Era mais uma tarde chuvosa de Dezembro. Com o final da Primavera, o tempo dali sempre fora dos mais revoltados. Eu nunca liguei muito para este tipo de coisa – mas é sempre bem vindo um Sol.

  Eu estava praticamente contando os minutos para o sinal. Olhava de um em um minuto o relógio de pulso que eu havia ganhado no ultimo aniversário. Eu sabia que não era a única naquela sala de aula que estava louca para sair. Mas sabia que, seria uma das únicas a ficar em recuperação em Química. Sempre tive grande dificuldade em Química, aliás, nunca foi minha matéria preferia e também eu não me esforçava tanto assim. Ainda mais agora com final de ano.

  Festas, férias e a minha tão sonhada viajem para Londres – pela qual, minha banda preferida “nascera” lá, exceto por um dos integrantes que nasceu na Irlanda – ganhara esta viajem de 15 anos. Troquei a tão sonhada festa de 15 para uma viajem.

  Minha cidade sempre fora pequena e aconchegante, todos comentavam sobre este ato “radical” que eu havia tomado. Afinal, naquela pequena cidadezinha, era típico uma menina debutar e fazer sua festa e grandiosa festa de 15 anos no salão de festas Walking to the Stars. Aquele sempre foi o salão para festas “chiques”, debus, aniversários, festas de 15 anos, eventos sociais... Mas esse tipo de evento nunca chamou a minha atenção, achei sempre um clichê. Eu sempre fora mais reservada, para eu, um final de semana bom seria; posar ou ficar em casa com minhas amigas e amigos – que apesar de eu ser extremamente tímida, sempre tivera muitos – olhando um filme, jogando vídeo game, escutar músicas, conversar...

  Mas para tudo ocorrer bem como sempre ocorrera, eu teria que ficar mais duas semanas naquele inferno de colégio, pelo meu  simples ato de não entender praticamente NADA de Química. Não era uma GRANDE novidade para mim, mas era meio chato e incomodativo ficar duas semanas além do normal na escola, quando os professores não aguentam nossas caras e nós não aguentamos a cara deles. Mas desde que essa bendita matéria entrou na minha vida, sempre fora assim pelos últimos 4 anos. Mas, o melhor de tudo agora, era que; depois desses longos 4 anos de recuperação em Química, no novo colégio eu não teria que ficar 2 semanas além do normal no colégio, porque afinal de contas meus pais iriam contratar alguém para me ajudar. Não, eu não ficaria, agora eu tinha liberdade! Seriam mais 3 anos e eu estaria na minha faculdade fazendo qualquer lixo que não envolvesse Química...

  Mas enquanto isso não acontecia eu teria que aguentar a rabugenta da Senhora Dguines, falando e reclamando da sua vida e de seu ex-marido, para a turma inteira. Ela sempre com aquele rabo  de cavalo – que era tão repuxado que deixava o rosto da mesma mais fino que o normal – que ela nunca deixara. Sempre com as mesmas vestes parecidas, uma saia justa que batia em seus joelhos gordos, um terninho, seus óculos de garrafa e seu nariz adunco.

  Ela andava para um lado e para outro reclamando sem parar sobre a sua vida, medíocre e insuportável. Reclamava que teria que passar mais um ano dando aula duas semanas a mais...

  Enquanto isso, a turma estava um verdadeiro “lixo”, era pessoas roncando e babando em seus braços – havia uns engraçadinhos colando alguns papéis com alguma asneira nas costas dos que estavam dormindo – outros estavam com fones de ouvindo descaradamente sem se importar com a bendita regra de que: ERA PROIBIDO USAR CELULAR NA SALA DE AULA! Outros cochichando ou trocando bilhetinhos, e outros assim como eu simplesmente esperava pela Santa Batida.

   Mas, meus pensamentos foram interrompidos pela Senhora Dguines:

 - Eu, como acabara de falar, não quero passar duas semanas a mais nesse colégio – eu sentia uma indireta para mim – portanto, não irei fazer nenhum trabalho para compensar o que vocês não fizeram o ano todo – a turma inteira deu um gemido em forma de coral.

 - Qual é? Pessoal vocês querem mesmo mais 2 semanas de aula? É, foi o eu pensei, portanto irei falar as notas – ela olhou para a turma que estava direcionada para a mesma. – Começando com a nossa Rainha da Recuperação – ela apontou para mim e, a turma inteira caiu na gargalhada, eu sentia minhas bochechas pálidas pegando fogo. – Silencio, silencio turma! – Ela nem mesmo conseguia controlar o riso. – Julia, sua nota esta fechada, então nem pense em pedir para seus pais vir conversar comigo para falar comigo. Bom...

  Ela pegou um caderno de capa mole e fez uma rápida conta e, me olhou incrédula assim que terminou.

 - Ora, ora, acho que esse ano não teremos mais a nossa excelentíssima Rainha.

 - O que isso quer dizer? – perguntei incrédula.

 - Quer dizer que você conseguiu, Julia. 8,5 parabéns. Isso explica a chuva de hoje... – E mais uma vez a turma caiu na gargalhada.

 - C-como é? – perguntei ainda chocada com a notícia. Eu Julia, que sempre tirava notas baixíssimas em Química, teria passado com nota integral? Impossível!

 - Julia, não se faça de boba que você não é. Julia. Oito. Vírgula. Cinco. Ok? – ela falava as palavras em pausa.

  Assenti com a cabeça ainda chocada comigo mesma.

  Nunca. Nunca desde que esta matéria entrara na minha vida, NUNCA eu tirara nota integral. Alguns de meus colegas batiam palmas, outros davam tapinhas de leve no meu ombro esquerdo, enquanto eu continuava com a boca aberta...

  Aquela sim seria um momento para festa, mas eu estava com um pressentimento ruim, mas logo varri aquele da minha cabeça. Agora era mais do que certo que eu pediria para ir para a Irlanda junto com Londres. Sim, eu iria e tinha passado com  nota integral em Química!

  Agora eu poderia faltar as ultimas aulas sem me preocupar com o que viria a seguir. Agora eu era outra Julia, era a Julia que tinha conseguido passar em Química!

  O problema seria o ensino médio que viria a seguir...