As folhas da cerejeira ao seu lado balançavam, jogando pétalas rosas sobre o pátio da escola. A loira estava parada na entrada, apenas observando o ânimo das garotas que balançavam seus celulares enfeitados e cheios de pingentes diversos. Provavelmente falavam sobre como haviam sentido saudades umas das outras. Grande falsidade.

Lucy Heartfilia, 17 anos, terceiro ano do ensino médio. Aquele era um novo ano que começara, e ela já estava querendo acabá-lo. Talvez o fato de que ela não tinha muitos amigos não encorajava-a muito nisso. Mas ela não se importava. Poucos amigos são os verdadeiros.

Ela suspirou, começando á se mover, adentrando o colégio. O coração não batia descompassado como era, antes dos quinze anos. Seu coração estava calmo, e ela já sabia o porquê.

Olhou para o quadro que indicava a classe em que ela ficaria. Bem, ela havia se separado de uma amiga, mas pelo menos, a outra ficara com ela.

─ Lucy! ─ ela ouviu alguém lhe chamar o nome. E não precisaria ser muito bom na audição para se saber quem era. ─ Procurei você por toda parte! Onde estava?

─ Desculpe, passei um tempo lá fora. ─ a loira lhe respondeu. Erza Scarlet era sua amiga desde o primário, inclusive, ela ajudou-a a superar o garoto que havia lhe rejeitado, não que isso importasse muito para ela. ─ E Levy-chan, como está?

─ Ela está lá fora. Falei para lhe procurar. ─ Erza falou. ─ Ficamos na mesma classe?

Lucy olhou novamente para o quadro de classes, como se quisesse se certificar do que falaria.

─ Parece que eu e você ficamos juntas, mas Levy-chan foi para a outra classe. A que fica ao lado da nossa. ─ a loira disse. ─ Mas não há problemas. Vemos-nos no intervalo.

─ Bem, certo. ─ Erza olhou para o quadro novamente, arqueando uma sobrancelha. ─ Parece que temos um aluno novo esse ano.

─ Vamos procurar a Levy-chan. Temos que dizê-la que ela não ficou na mesma sala que a nossa. ─ afirmou, olhando ao redor procurando por qualquer coisa que não pudesse enxergar, de cabelos azuis. Afinal, no meio daquela multidão que se formava no pátio e no corredor, era impossível de Levy aparecer, á não ser que usasse pernas de pau.

A ruiva se sentiu um tanto zangada por ter sido ignorada, mas entendeu. Geralmente, os alunos novos eram garotos, e Lucy realmente se incomodava com isso.

─ Lucy, ela está vindo pelo outro lado do corredor. O que fica mais perto da biblioteca. ─ falou a ruiva, sorrindo.

─ Lu-chan, sabia que eles não me deixaram entrar porque ainda não tinham arrumado? ─ a azulada disse, indignada. ─ É como se aquela biblioteca fosse um bebê! Eu a conheço tanto arrumada, quanto desarrumada! ─ ela bufou, olhando para o quadro de classes. Ficou pálida de repente, tentando formular alguma frase.

─ Levy, eu sei que não ficamos juntas, mas nos veremos nos fins de semana. ─ Erza tentou reconfortá-la, dando leves tapas em suas costas.

Da palidez, veio a vermelhidão. A azulada estava recentemente branca, e agora, estava vermelha?

─ Eu fiquei com ele... ─ ela olhou para baixo, corada.

─ Ele quem?

─ Ele... Eu...

─ O quê?

─ É-é mentira! Eu não gosto dele! Não fale isso! ─ a azulada disse, já completamente corada. As mãos faziam gestos estranhos e indecifráveis.

─ Ahn? ─ A loira colocou-se na conversa, ficando séria ─ Levy-chan, você está interessada em algum garoto?

A azulada corou mais absurdamente ainda.

─ Quê? N-não! Sem chances! ─ falou, abanando as mãos, como se quisesse que ela mudasse de assunto logo.

─ Conheço bem. ─ Lucy revirou os olhos. ─ Está apaixonada. E lá se vai mais uma com os garotos. ─ lamentou-se.

O sino tocou, e antes que Levy pudesse se justificar, esta fora puxada por Erza. Quando o sinal tocava, Erza se tornava a Presidente do Conselho Estudantil. Ela havia mantido esse título por bastante tempo, talvez uns três anos, e, era bem rigorosa com seu trabalho.

Assim, mais um dia, de mais um ano letivo começava. Para o azar da loira.

**

A loira sentou-se próxima á parede, o lado oposto de onde ela sempre ficava, que era ao lado da janela. Ela gostava do lado da janela, pois ela sempre podia observar o movimento, e, o mais divertido de tudo, ela podia presenciar quando sua amiga, Lisanna ─ uma garota popular e muito bonita ─ rejeitava os garotos que vinham se declarar para ela.

Uma vingança? Talvez. Ela sentia tudo como se fosse realizada quando via garotos sendo rejeitados, não apenas por Lisanna, mas, inclusive, Levy tinha dois garotos que viviam em seu encalço. Apesar de seu desgosto por Levy tratar-lhes como amigos, eles sempre diziam o quanto a amavam, e isso sempre acabava com dois galos em cada cabeça.

─ E agora, alunos, quero lhes apresentar o novo aluno. Sejam gentis com ele. Pode entrar, Natsu Dragneel. ─ a professora Aquarius advertiu, com um olhar duro para os alunos. ─ Senhor Dragneel. ─ ela repetiu, fechando os olhos, irritada.

─ O quê? Já me chamou? ─ o dono da voz meio grossa, e um tanto infantil, apareceu. Ele tinha cabelos róseos e espetados, que pareciam estar cheios de gel. O uniforme estava mal passado, a blusa estava com alguns botões soltos, e a gravata com um nó completamente ridículo e inapropriado. Não estava usando o sapato social que a escola recomendava, se bem que nenhum garoto lá usava tal. ─ Ah! Prazer! Sou Natsu Dragneel!

Murmúrios foram começados á partir do momento em que ele começou á falar, mas apenas um olhar de Aquarius bastou para que eles se calassem.

─ Sente-se na frente da Srta. Heartfilia. ─ ela apontou para uma cadeira vazia, á frente da cadeira da loira.

Lucy quis matar aquela professora com todo o ódio que pudesse sentir por ela. Aquela professora, além de professora, era também uma conselheira. Era um tanto temperamental, e todos se perguntavam se não deveria ser alguém mais paciente como a professora Aries, no lugar dela. Enfim, já que era a conselheira da escola, ela sabia do problema da loira em se enturmar.

─ Por enquanto, é só. ─ A azulada de cabelos longos pegou uma paste cheia de papéis e se levantou. ─ Vou levar isso até o Diretor. Sem bagunça. ─ ela disse, se levantando e abrindo a porta. ─ Sem bagunça. ─ repetiu, de forma amedrontadora.

Como era de se esperar, uma conversa em cada canto da classe se iniciou, no momento em que Aquarius deixou a sala.

Foi nesse momento também, que o garoto a sua frente virou-se, apoiando o rosto na cadeira, olhando para a loira.

─ Meu nome é Natsu Dragneel. ─ ele sorriu, de forma tão brilhante que ela até sentiu repulsa em sentar perto de um garoto tão animado quanto aquele.

─ Você já disse isso. ─ ela colocou o braço apoiado na cadeira e segurou o queixou, virando-se para o lado. O resultado, foi apenas um nariz vermelho por ter batido na parede. ─ Droga! Estava tão acostumada em sentar perto da janela... ─ ela murmurou, massageando o nariz. O rosado lhe olhava, estático.

─ Sim, eu já te disse isso, mas acho que você não entendeu que isso foi uma deixa pra que você falasse o seu nome também. ─ ele disse, estendendo a mão. ─ Por isso acho que é melhor tentar ser direto: qual o seu nome?

Ela franziu as sobrancelhas, não acreditando na ingenuidade dele. Ou era ingenuidade, ou era burrice. Por Deus, quem seria tão estúpido á ponto de deduzir algo assim?

─ Escute, eu não gosto de garotos. ─ a loira falou, simplesmente. Segurou a lapiseira e se pôs á escrever qualquer coisa no caderno, contanto que não houvesse de ter que olhá-lo.

─ Bem, eu só quero fazer amizades. Não importa se você é lésbica. ─ os olhos dela faiscaram quando ele pronunciou esta frase.

Se bem que deixá-lo pensar que era lésbica, talvez não fosse uma ideia tão ruim assim.

...Se ele perguntasse á Erza se ela era a namorada dela, ela certamente morreria.

─ Não sou lésbica. Eu só não gosto de andar perto de garotos. Eu os odeio.

O rosado arqueou uma sobrancelha, como se não pudesse acreditar naquilo.

─ Cara, você não gosta de andar perto de garotos? Impossível. Eu estou aqui com você. ─ ele riu, ainda que nervoso. O olhar debochado dela o penetrou, e ele pareceu dar-se conta de algo. ─ Você não está gostando da minha companhia, não é...

A loira revirou os olhos, começando a ignorá-lo. Pouco depois, a professora chegara, exigindo silêncio, e começando á dar sua aula.

Ela havia passado alguns testes de início de ano, nada muito importante. Depois te torturáveis horas, o intervalo se fez presente.

─ Nos vemos depois, Lucy Heartfilia. ─ ela afirmou, juntando suas coisas da mesa.

A loira calou-se, e ainda assim, a azulada soube que aquilo era um consentimento.

Assim que ela saiu, Erza deu um pulo da cadeira que ficava ao lado da janela, indo até a loira.

─ Nossa, que azar, hein, Lucy ─ a ruiva proferiu. ─ Você costumava ficar do lado da janela.

─ O pior foi ter que aturar esse garoto á minha frente. ─ ela resmungou.

O rosado a sua frente pareceu ter ouvido, por ter virado a cabeça, e feito uma expressão incrédula, mas nada disse.

─ Bem, desculpe por ela, mas ela não se dá muito bem com garotos. ─ Erza falou. ─ Meu nome é Erza Scarlet.

O garoto torceu o nariz.

─ Deixe-o, Erza. ─ a loira disse. ─ Vamos logo procurar por Levy-chan.

─ Certo. ─ consentiu com um aceno de cabeça. ─ Bom intervalo, aluno novo.

─ Igualmente. ─ ele falou.

**

─ Levy, aqui! ─ a azulada teve a atenção chamada pela ruiva, que estava sentada no banco do pátio com a loira, debaixo de algumas árvores, próxima á uma máquina de refrigerantes.

─ Ah, oi meninas! ─ sorriu para as duas. ─ Eu não estou com fome, portanto, sintam-se á vontade.

─ Isso é preguiça pra ir á cantina?

─ Mais ou menos.

─ Sei.

─ Lucy, o que você vai comer? ─ perguntou a ruiva.

─ Chocolate. ─ ela levantou uma barra de chocolate de dentro de um saco. ─ Também tenho salgadinhos e essas coisas.

─ Francamente, você nunca compra algo que preste. Pode ficar diabética ou algo assim.

A loira deu uma mordida na barra de chocolate, dando de ombros.

─ Tanto faz. Mas quer um pedaço? ─ ela esfregou a barra na bochecha da ruiva.

─ Não, obrigado. Prefiro comer bolo de morango, o qual você nunca compra.

─ Passou pela sua cabeça que ele se espatifaria todo até a hora do intervalo? ─ arqueou uma sobrancelha, com uma pitada de ironia na voz.

─ Então, Levy... ─ a ruiva disse, ignorando a ironia anterior da loira. ─ Quem é "ele"?

─ Ele quem? ─ questionou a azulada, pegando um refrigerante na máquina ao lado.

A Scarlet suspirou, cansada.

─ O garoto de hoje de manhã. De quem falamos.

O sangue subiu ao rosto da baixinha, que logo tratou de justificar-se, com gestos meio parecidos com os que ela já havia feito naquela manhã.

─ N-ninguém! ─ falou, se acalmando. ─ Vamos parar de falar nisso, por favor. ─ ela disse, olhando para o lugar onde o troco havia saído. ─ Olha! Ganhei 500 yenes de troco!

─ Oba! Esqueceram o troco de novo? ─ interferiu a loira, levantando-se do banco para ir com a azulada. ─ Beleza! Eu fico com 300 e você com os 200!

─ Não se engane, 300 yenes era o meu troco.

A ruiva observou-as, descrente. Olhou para o relógio de pulso, suspirando.

─ Daqui á pouco o intervalo acaba. Vamos voltar. Vejo você na saída, Levy.

─ Certo! ─ falou.

Levy despediu-se das duas, e foi para sua sala, deixando a lata de refrigerante no mesmo lugar de antes.

"Tudo bem alguém esquecer o troco, mas o refrigerante?" questionaram-se as duas.

Já no corredor em que se encontrava a sala, a loira se dá conta de algo.

─ Erza, vá à frente, vou ao banheiro. ─ balbuciou. ─ Esqueci-me de lavar as mãos.

─ Vamos, depois você lava.

─ Não posso, toquei sem querer no corrimão da escada. Imagine o que deve ter tocado lá. ─ ela pensou em algo nojento o bastante para falar, mas a ruiva fora mais rápida.

─ Tudo bem, vá logo! ─ ela apressou-a.

A Heartfilia andou pelos corredores, procurando pelo banheiro. Os corredores estavam vazios. Pelo menos no primeiro dia de aula, não matavam aula. Isso é, estava consciente que logo no segundo dia, as pessoas voltariam á sua rotina de matar aula.

Assim que achou o banheiro, tratou de lavar suas mãos, logo após, balançando-as, na intenção de secá-las.

Saiu do banheiro, e ao olhar para o lado, viu o aluno novo saindo do banheiro masculino. Natsu Dragneel, não era?

─ Natsu Dragneel... ─ murmurou, olhando-o nos olhos. Eram olhos verde-musgo. Penetrantes.

─ Ah, eu vim aqui só pra-

─ Eu não quero saber o que você foi fazer, pelo amor de Deus. ─ ela falou, incrédula.

Ela virou-se para ir para a sala, quando foi impedida por ele, com a mão no seu ombro. Ela arrepiou-se pelo movimento súbito.

─ O que foi? ─ perguntou, olhando-o por cima do ombro em que ele havia colocado a mão.

─ Vou te mudar. ─ ele falou, sorrindo.

Uma expressão de espanto se tornou presente no rosto dela. Ela pensou em dizer algo, mas estava surpresa demais para falar qualquer coisa.

Por um momento, ela pensou que já estava mudada.