Thalico - The Life From The Side Of The Moon escrita por Caroline Tarquinio


Capítulo 1
One Shot




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Era uma noite fria e Nico estava andando pelos campos de morango como ele sempre fazia quando passava alguns dias no acampamento, ele até gostava do lugar mas não ficava lá por muito tempo porque quando voltava pro Mundo Inferior ele se sentia mais solitário. É claro que ele tinha o pai mas Hades não era bem um profissional quando se tratava de dar carinho paterno, e Hazel vivia no Camp Jupiter onde o Rei Fantasma ( Nico) não era muito bem vindo.

Bianca era tudo o que Nico conseguia pensar, ela o abandonara alguns anos atrás pra se tornar uma caçadora de Artemis e ele tinha ficado irritado por muito tempo mas ele sabia que ela precisava se libertar da função de ser o tudo de Nico, mesmo assim ele ainda sentia falta dela.

Quando ele se virou pra entrar na floresta, ele a viu deitada na grama olhando para o acampamento assim como ele estava fazendo. Nico tinha uma quedinha por Thalia desde que se conheceram mas na época ele era apenas uma criança e não entendia muito bem, achava que era só admiração. Anos depois ele e Thalia se encontraram de novo no Mundo Inferior em uma missão especial dada pela sua MÁdrasta, Perséfone, isso mesmo, com ênfase no  MÁ, em busca de uma espada que ela havia mandado forjar clandestinamente como forma de Hades ganhar mais poder durante a guerra dos titãs. Mas agora Nico e Thalia tinham a mesma idade, o que era um pouco desconcertante.

Eu preciso falar com ela – pensou ele. A verdade é que Thalia era a única semideusa com quem Nico havia sentido algum tipo de conexão. Os dois haviam perdido a mãe, os dois só tinham ao pai e a si mesmos. A solidão era algo quase sólido para Nico, o único amigo de verdade que ele tinha era Percy mas ele estava sempre em missões por aí. Percy era o semideus mais poderoso que Nico já havia conhecido, mais até que Thalia, Nico sabia porque sentia a aura vital das pessoas e Percy irradiava poder.

Thalia estava deitada nos campos de morango, ela gostava de ficar ali por que ninguém passava por lá exceto alguns sátiros perseguindo ninfas. Ela voltara ao acampamento pouquíssimas vezes depois de ter se tornado caçadora de Artemis, pelo menos pouquíssimas vezes que todos soubessem. Ela sempre voltava lá à noite para observar o acampamento e relembrar os velhos tempos. Os tempos onde Luke ainda era vivo e não havia sido um escravo de Cronos. Claro que no final ele havia sido um herói mas ele estava morto agora e Thalia jurara nunca amar ninguém de novo, por isso tinha entrado para a caçada mas secretamente começava a duvidar se essa teria sido a decisão certa. Thalia virou a cabeça com os olhos fechados e quando os abriu viu um par de botas pretas masculinas andando em sua direção. Ela levantou os olhos pra ver de quem eram e se deparou com Nico Di Angelo, ela o conhecera quando ainda era uma criança mas agora ele era um homem, seus cabelos negros caiam nos olhos e estavam bagunçados, ele usava calças pretas e uma camisa preta, botas de combate e seu casaco de aviador, na mão um anel de prata com uma caveira e pendendo do lado de sua calça a sua espada de ferro estígio negro. Ele era lindo.

Nico se deitou ao lado de Thalia e olhou diretamente em seus olhos e ambos permaneceram calados.  O silêncio era um grande amigo dos dois. Depois do que pareceram horas Thalia comentou:

-Achei que eu fosse a única que vem aqui a noite – e olhou para as estrelas.

-- Eu também – Disse Nico também olhando para as estrelas, Thalia se surpreendeu ao ver o quanto a voz dele havia mudado – gosto de vir aqui observar o acampamento, fingir que tenho um lar.

-- Eu gosto de vir aqui lembrar de quando eu tinha um. – Thalia respondeu surpreendendo-se com a própria honestidade.

-- Eu gostaria de ter tido um, mas a vida foi clara pra mim, sempre sozinho, eu me acostumei, a solidão é a minha casa.

Thalia podia sentir a dor nas palavras daquele garoto, o modo como tudo que ele teve foi a irmã e ela o deixou, o modo como ele não podia se lembrar da mãe pois passara setenta anos aprisionado naquele hotel, o modo como reagiu quando soube que a irmã havia morrido, o tempo que viveu sozinho tendo apenas os mortos como companhia, na verdade, a morte acompanhava Nico desde que nasceu. Naquele lugar onde Zeus explodira sua felicidade com um raio e condenara toda a sua vida. Thalia lembrava de Nico como um garotinho alegre fascinado por um jogo de MitoMagia, sem ao menos imaginar que toda a sua vida fora arruinada por tudo aquilo que ela acreditava ser normal. E foi ali que ela percebeu que Nico era a única pessoa que entendia o que ela havia passado, claro que todos os semideuses tinham vidas difíceis mas a historia dela e a de Nico tinha algo em comum, eles haviam parado no tempo. Nico por setenta anos e ela por sete, mas isso não interessava, eles compartilhavam dessa experiência, dor, tempo, solidão.

-- Quando eu acordei... - falou com certa dificuldade - por um segundo eu pensei que fosse tudo voltar a ser como era antes, minha vida era um lixo mas pelo menos eu tinha Luke, alguém pra amar, quando eu descobri o que havia acontecido eu entrei para a caçada jurando que nunca mais iria me apaixonar. Foi quando percebi, eu ando sozinha.

-- Na alameda dos sonhos destruídos.., - Nico completou com um sorriso debochado no rosto. Thalia surpreendeu-se por ele conhecer a musica que parecia ser a historia da vida dela, mas então ela percebeu que era obvio que ele conhecia, era a historia também. Ela virou o rosto para encará-lo. Ele ainda olhava para as estrelas mas quando percebeu o movimento de Thalia encarou-a também.

-- Boulevard of Broken Dreams... você conhece.

-- Como eu não iria conhecer? Minha sombra é a única coisa que anda ao meu lado mas às vezes desejo que alguém lá fora me ache – Nico repetiu a parte da letra que mais se assemelhava a sua vida.

-- Somos muito jovens para sermos tão tristes – comentou Thalia.

-- Jovens? Eu tenho oitenta e seis anos garota.

Thalia sorriu, havia muito tempo ela não sorria.

-- A tristeza é viciante, ela é uma companhia, a tristeza é como um mau romance, ela te machuca e te sara ao mesmo tempo, a tristeza te faz autossuficiente e dependente, acredite em mim, a tristeza é uma droga, e falo nos dois sentidos – continuou Nico.

Tudo que ele dizia era verdade, mas Thalia surpreendeu-se com o quanto Nico parecia estar conformado com o fato de que a vida dele não passava de trevas e tristeza, ela achou que isso devia-se ao fato de o pai do garoto ser o deus dos mortos mas então ela se deu conta de que isso era porque Nico nunca havia vivido nenhum momento feliz em sua vida e apesar de a vida de Thalia se assemelhar com a de Nico em vários aspectos, em um ela se divergia, embora tudo que houvesse acontecido com ela aqueles momentos com Luke e Annabeth antes de ela morrer foram de certo modo felizes, ela teve uma família mesmo que por pouco tempo.

-- Parece que a sua vida é apenas escuridão, mas lembre-se Nico, alguma escuridão é necessária para ver a luz – argumentou Thalia.

-- Talvez seja Thalia – ela percebeu que ele dizia seu nome pela primeira vez – mas tenho andado em escuridão desde que nasci e nunca vi luz alguma – rosnou ele e ela percebeu na voz dele toda aquela raiva de anos atrás quando ele queria trocar a alma de Dédalo pela de Bianca pra que ela fosse trazida à vida de novo.

-- E ainda assim não lutou contra os deuses na guerra, porque? – perguntou ela – Zeus foi o responsável pela morte da sua mãe.

-- Sim Thalia, seu pai FOI o responsável pela morte da minha mãe mas não foi o responsável pela morte de Bianca e nem por todas as coisas ruins que me aconteceram, ir contra os deuses não iria mudar em nada a minha vida, a escuridão não é algo ruim, eu me acostumei. Acredite, eu tentei culpar alguém, Percy, o único amigo que tenho e o unico que realmente se importava comigo, Bianca, por ter querido algo mais da vida dela do que ser a minha irmã mais velha, Hades por não ter impedido Zeus de matar a minha mãe. Tudo passou pela minha cabeça, mas acho que não é culpa de ninguém.

-- Eu entendo, em alguns momentos tive ódio de Zeus por minha vida ser do jeito que é, mas acho que nem ele poderia mudar meu destino.

-- Não parece trágico que sou filho da morte mas não posso controlar a quem a morte leva?

Nico olhou para Thalia, a escuridão é necessária para ver a luz, dissera ela. Talvez ele estivesse começando a ver a luz, a luz era Thalia, filha do céu, caçadora da lua, era ela, ele tinha certeza, a luz, mas mais uma vez a luz estava fora de seu alcance, ela era uma caçadora, havia feito um juramento e foi por um motivo. E é tão difícil achar o que dizer quando você se sente tão perdido e o caminho certo está na sua frente mas você não pode pegá-lo.

-- Você não é uma história trágica Nico. – ela falou.

Ele tinha que deixá-la saber:

-- Thalia, também parece trágico que as linhas paralelas jamais se encontrem mas não acha que é mais trágico que as outras se encontrem e sigam caminhos separados?

-- O que quer dizer? – perguntou ela.

-- Quero dizer que a luz cruzou o meu caminho mas temos que seguir em diferentes direções, eu falei que minha vida era escuridão, sem esperança, você é a luz, mas você também é uma caçadora, e mesmo que não fosse talvez não gostasse de mim. Mas eu gosto de você, sempre gostei.

Thalia se surpreendeu com aquilo mas não se surpreendeu com o que ela sentiu ao ouvir aquilo.

-- Você me disse que a escuridão não é algo ruim, mas passei a vida acreditando que era, até te conhecer. Não parece irônico que alguém que veio de cima do céu se apaixone por alguém que veio de debaixo da terra? Que alguém que veio de quem controla a vida se apaixone por alguém que veio de quem controla a morte? – ela respondeu e pela primeira vez desde que era um garotinho viu Nico sorrir, não um sorriso debochado, nem um sorriso maníaco cheio de ódio como ele sorrira sempre. Era um sorriso de verdade, como se estivesse feliz.

Ele se aproximou e a beijou. Não foi um beijo suave, era violento e apaixonado, como se ele estivesse sedento por aquilo, como se fosse o primeiro e o último, como se ele não fosse ter outra chance, e Thalia correspondeu, porque também queria, porque também estava sedenta, era como se todo aquele período em que eles estiveram aprisionados no tempo fosse só para que suas vidas se colidissem e aquele beijo pudesse acontecer, ali, deitados nos morangos, abaixo do céu escuro e da luz das estrelas, a lua não aparecia, quase como se Artemis soubesse que ela precisava daquele momento, Nico era um tsunami que não poderia ser contido e Thalia foi levada com a onda, filhos de irmãos mas inimigos naturais, e nada disso importava, porque naquele momento, luz e trevas se encontraram, e foi lindo. A terra tremeu e raios invadiram o céu, e eles sabiam que seus pais estariam em fúria, o céu e o mundo inferior. Mas de novo, nada importava. Porque Nico e Thalia, eles precisavam se encontrar e precisavam saber que a estrada dos sonhos destruídos levava a algum lugar.


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