Naia escrita por DrLecter


Capítulo 1
One-shot




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/326167/chapter/1

 As bolhas subiam para a superfície do lago numa coluna transparente e dançante. Naia afundava, e seus cabelos balançavam ao ritmo da correnteza conforme o fundo ficava cada vez mais próximo de si. No alto, acima da superfície, o Príncipe Branco fitava-a, e sua imagem parecia quebrar-se em milhares de fragmentos que tremiam da mesma forma que as bolhas.

Naia fitou as bolhas. Todas subiam, como que instintivamente, em direção ao Príncipe Branco. As bolhas sabiam que não havia nada mais lindo que ele nesse mundo, por isso subiam para além do lago. Para o céu. Só Naia teimava em descer para cada vez mais fundo, com todas as algas, peixes e pedras do rio. Naia invejava as bolhas.

Todas as noites, depois que o Cacique Dourado descia para lá dos montes, o Príncipe Branco cavalgava o céu escuro com sua tribo brilhante, e reinava com ela até que o Cacique Dourado voltava para deixar o céu mais claro. Naia gostava de ver o Príncipe subir aos céus. Por mais escuro e perigoso que fosse, ele brilhava sozinho, único e absoluto. Às vezes, gostava de se esconder. Tais noites eram sempre escuras e melancólicas, e Naia ficava apenas sentada em sua oca, ouvindo os grilos lá fora. Entretanto, o Príncipe ia reaparecendo todas as noites, até mostrar sua face completa e majestosa. Quando isso acontecia, a jovem ficava a contemplá-lo, completamente extasiada.

Muitas vezes, Naia tentara encontrar o Príncipe. Procurava-o em todos os cantos da selva, subindo árvores e montes. Nunca conseguira alcançá-lo. Ele parecia sempre distante, mas ao mesmo tempo parecia atraí-la para cada vez mais perto. E assim, Naia continuava sua eterna busca.

Até aquela noite, quando ela o vira banhar-se no lago. Seu coração disparou, e não pensou duas vezes — pulou. Mas tudo o que encontrou foi a água fria do lago e as bolhas que mecanicamente subiram para a superfície, em direção ao Príncipe Branco, que a fitava lá de cima. Ele tinha de estar lá. E ela não sairia sem antes encontrá-lo.

Continuou afundando. As bolhas já não subiam mais, e a água invadira seu corpo. Sentiu o chão atrás de suas costas, e continuava a olhar para o Príncipe Branco. Ele continuava lá no céu, a velar por ela. Ali, no fundo do rio, ela poderia fitá-lo para sempre. Sem nunca ir. Sem nunca querer sair dali.

****

— Então é essa a explicação que dão para a planta? — indagou Thomas, em seu sotaque inglês carregado. Naia torceu o nariz. — E para o seu nome, também.

— Sim. — respondeu ela. — É o que ouvi de minha mãe, que ouviu da mãe dela.

— Bonita história. — comentou, e voltou a fitar a planta majestosa, no meio do rio. Ajeitou o colarinho da camisa: fazia calor. — Pena que não ajuda em nada com esse calor.

Naia soltou uma risada e se levantou. Ele ficou observando-a. Usava roupas simples e curtas, mostrando um corpo torneado de alguém que se exercitava sempre. A pele avermelhada não se queimava com o Sol, diferente de sua pele branca e os cabelos negros e lustrosos pareciam refletir a luz, ao invés de grudar em sua cabeça como faziam os seus, loiros e ondulados.

— Vocês ingleses são tão estranhos. — disse, de modo inocente. Abaixou-se, e jogou um pouco de água nele. Thomas riu, e retribuiu o feito. A índia então jogou-se de costas na água, ganhando distância. —

Duvido que nade melhor do que eu!

Thomas riu, e pulou no rio.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem. Espero que tenham gostado.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Naia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.