Redenção escrita por thedreamer


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Capítulo Três

 Respiro o mais lentamente possível, o que não é tarefa fácil já que meu coração está a mais de mil batimentos por hora. Nesse momento de concentração acabo me perdendo em pensamentos.

 “Porque ele não me matou?” É a questão que vai e volta o tempo inteiro. Ele teve a chance e era sem dúvidas o certo a se fazer, mas ele não só deixou-me viva, como também me abraçou quando tive um descontrole e comecei a chorar. Qual o problema dele? Quais as suas intenções? Erguem a caixa em que estou presa e me assusto, porém mantenho o silêncio. O medo me invade mais uma vez.

 Ou esta segurança é bem fraca, ou hoje é um dia de muita sorte para mim. Eles me carregam por vinte e duas respirações longas, e então sinto nos colocarem no chão. Meus músculos travam mais uma vez. Se eles abrem essa caixa, minha vida acaba por aqui. Ouço passos a minha volta, mas nada nem ninguém a abre, e então ela reaparece.

 - Mais uma estupidez. Será que jamais aprenderá? – Permaneço quieta. – Claro você está sendo esperta uma vez na vida e não irá me responder. – Olho para ela tentando matá-la com o meu olhar. Mas isso é completamente impossível em ambos os sentidos.

 Ela continua me atormentando, mas a ignoro e tento ao máximo me concentrar nos passos ao nosso redor. E enfim percebo que se cessaram. Meu coração acelera e então a tampa se abre e dou um gritinho, mas então vejo o rosto dele.

 - Shhh – Ele diz colocando o dedo indicador nos lábios e olhando para todos os lados e depois para mim.

 - Desculpe. – Sussurro. Ele acena e eu me levanto com enorme dificuldade, estou fraquíssima. Levo alguns segundos até conseguir me manter ereta e ele me olha com um vinco entre as sobrancelhas.

 - O que houve?

 - Nada. – Digo.

 - Ah! Como sou estúpido. – Ele balança a cabeça em negativa e passa meu braço sobre seus ombros, mas o puxo rapidamente. – Só quero lhe ajudar, você está fraca, aposto como não comeu nada lá dento, não é mesmo? – Afirmo com a cabeça. Ele se oferece para me ajudar e desta vez não nego.

 - Eu já sei onde escondê-la. Foi por isso que demorei a tirá-la de dentro daquela caixa, precisava pensar em um lugar para colocá-la antes. – Fico em silêncio e ele prossegue. – Nós iremos para o palácio...

 - O que? – Digo alto demais e coro logo depois.

 - É o único lugar em que poderei mantê-la em segurança. Ninguém desconfiará de mim em minha própria casa. – Começo a tremer. – Vai dar tudo certo, não se preocupe.

 Caminhamos em silêncio por um longo tempo, e me coloco a observar a paisagem. Não está tudo em completo silêncio porque há uma melodia. Simples e calma e que penso serem pássaros, devido às histórias que minha mãe costumava me contar. Há muitas árvores, mas isso é impossível, pois a existência delas foi extinta há muitos anos. E quando passamos perto de uma entendo. São de verdade. E fui ingênua demais por pensar que eles não teriam árvores reais. Apenas nós somos obrigados a respirar um ar infectado. O deles é quase puro demais.

 E então a visão do palácio se torna possível. Nunca vim até aqui, então jamais imaginaria que fosse assim. É de uma riqueza estonteante, na qual eu nunca poderia estar. Sinto um arrepio percorrer meu corpo. É uma construção imensa e uma longa rampa que passa por cima de um espelho d’água leva até a entrada principal, porém não seguiremos por ali. Devemos estar há uns quatrocentos metros, mas é possível ver mais de dez guardas.

 - Cuidado. – Ele diz e seguimos com cautela até a parte traseira.

 Pensei que vomitaria de tanto medo. Ele me deixou atrás de uma árvore e mais uma vez conseguiu despistar os guardas e me coloca para dentro, e é então que a adrenalina começa. Andamos rapidamente na ponta dos pés, o que é complicado. O piso está completamente brilhoso e meus pés imundos. Ele diz para eu não me preocupar que é fácil encontrar uma desculpa para isso e me guia até uma porta imensa de mogno. Ele a abre e me empurra para dentro.

 Descemos uma longa escada e está tudo escuro, o que me faz levar uma queda quando ainda faltavam oito degraus.

 - Você está bem? – Ele diz assim que me alcança e me ajuda a levantar.

 - Sim. – Digo sentindo uma dor tremenda no joelho esquerdo.

 - Venha. – Ele, enfim, acende uma luz e meus olhos ardem de início. O lugar é enorme, e quando chegamos ao fim, ele puxa um móvel e revela outra porta. Ele a abre e me coloca para dentro.

 Desta vez o cômodo não é grande. Equivale há um pouco mais que minha antiga casa, mas levando em conta o palácio, é uma caixinha. Há uma espuma no chão e um pedaço de pano pouco maior que eu.

 - Depois dou um jeito de trazer algo para você, mas saiba que será difícil, pois o palácio é completamente monitorado por câmeras. – Assinto. – Eu preciso ir, e você terá de ficar aqui dentro todo o tempo, certo? – Mordo o lábio.

 - Vou ficar enjaulada? – O que não é de total exagero. Como ficarei aqui dentro 24 horas por dia? Nesse cubículo?

 - Prometo pensar em um lugar melhor, Maria. Porém por enquanto, é o único jeito. Vou buscar comida para você. – Ele diz, fecha a porta atrás de si e me deixa sozinha dentro do cubículo.

 Sento na espuma, mas encostar as pernas ali é o suficiente para que eu desmorone. Deito e começo a chorar, sem saber o porquê. As lágrimas rolam quentes pela minha face, e me sinto mais fraca a cada segundo. Tenho sede, muita sede, e minha garganta dói demais. Assim como minhas pernas, meus braços e minha cabeça.

 Depois de alguns minutos a fadiga me vence e acabo dormindo.

 Sinto uma dor terrível na barriga que me faz acordar. Quase desmaio quando abro os olhos e dou de cara com o príncipe a centímetros de mim. Ele se assusta e percebo que cora, mas se afasta rapidamente.

 - Trouxe comida. – Ele diz a aponta para o lado. Sigo seu dedo e pareço estar sonhando. Ele com certeza foi modesto ao dizer “comida”. Ele trouxe um banquete. Há pães, tortinhas, bolachas, suco, leite e até mesmo geleia. A primeira coisa que pego é a pequena garrafa com água. Bebo como se não houvesse o amanhã o que realmente pode ser verdade. Assim que termino ataco os pães.

 Mal consigo explicar o quanto é boa à sensação do alimento pousando em meu estômago vazio há mais de dias. Fico tão emocionada com a comida que até mesmo me esqueço de que ele está ali, até que ele pronuncie algo.

 - São seis e meia da manhã. Desculpe acordá-la tão cedo, mas esse será o melhor horário para trazer alimento. Trarei nesse horário o suficiente para que passe o resto do dia. – Concordo com a cabeça, sem parar de comer. – Ainda não consegui pensar aonde levá-la. Não dá para você ficar aqui por muito tempo. O ar aqui dentro é insuficiente, vai acabar asfixiando-se aqui.

 - Nunca estive em lugar mais confortável. – Digo por fim depois de engolir meu quarto pão. Ele me olha por um instante e então abaixa a cabeça. – Então, o seu nome é mesmo “Príncipe”? – Pergunto e ele dá um sorriso de lado que causa um friozinho em minha barriga.

 - Não. Meu nome é Acaiah. – Ergo as sobrancelhas. – Feio demais para você?

 - Diferente. – Retruco. – Mas não feio. – Dessa vez ele sorri mais abertamente.

 - Preciso ir, senão acabam dando por minha falta e desconfiarão. – Ele se levanta e quando está fechando a porta atrás de si digo:

 - Obrigada. Mais uma vez. – Ele para por um instante, mas não se volta para mim. Fecha a porta enfim e desaparece.

 Lembro-me dele dizer que a comida é para o dia inteiro e resolvo fechar minha boca. Afasto-a para um canto e me deito novamente. O que farei durante todo o dia? Rolo de um lado para o outro e por fim me sento. Levanto a barra da calça e vejo a enorme macha roxa que ficou em minha perna devido à queda da escada.

 Deito novamente e fico pensando aonde tudo isso dará. Acaiah. Então é esse o nome dele. Vossa Senhoria Acaiah, Príncipe Segundo da Primeira Monarquia Brasileira Revolucionária. Dou um leve sorriso. Ele é estranho. Muito estranho. E eu não deveria confiar em alguém como ele, que faz algo como o que ele está fazendo. Suspiro. Eu não tenho escolhas afinal.

 - Ele consegue ser mais tolo que você. – Ela reaparece, desta vez com um vestido vermelho e o cabelo preso em um coque frouxo.

 - Porque você não me deixa em paz? – Pergunto irritada e ela sorri com escárnio.

 - Porque não estou a fim, sua imunda. E agora terei muito mais chance de fazer com que você morra. Você é muito estúpida, como pode se enfiar em um ninho de cobras que desejam lhe envenenar desde o dia do seu nascimento? – Coloco a mão na testa, impaciente.

 - Cuide da sua vida. – As palavras não têm sentido. – Ou da sua morte, tanto faz. Mas largue do meu pé! – Ela gargalha.

 - Farei com que a ouçam falando comigo, e então será o seu fim. Já pensou o que pensariam de uma garota da periferia que fala com fantasmas? – Ela joga a cabeça para trás rindo.

 - Não morrerei. Não por sua causa. Você não se passa de uma ilusão. Coisa da minha cabeça, e nada dará errado por sua causa.

 - Vá pensando. – Ela diz e desaparece.

 Suspiro e deito. Como faço para não ver mais essa garota? Como faço para me livrar dela, antes que aconteça o que ela disse?

 Há seis anos, quando minha família foi morta por guardas da Capital, fiquei sozinha neste mundo. Consegui sobreviver porque havia corrido atrás de uma menina pouco mais alta que eu, que me prometeu que me emprestaria suas bonecas de porcelana para que eu brincasse. Nunca tive esse luxo, portanto a segui. Quando retornei, estavam todos mortos. Chorei por quase dois dias seguidos. Passei fome por muito tempo até aprender a conseguir meu alimento. Vivi escondida durante todo esse tempo, e estava me saindo muito bem até então. O fantasma que me persegue não é o mesmo que me salvou naquele dia. Este é mau.

 Ela se apresentou como Samira e me tortura desde então. Sempre aparecendo nos piores momentos para caçoar de mim, me humilhar, e tentar me derrubar. Seu grande sonho é fazer com que alguém da Capital me veja conversando com ela. Não haveria escândalo maior. Como ela disse.


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Notas finais do capítulo

E então?? Digam o que acharam, please!



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