção vendo como os anos tornaram aquela menina chorona numa jovem magra, pálida e desajeitada, enquanto ele continuava a ser o mesmo velho rabugento, que tentava agora esconder a ternura que lhe tomara o coração velho com mais atitudes ranzinzas.

- Tomei um pouco da energia dela para te encontrar.

- Que irresponsabilidade! – censurou Kamaji.

- Chihiro vai ficar bem! – falou mais alto.

Boh colocou uma das mãos no topo da cabeça dela e o velho se afastou procurando alguma coisa entre seus pertences velhos, mas com uma ordem meticulosa. Um de seus braços se aproximou de Boh com uma bolinha arroxeada.

- Tome. Dê metade a ela e coma o resto. – evitou olhá-los depois disso. Ocupando-se de recolher migalhas invisíveis no chão.

Chihiro retomou os sentidos. Boh colocou-lhe o pedaço de bolinho na boca e ela fez uma careta.

- Engula. - pediu dando-lhe um beijo na testa. O qual Kamaji viu, o que fez aumentar sua caranca. Ela resmungou alguma coisa inaudível aos dois.

- Onde estamos? – perguntou Chihiro confusa.

- Na casa de Kamaji.

- Kamaji?

O velho voltou-se para ela, que se levantou cambaleando para abraçá-lo. Ficou surpreso com a demonstração de afeto, mas sorriu e enrubesceu. Passou a mão pelo cabelo dela e disse:

- Você cresceu, minha menina. – e retornou a seu habitual estado de agitação, afastando-a.

- O que aconteceu? – Boh abriu a boca.

- Ele sugou sua energia. – disse Kamaji.

- Não foi assim... – defendeu-se Boh.

- Foi assim. – provocou.

- O que aconteceu. Boh? – a garota ignorou Kamaji.

- Eu peguei um pouco da sua energia para que pudéssemos sair daquele lugar. Do contrário iríamos morrer. – exagerou um pouco.

- Viu, não menti.

- Não acho que tenha sido tão grave. – ela disse, tentando apaziguar as coisas. Kamaji falou algo entre dentes.

- E agora, o que fazemos?

A pergunta foi feita por Chihiro pairou no ar, tornando pesada a atmosfera.

- Esperamos. – respondeu um Boh resignado que se sentou ao lado de Chihiro. Encostou o corpo da garota no seu sob os olhares de censura do velho. – Durma um pouco.

- Não sei se vou conseguir.

Mesmo com suas palavras, o cansaço do dia se abateu em seu corpo. Acalentada pelo calor de Boh, ela dormiu.

- O que esta menina tola está fazendo aqui? – uma voz perguntou vinda do exterior. Sua gorda e baixa figura cobrindo parcialmente a porta.

Boh respondeu sem sequer olhar para aquele ser nas sombras.

- Nada que você possa interferir, Yubaba.  


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