Ela anda muito após descer do trem na estação de sua cidade natal. Não mudou muito, mas algo está diferente em sua visão. Passando em frente a uma cafeteria, ela mira em seu reflexo na vitrine e o que vê, apesar do fundo iluminado são olhos muito negros e um rosto perfeitamente imóvel. Seu rosto não é o mesmo. Sua aparência de fada agora significa a morte e imutabilidade. Está bela e assustadora. Pequena e devastadora. 

Finalmente encontra sua antiga casa. O jardim está florido e a casa pintada em cores que nunca vira. Há uma menina correndo na grama. Ela tem a pele clara e cabelos negros rebeldes. Para sua surpresa, até que se parece com uma pequena fada. Mas a vampira não quer saber mais. Descobrira tudo o que precisava.  É tarde demais. O tempo não voltará mais. Ela está sozinha de novo e gostaria de permanecer assim se evitasse perder algo de mais uma vez.

Assim, Alice decide que irá para longe. Viverá nas sombras e pensará no que fazer durante o resto de sua existência. Não queria cogitar unir-se aos Volture, mas sabe que os encontrará novamente. Eles não a deixariam escapar facilmente e ela não vai querer brigar. Não com eles.

Ela passa meses caminhando só, por estradas sinuosas, alimentando-se de ratos e esquilos. Está cansada de um jeito diferente, é mais como se sua mente não esteja querendo pensar. Até que um dia, repousando sob um enorme carvalho ela o vê. O homem que mudará sua existência está próximo, não muito, mas o suficiente para ela alcança-lo em poucos dias. 

Desde pequena, quando começou a ter sonhos lúcidos, Alice via este homem e sabia que um dia o encontraria. Não fazia ideia do porquê, mas desde então o esperava. Infelizmente as coisas haviam piorado e ela se viu presa, esquecendo-se do rosto dele. Só então, estando livre, ela poderá encontra-lo novamente. Mas precisará correr.

Dias depois, suja, porém bela como sua natureza, ela chega à cafeteria de seus sonhos. E lá está ele, exatamente como previra: lindo e perdido. Ela terá muito trabalho. Ele está prestes a atacar todos os funcionários do Café, que já está vazio às altas horas. A decisão está tomada. Ela entra pela porta de madeira e vidro. Ele a escuta e se vira devagar. Quando seus olhos se encontram, vermelho no dourado, dourado no vermelho, não há céu ou inferno, nem vampiros ou humanos. Apenas eles, seres sem alma e tão cheios de algo que não conheciam até agora.

- Eu estava esperando por você. - ela diz, enquanto seus olhos se encantam pela realização de seu único sonho bom.