Era Uma Vez Lyle escrita por Kou


Capítulo 1
Era uma vez Lyle.


Notas iniciais do capítulo

Que coisa... assustadoramente boa voltar a postar alguma coisa, hihihi.
Acho que ninguém sentiu minha falta, mas tudo bem, eu senti falta daqui e isso já me basta para estar tão feliz de voltar e compartilhar algumas poucas palavras com quem vier a lê-las.
Aos aventureiros, boa leitura ;3



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Era uma vez Lyle. Lyle caminhando pela noite, leve como a brisa.

O negro da noite estava manchado com a névoa, fugida do mar. O som das ondas invadia os ouvidos do silêncio e também as narinas, em um salgado muito suave. A chuva recém passada completava o cenário, umedecendo o gramado que certos pés esmagavam, renovando a vida de toda a natureza que o escuro ocultava. Estava uma noite agradável para caminhar e observar, considerava Lyle.

Até ele chegar.

E interromper displicentemente aquela calma relação.



Um arrepio se alastrou por sua pele, pela presença daquele sujeito. Lyle cogitou fugir. Porém, ela hesitou, ainda sabendo que isso lhe custaria a vida.

– Você veio. – sussurrou quase sem voz.

– Como se você não soubesse. – o estranho sorriu, a malícia escorrendo pelo queixo.

De uma simpatia aterrorizante.

– Você não parece estar com raiva.

– Não que eu precise parecer alguma coisa.

Lyle olhou para aquele que já fora íntimo da sua vida, e com quem cometera um erro incorrigível, cujas consequências atingiram níveis inimagináveis, que ela desconhecia para qualquer situação. Uma traição impensada e cometida por impulso. Contra uma pessoa louca.

– Não precisa se controlar, Lyle. Faz tempo que você não me vê, não é?

Ela estava estática, travada no lugar conforme ele se aproximava e segurava-lhe o rosto, com as mãos lisas e leves, enganadoras.

– Como você se sente na minha presença de novo? – o sorriso voltou, junto de uma delicada inclinação da cabeça, analisando-a.

Lyle fechou os olhos quando ele passou a mão pelo seu pescoço, subindo pelo cabelo e soltando-o. Ela estava nervosa, os lábios e mãos tremiam. Sua intuição gritava para que corresse, mas seu corpo tinha vontade de segurar aquelas mãos e, quem sabe, abraçá-lo. Ela não conseguia se decidir. Sentia uma frieza mortal saindo dele, junto de um ódio ardente e assassino.

Não, ela não estava em bons lençóis.

– Que pessoa doce... pena que eu não tive a chance de experimentar.

Lyle arregalou os olhos quando ele passou os dedos, agora firmes, de cima a baixo pelo pescoço. Ela não era mais capaz de falar, sequer de pensar. Apenas que ele era um louco perverso sem limites, e não conseguia gritar isso. Era seu primeiro encontro com o medo, real, tomando suas veias, seu sangue, seu coração.

– Você é tão fraca. – assinalou ele, tocando-a nos braços, até segurar os finos pulsos, e soltar as mãos. – Quero dizer, frágil.

E desprotegida.

E condenada.

As lágrimas ameaçaram escapar dos olhos, como que para confirmar as palavras do garoto. Ele olhou rapidamente em volta, e escolheu uma árvore que estava por perto para colocá-la contra. Seria menos desconfortável, quem sabe.

– Você tem tanto medo assim de mim, Lyle?

Ela continuava sem voz ou reação. Atrapalhava-se em pensamentos cada vez que ouvia a voz dele, tentava responder, mas sua boca sequer se movia, nada parecia funcionar direito naquele corpo. Até a vontade de gritar passara.

– Eu achei que você gostasse de mim, Lyle. – uma máscara de falso arrependimento se ergueu. – Eu acho, também, que você não conseguiu deixar de gostar.

Encarou-o, a máscara caindo e trazendo de volta o sorriso maléfico, sem alterar a humanidade existente naquele rosto. Que se aproximou ferozmente do dela, e como um caçador em terreno conhecido, acariciou-a, pressionando-a com o corpo contra a árvore, fazendo pouco peso.

Lyle teve a sensação de inalar direito, uma vez, quase com calma. O corpo dele ainda era quente, agradável no toque pela noite fria, banhada com o cheio do mar, perdido no vento.

Agora, o sujeito parecia se encaixar na noite, e não mais interrompê-la. Só parecia.

Riu de leve, sentindo uma lágrima dela na sua bochecha, de tão próxima que estava, e foi onde encostou os lábios. Olhou-a de frente.

– Eu poderia te beijar na boca, sei que você quer. – tomou o queixo de Lyle entre os dedos mais uma vez, permitindo-se um olhar cobiçoso aos lábios da garota. Ele poderia, sim, entretanto, se fosse fazê-lo não se daria ao trabalho de falar, apenas de fazer.

– Mas eu não quero ter que sentir e lembrar o gosto amargo da sua traição.

Negou com a cabeça, piscando demoradamente. Absorvendo a verdade das próprias palavras.

E demorou até ele voltar a fitá-la, os movimentos de outras árvores o atraíam, distraíam. Quando o fez, havia outro sentimento na sombra de seus olhos. E Lyle teve medo – muito mais ainda – do que poderia identificar ali. Engoliu a saliva, com dificuldade.

– Para onde foi a sua voz? Hein?

A mão que antes ficara relaxada surgiu novamente, embrenhando-se no cabelo dela, para então puxá-lo bruscamente para baixo, fazendo com que a cabeça dela batesse no tronco, e a boca se abrisse, sem emitir um pio.

– Eu não ouvi. O que disse?

Ele franziu as sobrancelhas quando puxou mais forte os fios na nuca, mas ela não poderia ver. Gemeu com a dor, rendendo-se ao descontrole. A garganta dela, tão exposta, recebeu um último carinho de seus lábios. Se ela não queria mais falar...

– Ah, tudo bem. Eu te ajudo a não falar mais. – a expressão dele era audível no tom ameaçador da voz.

Não era bem o que Lyle gostaria, e sequer foi capaz de constatar isso. O vento aumentou, como que concordando com o futuro da cena. Com a mão desocupada, um punhal foi sacado, bem acostumado ao tilintar dos dedos no cabo liso, confortável contra a palma.

Como o futuro tem o péssimo hábito de uma hora acontecer, a sequência se fez. A lâmina reluziu um instante antes de rasgar a pele dela e romper sua garganta. Ela encontrou tempo para um ofego.

E ele desapareceu na névoa, da mesma forma que chegara, antes que o corpo de Lyle fosse ao encontro do chão.



A noite seguiu silenciosa, seu caminho sombrio e oculto, sem nenhum sinal dos passos que a habitaram. Seu último desejo de vê-lo a trouxera ali, por um bilhete na caligrafia dele. E assim acabara, a traição e a vingança. E Lyle.

Era uma vez Lyle. Ou melhor.

Foi uma vez Lyle.


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Notas finais do capítulo

E foi assim, não tem mistério.
Opiniões? ;3
Obrigada por ler!
Beijos ^^