Avalon's Guardians escrita por LordeCronos


Capítulo 8
Capítulo 8




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Era difícil de acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Vanessa estava abismada de ver de perto o castelo feito de ônix que ela tanto desejara visitar. Agora ela estava ali, vestida como uma princesa e prestes a se apresentar como uma para sua mãe.
Ela, seus dois amigos e aquele metido do Allan chegaram aos portões, passando pela trilha tranqüila que chegava até o castelo. Haviam guardas com armaduras negras mas brilhantes postados próximos à porta. Vanessa percebeu que eles possuíam asas transparentes de libélulas, que se mexiam de acordo com o humor deles.
-Pois não? – Um deles perguntou, olhando-os do alto do patamar do portão. 
-Sou eu, rapazes. – Allan falou, acenando de leve. Ele parecia ser bem íntimo do pessoal dali. – Estou trazendo aqui comigo o príncipe marinho Aristelin, a sobrinha da Rainha e sua filha... – Allan ergueu o braço, chamando Vanessa. Ela se aproximou, sem querer ser tocada por ele. -... A princesa Vanessa.
Os guardas se entreolharam, parecendo surpresos e confusos ao mesmo tempo. Eles sussurraram alguma coisa entre si. Vanessa olhou para Astrid e Aristelin. Eles balançaram os ombros, também sem entender.
Não demorou muito, os guardas abriram os portões. Vanessa e seus amigos entraram, Astrid andando rapidamente como uma criança entrando na casa da vovó.
-Você vai ver, todos vão te amar! Todo mundo aqui é muito receptivo. – Astrid falou. Por algum motivo, aquilo não foi o suficiente para acalmar Vanessa. Ela estava mais nervosa do que quando ia fazer uma prova de Geometria sem ter estudado. E se todos a ignorassem? E se a mãe não estivesse ali e toda aquela viagem tiver sido em vão? E se... E se sua mãe não gostasse dela?
-Ei, fica calma, vamos. Vai ficar tudo bem. – Aris falou, pondo a mão no ombro dela. –Se alguém te tratar mal eu jogo no lago na mesma hora! 
Vanessa sorriu. Aquilo era estranho, mas seu amigo tritão era mesmo um fofo. 
-Ei, aonde ta indo, Allan?- Astrid perguntou. O garoto, ou especialista como eles costumavam chamar ali quem usava uniformes que nem os dele, se afastou deles e entrou em outra viela do castelo.
-Eu preciso ir agora, digamos que eu não sou... Tão nobre assim. – Ele falou, olhando fundo nos olhos de Vanessa. Ela ficou enrubescida, mas desviou o olhar. Até parece que ela iria se deixar levar por aqueles olhos azuis de gato. Ele parecia ser o típico cara que pega todas, que só com uns olhares e palavrinhas meigas consegue abocanhar a primeira boboca que encontra. Mas Vanessa não cairia nessa, nem a pau. – Então, até mais. Tchau, Aris! Astrid... Vanessa.
Ele falou seu nome quase ronronando, como um gato manhoso. E Vanessa não gostava de gatos.
-Tchau.- Ela respondeu.
Allan sorriu, e entrou pela porta de madeira do recinto aonde ele deveria ficar.
-Então, vamos nessa, garotas. A sala de trono deve ser por aqui. Aposto que a rainha Mab deve estar falando de alguma questão da cidade. – Aris falou. Os três andaram pelos corredores claros e aconchegantes, com cores não muito vivas, mas com belas gravuras incrustadas nas paredes, imagens de fadas com longos cabelos e asas maiores ainda, todas lutando contra mulheres altas, outras narigudas e feias, outras belas e esguias, mas todas com o olhar maligno. 
Vanessa viu pessoas da corte passando por eles. A maioria cumprimentava Astrid e Aris, fazendo rápidas mesuras, e dizendo o quão elegantes e galantes eles pareciam naquela tarde. Depois olhavam para Vanessa confusos.
-Não se preocupa, daqui a pouco vão todos babar você. - Astrid disse. Vanessa não sabia bem se queria que os outros a babassem daquele jeito.
Chegaram a um salão enorme, dava pra construir uma casa inteira ali dentro. O teto tinha imagens de fadas, ninfas, sereias e outras criaturas. Todas imaculadamente lindas, esplendorosas de se olhar. O chão tinha azulejos cor de vinho e alguns cristais embutidos. 
Vanessa olhou pra frente e viu duas mulheres andando juntas, conversando como velhas amigas. Apesar de estarem um pouco longe, Vanessa ficou espantada de como elas eram lindas! Deviam ter aproximadamente uns quarenta anos, mas elas tinham aquela beleza clássica e inatingível que nem as divas de Hollywood poderiam alcançar.
-Mamãe! – Astrid e Aris gritaram juntos. Eles correram até as mulheres e as abraçaram como duas criancinhas. Por um momento, Vanessa voltou à infância, quando várias mães iam buscar os filhos de braços abertos e eles iam pra casa seguros, cheios de amor daquelas mulheres que lhes deram a vida. Vanessa nunca soubera bem como era aquilo, ter uma mulher que escovasse seu cabelo, que lhe acordasse com um beijo ou lhe buscasse na escola e a carregasse nos braços. A fada afastou esses pensamentos tristes da cabeça e procurou se recompor. Aproximou-se de seus amigos e de suas mães.
-Olha mãe, ai está ela! – Astrid falou para a mulher que supostamente seria sua mãe.
-Ah, sim... – A mulher sussurrou, e foi deslizando no lindo vestido azul cor de gelo que usava. Ela tinha longos cabelos brancos caídos nas costas e nos ombros, uma pele pálida e brilhante e uns olhos azuis assustadores de tão claros.
Ela se aproximou de Vanessa e olhou bem fundo nos seus olhos. E sorriu. Era um sorriso lindo, como um narciso desabrochando.
-Você é mesmo igual à sua mãe. – Ela falou, os lábios enfeitados com batom vermelho deslizando levemente. – Olhos negros como um dia nublado... Cabelos escuros como a noite... E uma pele rosada como uma flor de macieira.
-A senhora conhece minha mãe? – Vanessa perguntou, se sentindo uma idiota. Ela não estaria na sala do trono se não conhecesse, não é?
-Oh, acho que mais do que deveria. Sou irmã dela, querida. – A mulher sorriu mais ainda, e Vanessa viu seus olhos brilharem, um resquício de lágrimas surgindo em seu olhar. – Sou sua tia Ivone.
-Ivone... – Vanessa já ouvira aquele nome. – A senhora é a Dama do Lago?
-A própria. – Ela respondeu. Ela tocou o rosto de Vanessa, que se assustou ao ser tocada por aqueles dedos tão gelados e brancos como gelo. – Astrid me falou tanto sobre você... E ela não mentiu quando disse que você era bonita.
Astrid piscou, atrás dela.
A outra mulher se aproximou, e Ivone tirou os olhos de Vanessa.
-Ela é mesmo... A princesa? – A mulher lindíssima perguntou.
-Sim, Dylan. Não está vendo? É como ver a Mab quando jovem!- Ivone falou.
-Oh, sim, sim! Como você é linda! – A outra mulher disse, abraçando Vanessa e apertando-a. 
-Mãe! Mãe, para com isso, que vergonha! – Aristelin falou, batendo de leve nas costas de sua mãe.
-Ah, te aquieta, guri! Fazia muito tempo que eu queria ver o rosto da filha da minha querida amiga Mab! Sua mãe vai ficar tão...
A mulher ia continuar, mas Ivone lhe lançou um olhar incerto. A mãe de Aris lhe devolveu um olhar compreensivo, e soltou Vanessa.
-Sou Dylannia, querida. Rainha das sereias do planeta de Avalon. – A mulher falou. Vanessa podia olhá-la melhor agora. Ela usava um lindo vestido amarelo em estilo sereia, fazendo jus ao título, uma tiara feita de pérolas no alto da cabeça e um cabelo longo e preto com mechas azuis cor de piscina. E tinha um rosto tão perfeito, olhos azuis tão profundos que lhe lembravam o imenso azul do mar.
-É um prazer conhecer as duas. – Vanessa disse, fazendo uma reverência desengonçada. – Mas eu... Vim aqui para conhecer sua mãe.
Ivone ergueu as sobrancelhas.
-Oh, a sua mãe, ela...
-Está ansiosa pra te conhecer! Está no escritório. – Dylannia falou, apesar do olhar crítico de Ivone. - Aristelin, leve ela.
-Pode deixar. Vamos? – Aris perguntou para Vanessa. Ela balançou a cabeça afirmativamente e os seguiu, dando um “até logo” rápido para as duas rainhas e ainda ouvindo as duas discutirem algo sério aos sussurros.
Ela e seus amigos chegaram a uma porta enfeitada com tapeçaria roxa, quase se misturando à parede. Astrid e Aris se viraram para ela.
-Está pronta? – Sua prima ninfa perguntou. Vanessa endireitou a coluna.
-Estou.
Astrid bateu de leve com a mão na porta e ela se abriu sozinha. Ela empurrou-a e fez sinal para que Vanessa e Aris entrassem. A ninfa foi na frente, olhando pela sala pouco iluminada.
Havia um silêncio sombrio no ar. Uma tensão enorme dentro do coração de Vanessa. 
Ela viu uma luz violeta bem fraca vindo do outro lado da sala, onde Astrid estava.
-Tia Mab? Está muito ocupada? – Astrid perguntou, pondo a mão na parede, avisando Vanessa para que permanecesse sem ser vista.
-Hm? – Vanessa ouviu uma voz melodiosa e preguiçosa soar. – Não, querida. Qual o problema?
-Nada, tia! É que... – Astrid olhou para Vanessa. – Tem alguém que eu gostaria que visse.
Aris deu um empurrão leve em Vanessa, fazendo-a avançar um passo. Ela aproximou-se de Astrid, e lenta e timidamente olhou para cima. 
-Eu trouxe a Vanessa, tia Mab. – Astrid disse, pondo a mão no ombro de sua prima.
Vanessa via uma mesa cheia de livros empoeirados e uma janela com uma cortina roxa, donde vinha a única luz da sala. Uma cadeira postava-se atrás da mesa. E ela sentava-se nela. 
Uma mão se ergueu da cadeira, com unhas negras grandes e com um braço coberto por uma manga de renda negra.
-Então... Eu estava certa. 
Vanessa engoliu a respiração. A cadeira se virou, mostrando para ela a mulher mais linda que ela já vira na vida. 
Aqueles cabelos negros, tão perfeitamente lisos, aqueles olhos negros e brilhantes como um par de ônix, e aquela pele branca e rosada como uma flor... Espera! Ela era a mulher dos seus sonhos! Aquela que apareceu como uma fada com roupas negras e um olhar gelado. Vanessa percebeu que o olhar dela continuava nada caloroso.
-Minha filha voltou. – Ela falou, num suspiro. Ela olhou fundo nos olhos de Vanessa, vendo perfeitamente muito de si naquela pequena fada.
Ficaram um minuto em silêncio, até que Astrid se afastou lentamente e puxou Aristelin para fora da sala.
A rainha Mab levantou-se da cadeira, e se aproximou de sua filha. Vanessa não sabia bem o que sentia. Uma mistura de confusão, emoção e ansiedade, tudo emergindo ao olhar para aquela mulher.

Ao ver aqueles olhos, teve a vaga lembrança de ver aquele rosto sorrir uma vez. Mas isso parecia algo impossível agora.
A rainha fez um gesto e duas cadeiras apareceram atrás das duas, fazendo-as sentarem-se confortavelmente.
-O que faz aqui? - Mab perguntou.
Vanessa ficou profundamente magoada com a pergunta. Como assim? É obvio que ela viera ali só para vê-la! Como ainda tinha a coragem de perguntar?
-Eu vim vê-la, senhora, err... Mãe. - Vanessa respondeu, corrigindo-se. Mab piscou, e levantou uma sobrancelha. Fitou Vanessa por mais um tempo.
-Ele te mandou? 
Vanessa não entendeu.
-"Ele" quem? - Perguntou.
Mab relaxou as costas na cadeira.
-Aparentemente não foi ele. - Ela falou, mais para si mesma. - Quando foi que descobriu... Tudo isso?
-Ah... Eu encontrei a Lirali, a minha pixie num matagal... - Vanessa procurou nos ombros e a achou na sua nuca. Pegou sua pixie com as duas mãos e mostrou-a para Mab. Ela dormia tranquilamente, parecendo não ter ligado para a viagem.
-Entendo. - Mab falou. 
As duas permaneceram caladas.
Vanessa não acreditava naquilo. Aquele realmente não era o momento que ela tanto esperara.
-Eu... A decepcionei? - Vanessa perguntou. Mab ergueu uma sobrancelha perfeita.
-Como?
-Eu decepcionei a senhora? Não sou como achava que eu fosse? - Vanessa perguntou, sem tempo a perder. - Ou simplesmente havia esquecido de mim?
Por um minuto Vanessa pensou ter visto um brilho de emoção nos olhos de Mab, um brilho que denúnciava uma grande ternura e mágoa pelo que ela acabara de dizer. Mas esse minuto acabara.
-Digamos que eu tenho tido outras coisas em mente. Não possuo tempo para família. - Mab falou. 
-Então foi uma perda de tempo eu ter vindo aqui? - Vanessa perguntou, sentindo os olhos encherem de lágrimas. 
-Você acha que foi? - Mab perguntou, pondo a mão sobre o queixo, e observando Vanessa sossegadamente. 
A garota começou a tremer.
Como uma mulher podia ser tão fria? 
Ela acabara de conhecer a filha que só viu quando bebê, e agora a trata como uma completa desconhecida sem nenhuma relação com ela?!
-Eu acho que preciso ir agora. - Vanessa disse, levantando-se da cadeira. - Com sua licença.
Vanessa virou as costas lentamente para sua mãe, na esperança de que ela tentasse impedí-la, mas Mab apenas a observou sair pelo quarto sem o menor movimento.

Do lado de fora, Vanessa encostou-se na parede e deixou as lágrimas escorrerem. Começou a soluçar e tremer, de tão imensamente triste e decepcionada que estava.
Ela havia sonhado com aquele momento por tanto tempo. Sempre esperara encontrar uma mãe gentil e amorosa, que a acolheria com o maior e mais confortante abraço que ela nunca sentiria na vida. 
Quando deu por si, estava sentada no chão, o longo vestido escorrido pelo tapete, e grossas lágrimas descendo pelo seu rosto.

-Nessa? - Ela ouviu a voz de Aristelin do outro lado do corredor.
-Ai, não! - A voz de Astrid ecoou. 
Seus amigos foram correndo até ela, e sentaram-se no chão junto de si. 
-O que foi que houve? - Astrid perguntou. - Ela falou alguma coisa que te magoou?
-Não...
-Ela te deixou emocionada? - Aristelin perguntou.
-Não.
-Então o que houve, prima? Pra quê esse choro? - Sua prima ninfa perguntou.
-Esse é o problema. Não houve nada. Ela não disse nada. NADA! - Vanessa disse, se levantando e começando a correr, com as lágrimas escorrendo.

Ela não ligou se os dois não a seguiram. Vanessa só queria sair dali o quanto antes. Lirali acordou e se segurou nos cabelos de Vanessa enquanto ela corria.

-Ei, tem gente querendo dormir, será que dá pra parar de...- Lirali começou,. - Garota? O que foi, quem que te fez chorar.
Vanessa parou. 
-Ninguém menos que minha mãe.- Ela respondeu. Chegou até o alto da escadaria que dava para os escritórios, e viu o salão de coroação e de festas vazio. 
Ela poderia ter vivido ali. Ter sido uma princesa, filha da Rainha Suprema das Fadas. Mas mesmo assim, ela seria apenas mais uma despesa para a mãe. Deve ter sido por isso que ela havia deixado Vanessa e o pai, por que eles não passavam de páginas na sua vida.

Foi quando ela ouviu um estranho barulho. 
Era um alarme, como aqueles que tocam quando há incêndio no local. De repente, ela viu vários guardas armados aparecerem de todos os lugares, de detrás das colunas, debaixo das escadas, até do teto! Vanessa viu Astrid e Aris chegarem atrás dela.
-O que tá acontecendo?- Ela perguntou.
-Não sei... Acho que algum intruso entrou no castelo. – Astrid falou, meio medrosa. Aris deu alguns passos a frente e parou, como se estivesse ouvindo alguma coisa no ar.
-Exatamente. Os guardas do portão foram atacados. – O tritão falou. Vanessa e Astrid se olharam, preocupadas.
Vanessa percebera uma coisa: Sempre que ela estava perto de conhecer a mãe, algum monstro ou criatura sombria aparecia e tentava matá-la. Agora, que ela já havia conhecido a mãe, o monstro viera para matá-la no castelo, e arrancar a garganta de quem visse pelo seu caminho!
Ela começou a descer o grande lance de escadas, levantando o vestido para correr mais rápido.
-Nessa, aonde tá indo? – Aris perguntou.
-Não posso deixar que mais ninguém se machuque por minha causa! – Ela falou enquanto corria, seus amigos logo atrás.
-Do que você tá falando? – Astrid perguntou.
-Essa criatura que deve ter entrado aqui está atrás de mim! E eu estou indo me entregar.- Vanessa falou.
-O quê? Você não pode! – Astrid falou, nervosa.
-Confie em mim! Vocês vem comigo? – Ela perguntou.
Os dois afirmaram com a cabeça.
Chegaram ao pátio do castelo, onde era possivel ver todas as janelas no alto, todas as vielas, partes do estábulo e jardins ao longe. Lá estavam Ivone e Dylannia, sendo protegidas por um grupo de guardas.
-Meninos! Venham se proteger, precisam ficar em segurança! – A Dama do Lago exclamou.
-Desculpe, tia Ivone, mas eu não vou deixar vocês serem machucados por minha causa. – Vanessa falou. – Se é a mim que ele quer, é a mim que terá!
-Não seja tola, querida! Aristelin, venha, traga as meninas! – Dylannia falou, parecendo apavorada.
-Vanessa disse que não vai, mãe.- Ele respondeu.
-E nós ficamos com ela. – Astrid também disse.
Antes que as rainhas pudessem discutir mais, ouviram um estrondo atrás deles. Alguma coisa grande e feroz passara por lá e derrubara um monte de tonéis vazios. Os guardas ergueram as armas, prontos para atacar, mas a criatura, que parecia invisível, derrubou os arpões e espadas em um só golpe. 
-Que baderna é essa? – Todos ouviram uma voz melodiosa emanar atrás de Vanessa.
Vanessa olhou para Mab, que se materializara ali sem ser vista.
-Mab, ainda bem que está aqui. Tem um intruso no castelo! – Dylannia falou, nervosa. – Precisamos fazer alguma coisa.
-Sim, certo! Vanessa, querida, não pode ficar aqui, deixe que os guardas tomem conta de tudo.- Mab falou. Vanessa olhou para ela intensamente.
-Mas quanto a eles? Esse monstro vai machucá-los? – Ela perguntou.
-Não se preocupe, amor. – Mab sorriu, um sorriso lindo e maternal, que Vanessa sempre sonhara em ver direcionado a ela. – Mamãe vai cuidar de tudo. Tá bom?
Vanessa sorriu e ergueu a mão para tocar o rosto dela.
-Certo... Mamãe! – Ela girou o braço e lançou uma forte rajada de vento na barriga de Mab, fazendo-a voar bem rápido até uma parede de pedra e cair no chão. Todos soltaram exclamações e ofegaram chocados.
-Vanessa! O que tá fazendo?! – Astrid perguntou, espantada.
-Eu posso ter conhecido ela nesse exato momento... – Vanessa começou, vendo Mab se levantar. – Mas eu percebi que minha mãe não é muito de sorrir. Você não é a Rainha Mab!
A falsa Mab olhou para ela ameaçadoramente, com os longos cabelos negros encobrindo o olho esquerdo, e soltou um sorriso assustador, de orelha a orelha. Depois abriu a boca e mostrou uma fileira de dentes afiados, e a pele foi passando de branca para vermelha e rachada.
O monstro se contorceu e os cabelos de Mab e as roupas desapareceram, assumindo a forma de um grande monstro humanoide, agora com olhos negros e língua de serpente.
-Atacar, homens! – Eles ouviram os guardas deixarem as rainha e avançarem para o monstro. Ele deu um pulo de gato e derrubou todos eles, ficando novamente na frente de Vanessa, Astrid e Aris. Ele começou a rosnar, e Vanessa o olhava nervosa, esperando o próximo passo. A criatura abriu a boca e deu um salto.
-Cuidado!! – Aris gritou, e os três pularam para os lados, depois correndo pelo chão ladrilhado do pátio.
Astrid e Aris postaram-se próximo ao portão que separava os salões do pátio, e Vanessa subira a carroça cheia de palha ali posta. 
-Mãe, você e Sra. Ivone precisam sair daqui! Vão! – Aris falou, e Dylannia pegou Ivone pela mão e as duas correram para o portão a dentro.
O monstro voltou a rugir, agora cercado pela fada, pelo tritão e pela ninfa.
-Agora é a nossa vez. – Vanessa falou, e ergueu as mãos e as cruzou. Sentiu o seu poder de fada inflando, como uma névoa subindo pelo seu corpo e enchendo-a de força. 
-CHARMIX MÁGICO!
-NINFEA MÁGICA!
-QUARTZO MÁGICO!

Os três se transformaram juntos, e levitaram no ar, prontos pra luta. Par a sua surpresa, o monstro se contorceu outra vez, e assumiu a forma de um ser meio mutante. Com asas de dragão, chifres de búfalo e corpo de leopardo.
-Argh, que coisa nojenta! – Astrid falou, eriçando os braços para voar mais alto.
-É um metamorfo! Um animal comum não pensaria em tantas formas assim. – Aris falou, equilibrando-se em sua prancha de surfe voadora. O monstro os alcançou, e começou a perseguir Vanessa.
Ela deu um voou estilo parafuso, e deixou o monstro tonto.
Depois, parou no ar e ergueu as mãos.
-Névoa de confusão! 
Ela criou uma nuvem espessa ao redor do metamorfo, que rugia de raiva sem poder enxergar um palmo à sua frente. 
-Braço das ervas! – Astrid exclamou, fazendo uma flor gigante surgir da terra e agarrar o pé do monstro, puxando-o para baixo. O bicho caiu com tudo no chão ladrilhado, rugindo de ódio e dor.
Ele se contorceu de novo e se transformou numa serpente, libertando-se da planta de Astrid. 
-Turbilhão Marinho! – Aris exclamou, dando um soco no ar e criando uma torrente de água que envolveu a serpente, fazendo-a ser levada pela corrente. O metamorfo mudou de forma de novo, e dessa vez voou para o céu na forma de uma águia gigante, avançando novamente em Vanessa com suas garras pontudas. Ela se assustou e voou mais alto, tentando escapar dele. O monstro piava ferozmente, mas a fada tentava voar o mais rápido que podia, e mergulhou no ar, descendo até o pátio procurando escapar. Ela passou pelas vielas do castelo, passava bem perto das janelas e o monstro ainda atrás dela, batendo as asas com força. Vanessa voou na direção contrária, já sentindo-se apavorada.
-Ataque tubarão! – Aris gritou, dando outro soco no ar e criando um enorme tubarão de água, que voou até a águia e a jogou de volta no chão.
-Sopro de primavera! – Astrid exclamou, balançando as mãos e criando um manto de ervas daninhas e flores coloridas, prendendo o monstro no chão. Ele já ia assumir outra forma, mas Vanessa foi mais rápida.
-Furacão Azul! 
Ela jogou um turbilhão de fumaças no monstro, criando um enorme tornado azul sobre ele. O monstro urrava, chiava, e agora gritava. Isso mesmo. Um grito humano. Ele aparentemente voltara à sua forma original, de uma pessoa encapuzada impossível de se reconhecer. Pelo barulho ensurdecedor do tornado, Vanessa não conseguiu distinguir se era homem ou mulher. Mas pôde ver que seja quem fosse, admitira a derrota e transportara-se para longe dali.
Vanessa posou no chão, cansada, mas não exausta. Astrid baixou os braços, e posou leve como uma semente no chão. Aris desceu da prancha e a transformou de volta em seu tridente.
-Viu como sua filha tem um talento nato para ser uma fada, Mab? – Eles ouviram a voz de Ivone atrás deles. Olharam para trás e todos viram suas três mães aproximando-se deles lentamente, conversando entre si, mas em alto e bom som.
-Lembro que na idade dela você não conseguia voar sem bater a cabeça no parapeito das janelas. – Ivone disse, sorrindo.
-É verdade. – Mab falou, os traços relaxados.
-Viram como ela sabe muito bem quais feitiços usar? É muito inteligente. – Dyllania comentou. 
As três rainhas pararam, olhando seus filhos.
-Eles lembram tanto nós três. – Ivone comentou.
-Sério? – Astrid perguntou, animada.
-Sim, querida. Também adorávamos uma aventura. Não era, meninas? – Ivone perguntou, mas só Dyllania balançou a cabeça afirmando. Mab estava ocupada fitando a filha. A rainha se aproximou de Vanessa. Pôs a mão sobre o ombro dela, e olhou para sua roupa, suas asas, seu cabelo, e finalmente para seus olhos.
-Que bela fada você se tornou. – Ela disse. Vanessa viu que sua boca não formava agora uma linha reta. Formava uma meia lua, num esboço de sorriso simpático, mas ainda assim sereno demais.
-Obrigada, majestade. – Vanessa disse, fazendo uma leve reverência com a cabeça.
Mab aproximou o rosto do de Vanessa.
-Chamar-me de mãe não custa nada. – Ela falou. – Posso não ser a pessoa mais animada do mundo, mas gosto desse titulo.
Vanessa deu um sorriso de leve, parecido com o que Mab acabara de dar. A rainha tirou os olhos dela lentamente.
-Por Deus, olhem só essa bagunça. – Mab falou, e as outras duas rainhas observaram o pátio cheio de madeiras jogadas, palhas e ladrilhos jogados longe pelo monstro e pelo tornado de Vanessa. – Guardas! – Mab gritou, sua voz forte e impiedosa, gelando Vanessa. – Sejam úteis para algo, limpem essa sujeira.
Imediatamente, os guardas alados surgiram e foram recolhendo as coisas sujas.
-Agora vamos levar Vanessa de volta para casa. – Astrid disse, pondo a mão no ombro de sua prima. 
-Oh, claro. – Ivone e Dylannia aproximaram-se.
-Foi uma maravilha finalmente conhecê-la. – Dylannia falou, dando outro abraço forte nela.
-Espero revê-la, meu bem. – Ivone disse, dando um beijo na testa de sua sobrinha. Vanessa sorriu para ela. Por que sua mãe não podia ser assim?
-Também foi um sonho conhecê-las. – Vanessa disse. Virou-se para sua mãe, que jazia parada de costas, sem se mover. – Até logo, mãe.
Rainha Mab virou-se lentamente e deu uma última olhada para ela, com aquele mesmo sorriso meia lua estampada em seus lábios. Vanessa se virou, não querendo mais se machucar com aquela indiferença. 
Enquanto andava, ela estalou os dedos e sua roupa de fada e suas asas se dissiparam em faíscas e estrelas, desaparecendo no ar. Seus amigos fizeram o mesmo, voltando à suas roupas normais, livrando-se até do visual que Astrid criara.
-Olha, eu sei que a tia Mab não é bem a mulher mais amorosa do mundo... – Astrid começou.
-...Mas não significa que ela não gostou de você. – Aris repondeu.
Vanessa apenas suspirou.
Por mais que ela ouvisse aquilo, não podia evitar a tremenda decepção que sofrera.
-Cadê a Lirali? – Perguntou, tentando esquecer daquilo.
No mesmo momento, sua pixie apareceu numa nuvenzinha com faíscas, com óculos escuros e sacolinhas.
-Ei, até que Avalon é bom pras compras! Tem umas três lojas exclusivas pra pixies! – Ela falou, sentando no ombro de Vanessa.
A fada se virou para seus amigos.
-A gente se vê depois? – Astrid perguntou, sinceramente com medo da resposta dela.
-Claro. – Vanessa disse. – Claro que sim. 
Apesar de o tão esperado encontro não ter sido do modo que ela imaginara, Vanessa nunca poderia deixar Avalon. Aquele lugar era sua casa também.
-Se cuida, tá? – Aris falou. 
-Podem deixar. Tchau.- Vanessa falou, abrindo a porta de fumaça e voltando para casa.
A noite passou rápida, e ela só lembrava do rosto frio de Mab lhe olhando. Aquele rosto tão parecido com o dela, mas tão imparcial.
Não conseguia chorar, não tinha mais lágrimas para isso. Mas não conseguia fazer a dor passar.

CONTINUA


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