Cavaleiros Não Choram escrita por Grace Black


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Categoria: Missing scene - Tormenta de Espadas / brecha pag 691 / Presente de Amigo Secreto do Forum Paper Back Writers para Cah
Consultoria/Beta: Swan/ Nayla



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                        Cavaleiros não Choram

 

Loras

Estava errado, tudo errado. Ele sempre desejara estar na posição em que se encontrava agora, mas não protegendo aquele rei. O seu rei se fora. E estar naquela fortaleza, passando por aqueles corredores que tantas lembranças lhe traziam era um perpetuo sofrimento, uma dor eterna, com o sentimento de que o mundo estava fora de lugar. Porque o mundo dele se fora. 

Mas ele tinha que forçar a sua mente a permanecer no presente. Ele tinha tarefas da Guarda Real para cumprir e tinha que proteger Margaery e sua família. Permanecer em emoções do passado, relembrando cada toque, sussurro e sensações vivenciadas nos cantos escuros da Fortaleza Vermelha só iriam prejudicar seu autocontrole e o seu dever como um Manto Branco. Branco. Não mais Arco-íris, apenas branco. 

Ele estacou o passo e deixou-se observar a luz do crepúsculo lustrar as cores da Fortaleza. Os sentimentos em completa tormenta dentro de si, fechou os olhos e sentiu-se levar pelas lembranças. O Regicida acabara de lhe perguntar o que ele tinha feito como corpo de Renly. Ninguém nunca descobriria onde ele o enterrara. Aquele lugar era deles, somente deles. O lugar preferido de Renly, que ele não compartilhou com ninguém mais, apenas consigo. 


******



_Onde este me levando? - Loras perguntou enquanto observava a postura perfeita do Baratheon em seu garanhão castanho. 

_Não seja ansioso Sor Escudeiro. Paciência, logo verá. – Renly respondeu com um sorriso. Aquele sorriso que amolecia as pernas de Loras, porque era lindo e brilhante e cheio de promessas. Ele nem se importou com a zombaria com o escudeiro.

_Você parece estar me sequestrando. 

_Quem me dera eu pudesse. Só quero lhe mostrar um lugar. 

_Eu deveria estar fazendo meus afazeres de escudeiro, não passeando por ai. 

_Mas você está fazendo seus afazeres de escudeiro Loras, está prestando serviço a um Baratheon em Ponta Tempestade. Faça de conta que é um dia de caça se quiser. – E mais um sorriso brilhante. Loras nunca imaginou que se sentiria assim na vida. Como se a simples existência daquele sorriso preenchesse todo o seu peito com um luz brilhante de felicidade. Renly era tão bonito, ele devastaria corações de belas donzelas quando fosse se instalar definitivamente em Porto Real. 

Haviam saído dos muros de Ponta Tempestade há quase meia hora e se embrenharam pela mata circundante ao castelo. Loras ainda podia ouvir o som do mar quebrando nas pedras a distancia, mas as árvores tornavam aquela mata cada vez mais fechada. Optou por apenas seguir o Baratheon para onde quer que ele quisesse leva-lo. O seguiria para qualquer lugar, para sempre, se Renly assim o desejasse. 

Renly parou, desmontou e amarrou as rédeas do garanhão em uma arvore próxima. Sem olhar para trás ou fazer qualquer comentário, jogou um pesado alforje sobre os ombros e seguiu caminho mais adentro na mata. Loras o seguiu sem questionar. Logo o barulho de água se tornou mais intenso, mas não era a quebra das ondas na pedra, era mais como uma queda constante. 

_Pronto. Venha ver senhor Tyrell, o meu lugar preferido nos territórios de Ponta Tempestade. _ Renly anunciou com um carinho especial na voz. – Nunca trouxe ninguém aqui, acho que ninguém além de mim já esteve aqui. Robert teria comentado alguma coisa se tivesse depreciado este lugar com suas mulheres e seu vinho. Como nunca disse nada, creio que fui o único a encontrar. 

Loras deu mais alguns passos até ficar ao lado do Baratheon e observou a magnífica paisagem que se descortinava a sua frente. A mata abria em uma clareira, onde desabrochava uma exuberante queda d’água correndo por varias pedras negras desembocando em um lago que logo depois corria como um pequeno córrego, que Loras imaginou desembocar no mar. Todo o verde de Ponta Tempestade era escuro e denso , nada como o verde claro das terras de Jardim de Cima. 

_Um lugar só seu? _Loras perguntou sorrindo maravilhado ao Baratheon. 

_Agora é seu também Loras. É nosso. – Renly respondeu tocando seu braço. Era a primeira vez que ele o tocava em dias. E sempre que Renly o fazia , Loras podia perder o fôlego pelo choque e formigamento que se alastrava no pedaço de pele que fora tocado. 

Renly desceu pelo terreno até chegar às margens do lado que se formava abaixo da queda d’água. Pousou o alforje no chão, o abriu e tirou um tecido grosso, um pedaço de queijo e um odre de vinho enquanto fazia sinal para que Loras chegasse mais perto. 
Quando finalmente se aproximou, fez força para olhar para toda a paisagem e não para o Baratheon despindo-se sem a menor vergonha na sua frente. Ele ficava encabulado toda vez que Renly assim o fazia, e se perguntava se algum dia ele deixaria de corar ao ver a cena ou com a memória de cada uma delas.

Renly riu. Ele sempre ria por ter o poder de deixar o outro corado. Despido, se atirou no lago e sem nenhuma palavra apenas olhou para o Tyrell e acenou com a mão em um novimento que lhe ordenava a se juntar a ele. Como se sentisse um fio de prata invisível colado ao seu peito, Loras se inclinou para a frente, como se obedecer aquele simples gesto fosse a razão de sua vida. Lembrou-se então que ainda estava vestido, despiu-se e foi de encontro ao senhor de Ponta Tempestade. 

A tarde passou lenta e morna. A água gelada os refrescava. O vinho se tornava cada vez mais doce. O queijo espantava a fome de seus estômagos, enquanto outro tipo de fome só crescia dentro deles. 


********* 


Loras nunca imaginou o quanto poderia doer o sentimento de perda. Havia um abismo negro em seu peito, uma dor além de física. Se ele deixasse que sua mente afundasse na escuridão que se alastrava por seu peito, ele tinha a impressão de que jamais voltaria a ser quem ele era, jamais voltaria ao normal. E ele simplesmente não podia deixar -se afundar. Ele tinha uma vingança a colocar em prática, tinha que encontrar os responsáveis pela morte do seu Rei e mata-los lenta e dolorosamente. Mas antes disso, ele tinha que resguardar o descanso dele. Ninguém macularia seu sono eterno.

Com a morte de Renly o exército se movia impaciente com a troca de Senhores. Os Vassalos de Ponta Tempestade um a um escolhiam servir a outro Baratheon, a força de Jardim de Cima se movia de volta ao seu próprio território e Loras só se deixaria ficar enquanto pudesse deixar Renly para trás. Ao menos deixar o seu corpo para trás, porque ele nunca seria esquecido, nunca abandonado. Renly Baratheon havia se condensado tão fortemente em seu corpo que Loras jamais esqueceria cada detalhe daquele que fora a pessoa mais importante de sua vida. 
Loras conseguiu transporta-lo em segurança até a mesma mata fechada que visitara com o Baratheon tantas vezes enquanto ainda era apenas um escudeiro. Ele vestia suas melhores vestes, aquelas que destacavam tão bem seus atributos. O tecido verde, macio, bordado com fios de ouro, com o veado coroado estampado no peito. A espada ao lado representando a sua força. 

Quando finalmente chegou até a queda d’água que tantos segredos sobre eles guardava, estava exausto. Sentou-se sobre as pedras e observou a paisagem mais uma vez. Olhou para o corpo estendido na esteira que arrastara até ali e acariciou o rosto frio daquele que havia sido o mais quente entre os homens. Os meistres fizeram um bom trabalho. Ele poderia estar dormindo que eu não veria diferença, não fosse a pele tão fria onde antes havia tanto calor.

Cansado de guardar tudo para si. Cansado de deixar que a ira fizesse o papel de luto ele deixou que enfim as lagrimas pudessem rolar. Ali não havia ninguém para testemunhar sua dor. Ninguém para repreender quecavaleiros não choram. Lagrimas rolaram por horas, ou por uma eternidade sem fim, ele não poderia dizer. A cabeça doía e sentia seus olhos inchados. O sol começava a despontar, era hora de terminar o que tinha de fazer. 
Com as mão nuas e sua adaga ele encontrou um terreno mais fofo antes que as pedras tomassem todo o lugar perto da queda d’água. Cavou um buraco profundo e retangular, andou pelo terreno e carregou varias pedras e forrou-o. Trouxe o corpo de Renly e carinhosamente, como se estivesse mudando-o de posição da cama, que tantas vezes eles compartilharam, depositou-o sobre as pedras. Com a manta bordada com o símbolo dos Baratheon cobriu-o, enxugou algumas lagrimas que teimavam em rolar pelo cantos dos olhos, e murmurando antigas promessas selou seus lábios mais uma vez com os dele. Antes não o tivesse feito, agora lembraria para sempre do toque frio e rígido daqueles lábios sobre a cama de pedras. 

Daí para frente trabalhou sem consciência do que realmente fazia, cobriu-o com a terra e novamente com uma camada de pedras. Sentou, descansou , observou o movimento do sol já pelo meio do céu e se pós em movimento novamente. Tinha que ir para Jardim de Cima e ninguém iria encontra-lo ali. 



*****

Ninguém importunaria o seu sono. E se Loras tivesse sorte, viveria tempo suficiente para um dia voltar até ali e descansar ao lado do seu único amor. Mas antes ele tinha trabalho a fazer. Sobreviver na Fortaleza Vermelha e se vingar daquela vida roubada, aquela vida que lhe pertencia, pois era como o ar que respirava. O tempo de lamentação passara, ninguém o veria tão ferido por uma perda novamente, afinal,cavaleiros não choram. Não na frente de outras pessoas ao menos.



Fim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Se sim, me deixem um oi :)