Redenção escrita por thedreamer


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Há mil anos que não posto, mas é que os reviews são tããão parados, que a gente desanima... Mas a Clarinha, meu anjinho me incentivou tanto me deixou tão feliz que resolvi postar hoje. Espero que gostem!



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Capítulo Onze

Deito-me em meu colchão com o pulso a mil. Eu consegui então. Conto até dez tentando controlar minha respiração. De início, era o meu plano seduzir Acaiah. Não, conquistar, seduzir não. Mas quando ele entrou, minha raiva pela morte de Perón sucumbiu meu interesse de sobrevivência, e tudo o que eu queria era esmurrá-lo e fazê-lo pagar por este ato. Minha raiva estava vencendo, mas ele virou o jogo e eu ia acabar me dando mal.

 Eu não planejava cair em cima dele. Mas a queda me fez racionalizar e lembrei que o que eu realmente precisava no momento era ficar viva. E depois da tentativa de espancá-lo como eu poderia ficar carinhosa de repente e dizer que precisava dele? Só me restou beijá-lo.  Respiro fundo. E um pequeno sorriso escapa por meus lábios.

Ele gostou.

Pude ver em seus olhos, sentir em seus lábios e ouvir de sua voz. Sou única. Por um momento sinto pena de Acaiah. Como ele pôde cair tão fácil assim? Bastou um beijo. Ou dois. O que importa é que agora sei que não corro mais risco de morte. A não ser que ele seja um mentiroso... Talvez seja, mas desta vez ele não mentiu. Pude sentir.

 Agora só me resta ficar entediada como sempre esperando que ele dê um jeito na princesinha e prosseguimos com nosso plano.

O quarto se iluminou e sorri esperando por Abraham e imaginei que ficaria feliz com as notícias, se já tivesse ele mesmo visto a cena. Porém o cabelo que aparece é bem mais longo e os olhos bem mais cruéis.

 - Vá. – Digo nem um pouco a fim de conversar mais uma vez com essa garota. Ou alma.

 - Parece estar irritada comigo, mas fez o que eu lhe disse, não é mesmo? – Ela sorri. – Resolveu pensar, très bien! – Permaneço ignorando-a. – Não vou lhe ajudar mais, só vim até aqui para dizer que seu amiguinho iluminado e chorão está sumido.

 - Abraham? – Digo alarmada.

 - O que, você já encontrou outros? – Pergunta erguendo a sobrancelha. – Deixe de ser estúpida. Lógico que foi ele.

 - Aonde ele foi? – Sua face se torna incrédula.

 - Você acha mesmo que eu sei? E que diria a você, caso soubesse? Poupe-me. – Ela desaparece deixando o som de sua gargalhada.

 Agora essa! Onde será que Abraham se meteu, e por quê? Mordo o lábio quando uma ideia me ocorre. Ele desapareceu por minha causa. Engulo seco. Não tenho nada a ver com isso. Ele não se passa de um espírito, como Samira, e seu sumiço deveria ser motivo de comemoração. Mas não me sinto assim.

 Abraham era um espírito bom, e foi gentil desde o princípio, tudo o que queria era o bem de seu irmão. O irmão que estou usando. Uma gotinha de remorso pousa em minha cabeça, mas a varro para bem longe rapidamente. Não estou fazendo nada de errado. Isso é uma guerra, e cada um usa as armas que possui.

 Pressiono os dedos em minhas têmporas e fico pensando intensamente em Abraham, chamando-o silenciosamente, na falsa esperança de que ele me escute onde quer que esteja e apareça. Após longos minutos tenho nada como resposta, e então desisto. Recosto-me na parede e começo a mastigar algo que Acaiah trouxe. Há algo cremoso em um vasilhame tampado, com gosto de galinha. Aprecio o sabor vagarosamente. Até hoje não consegui me acostumar com essa vida de ter alimentos tão bons na hora certa.

 Estou mal acostumada, será que voltaria à selva e viveria com facilidade? Sorrio comigo mesma. Que pergunta estúpida. Foram longos anos, suficientes para aprender coisas que jamais esquecerei. Terminei meu jantar, e dormi logo após.

 Eu estava em um lugar completamente escuro nenhuma luz, não conseguia enxergar um palmo a minha frente. Giro minha cabeça incessantemente tentando ver algo até que calmamente as coisas vão tomando forma diante de meus olhos, ou simplesmente a luz está aparecendo. Concentro meu olhar em cada uma delas tentando me localizar. Conheço esse lugar, sei que conheço... Minha casa! Ofego quando vejo uma mulher de baixa estatura e cabelos intensamente castanhos passando pela porta enquanto amarra um avental em sua cintura. Meus olhos enchem d’água e me aproximo.

 - Mamãe! Mamãe, senti tanto a sua falta! – Tento abraçá-la, mas meus braços não a tocam e ela não me nota. Sou como um fantasma. Respiro fundo e seco as lágrimas, prestando atenção no que está acontecendo.

 Ela volta à porta de onde saiu e dá uma conferida. Sigo seus passos e vejo a mim mesma deitada na cama, dormindo tranquilamente. Eu deveria ter uns seis anos de idade. Ela sorri ternamente e caminha para o minúsculo cômodo que é a cozinha e se senta à mesa, tamborilando os dedos sob o tampo. Ela espera por algo. E então meu pai cruza as portas da entrada. Por que eu não estava com ele? Sempre saíamos juntos. Forço minha memória, mas nada vem. Ele suspira antes de colocar as armas e cima da pia. Vejo mamãe torcendo os lábios com aversão àquilo, mas nada diz.

 - As coisas estão piorando. – Ele diz dando um gole em um copo de água. Ela olha em direção ao quarto e ergue a sobrancelha.

 - Ela dormiu. – Mamãe sussurra. Ele expira e passa a mão pelo rosto expressando cansaço. – Vamos, conte-me logo de uma vez. – Ela se agita.

 - Estão armando uma rebelião. – Prendo a respiração, mas mamãe não aparenta surpresa. – Se recorda da última? – Desta vez ela empalidece e espreme as mãos desconfortavelmente.

 - Quem está por trás da organização? Não podemos correr um risco tão grande assim. – Ele suspira.

 - Calu está por trás de tudo. Ele está cada dia mais sedento pelo sangue da família real, está doentio. Tentei convencê-lo de que precisamos planejar por bastante tempo, mas ele não quer esperar.

 - Como assim?

 - Ele quer que o ataque aconteça na próxima semana. – Mamãe arregala os olhos. – Eu sei, é loucura, mas ele se recusa a ouvir qualquer um que o diga isso.

 - Você estará na rebelião? – Seus olhares ficam presos por longos minutos até que ela se levanta com olhos cheios de lágrimas. – Por que não os deixa entrar nessa, sozinhos?

 - Não posso. Você sabe que não. E, pense bem, é o Calu! Estamos juntos desde crianças, não posso deixá-lo sozinho, ele é como um irmão para mim.

 - E Maria? – Ela pergunta se controlando para falar baixo.

 - Maria vai ficar bem. Vocês ficarão! – Ela nega com a cabeça.

 - Você deveria ser mais realista. Sabe o tamanho daquele exército na Capital, sabe que...

 - Vai dar tudo certo! – Ele diz explicitando que o assunto está encerrado. Ambos ficam em silêncio e me atrevo a olhar pela porta do pequeno quarto.

 Não estou dormindo. Não mais. Posso ver claramente que meus olhos estão fechados por puro fingimento.

 - Ei, Maria! Acorde. – Ouço uma voz familiar e tudo começa a se dissipar.

 - Não! – Digo querendo ficar por mais tempo. A escuridão retorna e logo após grandes olhos azuis. Dou um salto.

 - O que você tá fazendo aqui? – Ele sorri. E seu sorriso até que é bonitinho.

 - É assim que você me recebe? – Permaneço séria e calada – Certo, tenho uma ótima notícia.

 - Diga. – Ele semicerra os olhos e vejo que estou sendo rude demais para alguém que o agarrou na noite passada.

 - Ontem eu convidei Marie e sua mãe para irmos ao pontal na tarde de hoje. Amália aceitou de prontidão, porém hoje ela não acordou se sentindo muito bem. Parece que o clima tropical não se deu com ela. Bom, tem algo mais. Na tarde de ontem Marie e eu tivemos uma conversa muito esclarecedora, e diferente do que ela demonstra, ela não é nada tímida ou calada, pelo contrário. E, portanto, nosso plano entra em ação hoje mesmo. – Congelo.

 - Hoje? Mas... Você nem me avisou com antecedência, não estou preparada. O que vamos fazer? – Fico um pouco desesperada.

 - Ei, calma! Vai dar tudo certo. – Um arrepio percorre a minha pele com suas palavras. – Vou passar os detalhes agora. – ele se senta na parede de frente à minha e começa a falar.

 - Estaremos a sós esta tarde, e usarei clorofórmio para causar um desmaio e assim a levarei até a casa. Atrás dessa porta há uma caixa com as roupas que você deve vestir. Acho que me esqueci de te contar algo: Marie é loira. – Ergo as sobrancelhas – Isso significa ter que tingir seu cabelo, mas... Não posso fazer isso, não agora. Eu trouxe uma peruca.

 - Peruca? – Como vou colocar isso em minha cabeça?

 - Sim. Vou deixar esse celular com você – ele me entrega um aparelho em perfeito estado – o único número salvo é o meu. Assim que eu ligar, saia. Fique de prontidão na porta do sótão. – Aceno positivamente. Agora tudo parece muito arriscado, o nervosismo começa a aflorar.

 - Maria? – Olho para ele.

 - Huh? – Ele me olha por tanto tempo que fico sem graça.

 - Eu prometo que vai dar tudo certo. Não vou deixar que algo de ruim aconteça com você. – suas palavras não me comovem, mas forço um sorriso.

 - Está tudo bem. Eu estou bem. – Ele acena vagarosamente, ainda me perfurando com seu olhar. – Então você e ela andaram conversando?

 - Conversamos ontem, como já disse. Por poucos minutos, na biblioteca. Mas fora o suficiente para que ela mostrasse que não é quem eu pensei que fosse.

 - Você pode me ajudar? – Pergunto e me levanto. Abro a porta e pego a caixa que ele comentou sobre. Abro-a cuidadosamente e vejo uma cabeleira loira. Dou uma boa olhada e coloco em suas mãos. Há um pequeno elástico que uso para prender todo o cabelo.

 - Espere, coloque isto... – Ele retira uma touca cheia de buracos e a coloca em minha cabeça. Com cuidado ele afrouxa o coque e ordena meu cabelo.

 - Então, secretamente você cuida de cabelos femininos? – Questiono e ele sorri.

 - Só mais um dos meus truques. Abaixe um pouco a cabeça... Isso. – Ele coloca a peruca em minha cabeça, e até que não é tão desconfortável. – Olhe para mim. – ele pede. Viro-me e ele mexe um pouquinho de um lado e do outro.

 - Tudo certo? – Olho para ele que dá um sorrisinho de lado tentador.

 - Você é a loira mais bonita que já vi. – Fico corada e reviro os olhos.

 - Não sou loira. – Balanço a cabeça para ver se o cabelo fica bem preso. Dou uma olhada nas roupas dentro da caixa.

 Há um vestido, uma sandália com salto baixo, graças a Deus e um véu.

 - Ela realmente usa um véu em todos os momentos? – ele acena positivamente – Isso deve ser um saco. – Coloco o véu sob minha cabeça – Quase não o enxergo!

 - Mesmo?

 - Sim. Isso é uma droga! Coitada. – Retiro o véu e suspiro. – É hoje. – Ele olha para o teto de modo pensativo.

 - Sim.

 - Acho que você deveria ir. – digo por fim. Ele volta seus olhos intensamente azuis para mim e não responde, apenas prende seu olhar. Sinto meu rosto esquentar, mas fico quieta.

 - Certo, é melhor mesmo. – Ele se aproxima e sela seus lábios nos meus rapidamente, como em um susto. – Te encontro mais tarde.

 Assim que ele some não consigo me conter e limpo os lábios. Não sei por quanto tempo vou suportar esse fingimento, não sei até quando vou conseguir ficar retribuindo beijinhos desse jeito, eu não quero beijá-lo. Eu quero sair daqui. Sorrio. É hoje. Hoje eu saio desse buraco fedido e sufocante.

 Como um pedaço de pão e bebo suco de manga e decido me aprontar logo, para poder repassar meu treinamento de “Marie”. Tomo um banho e depois de me secar amarro a toalha na cabeça. Quando reabro a caixa para colocar a roupa noto uma meia calça. Ótimo, mais fru fru. Decido colocar a meia, apenas na hora certa, para não correr o risco de rasgá-la. Abro o zíper lateral do vestido e o coloco pela cabeça. Fecho zíper. Bom, Acaiah poderia ter feito a gentileza de arrumar um espelho. O banheiro! Caminho até lá e dou uma olhada no pequeno espelho rachado sobre a pia. Não consigo ver nem metade do meu corpo, mas a parte de cima está ok.

 Calço a sandália cuidadosamente e começo a andar de um lado para o outro, tentando agir o máximo possível como uma princesa e tentando enfiar isso na minha cabeça. Controlo a respiração e tento fazer o mesmo com as pernas que insistem em tremer, fazendo com que eu pise errado com o salto.

 - Ah, vamos lá Maria, você sabe como fazer isso. – Digo a mim mesma. Vou de um lado para o outro até que o faça corretamente.

 Passo a ensaiar cumprimentos e acenos de mão e só paro quando sinto o estômago roncar. Dou uma olhadinha pela pequena brecha da janela e imagino que deva ser meio dia. O sol já está bem quente e começo a transpirar. Apresso em tirar o vestido e guardá-lo na caixa. Visto meus trapos novamente e volto a comer.

 A endorfina está tão intensa em minhas veias que mal consigo parar quieta. Não como a quantidade normal para o horário, e bebo água demais, indo ao banheiro mais do que devia, e fico andando de um lado para o outro (com a sandália para treinar).

 Deito em minha espuma e tento tirar um cochilo. Depois de muito ficar de olhos fechados e nada de conseguir dormir resolvi levantar e olhei para o celular que Acaiah deixara comigo. Decidi começar a me arrumar. Minha barriga congelou. Fiz algumas preces enquanto me vestia, para que tudo desse certo. Levei longos minutos para arrumar o cabelo, e tentei seguir os passos de Acaiah. Quando foquei os olhos no espelho dei mais uma pequena ajeitada e me senti bem.

 Eu já não me sentia como a Maria. Portanto estava no caminho certo. Com bastante cuidado prendi o véu no alto da minha cabeça e cobri o rosto.

 - Ai que coisa ridícula! – Gemi.

Dei uma última olhada na caixa e encontrei... Um par de luvas! Em que ano essa garota vive? Quando estava completamente pronta, pensei que fosse explodir tamanho o nervosismo. Olhei o horário mais uma vez e subi as escadas calmamente, para não fazer barulho. Parei no último degrau e permaneci tão quieta quanto uma estátua. O telefone se acendeu. Toquei sua tela e uma mensagem apareceu.

“Saia!”


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Notas finais do capítulo

E então????? Deixem reviews, gente, eu preciso saber o que vcs estão achando!!!



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