Um Assassinato, Uma Carta E Um Mistério escrita por Windsor


Capítulo 1
Um assassinato, uma carta e um mistério




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Era meia-noite de uma terça-feira qualquer. Chovia há horas. O tempo não dava tréguas – um raio atrás do outro. A Sra Silva estava sentada no sofá, tricotando, quando de repente, ouviu um grito longo e desesperado. O grito vinha da casa vizinha. O que era estranho, pois só havia uma pessoa na casa ao lado, Raíssa, uma estudante. Depois de outro grito, um barulho de uma janela se quebrando. Isso foi o bastante para despertar a curiosidade da Sra. Silva. Ela pegou sua capa de chuva e saiu, chegou até a calçada e olhou fixamente para a casa vizinha através das cerquinhas de madeira. O vidro da janela do segundo andar estava quebrado. Ela entrou no quintal, mas a sua frente haviam alguns arbustos, com as folhas pingando, mas não era água da chuva, era sangue. Ela se aproximou mais ainda, e quando chegou perto, viu sua vizinha estirada no chão, pálida e sangrando. Em sua testa, havia um papel colado com durex.  Estava escrito: “Ela sabia demais”.

    Assustada e desesperada, Sra. Silva saiu correndo para sua casa. Quando chegou lá, agarrou o telefone e discou o telefona da polícia. Antes que pudesse terminar de discar, seu olhar desviou para a janela. Mesmo com as gotas da chuva desfazendo a frase, dava claramente para ler: “Ela mereceu isso”.

    Dez minutos depois, a polícia chegou. O resto da noite foi terrível. Bebês choravam por causa do barulho alto que a sirene fazia. E vizinhos fofocavam, enquanto a ambulância levava o corpo de Raíssa ao IML, para fazer a autópsia.

    – O que aconteceu? – perguntou Renato para sua esposa Maria, que observava a cena chorando.

    – A estudante, ela... ela... ela foi assassinada.

    – O quê?

    – A Sra. Silva a encontrou morta nos arbustos. Estão levando o corpo dela para que a autópsia seja feita.

    Para Maria, Renato pareceu mais estupefato do que o normal, mas ela não ligou. Maria olhou ao redor, todos os vizinhos estavam à porta assistindo a ambulância deixar o condomínio com o corpo de Raíssa, menos o homem que morava ao lado Raíssa, um tal de Silas, pois há um mês a mulher dele havia desaparecido e ninguém mais o via saindo de casa. A Sra. Silva estava dando um depoimento à polícia, dentro de sua casa.

    Uma morte e um desaparecimento em pouco menos de um mês. Era horrível saber que o condomínio que Maria escolhera estava sendo alvo de assassinos e sequestradores. Ou será que os dois casos tinham alguma ligação. A única coisa que sabia agora era que não demoraria muito para ela se mudar.

    No dia seguinte, os resultados chegaram: Raíssa fora esfaqueada quatro vezes na barriga. A cidade inteira ficara indignada ao saber do assassinato de uma universitária de vinte anos. Os pais da garota, que estavam viajando, voltaram, e logo se mudaram, assustados e de luto. Não teve funeral e enterro – o corpo foi cremado. Para os moradores do condomínio, aquilo fora o suficiente para se mudar, e esse fato foi o suficiente para, João Pedro, o homem que queria comprar o condomínio há anos. Essa era uma chance imperdível. E o proprietário do condomínio aceitou a proposta, já que após uma semana só haviam sobrado três moradores: Sra. Silva, Renato e o homem que não saía de casa.

    – Você é doente – disse o proprietário para João Pedro –, aproveitando-se de uma tragédia para poder expandir os negócios. Parece até que foi você que... Esquece.

    João Pedro queria o condomínio para construir um shopping, e sim, era estranho se aproveitar de uma tragédia para “expandir os negócios”, mas e negócios são negócios. E todos moradores que sobraram iriam se mudar em menos de uma semana.

    O detetive Murilo foi falar com Sra. Silva pessoalmente. Ela ainda estava chocada.

    – Pobre garota – dizia. – Ela ainda tinha uma vida inteira pela frente.

    – Com licença, Sra. Silva, eu sei que a senhora já disse tudo para a polícia, mas, você poderia me contar de novo?

    – Eu estava tricotando, daí eu ouvi o grito, fui checar e achei o corpo da jovem nos arbustos. Já disse isso – ela disse meio alterada.

    – E o que estava escrito no bilhete na testa dela mesmo?

    – Ela sabia demais.

    – E na sua janela?

    – Ela mereceu isso.

    Na verdade, Murilo já sabia detalhadamente de tudo isso. Só estava tentando fazer com que a Sra. Silva falasse algo que não tinha revelado no depoimento.

    – E por acaso você sabe do que ela sabia? – perguntou o detetive.

    – Não.

    – E por acaso você sabe por que ela merecia?

    – Ah... hum... não.

    Foi aí que ele percebeu que a Sra. Silva sabia mais sobre o caso do que parecia.

    – Tem alguma coisa que você queira me contar, Sra. Silva.

    – Nã... Ah, esquece, eu não sei mentir. No dia anterior a morte dela, eu estava espia... estava dando uma olhada no condomínio pela janela. E aí eu vi Raíssa abrindo um envelope. Ela havia recebido uma carta. Quando ela começou a ler, pude ver nitidamente pela janela da cozinha o sorriso meigo dela desaparecer. Ela leu a carta e a deixou em cima da mesa da cozinha. Quando ela saiu, para ir para a faculdade, eu entrei na casa dela e peguei a carta em cima da mesa, e li.

    – O que dizia a carta?

    – Dizia que... eu peguei a carta pra mim, quer ler. – O detetive assentiu. – Mas, por favor, não me prenda, eu estava curiosa, por favor não me prenda!

    Depois do detetive dizer que não a prenderia, ela saiu para buscar a carta. Voltou e a entregou:

    Para Raíssa,

    Você, Raíssa, não me conhece, mas eu te conheço muito bem. O que mais me intriga é o fato de você estar tendo um caso com um homem casado. Claro, você deve amá-lo, mas a esposa dele também o ama. Ele é quinze anos mais velho que você e já tem três filhos. Você tem certeza que vai amá-lo para sempre? Acontece que, um dia você pode acordar e perceber que não o ama mais. Imagine ainda o que aconteceria se a mulher dele descobrisse que ele está tendo um caso, ela poderia ser capaz de fazer qualquer coisa. Matar a você ou a ele, por exemplo. O que você está sentindo por ele pode ser passageiro. Raramente, namoros como esse – às escondidas –, acabam dando certo. Renato é um pai de família. Ele provavelmente está um pouco estressado com o casamento e achou alguém que poderia tirá-lo do tédio – você, mas ele não te ama, provavelmente. Releia, pense nisso, preste muita atenção.

    E isso era tudo que havia na carta. Não estava assinada. Não dava para saber quem a havia mandado. Ele colocou a carta de volta no envelope e disse à Sra. Silva que ficaria com ela.

    No dia seguinte, o detetive foi investigar a casa de Raíssa – já que os pais dela haviam se mudado temporariamente para um hotel, e a casa continuava do mesmo jeito e antes do assassinato – e fez uma descoberta incrível: o diário dela. Havia um anotação no dia anterior a morte dela.

    12 de novembro de 2012.

    Hoje eu fiz um ultimato: disse que se ele não divorciasse de sua esposa, não continuaríamos juntos, e caso ele recusar minha proposta, eu espalho para todos do nosso caso. Amanhã ele me dará a resposta. Ah, estou tão feliz!

    Isso foi a última coisa que ela escreveu no diário. E tudo fazia sentido! Raíssa disse a Renato que se ele não se divorciasse, ela contaria tudo para todos. Então Renato, assustado com as consequências da possibilidade de Raíssa abrir a boca, a matou. Simples.

    Mas havia uma outra possibilidade: Renato era casado, pode ser que a esposa dele já soubesse do caso entre os dois e fosse ela que tivesse escrito aquela carta. Mas, ignorando a carta, Raíssa fez o ultimato e Renato aceitou a proposta de se divorciar. Então a esposa foi lá e matou Raíssa.

    Murilo ligou para a polícia e contou tudo. Logo vieram duas viaturas para buscar Renato e sua esposa. Murilo pretendia interroga-los. Mas Renato não estava em casa, então eles apenas levaram a esposa para a delegacia. Ele estava trabalhando.

    Então enquanto uma viatura ia buscar Renato no escritório em que ele trabalhava, Murilo interrogava Maria, a esposa. Mas quando o detetive falou sobre o caso entre ele e Raíssa, ela pareceu surpresa e afirmou que não sabia de nada.

    O detetive fez uma pausa e deixou a mulher sozinha na sala. Estava tomando um cafezinho quando um dos policiais estava apareceu e disse que havia um envelope pra ele, que havia sido deixado na calçada da delegacia. Murilo abriu o envelope e leu a carta que estava dentro dele.

    Para o detetive Murilo

    A única razão de eu ter matado Raíssa é por que ela sabia demais. Daniela, minha esposa, estava tendo um caso com o mesmo infeliz que Raíssa, Renato. Eu descobri, matei minha esposa e escondi o corpo no porão, mas depois pensei que precisava de outro esconderijo então, na madrugada da véspera da morte de Raíssa eu cavei um buraco no meu quintal e joguei o corpo dela lá, mas quando olhei pra casa vizinha, vi que Raíssa estava espiando tudo, mas quando me viu ela se escondeu – acho que ela deve ter ficado com medo de chamar a polícia –; então, mandei uma carta para ela, já que sabia de uns podres dela também. Uma mensagem estava escondida na carta, que pode ser facilmente descoberta se a carta for lida com atenção. Se ela tivesse sido mais inteligente e chamado a polícia, ou lido a carta com a atenção que pedi, talvez eu estaria preso, e talvez ela não estivesse morta; ah, quase me esqueci: não me preocupo com Renato pois sei que o fato de ele ser praticamente culpado em dois assassinatos vai fazer com que ele faça loucuras.

    Assinado, Silas

    Era uma carta confessando os crimes. Murilo sabia que Silas era o vizinho de Raíssa, então mandou uma foi pra lá imediatamente.

    Mas quando chegou lá a casa estava vazia, e o carro não estava na garagem: ele havia fugido. Então ele olhou para a casa de Renato, que agora era inocente. E, por um milésimo de segundo, viu o próprio Renato parado numa janela da casa, olhando pra ele. Os brações dele estavam cobertos de sangue.

    Rapidamente, ele atravessou a rua até a casa de Renato e tentou entrou lá. Ele subiu as escadas e foi procurando pelo homem de quarto em quarto, até que chegou no quarto do casal e viu, estirado na cama, Renato. A cama estava banhada de sangue e os pulsos dele estavam cortados: como o assassino havia previsto, ele se matou.

    Murilo pegou a carta enviada para Raíssa e leu umas três vezes, até que descobriu a mensagem: juntando a primeira letra de cada frase, formava-se uma outra frase, que era “Você vai morrer”. Então ele realmente tinha avisado Raíssa do que estava para acontecer, ela poderia ter escapado, poderia estar viva

    Ele pegou a carta que recebeu, juntou a primeira letra de cada frase e formou a palavra “Adeus”.


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