Spirited Away 2 escrita por otempora


Capítulo 10
Laços


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora.



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  - Como assim? - ela perguntou consternada.

- Magia, meu anjo. - Boh disse com afetação. Estava um pouco ofendido. - Fiquei surpreso que não tivesse descoberto ainda. Mas fique perto de mim, senão não poderei te manter.

Chihiro não ousou se mexer, apesar das estranhas revelações não se sentia tentada a desobedecer, pois em seu interior, sabia que Boh não era mau. Se fosse já teria feito alguma coisa.

- Quem é você? – indagou enquanto o entorno deles começava a perder as cores. Boh respirou aliviado, verificando ao seu redor para ver se tudo estava paralisado, num tom descolorido. Depois se voltou para a garota com uma imensurável tristeza no olhar, estava arrependido.

- Sinto muito por ter aparecido na sua vida dessa maneira. Não deve ficar com raiva de mim, apesar de dever estar. – reprimiu um protesto dela. - Mas eu precisava... – sua respiração ficou mais forte. – Foi um desejo egoísta vir para o mundo dos humanos. Primeiro eu não podia deixar Sayo sozinha e depois não consegui mais voltar, como antes ninguém podia vir para cá... E eu não poderia partir sem sequer ver você novamente. Achava que estaria consideravelmente feliz por estar aqui, porém nós todos estávamos enganados. Fizemos isso para te proteger. Mas você teria sido tão mais alegre perto de nós, foram anos bons apesar de tudo... Teríamos dado um jeito, acharíamos uma maneira para que tudo fosse resolvido. Você mudou tanto, seus olhos estão tão sombrios... é como se fosse outra pessoa. Perdeu-se aquela alegria quase inerente.  

- Espere! Por que você fala como se me conhecesse em... – não sabia direito o que dizer. – Em outro tempo?

- Chihiro, eu sou Bou. Filho da Yubaba.

- Bou, o bebê? – não conseguia esconder sua estupefação.

- Sim.

- Mas você é mais velho que eu! – protestou.

- O tempo aqui passa de uma forma diferente do mundo dos espíritos. Eu saí de lá fazem três anos, com minha irmã que era uma recém nascida. A passagem abriu coincidentemente quando eu mais precisava.

- Por que disse para mim antes que estava aqui há um ano?

- Eu disse que estava morando com meus tios há um ano, e é verdade. Eu era o único que conseguia atravessar por causa da magia de Zeniba, eu fiquei lá durante dois anos. Júlia está vivendo com eles há mais tempo. Porém Zeniba...

- Ela está aqui também? – não conseguiu esconder o pouco de amargura em sua voz. – Por que me deixaram todo esse tempo? – estava a ponto de chorar novamente, dessa vez de raiva.

- Estávamos tentando te proteger. – ele explicou pacientemente.

- Proteger de quê? 

- Chihiro, você trouxe uma coisa do mundo dos espíritos.

- Não, eu não trouxe nada.

- Sim, meu anjo. Trouxe o prendedor de cabelos que fizemos para você na casa de Zeniba.

- Mas é só um prendedor! – estava indignada, imaginando o que um objeto tão pequeno pudesse afetar.

Boh olhou para ela pacientemente.

- O problema é que esse prendedor, quando você ia embora... Ele atraiu uma grande energia, Chihiro. – a excitação mal era contida. – Você levou-a consigo, sem sequer perceber, você está carregando a maior fonte de energia mágica. – ele tocou o braço dela, para indicar. – Em seu pulso. – riu.

- Como assim, Boh? Eu não estou entendendo metade do que está me dizendo.

- Vou explicar. Zeniba falou que este esse prendedor iria te proteger, pois foi feito com laços de amizade. Isso acumulou uma certa energia de caráter positivo, formando um pólo, que atraiu uma energia oposta a ela. As duas interagiram e ficaram num equilíbrio, em seu pulso. Você a estava controlando todo esse tempo sem perceber.

- E Haku? – era infinitamente dolorido até mencionar o nome dele.

- Ele morreu selando a passagem. Foi necessária toda sua reserva de energia... – virou o rosto para o lado. – Haku queria que você ficasse segura. Pediu para mim...

- Ele pediu o que?

- Para garantir que você estivesse feliz. E se não fosse... – sua hesitação fazia Chihiro ter vontade de arrancar as palavras dele.

- Por favor, Boh. – pediu.

- Chihiro, ele disse que a amou por toda a vida, e que sentia muito. Mas não queria que você olhasse para trás.

Era a primeira vez que tinha certeza dos sentimentos de Haku. Era uma situação tão mórbida! Riu sarcasticamente.

- Como ele estava? – perguntou a Boh, o tremor que não conseguia controlar distinto em sua voz

- Ele era velho, meu anjo. Mas brilhava e nem por um dia deixou de mencioná-la. Não quis ir embora para encontrá-la enquanto não houvesse garantias de que você estivesse segura. – Boh tinha um pouco de inveja dele. Seu semblante ficou muito triste. – E depois, os anos foram passando... Eu sempre me espelhei nele, admirava tanto... – comentou, olhos sonhadores. Retornou ao assunto. – Sabíamos que a passagem do tempo era diferente. E isso está lutando contra nós.

- Como assim?

- O sacrifício dele não adiantou nada. – disse secamente. Boh cerrou os dedos em punhos, a raiva dominando seu corpo.

Foi como uma ferroada no coração da garota. Ela não conseguia ouvir essas coisas sem senti-las profundamente. Encravando-se em seu ser, tornando-se inerentes. Odiou verdadeiramente pela primeira vez.

- Quem foi? – poderia matar. Boh levantou os olhos e encarou suas mãos detestando o fato de ter preocupado aquela paz melancólica. Poderia ter surgido na vida dela e curado, aos poucos, as feridas. Continuamente. Trazendo a vida de volta. Voltaria ao mundo dos espíritos, uma vez mais, para devolver aquele objeto amaldiçoado. Iria fazer dar certo. Tudo poderia ter sido tão diferente...

Escolheu o árduo caminho e agora precisava lutar ainda mais para resgatar Chihiro das sombras.


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