A ONÇA escrita por Frida


Capítulo 4
A ONÇA - Parte 3




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Lá estava a onça, viva, me encarando com um olhar feroz, maligno, os pelos eriçados. E a protetora da floresta simplesmente tinha desaparecido!

Com uma pontada de pavor, percebi que as armas, tanto minha faca quanto a pistolinha da Elena, tinham sumido. Não havia escapatória nem maneira de nos defendermos.

— ELENA CORRA AGORA E CHAME AJUDA.

Não sei por que gritei aquilo. Ela olhou para mim assustada e, com um aceno positivo de cabeça, saiu correndo para fora da floresta.

Minha consciência dizia para eu fugir, assim como Elena, e me salvar. Mas o que fiz foi justamente o contrário.

Reparei que a onça estava machucada. Instintivamente olhei em volta procurando a plantinha medicinal que fora usada para me curar. Peguei uma folha e tentei me aproximar da fera.

Ela não gostou muito disso e, me derrubando no chão, rugiu mostrando os dentes. Sua força era impressionante. Eu estava cara a cara com ela, mas ainda assim não fiquei com medo. Apliquei a seiva da folha no ferimento, do jeito que a menina estranha tinha feito na minha testa.

O olhar, agressivo e malévolo, desapareceu. Em vez disso havia calma e curiosidade. Tratei com cuidado de seu ferimento e recebi uma lambida no rosto, em agradecimento.

E, de súbito, a onça não era mais uma onça. Era a garota estranha e estava deitada em meus braços.

— Obrigada — ela disse.

Alguma coisa dentro de mim, não sei o que, fez com que me inclinasse sobre ela e a beijasse. Assim como eu, ela também ficou surpresa, mas não se afastou nem por um segundo. Eu conseguia ouvir as batidas rápidas de nossos corações.

Estava vivendo o momento mais feliz da minha vida, mas só mais tarde me daria conta disso. Naquela hora, eu não conseguia pensar em nada a não ser nela. Eu não conseguia olhar para nada, ao não ser para seu rosto. Estava apaixonado e queria ficar ali, o resto da minha vida.

E ela também.

De sua boca veio o som daquela palavra estranha que eu a tinha ouvido pronunciar com a onça. Logo, a dúvida me ocorreu.

— O que significa?

Ela olhou nos meus olhos por alguns segundos antes de responder:

— Não conte a ninguém. Será nosso segredo, só nosso. Significa...

...E então eu acordei. Encontrava-me deitado em uma cama e, ao meu lado, estava Elena e meus avós. Tudo pelo que passei nos últimos minutos, desapareceu de minha mente, sem deixar rastros.

— Ele acordou, ele acordou! — comemorou vovó.

— Graças a Deus... Você quase matou a gente de susto, sabia?

— Eu... o quê? Elena, o que aconteceu? Eu não me lembro de nada!

— Sério? Uau. Vou contar o que aconteceu: na-da. Quando eu e seu avô chegamos lá na floresta para te salvar, você estava desmaiado no chão e sem ferimentos. Já aquela desgraçada, sumiu sem deixar rastro!

— E quanto tempo se passou?

— Algumas horas... Ah, você está com fome?

— Faminto como uma onça!

Acho que aquela não era uma boa hora para fazer brincadeiras. Vovô pediu para ficar um momento a sós comigo e só então falou:

— Você tem que entender que quando eu te dou uma ordem é para o seu bem. Eu disse para você não ir à floresta e você me desobedeceu! É muito perigoso lá, garoto, eu sei o que estou dizendo. E soube também que esta não foi a primeira vez que você esteve lá, não é? Elena me contou a verdade.

Ele se sentou na ponta da cama e colocou a mão em meu ombro. Suspirou.

— Você é muito jovem para compreender o porquê de existirem os protetores da floresta. Só entenda que eles são nossos inimigos. E são perigosos, muito perigosos. Mas uma coisa eu te prometo: vou capturar aquela onça, nem que seja a última coisa que eu faça!

Depois que o vovô saiu do quarto, fiquei me sentindo um pouco triste. Ele estava certo. A fera poderia atacar mais pessoas e, quem sabe até, matar alguém! Fora por pura sorte que ela não me atacara aquele dia na clareira.

Enfim, os dias passaram rapidamente sem nenhum grande acontecimento. Faltava apenas uma semana para eu ir embora da fazenda quando aconteceu: a onça finalmente caiu em uma das armadilhas, espalhadas pela borda da floresta.

Eu e Elena corremos para o lugar onde o animal estava preso. Vovô estava com a espingarda nas mãos, apontando para a besta.

Uma vontade repentina de protegê-la se apoderou de mim. Foi tão, mais tão forte que, sem pensar direito no que estava fazendo, fui para perto da onça e fiquei no espaço entre ela e meu velho.

— NÃO, VÔ! Por favor, não faça isso — gritei com todas as forças.


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