“Porque eu fazia do amor um calculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. ''

Clarice Lispector

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O tempo foi se passando e os dias que antecederam a festa do professor Slughorn passaram voando.

O castelo ficou mais vazio já que a maioria dos alunos foram passar o natal em casa, mas quase todos os alunos do sétimo ano ficaram em Hogwarts já que era o último ano deles na escola.

Lílian e Maria caminhavam pelos corredores do castelo voltando da biblioteca onde passaram a tarde terminando os deveres. Elas estavam indo para a torre da grifinória enquanto conversavam.

– Então Lily, já convidou alguém para ir à festa do Slug como você? – Maria perguntou.

– Ainda não. – disse Lílian desanimada.

– Bom, é melhor você se apressar, por que a festa é amanhã. – dizendo isso Maria entrou na sala comunal e subiu para o dormitório feminino enquanto Lílian com um suspiro se sentou em uma poltrona próxima da lareira.

Lílian observou os quatro marotos do outro lado da sala comunal rindo e conversando. Nas últimas semanas Tiago tinha despertado sentimentos em Lílian, sentimentos que Lílian não entendia como nem quando haviam surgido. Só de ficar perto dele seu coração disparava, a boca ficava seca e ela sentia um frio na barriga, parecia que seu coração iria explodir, mas ao mesmo tempo parecia que ele estava sendo apertado por uma mão invisível.

Com horror ela tinha enfim percebido que estava apaixonada por ele, algo que ela nunca quis sentir, ela tinha jurado que nunca cederia, mas fora inútil, e afinal de contas ela não tinha resistido aos encantos de Tiago Potter. Ela tinha medo do que as pessoas iriam pensar, do que ele iria pensar. Será que ainda gostava dela? Será que realmente gostava dela? O que ele diria? O que ele pensaria? O que todos pensariam?

Lílian sabia que era uma idiotice se preocupar com o que os outros iriam pensar, eles não tinham nada a ver com sua vida, e afinal de contas uma pessoa podia mudar de ideia, não era errado, não era impossível.

Mas o pior de tudo era que ela não conseguia mais agir da mesma forma perto dele, ela ficava constrangida o tempo todo, não conseguia falar e tinha uma terrível mania de deixar tudo que estivesse em sua mão cair e sempre esbarrava em tudo que estivesse por perto.

Lílian queria convidá-lo para a festa, mas tinha medo da rejeição, tinha medo dele dizer não, medo de que depois dela ter dito tantas vezes não ele quisesse se vingar, ou pior, que ele tivesse perdido o interesse. E por fim ela não o convidou, e para sua tristeza ele também não a convidou.

O dia da festa amanheceu frio e ensolarado e por mais que isso parecesse estranho era algo bastante comum em Hogwarts. Às 19h00min Lílian finalmente ficou pronta.

Lílian usava um vestido azul escuro que combinava perfeitamente com seu tom de pele, os cabelos ruivos estavam ondeados e uma trança de lado prendia a sua franja, obra de Alice que era muito boa em feitiços deste tipo, ela calçava um sapato bege de salto alto e usava uma maquiagem suave, porém que destacava seus olhos muito verdes.

Ao chegar a festa ela foi recepcionada pelo mestre de porções, o professor Slughorn.

– Lílian, estou encantado em vê-la. Você está belíssima! Entre, entre. – o professor disse entusiasmado.

Lílian entrou na sala e por um instante ficou deliciada pela beleza do lugar, sorriu conspiratóriamente, sempre se encantava com o que uma varinha e um bruxo talentoso poderiam fazer. A sala estava muito bem decorada, tecidos em tons de roxo e dourado pendiam do teto e das colunas na ampla sala e mesinhas e cadeiras de madeira pintadas de branco estavam espalhadas por toda sala. Garçons vestidos de vestes a rigor brancas e pretas distribuíam em bandejas de prata vários tipos de bebidas, tacinha de whisky de fogo, taças de hidromel, copos de cerveja amanteigada e suco de abóbora e alguns pratos típicos bruxos, serviam os convidados.

Alice e Frank estavam absortos em uma conversa que parecia divertida, Sirius estava em um canto jogando charme para uma garota da corvinal, Marlene estava aos beijos com o namorado Josh Davis, Remo estava na ala hospitalar se preparando para mais uma época de lua cheia e Pedro não tinha sido convidado.

Lílian ainda admirava o salão quando alguém se aproximou. Era Tiago, Lílian o observou. Ele usava calça jeans, blusa social branca e um palitó cor de chumbo. A roupa o deixava muito elegante, porém, seus cabelos continuavam despenteados, Lílian presumiu que ele não tinha conseguido arrumá-los. Ela sorriu para ele e o cumprimentou:

– Olá, Tiago.

– Ei Lily, Nossa você está maravilhosa! – ele a elogiou, com os olhos brilhando e um sorriso torto nos lábios.

– Obrigada. Você também está muito bonito. – ela disse corando de satisfação.

Tiago viu Slughorn se aproximando, ele pegou a mão de Lílian e eles se afastaram antes que o professor viesse bajular os dois. Pegaram dois copos de cerveja amanteigada e se sentaram em uma das mesinhas.

Lílian estava bastante quieta, mas seus pensamentos estavam fervendo, cheios de dúvidas.

– Você está bem Lily? – Tiago perguntou com as sobrancelhas franzidas em sinal de confusão.

– Estou sim... – ela respondeu com um leve sorriso.

– Posso te chamar de Lily – Tiago perguntou receoso.

– Acho que você já vem fazendo isso há algum tempo. – ela sorriu sarcasticamente. – Mas sim pode me chamar de Lily, só não me chame de Lírio. – ela disse brincalhona.

– Por quê? Você adora quando eu te chamo de Lírio. – os dois riram.

– E eu posso te chamar de Tiago? – ela perguntou sorrindo.

– Acho que você já vem fazendo isso há algum tempo. – Tiago a imitou e os dois riram.

Eles conversaram animadamente sobre todo tipo de assunto. Sobre a infância de ambos, os pais, as marotices que ele aprontava e eles riram muito das brigas que os dois tiveram nos últimos seis anos. Os dois riam, gargalhavam, se provocavam... Estavam se divertindo tanto que começaram a chamar a atenção dos outros convidados da festa, mas, estavam tão distraídos que não perceberam.

A essa altura da noite a festa já estava bastante animada, pessoas dançavam na pista e Sirius já tinha sumido misteriosamente, o mesmo tinha acontecido com a garota com quem ele estava conversando.

Lílian descobriu mais coisas sobre Tiago naquelas horas do que tinha aprendido em todos os anos de convivência até então. E em dado momento, como parecia natural, ela começou a fazer perguntas mais íntimas, mais sérias. Com o coração acelerado ela mudou o rumo da conversa para um assunto que vinha a incomodando e tirando sua atenção já há algumas semanas.

– Você já se apaixonou? – Lílian perguntou a voz ficou mais suave e baixa.

– Sim. – os olhos dele adquiriram um brilho diferente.

– Quantas vezes? – o coração de Lília agora parecia querer sair pela boca.

– Uma vez.

– Quando? – ela tornou a perguntou a respiração acelerada.

– No terceiro ano. – ele estava muito sério.

– E... Você ainda é apaixonado por essa pessoa? – toda a atenção de Lílian estava em Tiago, era como se apenas os dois estivessem na sala.

Passaram-se alguns segundos antes dele responder.

– Não. – a resposta deixou Lílian mortificada. Ela sentia como se um nó estivesse crescendo em sua garganta e tudo que ela queria era sair correndo da festa.

– Por quê? – a pergunta foi apenas um sussurro e ela já não conseguia mais encará-lo.

– Porque o que?

– Por que você não gosta mais dela? – mas no momento em que ele ia responder a pergunta alguém derramou vinho de elfos no vestido de Lílian.

– Ahh! Desculpe sangue-ruim eu não te vi aí. – disse Mulciber displicente com um sorriso maldoso.

Os alunos da sonserina riram.

Tiago foi tomado pela raiva, ele se levantou e sacou à varinha, o ambiente ficou tenso. Lílian se levantou e segurou a mão de Tiago e colocou a outra mão em seu peito ficando entre ele e Mulciber.

– Não Tiago, não vale a pena.

Quando os olhos de Tiago encontraram os de Lílian ele se acalmou e abaixou a varinha. Lílian aspirou o líquido do vestido que voltou a ficar limpo e bonito como antes.

– Olha só o Potter obedecendo a sangue-ruim como um cachorrinho, que meigo! – Mulciber disse debochadamente tentando provocar Tiago. – Você devia se envergonhar Potter! Se misturando com esse tipo de gente! Você é um traidor de sangue isso sim. Fica rastejando atrás dessa sangue-ruim como um cachorrinho. É patético!

Mulciber tomou fôlego para dizer mais algumas ofensas, mas foi surpreendido assim como todos que observavam a cena com o que Lílian fez. O som do tapa que ela deu no rosto do sonserino ecoou pelo salão. No rosto do rapaz ficou a marca dos cinco dedos de Lílian.

– Vamos Tiago, essa festa está muito mal frequentada. – Lílian pegou a mão de Tiago e os dois saíram da festa.

Eles caminharam pelos corredores vazios do castelo por um tempo ainda de mãos dadas e em silêncio, Lílian percebeu como era boa a sensação de estar segurando a mão dele, ela era quente e firme, trazia segurança, e ela pensou em como seria bom se eles pudessem ficar assim, simplesmente, sem preocupações com o que os outros iriam pensar, ou como o mundo bruxo estava, em Voldemort, nos comensais da morte, e se os sentimentos dele eram ou não verdadeiros, ou se o que ela sentia por ele era amor ou não. Os dois continuaram de mãos dadas até que Lílian se lembrou do que tinha acontecido antes da discursão e com um suspiro ela soltou a mão de Tiago.

– Está tudo bem Lily? – Tiago perguntou pela segunda vez na noite, achando que ela estava chateada por causa da discursão recente.

– Sim está tudo bem. – ela disse pouco convincente. Mas Tiago conhecia Lílian bem demais para ela conseguir enganá-lo.

Ela parou e encostou na parede ficando de frente para ele.

– Você não me engana ruiva! Não quero que você fique triste por causa daquele idiota. Vou fazê-lo engolir cada palavra que disse.

– Não, eu não vou ficar triste por causa dele e não quero que você arrume confusão por causa disso. – ela disse cansada.

– Tem certeza de que está bem? – Tiago perguntou ainda desconfiado levantando uma sobrancelha. – Se você quiser eu posso...

Mas antes que pudesse terminar a frase Lílian o interrompeu:

– O que você sente por mim Tiago? De verdade. – Ela disse o encarando intensamente. Os olhos brilhando em desafio e determinação. Este era o olhar que Tiago mais gostava em Lílian.

Surpreso com a mudança repentina de assunto ele perguntou confuso:

– Por quê?

– Apenas me responda. O que você sente por mim? Seja sincero. – Lílian estava cansada de se esconder atrás de barreira que ela mesma tinha construído.

– Lily... – ele se aproximou dela e passou as mãos em seus cabelos admirando-os, depois ele olhou em seus olhos, os olhos de Tiago brilhavam intensamente. – Como ainda pergunta? Você sabe que é a pessoa mais importante da minha vida! Sabe que eu te amo! – ele disse exasperado, a voz carregada de emoção.

– Não minta pra mim! – ela suplicou com os olhos cheios d’agua. – Você mesmo disse que só se apaixonou uma vez e que não gosta mais dela. Se por acaso eu fosse essa garota significaria que você não gosta mais de mim.

Tiago segurou o rosto de Lílian, suas mãos se afundaram no cabelo dela.

– Lily, eu disse que não era mais apaixonado por que o que eu sinto por você é muito maior que uma simples paixão. Eu te amo. A paixão um dia esfria, mas o amor nunca acaba. Eu jamais vou amar alguém como eu amo você. Sabe por quê? – ela balançou a cabeça de forma negativa. – Por que não tem espaço. – ele disse apontando para o próprio coração com um sorriso maroto nos lábios.

– Você não tenta parecer perfeita para mim. Não usa seu cabelo de uma forma por que eu gosto ou se veste de um jeito por que eu prefiro. Tem ideia de quantas garotas passaram porção para mudar a cor dos cabelos quando eu falei brincando que gostava de loiras? – os dois riram.

– Você é a mulher da minha vida. A pessoa com quem eu quero passar os meus dias. Quero dormir ao seu lado, quero que o seu rosto seja a primeira coisa que eu veja todas as manhãs.

– Eu te amo!

Lílian ouviu aquelas palavras fascinada. Ela viu mais do que sinceridade nos olhos dele. Ela viu tudo o que ele sentia ali, refletido em seu olhar.

Tiago foi se aproximando, os olhos fixos nos olhos de Lílian e desta vez ela não se esquivou ou recuou, ela queria aquele beijo tanto quanto ele, tinha desejado aquilo por tanto tempo mesmo sem perceber.

E quando os lábios dos dois finalmente se encontraram ela se entregou a beijo. Por quanto tempo os dois ficaram assim eles nunca chegaram a saber. Os dois só pararam de se beijar quando o ar lhes faltou. Continuaram, porém abraçados, ofegantes, com os olhos fechados e as testas juntas, absorvendo o momento, a sensação do beijo ainda presente.

– Eu também te amo. – Lílian disse com uma nova certeza impressa em sua voz, assim que conseguiu recuperar o fôlego. E depois que ela disse essas palavras ela sentiu uma sensação totalmente nova, era como se depois de colocado em palavras o que ela sentia se tornou ainda mais real e ela experimentou uma sensação de liberdade indescritível.

– Eu sei disso desde o terceiro ano. – ele disse convencido e os dois riram.

– Lírio?

– Hum.

– Quer namorar comigo?

Lílian sorriu e abriu os olhos descobrindo que os olhos de Tiago também estavam abertos.

– É claro que eu quero. – ela disse sorridente e os dois se beijaram novamente.

– Agora eu descobri porque tem tantas garotas loiras nessa escola. – Lílian disse rindo e Tiago a acompanhou.

– Mal sabem elas que eu gosto de ruivas. – Tiago disse, o riso ainda na sua voz.

– Ruivas? No plural? – Lílian disse brincalhona com uma das sobrancelhas levantadas.

– Só uma ruiva. – Tiago disse puxando Lílian para um beijo de tirar o fôlego.

Os dois voltaram para a torre da grifinória de mãos dadas, rindo e se beijando. A sala comunal já estava vazia quando os dois entraram.

– Bom, acho melhor eu ir dormir. Já está bem tarde. – Lílian disse abraçada com Tiago.

– Boa noite meu anjo. – ele disse carinhosamente passando a mão no rosto dela.

– Boa noite. – ela deu um beijo nele e foi para as escadas que levavam ao dormitório feminino.

– Ah Lily? – ela se virou – Antes que eu me esqueça, quer ir a Hogsmeade comigo?

– hum, vou pensar no seu caso...- ela disse sorrindo, depois correu para os braços receptivo dele. – É claro que eu quero.

Ele sorriu e deu um beijo terno na namorada e quando eles se separaram ela soltou um suspiro.

– Agora sim, boa noite meu amor. – Tiago disse carinhosamente dando um beijo na testa de Lílian.

– Boa noite. – ela disse docemente.

Lílian subiu para o dormitório e se jogou na cama do jeito que estava.

Há alguns meses atrás se lhe falassem o que acontecera nesta noite ela teria gargalhado, ficado irritada ou até mesmo azarado a pessoa que dissesse isso. Mas agora, porém ela se sentia felicíssima. Agora ela era namorada de Tiago Potter, o maroto encrenqueiro e idiota. Ela sorriu consigo mesma.

Ela percebeu então que tudo caminhava para isto, percebeu o que desde o início deveria ter percebido. Que era inútil lutar para evitar o inevitável.

Não importa o quanto demorasse no fim eles ficariam juntos. E agora isso parecia tão bom, tão certo. Como o rio corre para o mar.

E não importa o que acontecesse, e nem o que dissessem, os dois ficariam juntos até o fim.

Como de fato ficaram.

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Fim

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“Imagine um dia especial na sua vida e pense como teria sido seu percurso sem ele. Faça uma pausa, você que está lendo, e pense na grande corrente de ferro, ouro, de espinhos ou flores que jamais o teria prendido não fosse o encadeamento do primeiro elo em um dia memorável.”

Charles Dickens