Capitulo 13

A marca de Clow

Seus passos eram o único som do lugar, ecoando longe e distantes. Mesmo estando rodeada de escuridão, ela ainda era capaz de ver o próprio corpo, como se emitisse brilho próprio. Esquecera-se completamente do que estava fazendo, de quem procurava e de seus problemas, queria apenas continuar andando em frente. Não sabia para onde estava indo, mas isso não lhe preocupava.

Não estava com medo. Na verdade, já estivera ali antes, era tão nostálgico. Também não tinha a menor ideia do quando tinha andando, mas isso também não importava. A uma pequena distância a sua frente, ela viu uma pequena luz alaranjada tremulando. Porém, quanto mais perto chegava, mais ela ficava maior e brilhante, a um ponto que, com a proximidade, podia sentir seu calor.

Ao chegar perto o suficiente, pode distinguir a forma da chama. Um lobo, que parecia não nota-la, sentiu vontade de tocar naquelas chamas que pareciam tão brilhantes e acolhedoras. Ele estava deitado sobre algo, mas lhe pareceu estar mais zelando alguma coisa. Atrás de si, algo brilhou com a mesma intensidade, outra chama que não parecia ter forma. Era brilhante, mas não aquecedora, parecia gelada. Por algum motivo queria ir naquela direção. Sentiu o choque térmico em si, calor e frio, as duas chamas disputando uma contra a outra para ganhar a menina.

Ela se virou para a brilhante luz azul e caminhou em sua direção. Algo ali chamou sua atenção, como se a estivesse chamando.

Alguns passos foram dados, mas um sussurro muito baixo a impediu de continuar. Era uma voz cansada, triste e solitária que chamava pelo seu nome.

_Sakura...

Sakura acordou com um pulo tamanho o susto. Estava suada e sua respiração ofegante. Colocou a mão no peito, sentindo o coração bater descompassadamente e respirou fundo para se acalmar. Um sonho. Por algum motivo pensou em Syaoran, e ao lembrar-se dele, olhou para si mesma esperando ter voltado ao normal, estar de volta. Ela continuava com a mesma forma, uma criança.

Suspirou e olhou para o quarto ao redor, era exatamente o quarto em que o outro Syaoran estaria. Ela ficou de joelhos na cama, com as mãos acariciando o colchão, era para Syaoran estar ali, era para ela estar ali, com ele. Sentiu os olhos lacrimejarem.

_Ei, dorminhoca, esta na hora de acordar! – disse uma figura pequenina e cabelos rebeldes entrando no quarto.

Quando os olhos de Sakura encontraram com os olhos que ela tanto gostava de ver, sentiu o desespero passar, limpou as lagrimas e correu até o garoto abraçando-o. Não entendia direito, aquele não era o Syaoran, mas era o Syaoran. De alguma forma, a calor e o cheiro não eram diferentes, portanto ela sabia que aquele era um Syaoran verdadeiro. Existiam dois Syaorans?

O garoto ficou sem reação. Sakura o empurrou e disse:

_Não sabe bater antes de entrar? – ela assumiu a mesma posição costumeira, mãos na cintura e queixo erguido, tinha desenvolvido essa pose para encarar valentões quando criança, usou para encarar seu irmão e agora servia muito bem contra Syaoran também.

Ao lembrar-se do irmão seu peito deu um aperto mais forte, estava tudo dando errado. As pessoas importantes para ela estavam tão distantes.

Syaoran notou a tristeza da menina, então bufou e disse:

_Pra que? Você nem tem peitos pra esconder!

_Como é?!

O menino mostrou a língua e correu com uma Sakura furiosa em seu encalce. Ela esbravejava e gritava enquanto Syaoran corria e driblava a menina. Muitos empregados que andavam pela casa ou ria das crianças ou gritava com elas quando passavam correndo pisando em seus pés ou derrubando alguma coisa.

Cansados, eles foram encontrados dormindo no jardim. Yeilan segurou os dois no colo, um de cada lado, e os levou para dentro dizendo:

_Parece que ainda estou em forma!

Ela colocou os dois na cama, dando um beijo na testa de Syaoran, e quanto a Sakura, esta lhe intrigava.

_Parece que você vai enfrentar coisas difíceis Sakura, assim como Syaoran também – disse ela acariciando a cabeça da menina adormecida. – seja forte, tenho certeza que ele, neste momento, esta lutando por você!

Yeilan sentia-se cansada, também gostaria de dormir igual a uma criança, mas tinha preparativos a fazer. Duas horas depois, ela acordou Syaoran.

_Esta na hora! – disse para o menino sonolento.

–----****------

Sakura acordou no meio da noite com algo a chamando em seu ouvido. Ela levantou, mas não viu nada em volta, então se deitou novamente. Ouviu mais uma vez alguém chamando por seu nome, dessa vez, também sentindo um leve toque em seu ombro. Levantou bruscamente, mas não viu nada ao redor. Porem, ainda podia ouviu os sussurros do seu nome. Estava perto da porta, ela levantou e caminhou devagar naquela direção.

Quanto mais próxima dos sussurros, mais eles se afastavam. Demorou um pouco para ela perceber que eles a estavam guiando por algum caminho. Antes de prosseguir, deu uma rápida espiada no quarto de Syaoran, mas o garoto não estava lá. Os sussurros encaminharam-se para a sala, impacientes, mas então começaram a ficar mais indistinguíveis.

_Eu não consigo ouvir direito! – O som dos sussurros que se tornaram resmungos foi em direção a estantes de livros e depois desapareceu.

Sakura pensou que, se eles queriam leva-la a algum lugar, provavelmente era atrás da estante. Sempre viu isso em filmes. Então, puxou livro por livro, grossos e finos. Não deu certo, sentia-se ansiosa, talvez fosse mais para nervosa. Sentia que era algo importante e tinha que se apressar. Apoiou-se na lateral da lareira ao lado, percebeu que se acendessem uma lareira tão grande assim em um dia de inverno, a casa ficaria toda aquecida, e que, também nunca tinha acendido uma lareira antes. Na parte de cima da lareira, havia fotos de Yeilan, mas não tinha nenhuma de Syaoran. Lembrou-se da foto que tiraram no dia anterior, e teve impressão de que ela seria posta ali em breve.

Ao lado de uma foto de Yeilan com sua típica roupa tradicional e sem esboço de sorriso, havia um dragão em miniatura. Era lindo, pequeno e com tantos detalhes maravilhosos que davam a impressão que ele estava vivo. Os olhos eram duas pequenas safiras vermelhas e o corpo esguio e comprido era esculpido em ouro. Seus bigodes eram tão grandes que chegavam até a lateral do corpo e prosseguia pelo chão, como se estivesse em um movimento de ondulação. Nunca tinha reparado naquele dragão antes, e era tão brilhante que chegava a brilhar no escuro.

Levou um susto quando a cabeça do dragão virou-se para ela, como se a encarasse. Sakura achou estar vendo coisas, a escultura do dragão era tão bem feita que achou que ele realmente tinha se mexido, ela esfregou os olhos e olhou mais uma vez. Realmente tinha se mexido, continuava virada em direção a ela, e dessa vez, seus bigodes realmente faziam um movimento de ondulação. O dragão parecia olhar dentro dela, apertou os olhos e então se moveu rapidamente, voando acima da lareira e voltando para o mesmo lugar logo em seguida, mas em uma posição diferente. Parou como se estivesse rugindo, com os bigodes voltados para cima e uma pata erguida.

A lateral da clareira abriu-se, soltando pó. Sakura olhou pela pequena brecha surpresa. Olhou para a estatua para conferir de ela se moveria novamente, mas não se moveu. Espiou pela brecha, não tinha como ver algo ali. Empurrou mais a lareira para ter mais espaço para passar, era muito pesada e tinha que usar o peso do corpo inteiro para empurra-la até que conseguisse se esgueirar pela brecha mais aberta. Não podia ver muito, mas dava para ver o suficiente que era um túnel. Caminhou por ele, desejando que tivesse aquelas tochas na parede que se acendiam sozinhas toda vez que alguém passava, como nos filmes novamente. Perguntou-se se a ideia da passagem secreta da estante e das tochas que se acendiam fazia parte do mesmo filme, não se lembrava.

Sakura deu cara com uma barreira, à iluminação ali já estava melhor, pois tinha janelas, e então percebeu que o túnel tinha continuação para os dois lados, direita e esquerda. Ela parou ao notar uma coisa, janelas? Num túnel? Correu até a mais próxima para espiar.

Era uma caverna incrivelmente grande, com um circulo de pedra no chão iluminados por tochas ao redor, não tinha outras saídas se não a única porta de metal ali. Então percebeu que o túnel que se seguia para a direita e esquerda davam a volta nesse circulo. Ela olhou para quem estava no centro e arfou.

Syaoran, com uma roupa tradicional chinesa estava com Yeilan, um pouco mais afastada, e , parado em frente ao garoto, estava um homem jovem e bonito, loiro de olhos azuis.

_ Fay, não quero apressar, mas realmente estamos sem tempo! – disse Yeilan, parecendo preocupada.

O jovem loiro riu e disse:

_Ora, tenha calma minha querida – ele deu um sorriso que Sakura nunca tinha visto antes, não era assustador, mas tinha a impressão de que não podia relaxar perto dele. – Não se apressa um feiticeiro!

Ele olhou para Syaoran.

_Esta pronto?

Syaoran afirmou com a cabeça

_Então vamos começar!

Sakura ficou tensa, sabia que estava vendo uma coisa que seus olhos eram proibidos de ver. Olhou para o rosto do pequeno Syaoran, ele parecia determinado. Yeilan andou até o centro da caverna segurando uma pequena caixa de veludo e olhou seriamente para Syaoran, que não baixou o olhar.

_Syaoran, você esta preparado para carregar o destino desta família? Esta preparado para tornar-se um Li?

Tornar-se um Li? Sakura repetiu essas palavras na mente dela, Syaoran tornou-se um Li? Ela viu o menino cerrar os punhos e afirmar com a cabeça.

_Esse é um fardo que uma criança não deveria carregar – disse baixinho Yeilan, mas foi o suficiente para que ela ouvisse. – Fay, é com você!

O homem loiro caminhou sorridente até Syaoran enquanto Yeilan se afastava. Então, seu sorriso desapareceu. Ele estendeu um braço em direção a Syaoran, uns símbolos estranhos começaram a sair de seus dedos para logo em seguida rodear o menino chinês. Yeilan entregou a caixa para o feiticeiro chamado Fay, ele abriu a caixa, mas Sakura não conseguia ver o que tinha dentro.

Antes que Sakura pudesse ver alguma coisa, uma mão grande e pesada a puxou para traz.

_Você não deveria estar aqui, garotinha!

Sakura ficou desesperada, fora pega espiando. O que faria? Ela lembrou-se da situação de seu corpo, era pequeno, mas ágil. Ela deu um chute na canela do homem e correu. Sabia que não poderia correr por muito tempo, afinal o túnel dava uma volta, se a cercassem estaria perdida.

Enquanto corria ouvindo passos atrás dela, percebeu que ele não gritou por ela nem uma vez, então entendeu, ele não queria atrapalhar a cerimonia. Ela ouviu sons estranhos vindo do outro lado do muro, ela pulou enquanto corria tentando ver alguma coisa. Apenas um vislumbre de uma luz na direção de Syaoran.

Sakura ouviu passos a sua frente, estava cercada. Logo depois, ouviu um grito de Syaoran, seu coração apertou. Ela conseguiu ver uma porta, era a entrada para onde o chinês estava. Os passos dos homens de trás e da frente estavam mais pertos, correndo freneticamente onde Sakura ouvia apenas os ecos deles. Ela não tinha escolha, correu para a porta próxima de si a girou a maçaneta.

Quando a porta abriu, ela se afastou tropeçando nos próprios pés e caindo no chão, bem a tempo antes que duas mãos a segurassem. Sakura viu que os homens ficaram receosos de andarem atrás dela, então ela olhou para trás.

Syaoran estava agachado com uma mão do olho direito, dentro de um grande símbolo de magia, a marca do mago Clow. Sangue escorria por seu olho, e a cada gota que pingava no chão Sakura sentia-se mais desesperada. Ela olhou para o feiticeiro loiro, ele também estava dentro de um símbolo diferente, porém, familiar. Em um breve relance de imagens em sua cabeça, ela se lembrou. Aquela era a marca de Syaoran, o símbolo que abriu quando ele convocou o lobo de fogo. A caixa nas mãos do feiticeiro estava envolta de um leve brilho alaranjado. Vista de mais perto, Sakura pode ver os detalhes, era feita de veludo com as bordas de ouro, também tinha fechadura.

Fay olhou para ela passivamente, logo seu rosto pareceu surpreso.

_Essa garota... – ele olhou para Yeilan, que não parecia surpreendida – essa garota é...

_O QUE VOCE ESTA FAZENDO AQUI? – Gritou Syaoran.

Sakura não sabia o que fazer, olhou para Syaoran, queria ajuda-lo, mas estava paralisada. O gritou dele a acordou. Ele levantou-se fraco e deu alguns passos na direção dela, porem seu corpo não aguentou e cedeu, despencando no chão. Sakura tentou correr para ajuda-lo, mas ele gritou:

_ATRAS DE VOCÊ!

Duas mãos a seguraram, ela olhou para porta e viu que os homens que a perseguiam não tinham mais êxito em entrar no circulo de pedra, e agora ambos estavam ao seu lado.

_Sakura, esta na hora de você ir! – gritou Yeilan.

Sakura não entendeu, ela estava a expulsando?

_Para onde?

_Volte para o lugar que veio, DESEJE!

Sakura desejou, mas quando abriu os olhos ainda estava sendo arrastada pelas mãos dos homens. Ela olhou para Syaoran, que lutava para se levantar. A menina começou a se debater, tentando inutilmente se soltar, ela era uma criança, não poderia fazer muito contra a força de dois adultos.

_SYAORAN! – ela gritou. Um dos homens a colocou sobre o ombro – SYAORAN!

Ele estendeu a mão para ela, como se pudesse alcança-la. Ela estendeu a mão de volta, as lagrimas rolaram por seu rosto. Queria voltar, encontrar o antigo Syaoran bem e saldável, onde poderiam discutir e brigar um com o outro. Queria que tudo pudesse voltar ao normal.

Então, simplesmente perdeu a consciência.

–----*****------

Aos poucos, Sakura abriu os olhos. Sentiu a face húmida. Será que ela estava na prisão? Em um calabouço? Fora da casa dos Li? Levantou-se devagar, o corpo estava muito dolorido. Ouviu um sussurro, uma voz que aos poucos ia ficando mais alta.

_Sakura...Sakura – Yeilan pôs a mão em seu ombro, sacudindo-a – Sakura, você esta bem?

Ela olhou para Yeilan, mas não estavam na caverna? Olhou ao redor, estava sentada no chão de seu quarto. Verificou o próprio corpo, estava de volta ao normal. Seja lá onde estava, tinha voltado tudo ao normal. Sentiu-se tão feliz e aliviada que jogou-se nos braços de Yeilan e pôs-se a chorar.