A ONÇA escrita por Frida


Capítulo 6
A ONÇA - Parte 5


Notas iniciais do capítulo

Se vocês quiserem ouvir os sons típicos da natureza enquanto leem, recomendo esses três vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=IH38yGLClu0
http://www.youtube.com/watch?v=wDhvwmwkOaY
http://www.youtube.com/watch?v=tLgqGOMcpJA



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327329/chapter/6

Quando acordei, me encontrava deitado em meio à floresta, sem fazer a mínima ideia de como fora para ali. Logo, reparei que minha ferida estava coberta por folhas azuis, algum tipo de planta medicinal pelo que imaginava. Em compensação, não sentia aquela dor aguda de antes.

Ao meu lado, havia um cantil com água e algumas frutas. Morto de fome e sede, em poucos minutos devorei tudo. Sem alternativas, saí perambulando pela floresta, decidido a encontrar a onça, que provavelmente era quem havia me levado para ali.

Não tive que andar muito.

Mais à frente, havia um local pedregoso. Aproveitei uma das grandes pedras para usar como esconderijo. Dava para ver claramente as duas criaturas que se encaravam, a poucos passos de mim. A estranha imagem quase me fez pensar que eram duas pessoas conversando. Não, não se tratava de “gente”.

— Como você ousa trazer um humano para cá?

A voz da pantera me surpreendeu e, pensando bem, me deu um pouco de medo. Era grossa como a de um homem.

—Você o teme?

Em contrapartida, a voz familiar da onça me acalmou. Passei, então, a prestar mais atenção na conversa. A pantera não havia respondido a pergunta.

— Teremos sérios problemas por causa dele. No que você estava pensando, quando o trouxe para cá?

— Ele estava ferido. Eu precisava das plantas medicinais aqui da floresta para curá-lo e...

— Mas ele é um “humano”!

A palavra foi pronunciada com desprezo pela pantera, que estava agitada, andando de um lado para o outro. A onça não se abalou.

— Nem todos os humanos são como você pensa. Alguns não prejudicam a floresta e sabem explorar seus recursos de maneira consciente, havendo assim um equilíbrio. Eu os estive observando durante um bom tempo.

A pantera bufou e, elevando a voz, replicou:

— MENTIRA! Humanos são todos iguais: não querem saber de equilíbrio, eles desmatam as árvores sem pensar nas consequências, apenas visando o progresso, o lucro. Se não fosse pelos protetores da floresta, não haveria natureza, animais ou até mesmo plantas medicinais. Estou avisando, se você não o matar... Eu juro que o farei!

— NÃO!

A onça, que antes estivera calma, se levantou em um pulo com os pêlos eriçados e mostrou os dentes, sibilando. A pantera se afastou, atônita. Quando se recuperou, murmurou:

— Oh! Não me diga que você está com pena dele?

— Não... O que eu sinto é amor!

Dessa vez, foi a pantera quem ficou fora de si. Rugindo ameaçadoramente, se agachou, pronta para saltar sobre a onça. Mas esta, felizmente, foi mais rápida e saltou para cima de uma rocha. Estando um nível acima, deitou-se, olhando fixamente para a pantera. Calma, mas autoritária, mandou:

— Vá. Agora.

No começo a pantera se recusou. De cabeça baixa, tentou se aproximar alguns passos, se rendendo. A onça levantou-se, num piscar de olhos, e rugiu tão alto que vários pássaros alçaram voo, piando sem parar à volta. Fiquei olhando espantado, sem saber o que pensar direito diante daquilo. Simplesmente, incrível.

Quando me dei conta, a pantera tratava de dar o fora, o mais rápido que possível! Desapareceu entre as árvores, sumindo floresta adentro.

Decidi que este era o momento certo para me aproximar. Saí de meu esconderijo e, bem devagar, andei até a pedra, ainda um pouco receoso. A onça, com o som de meus passos, virou a cabeça por um instante para olhar, mas logo voltou à sua posição deitada.

— Ele está certo.

Sua agonia me deu um grande aperto no coração. Sentando-me ao seu lado, instintivamente comecei a passar a mão em seu pelo. Era algo tão... Diferente! Fazia-me sentir mais perto da natureza selvagem, algo assim.

Ficamos em silêncio por algum tempo. Dava para ouvir alguns dos sons típicos da floresta à nossa volta: pássaros assobiando canções e o som de água, que vinha de uma nascente não muito distante. Tudo estava calmo, sereno. Eu gostei disso, era bem distinto do que eu estava acostumado, na cidade grande.

De forma brusca, fui despertado de meus pensamentos pela garota, agora humana, ao meu lado.

— Eu posso dar a você duas opções. Mas, assim que escolher, não poderá voltar atrás.

Ela falava de um jeito sério, preocupado. Não entendi muito bem o que estava querendo dizer com “opções”, mas, mesmo assim, prestei atenção à sua fala:

— Você pode ficar aqui na selva comigo. Ensinarei a você todos os meus segredos, inclusive o das plantas medicinais, e você se tornará um protetor da floresta. Porém, não poderá nunca mais voltar para a civilização. Temos algumas regras por aqui e também severas consequências, se alguém as descumpre.

Não pude deixar de sentir um calafrio. Agora, tudo fazia sentido! O porquê de não conseguir me lembrar do que tinha acontecido enquanto estava na floresta e o adoecimento dela, quando estava presa na jaula longe da mata. Sim, agora eu entendia...

Ela não havia percebido minha reação, pois olhava em direção ao horizonte. E, depois de respirar profundamente, fechou os olhos e disse:

— Ou então, você pode escolher voltar para sua família, sua antiga vida. Tudo voltará ao normal. Entretanto, você não poderá voltar à floresta...

E isso significava que eu nunca mais a veria.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Cá entre nós, qual você escolheria?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A ONÇA" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.