Não foi fácil para meus pais me convencerem a passar minhas férias de verão na fazenda dos meus avós. Eu já tinha várias coisas programadas para fazer: ir para a casa dos amigos, jogar no PC, participar das festas, estudar (só um pouquinho)...

Mas não teve jeito! Acabei aceitando, mas só porque eles insistiram muito.

A fazenda ficava perto de uma cidadezinha pequena do interior, da qual eu não me recordo o nome. Tive que pegar um trem para a tal cidadezinha e depois seguir a cavalo, pois não havia estrada que ligasse a fazenda à pequena cidade.

A viagem foi um pouco desconfortável e longa, bem longa. Quem me guiou pelo caminho foi um homem chamado "Pescador". Não me pergunte o porquê disso que eu nunca cheguei a descobrir. Ele era amigo de meu avô, morava na cidadezinha e às vezes fazia entregas, de mantimentos e outras coisas, para ele.

Assim que cheguei, fui recebido muito bem pelo vovô, minha avó e uma garota que eu não conhecia. Mais tarde, descobri que ela se chamava Elena, era um pouco mais velha do que eu e ajudava minha avó, nas tarefas domésticas, e meu avô em tarefas braçais.

— Filho, estamos realmente muito felizes por você ter vindo. Agora, tenho uma coisa muito importante a dizer.

Ele estava sério mesmo. Chegou até a olhar de relance em direção à espingarda que sempre mantinha por perto, para emergências. Fingi que não tinha percebido.

— Você nunca deve sair do limite da propriedade nem se aventurar pela floresta. Há muitos perigos lá como os protetores da floresta — explicou.

— O quê são os protetores da floresta? — perguntei curioso.

Foi Elena quem me explicou:

— São humanos, assim como eu e você, mas que possuem o espírito de um animal selvagem. Eles não usam roupas, tampouco andam pelados. Se alguém invadir a floresta, seu território, será atacado e provavelmente morto. Nunca vi nenhum em minha vida, acho que é só uma lenda mesmo, para assustar os lenhadores...

— Eles são reais sim! E você — falou, apontando o dedo para mim. — deve ficar longe da floresta, ouviu?

— Sim, vovô.

Minha avó apareceu falando que o lanche estava pronto. Todos nós fomos para a mesa comer. Estava tudo uma delícia! Eu estava morrendo de fome e com muito sono também. Então, decidi tirar um cochilo e deitei em uma das redes penduradas na varanda. Acabei caindo em um sono profundo e só acordei muitas horas mais tarde.

Fui convidado por Elena para passear a cavalo pela fazenda. Aceitei na hora, é claro. Eu nunca tinha montado em um cavalo em toda a minha vida! Porém, não disse nada sobre isso.

O que eu queria, no fundo mesmo, era fazer mais perguntas sobre os tais "protetores da floresta". Não sei por que, mas me interessei muito pelo assunto e não parava de pensar nisso. Afinal, em certo momento, Elena disse:

— Ei, que tal apostarmos uma corrida? Seguimos por essa trilha aqui até chegarmos ao celeiro e voltamos para o estábulo por aquela trilha de lá, está vendo? Quem chegar primeiro vence!

— Ta bem. Qual o prêmio para quem vencer?

— Hmmm... o prêmio vai ser um pedaço de doce de goiaba! Preparado? 1... 2... 3 e JÁ!

Nessa hora, nossos cavalos saíram em disparada. O dela era bem mais rápido e ultrapassou o meu logo em seguida. Em poucos segundos, eu a perdi de vista. Agora eu estava completamente só.

Acabei saindo da trilha sem querer e entrando na mata fechada. Eu estava perdido e, ainda por cima, não conseguia controlá-lo. Meu cavalo, eufórico, começou a correr mais e mais rápido quando, de repente, bati de cara em um galho. Cai de costas e fiquei desacordado lá, no meio da floresta, não sei por quanto tempo.

Minha traseira estava doendo, assim como minha cabeça, quando abri os olhos. Ouvi um barulho, há poucos passos de mim e olhei para o lado. Foi quando vi uma enorme onça agachada, pronta para me matar. Fechei os olhos, esperando pelo ataque.