Reyna estava sentada em sua cama. A escuridão tomava conta do quarto, mas ela parecia não se importar. Toda a sua concentração estava na adaga presa entre seus dedos. Seu rosto era refletido na arma, e embora não houvesse perfeição nas formas refletidas, ela não desviou o olhar por nenhum segundo. Sua cabeça estava confusa, um mar de ideias emaranhadas confundindo-a e atordoando-a. Jason. Jason. Jason. Sua mente repetia o nome do rapaz em desespero. Desde que ele se fora nada mais fora o mesmo. Ela sentia falta dele, sentia falta de seu sorriso e de como ele a tranquilizava quando tudo parecia perdido. Não que tivesse passado por muitos momentos, já que Jason fora tirado dela antes que pudessem ter um envolvimento real e físico, mas ainda havia o sentimento. Reyna o amava, e claro, ele tinha que amá-la também. Com cuidado ela colocou a adaga sobre a cama e andou até uma mesinha abarrotada de papéis e grossos livros. Destrancou uma das gavetas e pegou um papel amarelado e dobrado de dentro de um envelope totalmente em branco. Abrindo-o com cuidado, Reyna releu pela milésima vez trechos da carta escrita por ela há 3 dias. Ela podia sentir seu coração se rasgando a cada palavra lida. "Ah, Jason. Meu herói. Aonde você está?" Ela passou o dedo na carta sentindo a textura do papel como se assim ela também pudesse sentir a textura da pele de Jason. "Volte logo. Volte para mim. Temo que a essa hora esteja morto, mas mantenho um fiapo de esperança dentro de mim, ainda. Me apego a essa esperança pois sei que não suportaria sua perda. Não suportaria saber que teria que substitui-lo como pretor, como amigo, como um futuro relacionamento mais sério." E era exatamente assim que ela se sentia. Ela precisava dele. Reyna era ágil, inteligente, bonita. Mas sem Jason sentia-se sem muito valor, sentia-se sozinha e desprotegida. "Octavian não vê a hora de tomar seu lugar. Tenho feito o máximo que posso para que isso não aconteça, mas tem sido difícil. Não sou tão boa com questões emocionais. Acredito que tudo estaria certo se eu tivesse você aqui para me confortar. Não pode me deixar, não pode me esquecer. Herói, por favor. Você prometeu que me protegeria, mas não está aqui. Quanto tempo ainda terei que ficar a sua espera sem saber se você realmente voltará?" Reyna voltou a cama em passos lentos, pegou a adaga e foi até o imenso espelho pregado na parede. Sem o menor cuidado derrubou todas as coisas que estavam sobre a penteadeira de madeira, derrubando perfumes e jóias no chão.Colocou a adaga e a carta sobre o espaço vazio e observou-se no espelho. O cabelo longo e escuro estava preso em uma trança de lado. Encontrou uma caneta no canto e abaixou-se para terminar a carta. "Seria capaz de fazer muita coisa por você. E é por isso que finalmente tomei minha decisão. Farei meu sacrifício por nós dois. Minha última tentativa." Reyna soltou a caneta e pegou a adaga, segurando-a com força. Podia ver claramente o reflexo de seus olhos que brilhavam intensamente pelas lágrimas que pediam para sair. Segurou o cabelo e antes que a adaga o cortasse com imensa precisão ela murmurou de olhos fechados "Esse é meu sacrifício a você, deusa Vênus. Traga-me Jason." Sua trança caiu no chão e uma única lágrima saiu de seu olho. Sua mente foi dominada pela escuridão, até que pontinhos brilhosos apareceram. Como estrelas durante a noite. Jason. Sua mente clamava por ele, seu coração queria sair por seu peito. Jason. Jason. Meu Herói. Um dos pontinhos brilhou mais forte e foi ganhando brilho até que toda a escuridão foi tomada por uma claridade cegante. A imagem em preto e branco de Jason sentado ao lado de um pinheiro foi tomando cor aos poucos. Parecia mais bronzeado e mais forte do que antes. Tinha uma aura diferente, também. Mas Reyna não tinha dúvidas, era ele. Ao seu lado um garoto magro e de cabelos cacheados estava sentado com o rosto apoiado nas mãos. O sol brilhava forte e Reyna quase podia sentir a sensação calorosa de ficar sob um sol daqueles.

- Quanto tempo ainda? - Jason perguntou enquanto brincava com sua moeda.

- Alguns dias. Não se preocupe, chegaremos a tempo. Consegue se lembrar de alguma coisa? - Ele perguntou despreocupado, como se já conhecesse a resposta.

- Tudo. Me lembro do Acampamento Júpiter, dos meus amigos... e Reyna.

- Reyna? - O garoto fez cara de desgosto.

- Sim. Acho que tivemos algo. Mas não me lembro de muita coisa em relação a ela. Sempre que tento me lembrar Piper aparece em minha mente também.

- Uau. Diga a essa Reyna que ela deve ser muito, tipo muito, boa para passar por cima de Piper.

- Isso não é uma competição. Eu mal sei o que tivemos. E também não sei o que há entre mim e Piper.

- Você é o único que não sabe, então. - O menino riu, fazendo com que Jason quase risse também.

- Sei que amo Piper. Mas antes dela tem toda uma vida que eu preciso me lembrar com exatidão. Não é tão... - Reyna não ouvia mais nada. A imagem foi ficando em preto e branco e sem som.

Logo a escuridão tomou conta de sua mente outra vez, e ela sentiu-se sufocando. Abriu os olhos com dificuldade, arfando. Jason estava vivo, afinal. E estava voltando. Ele voltaria por ela. Ele voltaria a pertencê-la. Seriam felizes. Reyna voltou a dobrar a carta mas não a guardou. Jogou-a em uma gaveta qualquer sem o menor cuidado. Seu sorriso largo e os olhos que brilhavam, mas não por conta das lágrimas, mostravam o quanto estava feliz. Vênus atendera a seu pedido, aceitara seu sacrifício. Quando a palavra "sacrifício" veio a sua cabeça instintivamente olhou para o chão onde seu cabelo cortado deveria estar. Mas não havia nada. Só o pensamento de que em alguns dias, que certamente passariam devagar, ela voltaria a ver Jason. Seu Herói Perdido.