Beyond The Barricade escrita por Fantine


Capítulo 3
PRÈMIER PARTIE "Before The Barricade" - Grantaire


Notas iniciais do capítulo

SOM: http://www.youtube.com/watch?v=RpZILWWnaxw



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327977/chapter/3

Grantaire estava bêbedo, aliás como sempre parecia estar. Mas talvez dessa vez fosse diferente. Ele não achou que faria diferente se estivesse sóbrio.

– ENJOLRAS! – ele gritou bem alto, não que ele esperasse que o outro aparecesse, ele apenas precisava dizer.

– Grantaire! O que raio estás fazendo a gritar a estas horas da madrugada? Há pessoas tentando dormir. – ele disse enquanto o ajudou a pôr – se de pé e a trazê-lo para dentro de casa – Tu estás tão bêbedo. Agora cala – te e senta – se.

Grantaire obedeceu.

– Tudo bem, o que queres? – Enjolras perguntou com pouca paciência.

– Eu vim ver – te.

– Grantaire, são três da manhã. Se tu me querias ver, porque não podias apenas esperar até de manhã?

Grantaire parecia estar a dormir. Talvez fosse melhor assim. Pelo menos a dormir não dizia disparates nem importunava ninguém.

– Tudo bem. Sabes que mais? – Enjolras resmungou interrompendo – se quando viu o outro entreabrir os olhos. – És impossível!

– Não, não sou. Estou aqui à tua frente. – ele disse, constatando o óbvio.

– Se achas mesmo que vamos morrer que fazes aqui? Tu nem acreditas em nada disto. Que fazes aqui?

– Eu acredito em ti.

Grantaire não achou que aquilo fizesse sentido para Enjolras. Porque faria afinal de contas? Era apenas um rapaz, demasiado dissolvido na sua revolução para se aperceber que o mundo ao seu redor também mudava. Carregava os males do mundo como uma espécie de cruz pessoal.

– Em mim? – ele perguntou com os olhos arregalados.

– Sim, em ti. Eu não preciso de uma causa. Na realidade, se tivesse uma, nem saberia o que fazer com ela. Mas tu…

Grantaire não sabia mais o que dizer. Então apenas deixou que as palavras se perdessem na sua boca. «Será que gosto de sofrer? Preciso de sofrer? Existe alguma razão para continuar a torturar – me desta maneira?» ele perguntou – se, tentando controlar – se para evitar uma explosão de palavras que sempre tinham ficado por dizer. O silêncio imperou entre eles até Enjolras o quebrar.

– Talvez um dia encontres o teu lugar. Toda a gente acaba por encontrar.

– Sim, talvez. – ele forçou – se a concordar. Não queria admitir que todo o seu corpo e alma se retraiam ao pensamento e às palavras do outro. Não queria continuar uma conversa da qual não saberia o final. Talvez ele já tivesse o seu lugar e a sua causa. Uma causa que aparentemente parecia perdida. No entanto, apesar das atitudes e das palavras, dos temperamentos e dos melindres, o amor prevalecia.

– Enjolras?

– Sim?

– Porque acreditas na tua causa?

– Não é minha. – ele disse corrigindo – o. – É a causa do povo. O ABC é o povo. Eu acredito num mundo onde os fortes sirvam os fracos, e não o contrário.

– Tu consideras o povo fraco?

– Não é isso. O povo apenas tem medo. Vive no medo.

– E é por isso que é menos forte? Talvez seja por isso mesmo. Talvez o facto de terem medo e de isso os impedir de lutar apenas faça deles fortes.

– É a primeira vez que dizes algo que faz sentido. Sim, talvez… Mas todos devemos lutar por aquilo que achamos mais justo. Eles podem tirar as nossas vidas, mas nunca poderão tirar a nossa liberdade. A vida só se torna justa… aliás, nós só devemos ter o direito de reclamar das suas injustiças, se primeiro tivermos tentado alterar o seu rumo. Aí, sim. Mas se não tentarmos, se não fizermos nada, se apenas esperar – mos sentados por uma mudança, não poderemos reclamar se ela não acontecer. Ou se ela não acontecer da maneira que gostaríamos.

Grantaire estava ali. Ele esperava que Enjolras dissolvesse as suas dúvidas. Por isso mesmo, ele deveria fazer algo por si. Não deveria “apenas esperar sentado por uma mudança”. Ele deveria tentar mudar. Mas ao contrário de Enjolras, ele não esperava mudar o mundo. Apenas aquele bocadinho em redor de si. Agora, mais do que nunca, ele tinha a certeza. A certeza sóbria de incertezas embriagadas.

Lá fora, não muito longe dali, uma criança deambulava. Também ela tentava apenas mudar “aquele bocadinho em redor de si”.

Talvez as pessoas tivessem ido para a barricada pelas razões erradas. Mas de que é que isso importava agora? Não é o errado também certo? Tudo depende do ângulo em que é analisado. Tudo pode ser interpretado de pelo menos duas formas diferentes. O predicado depende sempre do sujeito e de uma infinidade de complementos. E por vezes, até de modificadores.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muito obrigado pelos comentários anteriores. Espero que gostem e desculpem a demora. Beijos ♥

PS: o contexto em que as músicas são colocadas aqui, não tem nada haver com o contexto em que estão inseridas no filme, mas é mesmo assim.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Beyond The Barricade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.