Narrado por Bella


Quando Alice saiu, nos olhamos constrangidos. Com certeza, se não fosse por ela, nem tocaríamos no assunto!

–Não precisamos falar sobre isso, Jake! - falei depressa, desviando o olhar.

Ele soltou minha mão e resolveu se sentar na poltrona . Eu me ajeitei melhor na cama, mexendo nos travesseiros, nervosa demais pra ficar parada. Resolvi ficar sentada.

–Não precisamos, mas devíamos -suspirou ele sério, colocando as mãos atrás da cabeça e esticando as pernas, cruzando-as nos tornozelos.

–Ai, você é igual a Alice! Não sabe deixar nada pra lá!- emburrei.

Ele deu uma risada curta.

–Não seja infantil Bells! Eu deixo pra lá as coisas que não são importantes. O que não é o caso daquele beijo!

Suspirei pesadamente, eu o conhecia muito bem pra saber que ele não me deixaria fugir do assunto.

–Não sei o que dizer Jake! Estou tão envergonhada! -não conseguia olhar pra ele.

–Envergonhada... Porque exatamente Bells?

Eu fiquei muda, não sabia como explicar aquilo. Ele esperou pacientemente que eu colocasse meus pensamentos em ordem. Mordi os lábios ainda nervosa.

–É que eu acho errado o que eu senti ontem, quando nos beijamos! - desembuchei.

–Eu entendo você, eu me sinto assim também. Mas, eu me pergunto por quê. Não fizemos nada errado! É claro que essa situação é toda errada! Mas nós somos livres.

–Jake, é estranho! Eu grávida e tudo que aconteceu! Você sabe que eu ainda sofro por ele! -sussurrei não querendo falar o nome de Edward naquele momento.

–Sim, e eu idiota , também ainda sofro por Leah depois de tanto tempo! Mas diz olhando nos meus olhos que você não sentiu nada ontem, Bells! Eu sei muito bem o que eu senti! - sussurrou exaltado.

Fiquei em silêncio. Sem coragem de falar. Ele continuou:

–Foi desejo, Bells. Fogo correndo nas minhas veias! Como a muito tempo eu não sentia, talvez nunca tenha sentido. E eu não tenho vergonha de dizer isso. Acima de tudo você é minha amiga e merece a verdade. -concluiu corajoso.

Eu tentei analisar aquilo sem melindres. Jake tinha razão. Eu merecia a verdade. E ele também. Éramos adultos o suficiente para encarar aquilo.

–Sim Jake, foi desejo! - admiti por fim - Não fique magoado comigo, mas você melhor do que ninguém sabe que neste momento eu não estou pronta para me envolver. Você merece muito mais do que eu posso te dar nesse momento!

–Eu sei Bells, nem eu pensei em me envolver! Só achei que deveríamos encarar a questão de frente, sem fugir. Com o tempo veremos o que acontece!

E assim, terminou tudo bem na nossa conversa constrangedora. Era fácil conviver com Jacob, ele não fazia drama à toa. Estava sempre bem. A tarde Emm veio ficar comigo e Jake foi embora, dizendo que voltaria mais tarde. Mas não voltou. Foi Alice quem veio passar a noite comigo e estranhamente não tocou de novo no assunto do beijo. Provavelmente Jake a tinha colocado a par da nossa conversa.

No outro dia cedinho, eu já estava acordada quando ele chegou sorrindo.

–Oi meninas tudo bem com vocês? - perguntou animado.

Assentimos.

–Alice, preciso de um favor seu hoje, tem jeito? -falou brincalhão.

–Depende, se for coisa chata não, hoje é domingo!

–Não se preocupe, você vai adorar, tenho certeza!

–O que é? - perguntei curiosa.

–Você só vai saber amanhã Bells, é surpresa! -ele respondeu - E você Alice vai ter que ir ao shopping!

–Já gostei! - exclamou Alice se animando.

No dia seguinte, quando saí do hospital, ao invés de me levar para o apartamento, Jake parou em frente a uma casa linda que ficava na mesma rua.

–Porque parou aqui Jake?- eu estava confusa.

–Porque é aqui que vamos morar agora! Achei que você ia querer ter mais espaço para o bebê! E o bom é que fica perto do apartamento, então Alice, Jasper e Emmett sempre estarão por aqui!

–Sério? Você comprou essa casa? - ele fez que sim - Você é louco! - mas eu tinha adorado a idéia.

–Vamos entrar, a Alice está lá dentro, preparou uma surpresa pra você!

–Outra?

Entramos, a casa era grande e muito bonita, já estava mobiliada e decorada com muito bom gosto.

–O antigo dono quis vender com tudo do jeito que estava, vai para outro país e não quer levar nada, depois você muda o que quiser - explicou Jacob me levando para o andar superior parando em frente a uma porta fechada - só que este quarto nós já redecoramos, e o mérito é todo de Alice, ela fez tudo no tempo record de um dia - falou animado e abriu a porta.

Fiquei parada, literalmente com a boca aberta de supresa. Eles tinham montado um quarto de bebê completo. Alice me puxou pra dentro sorrindo.

–O que acha? - perguntou ansiosa.- Arrumei o quarto, mas não comprei as roupinhas, porque além de não sabermos o sexo do bebê, achei que você ia querer fazer isso pessoalmente.

O quarto tinha as paredes num tom de amarelo claro, os móveis todos brancos, alguns bichinhos de pelúcia em cores neutras, em prateleiras nas paredes.

–Alice, está tudo lindo! - falei emocionada - Vocês são demais! - e os abracei feliz, como não me sentia a muito tempo.


A vida mudou um pouco, depois disso. Agora eu dividia meu tempo entre a faculdade e a casa, Jake tinha contratado uma empregada, colocado sistema de segurança com tudo que se tinha direito na casa e também um segurança que andava o tempo todo comigo, Félix.

Tínhamos quartos separados agora, o que foi bom. Porque depois de assumirmos a atração que sentimos um pelo outro durante aquele beijo, ficar no mesmo quarto era impossível se pretendíamos continuar apenas na amizade.

Alice tinha se matriculado em dois curso noturnos, dança e teatro. Emmett e Jasper se ocupavam entre a faculdade e a boate que estava fazendo um sucesso enorme, e aliás Jacob também, então quase não ficava em casa a noite. Então como eu tinha muito tempo sozinha, devagarzinho fui tomando coragem e voltei a compor. No começo era muito difícil, pois aquilo irremediavelmente me fazia lembrar muitos momentos com Edward e também me fazia sentir raiva. Rose continuava mantendo contato com Alice e agora pensava que Jake e eu estávamos juntos de verdade. Mas eu nunca mais quis ter notícias de Edward.

Meus amigos do FBI estavam ocupados demais com diversos casos espalhados pelo país e sempre telefonavam ou mandavam e-mails pra saber como estavam as coisas. Mas nada mais tinha acontecido. Talvez o louco, como eu chamava, tivesse desistido.

Em um destes e-mails Garcia tinha me passado uma irformação que, se não mudou nada, ao menos serviu para nos dar uma explicação. No e-mail ela dizia que tinha pesquisado, intrigada que estava, sobre drogas que não deixavam vestígios. Depois de muito pesquisar e não encontrar nada resolveu acessar alguns arquivos confidenciais do FBI. Encontrou então um relatório sobre um Cartel de Drogas que havia sido desmantelado pelo FBI. Havia descrições detalhadas sobre as drogas apreendidas e seus efeitos e uma chamou sua atenção. Um trecho do documento dizia:

" A erva em questão, quando apreendida, nos era desconhecida, mas após análises laboratoriais está sendo chamada de " A Nova Droga do Estupro", pois apesar de ter os mesmos efeitos das drogas usadas no golpe conhecido como "Boa Noite Cinderela", não causa danos à saúde e é impossível detectá-la no organismo, diferentemente da outra, que permanece no corpo por bastante tempo".

Bom, pelo menos explicava porque nunca tínhamos ouvido falar. Era uma droga nova no mercado contrabandista.

Entre consultas médicas, às quais Jake sempre esteve comigo, faculdade, casa, composições ao violão e almoços de domingo em famíla, onde todos sempre compareciam, passaram-se os meses e chegou a hora do parto.

Era sábado. Levantei me sentindo estranha, uma dor incômoda nas costas. Me sentia pesada, apesar de ter engordado apenas nove quilos. Na verdade tinha apenas barriga. Mas eu não me importava se estava enorme ou não. O que me importava era que meu filho apesar de todas as tristezas que eu tinha enfrentado estava bem e saudável. Eu não via a hora de ver o seu rostinho. E ainda assim me perguntava se sentiria falta de seus chutes quando já não estivesse em minha barriga.

Enquanto caminhava em direção ao banheiro senti que um líquido quente escorria por minhas pernas. Meu Deus, a bolsa tinha rompido! Tive um príncipio de pânico, mas então lembrei de que a médica tinha dito que ainda teria um tempo, depois que a bolsa rompesse, para começar as contrações.

Tomei um banho rápido, peguei a bolsa do bebê e a minha que por prevenção já tinha deixado arrumadas colocando-as na cama. Só então fui chamar Jacob no quarto ao lado.

–Jake! Acorde! Preciso que me leve ao hospital! - sacudi ele um pouco, sentindo pena, pois tinha ouvido ele chegar bem tarde da boate.

–Que foi Bella?- resmungou sonolento.

–Preciso ir para o hospital, o bebê vai nascer! -repeti.

Quando ele, depois de alguns segundos,compreendeu o que eu tinha dito, sentou imediatamente na cama.

–Agora? Tem certeza? -estava quase entrando em pânico, fiz que sim.

Ele levantou correndo, sem se importar que estava só de cueca. Foi ao banheiro fazendo sua higiene rapidamente. Colocou calças jeans e uma camiseta qualquer e se sentou para colar o tênis. Eu o observava quase rindo de seu desespero. Estava tão nervoso!

Senti uma contração forte e gemi colocando a mão na barriga, imediatamente ele estava ao meu lado.

–Está tudo bem Bells?- fiz que sim, mas provavelmente estava pálida pela dor- Vamos, eu te levo! - me levantou com facilidade do chão.

Desceu comigo até a sala, me sentando no sofá. Voltou correndo para pegar as bolsas, carteira e chave do carro. Quando voltou me carregou novamente, me colocando delicadamente no carro.

Enquanto seguíamos para o hospital senti outra contração, Jake acariciou minha barriga, como fazia sempre, desde que tinha começado a aparecer.

–Até que enfim vamos saber se é menina ou menino. Não aguento de curiosidade! - sorriu mas os olhos estavam preocupados.

Em todas as ultrassonografias que eu tinha feito, a médica não tinha conseguido ver o sexo. E eu, com a juda de Alice, acabei fazendo todo o enxoval em verde, amarelo e branco. Bem unissex.

–Sim, até que enfim! - coloquei minha mão sobre a dele - Não se preocupe Jake, vai dar tudo certo! E obrigado por estar comigo nesse momento!

Ele suspirou infeliz.

–Não era eu que devia estar aqui Bells!

–Ah, sem essa Jake! Já conversamos sobre isso um milhão de vezes nesse meses!

Jacob por muitas vezes tentou me convencer a entrar em contato com Edward, dizendo que ele podia mudar de idéia sobre o bebê, mas eu era categórica. Edward tinha tido a chance dele e desperdiçado.

Senti outra contração.

–Desculpe Bells! Não devia irritá-la agora!


Algumas horas de sofrimento depois, eu tinha o meu filho, sim ,um lindo menininho, de cabelos escuros e pele branquinha, dormindo em meus braços e quatro adultos babões em volta da minha cama.

–Aiii, ele é tão lindo Bella! -Alice falou segurando a mãozinha do meu filho - Titia vai direto comprar um monte de roupinhas azuis pra você - sussurrou para ele.

–Ele é mesmo lindo, parabéns!- concordou Jasper.

–Puxou ao tio - brincou meu irmão.

–Já decidiu o nome Bells? - questionou Jake.

–Estava pensando em Derek, em homenagem ao Morgan. Afinal se não fosse por ele, talvez nem estivéssemos aqui. O que acha?

–Eu gosto, é um bonito nome.- Jake concordou.

Todos gostaram e então começaram a velha discussão de quem seriam os padrinhos. Jake ria ao meu lado.

A enfermeira entrou e todos se calaram.

–Fim das visitas pessoal, a mamãe precisa descansar!

Derek então que até esse momento só dormia, choramingou abrindo bem os olhinhos. Na hora do parto, talvez pelo cansaço, ou talvez porque ele fosse tão calminho que logo tinha dormido, eu não tinha visto a cor exata de seus olhos.

Ofeguei. Ele tinha a cor daqueles olhos que eu tanto amava. Azuis esverdeados. Os olhos de Edward.

–Que gracinha - falou a enfermeira - cabelos negros e esses olhos azuis esverdeados, que coisa linda! - olhou pra mim, com meus olhos castanhos e depois para Jacob que tinha olhos negros - para quem ele puxou a cor dos olhos? - perguntou confusa.

Jake e eu ficamos mudos. Foi Emm que veio em nosso socorro.

–Nossa mãe, ela tem os olhos azuis!

Respirei aliviada, eu tinha me esquecido, mas era verdade! Emm tinha me dado a desculpa perfeita.