Redenção escrita por thedreamer


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olááá, mais um capítulo para vocês, devorem!



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Capítulo Sete

Eu definitivamente tenho muita sorte por Acaiah não ter notado ainda as minhas conversas com os fantasmas. Duas ou quatro vezes não consegui me conter e acabei respondendo-os, o que foi um grande fora. A última vez que cometi esse erro foi há quatro horas, quando as palavras simplesmente jorraram pela boca de Abraham, que fora um menino de poucas palavras desde o início. Não pude evitar uma surpresa, e quase não entendi nada do que ele dizia, palavras como “apaixonado”, “eu sabia que era a pessoa certa”, “sua aparição foi iluminada”.

 Assim que Acaiah se retirou sentei-me exasperada e olhei para Abraham totalmente acusadora.

 - Olha o que você fez! – Disse com um tom bem irritado. Ele mexeu as mãos sem graça e então se sentou ao meu lado.

 - Desculpe-me. – Ele disse de um jeito tão mimoso que tive de me esforçar para continuar séria.

 - Tente compreender que eu sou a única que pode vê-lo e escutá-lo, portanto se eu respondê-lo em meio à outras pessoas, pensarão que sou louca, e isso não me fará muito bem. – Ele assentiu.

 - Eu sei dessas coisas, Maria. É porque fiquei muito feliz, não pude me controlar. – Suspiro.

 - E por que se emocionou? – Ele olhou em meus olhos e depois despistou. Ele parecia incomodado com algo. – Vamos lá, Abraham, pode conversar comigo. Não vou contar para ninguém. Não que alguém fosse me escutar, porém...

 - Foi Acaiah.

 - O que? – Disse desconcertada.

 - Foi ele o motivo da minha emoção. – Fiquei ainda mais desentendida. Com sobrancelhas franzidas o questionei.

 - E por que ele lhe emocionaria? Ele sequer disse algo emocionante. – Ele ficou calado por longos minutos, pensei até mesmo que houvesse desistido de conversar comigo.

 - Não acha Acaiah parecido comigo? – Pega de surpresa olhei bem em seu rosto e lembrei-me das feições de Acaiah. Era os mesmos olhos intensamente azuis, o mesmo nariz curto e ligeiramente empinado. Após Abraham insinuar, até o leve erguer da sobrancelha esquerda notei ser semelhante ao de Acaiah.

 - O que você é dele? – Não sou estúpida. Tamanhas semelhanças não seriam de graça, sem dúvidas eles tinham um parentesco. Sobrinho, ou talvez primo...

 - Ele é meu irmão. – Meus olhos se esbugalharam.

 - Irmãos? – Ele acenou levemente.

 - Pensei que fosse notar no primeiro dia, mas você não o fez e não me senti muito a vontade para entrar no assunto. – Engoli seco.

 - Abraham?

 - Sim, Maria. – Apesar de sua calma, eu não conseguia tomar coragem para perguntar o que queria.

 - Você... Digo, sou a única que pode vê-lo, como você... – As palavras simplesmente morriam antes que chegassem aos meus lábios.

 - Como eu morri? – Senti meu rosto queimar, mas acenei positivamente. – Não foi ruim. As pessoas têm uma ideia fixa de que morrer é a pior coisa que se pode acontecer, mas não é. Olhe para mim, estou morto, e sou muito mais feliz que várias pessoas que circulam por aí exibindo sua vida. – Fiquei quieta e deixei que apenas ele falasse.

 - Faz quatro anos. Nossa família está no país há seis. Acaiah já era um rapazote nesta época, acabara de completar seus catorze anos, que era como um prêmio para ele, pois apenas com essa idade os jovens são liberados para o militarismo, e era o objetivo maior dele.

 Os testes, divididos em quatro etapas, não são fáceis. Lembro-me muito bem de vê-lo treinando dia e noite para isso. Ele chegou ao terceiro quase acabado, a mamãe odiava isso, mas ainda assim estufava o peito de orgulho. No último dia, o dia em que enfim ele poderia conseguir sua vaga, houve um ataque.

Rebeldes – pensei.

Eu nunca havia visto tantas pessoas que não fossem da Capital juntas. Eram muitas, mais de duzentas, e todos tinham expressões raivosas e algum tipo de arma em mãos. Em questão de segundos a praça virou um pandemônio e acabei perdendo a mamãe e o papai de vista, e a única pessoa que vinha em minha mente era Acaiah, e eu consegui avistá-lo a poucos metros, então corri.

 Esses poucos metros pareceram quilômetros, quando estava quase chegando Acaiah me viu e veio em minha direção, porém quando o alcancei atiraram nele. Uma longa lança esculpida em madeira. – Minha boca se escancarou e a tapei com ambas as mãos. – Mas a lança não tinha uma ponta muito bem feita, não perfurou o suficiente. Não pense que Acaiah se curou milagrosamente ou algo do tipo, Maria. A lança fora atirada nele, mas eu acabara de alcançá-lo. Acertaram o meu coração. – Meus olhos se encheram de lágrimas. Não era justo que uma criança tão boa quanto ele houvesse morrido assim.

 - Abraham, eu... Sinto muito. – Ele negou balançando seus cabelos.

 - Não sinta. Eu estou bem. A única coisa que me incomoda, é Acaiah.

 - Por quê? – Digo limpando o nariz na manga da blusa e secando algumas lágrimas.

 - Não pode imaginar? Ele se sentiu culpado. Pensa que sofri muito, que eu não merecia. Ele se tornou uma pessoa diferente após a minha morte. Ele estava matando pessoas simplesmente por matar. Digo, a maioria ele apenas empurrava para Gaspar, mas algumas ele fazia questão de decepar. – Engoli seco lembrando que ele quase fizera isso comigo.

 - Mas ele voltou a ser o que era, quando você apareceu. – Engasguei.

 - Como?

 - Isso mesmo. É essa a razão. Quando o vi dizendo que vocês poderiam se casar...

 - Você também não. Essa ideia é totalmente ridícula.

 - Não, não é. E ele ficou magoado com a sua reação.

 - Não, ele não ficou e eu não quero falar sobre isso. E afinal, o que está querendo insinuar? – Ele passou a mão na cabeça de modo que retirou o cabelo da testa.

 - Não estou insinuando nada, estou lhe dizendo o óbvio. Você fez com que Acaiah se apaixonasse por você. – Abri a boca.

 - Quer saber? Suas ideias estão ainda mais ridículas que as do seu irmão.

 - Não seja infantil Maria, vamos lá. As evidências estão abaixo de seu nariz. Agora vou ver como ele está. Se eu fosse você pensaria melhor no que disse. – E com isto ele desapareceu.

 Se antes eu me sentira confusa e exasperada, não se comparava nem um pouco com o que eu sentia agora. Tive de me deitar e já sentia uma pontada nas têmporas, lembrete de uma dor de cabeça que estava por vir.

 Finalmente eu teria um momento para pensar comigo mesma, e minha cabeça parecia querer explodir. Respirei fundo e tentei organizar meus pensamentos.

Primeiro: A confusa história da princesa Marie, Acaiah, o casamento, e eu. Ele definitivamente me pegou de surpresa, e minha vontade de socar seu rosto bonito ainda pulsava em meu peito. Ele armara tudo desde o princípio e não me dissera nada. Fez-me de boba todo esse tempo. E por quê? Não há explicação para isso.

E então o segundo tópico vem a minha mente: Acaiah está apaixonado por mim. Por favor, isso era totalmente sem nexo! Onde um príncipe, herdeiro de todo esse reino se interessaria por mim, uma garota que ele encontrou na periferia e por pouco não matou? Era mais fácil acreditar que ele se apaixonou por uma porta. Portanto esse tópico pode ser eliminado e ignorado.

O terceiro: Abraham e sua cruel morte. A sua história passou como um vídeo por meus olhos, como se eu estivesse lá e houvesse assistido. Pude sentir sua decepção ao alcançar Acaiah, porém tudo ir por água abaixo, e a dor nos olhos azuis e enigmáticos de Acaiah.

 Vingança. É por isso que ele mata pessoas como eu, os Imundos, como se fossem um brinquedo que é necessário desligar. Mas Abraham disse que ele parou com esse tipo de ato. Ele voltou a ser o que era, quando você apareceu. Sacudi a cabeça.

 Nada era motivo para tamanha crueldade. Eu entendo a dor que ele sentiu ao perder o irmão, e ao assistir tudo, porém ele não poderia assassinar cem pessoas por culpa de uma.

 Droga! Minha cabeça vai explodir. Coloquei os dedos nas têmporas e comecei a massagear tentando amenizar a dor, mas estava sendo tudo em vão. Ar. Preciso de ar. Levanto-me e cuidadosamente abro a porta. Como sempre, não há ninguém, nem mesmo um simples ruído. Saio na ponta dos pés e caminho o mais delicadamente possível até a janela mais próxima, que é minúscula e fica no alto da parede, próxima ao banheiro.

 Não a alcanço devido à sua altura, então dou um jeito de achar algo forte o suficiente para que eu possa subir. Por fim acabo subindo em uma caixa de madeira. Cuidadosamente abro a janela e coloco o rosto bem perto. Perto o suficiente para inalar ar fresco. Para me sentir respirando depois de todo esse tempo.

 Respirei fundo, cinco vezes, na sexta repetição a madeira rangeu antes que eu pudesse me movimentar, cedeu. Meu medo com certeza não foi causado pela queda, mas sim pelo barulho estrondoso. A dor se abateu sobre mim, acabei batendo a nuca na beirada da caixa. Levantei rapidamente, mas fiquei tonta e parei em uma tentativa de normalizar minha visão. Escutei passos, bastantes passos, e meu coração disparou. Eu não conseguiria chegar ao quarto tonta assim, então me escondi no primeiro lugar que encontrei.

 Segundos após eu me esconder, a porta se abriu e três guardas entraram. Senti meu coração na garganta. Eu estragara tudo. Tudo!

 - Vasculhe todos os cantos! – Ordenou um deles, o mais baixo de todos. E ambos obedeceram. Senti meus pelos se eriçarem, e poderia jurar que eles estavam ouvindo meu coração.

 - Mas o que diabos estão fazendo aqui? – Meu estômago se revirou ao ouvir a voz de Acaiah. Por medo, alívio, desespero, culpa.

 - Ouvimos um grande barulho Vossa Alteza, viemos verificar, e temo que por sua segurança não seja muito indicado permanecer no local. – Onde eu estava não poderia ver Acaiah, mas conseguia imaginar suas feições nesse momento. Posso jurar que semicerrou os olhos.

 - Vocês estão loucos! Eu estava logo acima daqui, e não escutei nada demais, no mínimo, uma das caixas caiu. Não seria a primeira vez, seria? Ora essa! Voltem aos seus lugares, que o palácio precisa de segurança do lado de fora, e não do lado de dentro!

 - Vossa Alteza, espere... – Todos os músculos do meu corpo se travaram ao notar a proximidade de um dos guardas. Ele esticou uma de suas mãos estava a centímetros de tocar meu cabelo.

 - Eu ordenei que saíssem daqui! – Vociferou Acaiah e a mão caiu, sem me tocar.

 - Estamos saindo, Vossa Alteza. – E então pude ouvir os passos subindo as escadas. Só então soltei o ar, ainda lentamente, como medo ainda em minhas entranhas.

 - Maria? – Acaiah chamou depois de longos minutos. Não tinha força suficiente para responder. Estivera a ponto de estragar tudo, estava odiando cada centímetro do meu ser. – Por favor, não me assuste, cadê você?

 Lentamente me mexi, e fiquei a vista, ele pousou seu olhar sobre mim e pude ver alívio em seus olhos, mas rapidamente foi substituído por raiva.

 - O que estava pensando? Queria morrer? Bastava me falar, eu te ajudaria a subir as escadas e se apresentar aos meus pais. – As palavras me cortaram.

 - Desculpe. – Disse com pouquíssima voz.

 - Não, não a desculpo. Você quase colocou todo o nosso trabalho a perder. Se eu não estivesse por perto... E o que você estava tentando fazer, afinal?

 - Respirar! – Quase gritei, mas em controlei. – Você não sabe o que é ficar trancada naquele quarto vinte e quatro horas por dia! Não. Sabe! E você não é meu pai ou meu dono, vê se abaixa o tom. – Ele balançou a cabeça, indignado. Aproximou-se.

 - Escute bem, Maria – ele falou com desdém. Estava tão próximo que eu podia sentir seu hálito – não me esforcei desse tanto para você resolver morrer agora, que a culpa cairia sobre mim. Se sua decisão é essa, posso dar um jeito de tirá-la daqui, para lavar as minhas mãos. – Minha boca se abriu, incrédula.

 - Qual o seu problema? – Eu disse sem sair do lugar, mantendo a proximidade, com vontade de socar a sua cara. – Agora resolveu que eu devo morrer? Porque eu não escolhi isso, foi tudo um acidente. Mas você gostou da ideia, não é mesmo? – Algo que não consegui decifrar passou por seus olhos.

 - Eu fiz uma promessa. E vou cumpri-la. Mas vê se não atrapalha. – Ele disse e se afastou, subindo as escadas rapidamente.

 Por pouco não deixei escapar um grito de frustração. Quem esse idiota pensa que é? Acha que só porque poupou a minha vida vou fazer tudo o que for de sua vontade para sempre? Sou grata, sim pelo seu feito. Mas não vou viver sob sua sombra. Não nasci para levar bronca de principezinho nenhum, que não sabe o que realmente é sobreviver.

 São negócios. É assim que o tratarei. Formalmente, como um chefe chato e autoritário. Ao qual pedirei demissão no momento em que me cansar.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Espero que sim!



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