Enjoy the Silence escrita por Meggs B Haloway


Capítulo 9
VIII. Desistência ambígua.




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Three Wishes — The Pierces.

Quatro meses antes.

Mais uma vez, Edward estava dirigindo o meu carro com a desculpa que eu estava com a mão machucada demais para fazê-lo. Eu deixei, claro, eu sabia que ele estava em boas mãos e Edward também sabia que se acontecesse algo com o meu bebê eu cortaria suas boas mãos como pagamento. Ele só fez rir quando eu o falei aquilo, mas o coitado não percebia o inevitável tom de verdade que tingia minha voz.

Meu carro ninguém arranhava ou batia.

Estávamos voltando do jogo mais incrível do Lakers que um dia eu tinha ousado assistir, por isso não parávamos de falar sobre cada passe que tal jogador fez. Edward, como de praxe, era mais animado que eu ao comentar com a voz alta e as bochechas levantadas para formar um sorriso largo. Ele sempre ficava alterado desse jeito depois de qualquer jogo e eu meio que gostava de vê-lo longe de toda aquela seriedade que estava envolto em seu trabalho de segurança.

Não que eu me importasse muito mais que profissionalmente com ele, eu tinha visto em uma pesquisa que pessoas calmas trabalhavam melhor. E era somente isso. Não era nada demais nem muito menos se tornaria.

Então quando ficamos em silêncio eu encostei meu rosto na janela, observando o bairro perfeito em que tínhamos que passar para chegar a minha casa. Era tudo muito iluminado e as casas tinham varandas frontais que eram harmoniosamente pintadas de branco e algumas cadeiras. Teve uma casa em especial que eu reconhecia muito bem porque Charlie tinha a colocado em meu nome algumas semanas antes e eu não dei a mínima importância para isso já que casas desnecessárias eram colocadas em meu nome de mês em mês.

Aquela, porém, prendeu minha atenção. Parecia uma casa que eu poderia viver sem reclamar por muito tempo, era simplória como eu e aconchegante com seus tons claros que me davam a estranha sensação de calma. Tinha uma cadeira de balanço pousada na varanda e eu rapidamente me imaginei lendo um livro em uma tarde nela. Parecia ser bem o tipo de coisa que eu gostaria de fazer.

As cortinas que protegiam a privacidade que a porta de vidro não permitia eram de uma cor de vermelho rosado com nuances esbranquiçadas. Perfeito. Tudo tão a minha cara que eu me perguntei se Charlie comprara aquela casa somente por comprar ou se ele achou que eu gostaria de ficar lá para valer. Perguntei-me se ele ainda conhecia um pouco do meu gosto… e concluí que não, aquilo era impossível.

— Se houvesse um lugar para onde eu fugiria, com certeza seria para cá. — Murmurei, suspirando.

Dias atuais.

Agradeci mentalmente que a casa não estivesse com cheiro de mofo ou qualquer outra coisa que me fizesse espirrar como uma louca. Não sabia que tipo de limpeza havia passado por lá e nem me importei com isso, tudo que eu queria fazer era me jogar em uma cama e dormir pelo resto da minha vida. Sim, morrer. E como eu não era nenhuma suicida em ascensão, não conseguia suportar a ideia de eu mesma tirar minha vida.

Não que eu estivesse considerando isso, eu não estava. Sério.

Tranquei a porta e abri as janelas abertas para que o ar circulasse pela casa e não a deixasse abafada. Sequer fui ver se tinha alguma coisa para comer na geladeira, eu sabia que de manhã teria que ir ao supermercado se fosse ficar mesmo naquela casa. E eu iria. Eu não era uma pessoa que agia por drama e voltava atrás facilmente, eu não iria voltar atrás naquela decisão porque já estava na hora de eu ter minhas próprias coisas, minha própria vida que eu mandava e desmandava quando bem entendesse.

Sorri ao ver a piscina que tinha. Eu poderia me jogar nela se não estivesse com tanto sono e se a madrugada não estivesse tão fria, então me abraçando entrei novamente dentro da casa, minha casa, e zanzei pelo corredor, escolhendo com atenção quais dos quartos seria mais confortável para que eu dormisse. No primeiro andar não tinha nenhum, então decidi ficar com o que tinha a varanda com cortinas roseadas, parecia-me aconchegante bastante para dormir até tarde.

Arrumei a cama com alguns dos lençóis que eu trouxera e dormi somente com as roupas de baixo com tanta preguiça que não suportei a ideia de ir procurar uma camisola dentro das malas que eu trouxera.  Foi um bom e tranquilo sono, aquela foi uma das raras noites em que eu não adormeci pensando em Carlisle Cullen ou acordei de um pesadelo com o mesmo. Talvez fosse a casa ou o cansaço.

Assim que me acordei no outro dia providenciei uma rede de internet para essa casa já que eu tinha que entrar no site de Cambridge e mandar minha confirmação para eles, assim como a carta a qual havia sido queimada me dizia para fazer. Foi um dia leve e sozinho — nada que me incomodasse, eu mais do que ninguém tinha me acostumado com o conforto e o abrigo que o silêncio me oferecia de boa vontade.

De tarde, quando estava tudo pronto com a internet, fui ao supermercado comprar todos os mantimentos que eu precisaria para o resto do mês. Comprei até mesmo um novo chip, salvando antes todos os números que eu precisaria em um novo aparelho para em seguida quebrar o antigo e jogá-lo com deleite na lixeira. Estava mil vezes mais leve quando fiz isso e até cheguei a sorrir para mim mesma quando eu me sentei à mesa e comi lentamente a minha lasanha de micro-ondas.

Sim, tudo isso era preguiça de ir para a beira do fogão, mas eu prometi a minha mente acusatória que em breve eu teria disposição e faria pelo menos um ovo frito para o café-da-manhã do dia seguinte. Era bom e normal — pelo menos no ângulo em que eu enxergava — falar sozinha, minha mente concordava com tudo que eu dizia.

Acordei-me cedo no dia seguinte, colocando meu maiô e esfriando-me do dia exacerbadamente quente dentro da piscina. Não nadei até meus músculos doerem como eu fazia em dias normais, nadei o que foi o suficiente para que quando eu saísse meu maravilhoso humor estivesse resplandecente.

Tanto que eu até cheguei a ligar para Alice enquanto enxugava meu cabelo molhado e cheiroso com uma toalha.

— Bella! — Ela exclamou, radiante. — Podemos sair hoje? Estou tão entediada.

— Ahn, claro. Que horas eu passo na sua casa para te pegar?

— Eu estava pensando em eu passar na sua casa e irmos de lá. — Pelo seu tom risonho e malicioso eu sabia que ela estava pensando em ver Jasper indo na… casa de meus pais.

— Alice… eu não estou na minha casa. — Hesitei, mordendo meus lábios.

Claro que curiosa como só ela sabia ser, exigiu saber de tudo que acontecera e eu fui cuidadosa ao pedir para que conversássemos quando ela estivesse dentro de meu carro. Apesar de estar mais curiosa e histérica do que deveria, ela suspirou e murmurou um “tudo bem, Bella” desanimado e que me fez ter  vontade de rir. Ela parecia uma criança emburrada que tinha que concordar com tudo que sua mãe estava mandando.

Foi só quando eu tive de procurar uma roupa decente para vestir que eu tive disposição de arrumar minhas roupas dentro do closet pequeno que tinha no quarto com papel de parede floral onde eu estava instalada. Fui rápida ao dobrar tudo e separar os shorts jeans e a blusa que eu vestiria. O quarto ficou muito mais vazio e espaçoso quando eu tirei as bolsas de perto da porta e as arrumei dentro do fim do closet, arrumando tudo enquanto a disposição ainda sobrava.

Antes de me arrumar fechei as janelas e as cortinas que permitiam a entrada do sol no quarto e como ele havia escurecido, acendi a luz e comecei a me vestir preguiçosamente. Arrumar as minhas coisas acabara comigo e com a minha rara vontade de organizar coisas, então meus movimentos eram lentos e cadenciados como se eu tivesse passado o dia todo trabalhando sob o sol impiedosamente quente.

Ajeitei meu cabelo em meus ombros e pela primeira vez passei um pouco de base sobre os círculos discretos que meus olhos possuíam embaixo dos mesmos, assim como rímel e um batom roseado. E ao final de tudo isso eu ainda parecia um zumbi, para mim eu sempre teria aquela aparência cansada. Não no exterior e sim no interior porque só eu sabia o cansaço irreversível que tinha dentro de mim.

Sorrir para o meu reflexo no espelho não me parecia muito normal, mas mesmo assim o fiz por alguns segundos. Eu não ficaria deprimida essa tarde, eu seria feliz e esqueceria que meus pais não me apoiavam em nada, esqueceria que às vezes eu chegava a pensar que não tinha pais de verdade. Eu não pensaria em Renée nem muito menos no monstro que se chamava Charlie, pensaria em coisas boas e seria feliz somente por algumas horas.

Esperei Alice dentro do carro por vinte minutos até decidir que eu mesma a ligaria. Quando atendeu, sua voz parecia apressada e rapidamente ela pediu que eu subisse e esperasse um pouco no seu sofá. O problema foi que ela desligou antes de eu perguntar se seu irmão ou até mesmo a noiva dele estavam presentes no apartamento e suspirando, deixei o carro estacionado de frente ao edifício onde ela morava.

O porteiro, tendo autorização prévia, me deixou entrar com um sorriso cortês. Confesso que eu estava meio inquieta enquanto o elevador avançava lentamente os andares, poucas pessoas entrando e saindo de modo quase imediato. Alice morava no antepenúltimo andar, no vigésimo terceiro apartamento. Tive que respirar fundo antes de apertar brevemente a campainha que tinha ao lado da porta de madeira escura.

Escutei um baque e depois vozes. Várias vozes e, no entanto, fora a de Edward que eu conseguira distinguir com mais clareza. E ela estava rouca e raivosa, sibilada como se ele tivesse comprimindo os dentes de ódio. Xinguei mil vezes Alice em minha mente quando sua voz ainda irada se aproximou da porta e a maçaneta se mexeu, anunciando que ele quem iria a abrir. E depois xinguei todas as suas gerações passadas quando eu percebi a ausência de camisa no peitoral divino de Edward.

Perfeito para mim, perfeito para prender meus dedos nos gominhos salientes de seu abdômen e…

— É… — Minhas bochechas coraram tanto por seu olhar firme e carinhoso sobre mim que eu pensei que a qualquer momento meu rosto poderia explodir. — a Alice está?

— Por onde você andou? — Ele perguntou para mim, sussurrando.

Eu o responderia se meus olhos não estivessem se prendido a algo que se mexeu atrás dele. Uma mulher divina com os cabelos ruivos estava sentada ao sofá com os olhos presos a um jornal que ela parecia ler com muita, mas muita, raiva mesmo. Eu podia perceber isso por seus dedos apertados e sua expressão insatisfeita. Não comigo, porém por algo que havia acontecido antes da minha chegada.

— A Alice está? — Eu perguntei mais uma vez, trincando meus dentes.

— Bella… — Ele sussurrou e com desespero vi sua mão levantando-se lentamente para depois cair ao lado de seu corpo.

— Bella! — Alice gritou do corredor, prendendo uma toalha felpuda e branca ao redor de seu corpo. — Vamos, Edward, deixe de ser mal-educado e saia da entrada para que ela possa entrar!

E assim ele o fez, ainda com os olhos fixos ao meu rosto corado. Alice engatou seu braço úmido no meu e me pôs de frente a noiva de Edward e o dito cujo que ainda estava me encarando com os olhos confusos. Por favor, Alice, por favor não me apresente à noiva do seu irmão que beijei uma semana atrás, implorei em minha mente, franzindo meu cenho ao lhe olhar e perceber sua expressão determinada. Era quase como se ela estivesse implicando comigo.

— Tanya, essa é a Isabella Swan. — A ruiva só fez erguer os olhos preguiçosamente para mim. — Bella, essa é a Tanya a noiva do Edward, lembra?

Tanya ergueu as sobrancelhas, sorrindo sem mostrar os dentes, mas mostrando a sua falta de interesse. Ela sequer se levantou para apertar minha mão como eu esperei que ela fizesse, apenas soltou aquele maldito sorriso terrível. Perguntei-me se Edward gostava daquilo, daquele sorriso mal-humorado, perguntei-me se ele sorria quando ela sorria… se ele ficava a encarando como um idiota.

E depois daquela apresentação falha dela, Alice desistiu e me puxou para o seu quarto, murmurando o quanto odiava se atrasar. Eu certamente odiava quando ela se atrasava e eu tinha de subir até o apartamento onde ela morava com seu irmão — pelo qual eu tenho quase certeza estar pateticamente apaixonada — e a maldita noiva que ele tinha a tiracolo. E mais ainda quando seu tal irmão tentava falar comigo na frente da noiva rabugenta, será que ele não via que iria dar merda?

— Pude perceber alguma coisa entre você e Edward quando ele abriu a porta, Bella? — Perguntou Alice casualmente, seus olhos observando de modo atento a minha reação pelo espelho.

— O quê? — Arfei, vagando meus olhos para vários cantos do quarto, tentando achar alguma desculpa que fosse boa o bastante. — Ele só estava… hum, me perguntando por que eu não estou em minha casa. Só isso.

— Por que ele se interessaria em saber? — Franziu o cenho na minha direção.

— Renée provavelmente está colocando todo mundo atrás de mim. — Menti. Ela bem que gostaria de fazer isso, mas Charlie a impedia dizendo que não queria chamar atenção para o fiasco que sua família era.

Ela não perguntou mais nada diretamente naquele dia, ela o fez com pequenas e simples perguntas que poderiam soar normais para quem não percebesse sua intenção desde o início. Fui cautelosa e calculada em minhas respostas, tentando não deixar passar nada que entregasse o breve e suspirável romance que tive com seu irmão. Não era uma coisa que se devesse sair falando por ai ou que se orgulhasse de ter feito.

Eu só havia feito porque não sabia que ele era comprometido. Somente. Pelo menos foi disso de que eu estava convencida ao descer do meu carro uma semana depois e pegar as sacolas de livros que eu comprara para reabastecer meu estoque que estava quase acabando e me deparei com alguém sentado na beirada de minha porta. Alguém não, ele.

Edward e sua barba a fazer. Encantador e perfeito.

Eu o perguntaria como ele me achara se ele me desse tempo para fazer isso ao caminhar na direção em que eu continuava estatelada e de olhos arregalados. Sem falar nada, ele envolveu seus braços ao meu redor e me apertou com força contra o seu peito cheiroso do qual eu tanto sentira falta. Em um ato de explícita desistência, também o abracei na mesma intensidade que ele. Eu sentia tantas saudades que eu não suportava a ideia de ficar longe ou até mesmo ser grosseira com ele. Não agora, não naquele dia.

— Ah, Bella… — Ele sussurrou.

Eu o deixei erguer meu rosto, minha boca indo direto para a sua, ávida de desejo por um contato mais íntimo. Eu deixei ele me beijar, deixei meus lábios se moverem contra os seus de uma forma quase desesperada porque era exatamente daquele jeito que eu me sentia por ele: desejosa de um modo ansioso e que não poderia esperar por mais alguns míseros e breves segundos.

E nos beijamos impulsivamente na calçada de frente a minha casa, sem nos importarmos com nada nem ninguém. Abrasador e ávido, eram assim os toques de Edward contra a minha cintura, costas, braços e ombros, terminando em meu rosto.

Não queria nunca abri meus olhos.

Você diz que quer conhecê-la como uma amante

Desfazê-la de danos, ela vai ser nova de novo.


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