-Narrado por Pennelope-

Ah, até parece que meu pai vai mesmo aparecer aqui em casa e me seqüestrar para aquela festa horrorosa! E quem ele pensa que é para falar comigo daquele jeito na frente do babaca do William McKay. Pensando bem, coitado, ficou bem assustado com a briga toda.

Aqui estou eu, em um dia de sábado, ao invés de estar me arrumando para uma festa ridícula estou assistindo TV enquanto me empanturro de sorvete.

Quando acabo, jogo o pote no lixo e vou até o banheiro tomar uma boa ducha. Antes de me despir, dou uma boa olhada no espelho e posso observar de longe uma pequena ruga entre minhas sobrancelhas. Imediatamente pego o meu creme anti-rugas e passo em cima dela um pouco que alarmada.

Odeio pensar no fato que estou envelhecendo constantemente. A cada dia que passa uma ruga ameaça aparecer, a sua idade aumenta tipo: hoje tenho 28 anos e 98 dias, pelo o que me consta, e amanhã terei 28 anos e 99 dias, sem falar das horas, dos segundos, dos nano segundos...

De repente minha campainha toca e levo um susto, que tento esconder de mim mesma. Por um instante levo aquele clique. Passei tanto tempo tentando esconder o que sinto e penso... Perdão passei tanto tempo tentando esconder que sou humana que hoje pude perceber que até de mim mesma tento esconder isso, mas não pude filosofar muito sobre isso, já que a campainha me dá outro susto e dessa vez não pude deixar de sorrir para o meu próprio reflexo.

Abri a porta e...

“Ah!!” Digo enquanto dois homens fortes e grandões me pegam a força pelo braço “O que vocês estão fazendo?!”

Os brutamontes me jogam no sofá enquanto uma outra pessoa vem entrando em meu apartamento e essa pessoa é... Ah, não!

“Olá maninha.” Danny, meu irmão gêmeo gay entra no meu apartamento “Quanto tempo nós não nos vemos!”

“O que você está fazendo aqui, Danny.” Arranjo forças e o pergunto de alguma forma.

“Papai está a aguardando na festa e olha que essa está a todo vapor!” Ele dá uma desmunhecada usual.

“Eu disse que não iria.” Digo “E ele sabe disso.”

“É, e é por isso que vim buscá-la .” Ele disse “E esses dois grandões e fortões, que trouxe comigo, vão me ajudar.”

“Eu não vou.” Disse em fim.

“Maninha, querida...” Danny começou a fazer aquela vozinha da qual usa para me convencer “O seu homem já está lá sem a baranga dele, solteiro e saltitante. É a sua chance, mulher!”

“Não o quero de volta.” Digo.

“Quer, quer sim.” Danny me encara quase que sério.

“Danny...”

“Não diga, pequena Dorothy, apenas ouça.” Danny disse “Ele perguntou por você e se você não for, ele vai sacar que foi por causa dele. Vai me dizer que você quer que todos naquele lugar, todos aqueles que a temem mais do que a maior naja de todas, saibam que você não é tão forte quanto parece?”

Não, não quero, mas também...

“Ah, e por falar em homens amei a sua ‘competição’.” Danny se abanou.

“McKay?” Perguntei com os olhos levemente cerrados.

“Isso mesmo!” Danny exclamou animadinho “Ele é um Deus grego! Gente e aquela namorada dele... Uma baraga só!”

“‘Namorada’?” Perguntei levemente surpresa, mas tentei parecer o mais casual possível.

“Cindy Claire.” Danny disse “Uma modelo aí famosinha, até...”

“Cindy Claire.” Afirmo “Por que não estou surpresa? Isso soa bastante William McKay, namorar uma modelo desmiolada...”

“Menina, olha a hora!” Danny diz “Estamos perdendo uma festa de arromba!”

Me levanto do sofá e digo: “Me ajuda a escolher um vestido?”

“Não será necessário.” Danny diz batendo na palma das mãos duas vezes. Em seguida entra duas mulheres e um homem, que aposto que é um ex-namorado de Danny. O cara olha para mim me gira e diz em tom fungado: “Até que dá pra ajeitar sim.”

Sei que sofri uma transformação quase que cinematográfica, mas vindo de Danny e sua ‘equipe’ era de se esperar.

Quando me olhei no espelho estava em um Dior tomara que caia vermelho lindíssimo, que me deixou com uma cinturinha perfeita. O cabelo foi escovado e preso em um coque meio desfiado, uns fiapos de cabelo foram soltos, o que ficou super charmoso. Estava com uma pulseira prateada muito bonita e brincos pendurados na minha orelha. Os sapatos era de salto agulha bem alto e eram prateados. Estava deslumbrante, isso devo confessar.

“Fica tranqüila você será a mais bela da festa.” Diz Danny cortando meus pensamentos.

Não pude deixar de abrir um pequeno e breve sorriso daí Danny diz: “Fica à vontade, maninha, só não vale chorar. Ou vai borrar essa maquiagem impecável.”

Sorrio para Danny, mas depois me recomponho e digo: “Não estávamos atrasados?”

“Ok, ok.” Danny diz “Vamos nessa, rainha de gelo.”

Fomos para a festa em uma limusine, e não pude deixar de perguntar à Danny como ele conseguiu uma limusine, então ele riu como se tivesse perguntado algo óbvio e disse: “Maninha, sou um estilista, não lembra?”

“Verdade.” Disse com um leve e pequeno sorriso voltando meu olhar para frente até chegarmos ao lugar.

Entramos no prédio e Danny sussurrou uma coisa antes que eu pudesse pisar no salão: “Arrasa lá, irmãzinha.”

Desço as escadarias enquanto todos os olhares estavam posados sobre mim. Assim que as pessoas se recuperaram do choque. Começam a cochichar uma com as outras coisas como: “Olha aí a rainha de gelo.” Ou “Quem diria que ela ia conseguir parecer mais metida ainda...”

O que essas pessoas pensam? Que eu sou surda?

De repente me deparo com William McKay boquiaberto ao lado de sua ‘modelo’. Queria rir da expressão dele, mas se eles acham tanto assim que eu sou a ‘rainha de gelo’ ou coisa parecida tenho que faze jus ao apelido, não tenho?

Me aproximo de William McKay e digo com um gélido e educado sorriso: “Olá?”

“Oi.” Ele diz após uma longa pausa “C-Como vai?”

“Bem.” Digo olhando em seguida para sua parceira, a qual já estava furiosa de tanto esperar o namorado apresentá-la, então resolvo me intrometer: “E quem é essa?”

Sei que fui um pouco grossa, mas essa sou eu, não é? Não é essa a imagem que eles têm de mim?

“Ah, essa é a...” William estava muito perturbado ainda, então Cindy Claire toma a iniciativa.

“Cindy Claire.” Ela diz apertando minha mão “Namorada de Will.”

“Prazer, Pennelope Styles.” Digo soltando a mão dela enfim. Ai, acho que preciso lavá-la.

“Então você é a famosa ‘Pennelope Styles’?” Cindy pareceu um pouco revoltada ao me ver, acho melhor me retirar logo.

“Se me derem licença, tenho que falar com mais pessoas.” Digo me retirando.

“Até mais.” William diz.

Enquanto me distancio deles, rumo ao toilet, posso ouvir Cindy reclamando ou quem sabe até batendo em William McKay, que tenta inutilmente se explicar. Bom, quem mando ele ser tão galinha assim.

Quando estou prestes a adentrar no toilet, onde pretendo passar a festa inteira, já que não quero mesmo vê Ri...

“Penny, Penny Styles.” Uma voz familiar me chama logo atrás de mim.

Só há uma pessoa nesse mundo que me chama de ‘Penny’ ainda e esse é... Me viro lentamente e...

“Olá.” Digo.

“Fugindo de mim?” Richard Grant, ou como costumava chamá-lo Rick, me perguntou com seu usual simpático sorriso.

“Não, de forma alguma.” Minto simpaticamente.

“Que bom.” Ele diz aliviado “Por um instante achei que a mulher mais linda da festa estava me evitando.”

“Não.” Digo tentando sorrir um pouco “Só estava indo ao toilet. Sujei minhas mãos.”

De repente Richard pega em minhas mãos e olha-as fixamente, depois levanta a cabeça e me olha no fundo dos olhos como costumava fazer dizendo sobre um simpático sorriso: “Para mim parecem perfeitas. Da mesma maneira que eu me lembrava.”

“Richard...” Digo tentando afastar minhas mãos das dele, mas ele as segurava forte demais.

“Penny, por que está sendo tão formal comigo?” Ele me perguntou “É como se tudo o que vivemos fora apagado de uma hora para outra e isso me magoa.”

“O que espera que eu diga?” Pergunto-o tentando não parecer ferida ao vê-lo.

“Que sentiu minha falta...”

“Cadê a sua garota?” Perguntei e imediatamente ele soltou minhas mãos para o meu pequeno alívio “Não a vi em lugar nenhum. Ela não deveria estar te seguindo como sempre faz?”

“Cansei dela.” Ele disse “Terminei com ela ano passado.”

“E agora está atrás de mim novamente?” Pergunto-o “Só tenho uma coisa a dizer: Sem chance que eu volto para você.”

Dou as costas à ele e vou até a varanda e quando chego lá tentando suportar as lágrimas que querem descer, uma pessoa para ao meu lado e me pergunta se está tudo bem enquanto me oferece uma bebida.

Olho para cima e vejo William McKay me oferecendo uma taça de champanha. Pego a taça agradecendo-o e bebo um gole.

“Então ele é ‘ele’?” William pergunta.

“Não sei do que está falando.”

“Claro que sabe.” William diz incrédulo me encarando, mas não atrevo-me a encará-lo de volta “Você sabe que eu ouvi ontem tudo lá na sala de seu pai.”

“Porque é um fofoqueiro!” Digo encarando-o e alterando-me.

“E você tem uma pedra de gelo... Não um iceberg no lugar do coração!” Ele diz furioso.

“Tenho mesmo.” Digo “E o que você tem com isso?”

“Aposto que nunca chorou.” Ele diz “Nenhuma vez sequer!”

“O que você sabe de mim, McKay?” O pergunto “O que sabe da minha vida para saber o que há dentro de mim ou o quem eu realmente sou?”

“É o que eu mais quero saber.” Ele diz me puxando pela cintura para perto de seu corpo e me beijando em seguida. De primeira tentei resistir e empurrei-o com todas as minhas forças, mas depois percebi que não queria realmente empurrá-lo, que queria ficar exatamente assim. Abri minha boca e deixei ele me tomar. Deixei sua língua invadir minha boca e seus lábios beijarem os meus delicadamente.

“Então é por isso que não me queria de volta?” Disse Richard e eu e William imediatamente o encaramos “Por ele?” Diz Richard cheio de desprezo, mas não disse uma única palavra sequer. O deixei partir.

Assim que ele partiu William já disse algo em seu tom de safado ordinário: “Então, o que achou do beijo? Quer outro?”

“Vai se ferrar.” Digo andando em frente mais William me segura pelo braço e eu o encaro furiosa “Me solta, McKay.”

“Você queria isso tanto quanto eu.” Ele disse sorrindo “Pode até me negar, mas não pode negar a si mesma.”

“E quem disse isso?” Digo “Quem disse que quis?”

“Você correspondeu 100%...”

“Deixei que me beijasse para acabar mais rápido.” Disse “Foi tudo o que eu fiz, McKay. E por favor, não ouse fazer isso de novo ou dessa vez quebro o seu nariz em vez de apenas esmagar seu pézinho.”

“Sua cobra!” Ele disse furioso.

Apenas ergui minha surpresa demonstrando o quão impressionada estava. Então fui direto ao banheiro, mas ainda pude ouvir McKay por trás de mim dizendo: “Se continuar desse jeito, Pennelope, você vai terminar sozinha. Mas acho que é isso que uma pessoa tão sem coração quer, não é?”

Ignoro-o e quando passo pelo meu irmão, Danny, ele diz: “Papai está te procurando.”

Mas assim que o vejo deixo uma lágrima escapar e ele percebe e pergunta: “O que foi isso, coração?”

“Apenas um cisco que caiu...” Tento lutar para outras não escaparem também.

“Você não engana seu companheiro de útero não, Pennyzinha.” Ele diz me abraçando “Segura as pontas e vamos indo.”

Acho que Danny é a única pessoa do planeta capaz de me entender.

“Uma foto, por favor!” O fotógrafo diz para nós e paramos para foto, tiramo-la e continuamos o nosso caminho até a limusine, onde finalmente desabo nos braços de meu irmão, que fez o maravilhoso trabalho de apenas ouvir tudo que eu tinha a dizer e me dar um colo para chorar.