O carro seguia estrada afora. Uma música instrumental tocava baixinho. Loki dirigia concentrado enquanto Frandal e Hogun dormiam no banco do fundo.

- Obrigado. – Thor agradeceu pela terceira vez.

- Não foi nada. Vou pedir para irem dar uma olhada no carro amanhã e quando Frandal quiser buscar, ele já vai estar ok.

- Certo. – o loiro disse enquanto observava Loki – Você é muito talentoso. Digo, você...dança muito.

- Obrigado. Hoje só me deixaram apresentar a canção do verão e do inverno. Outono e primavera são sempre os números excluídos...acho que é porque as pessoas gostam do extremo. – Loki comentou.

- Você trabalha a muito tempo com isso?

- Desde os meus 18. Mas sempre fiz aulas de dança...hoje faço aula de teatro, quem sabe um dia não rola, né?

- Você é ator?

- Bom, já fiz algumas coisas...

- Você tem talento. Passou bastante sofrimento na segunda música. Foi quase palpável.

- Obrigado e você é extremamente gentil, Thor. Bom, cada estação, cada música...representa uma fase de um relacionamento amoroso, sabe. Então, na primeira música que representava o verão, você tem que sentir o calor, a vibração, o desejo queimando...seria o início. Já a segunda música que representa o inverno nos traz a sensação de solidão, de desalento...o frio nos remete à tristeza, ao fim.

- Eu gosto do inverno. – Thor comentou.

- Eu também...são apenas metáforas que funcionam bem em números prontos para entreter as pessoas. Eu gosto da música da primavera que traz a plenitude do relacionamento ou até mesmo a do outono que nos mostra os primeiros conflitos e a superação.

Seus olhares se encontraram por um instante e Thor perguntou:

- Posso fazer uma pergunta?

- Claro.

- Você faz programas?

- Oh, não. Às vezes me chamam para a sala particular, mas lá as regras são diferentes.

- O que é sala particular?

- Bom, você paga um preço para ter um momento, trinta minutos com alguém que trabalha na casa. Você pede o que quiser, mas não é permito toque...- Loki explicou.

- As pessoas pedem muito para ir nessa sala?

- Você não imagina o quanto. E pode parecer sem graça com palavras, mas eu posso garantir que elas vivem cheias...- o moreno sorriu – Mas e você? Vive em qual estação neste momento, Thor?

- Eu? Bem, eu acho que primavera...sou noivo.

- Oh, noivo? Certo. Você está quanto tempo junto com ela?

- Vai fazer sete anos.

- Uau. Quantos anos você tem?

- 23. Se importa se eu acender um cigarro?

- De forma alguma.

- E você? Magic Lothur, em qual estação vive?

- Bom, o Magic Lothur não tem namorado...mas eu, Loki vivo nas quatro. É sério. Me sinto hoje no inverno, mas semana passada podia jurar que estava em pleno verão. Agora, só posso esperar o outono vir já que nem tudo são flores da primavera...

- Falou como um artista! – Thor sorriu fazendo Loki rir.

- Faz tempo que você entrou para o batalhão?

- Uns três meses.

- Vai ficar por quanto tempo?

- Mais nove.

- Você está gostando?

- Sim, quero dizer...de todas as coisas estupidas que eu fiz em minha vida, essa é a menos pior. Eu acho.

Os dois seguiram um tempo em silêncio. Ambos sabiam que o assunto não havia terminado, mas por algum motivo não conseguiam pensar em mais nada.

- Chegamos. Esses dois aí atrás tem que acordar...Frandal, Hogun! – Loki disse virando-se para o banco de trás.

- Oh. Sério? Uau...valeu. Boa noite, Magic. – Hogun agradeceu saindo enquanto Frandal apenas sorriu, acompanhando-o.

- Você precisa de alguma ajuda com a gasolina...

- Imagina, Thor. Não se preocupe.

- Ainda bem que nos encontramos de novo...- Thor sorriu.

- Boa noite então. – Loki disse enquanto desviava seu olhar.

Thor saiu do carro e correu juntando se com outros dois que já estavam passando pela portaria. Ao longe viu o carro fazer o contorno de partir.

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Olhando para o teto sem graça de seu quarto graça, Thor repassava a melodia em sua mente.

“…Lock my heart

Throw away the key

Fill my love with exthasy

Bind my heart

With your warm embrace

And tell me,

No one

Will ever take my place…”

Lembrou-se do corpo de Loki.

Aquele cara mais velho deveria ser incrível para ter alguém assim.

Lembrou-se do sorriso. Da boca. Dos imensos olhos verdes.

Havia algo nele, algo entre o pecado e o desejo que Thor não conseguia explicar, mas sabia que gostava muito.

Levantou-se para beber água. Só podia estar bêbado por se permitir pensar tais coisas.  Aquilo era loucura. Loki era um cara, só um cara qualquer.

De tanto tentar se convencer, acabou adormecendo rapidamente.

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- Que bom que te encontrei! – Frandal disse ao se aproximar de Thor na tarde seguinte, enquanto todos almoçavam no refeitório.

- E aí?

- Cara, preciso de um favor. Você poderia ir pegar o meu carro lá no Craziness?

- Por que você não pode ir?

- Eu não peguei dispensa, só porque me atrasei cinco vezes essa semana...quebra essa para mim!

- Claro. Você me paga uma cerveja depois...pego com quem?

- Com o Loki mesmo. Ele me mandou uma mensagem...disse que conseguiu que arrumassem o carro, era o motor mesmo. Ele até traria aqui, mas só conseguiria no outro final de semana...

- Sem problemas, eu pego.

- Você é o melhor. Eu até pediria para o Hogun, mas ele também Não pegou dispensa hoje à tarde. – Frandal completou enquanto se alimentava.

A tarde passou tranquilamente e conforme previsto, todos os soldados puderam sair após às 17hs, com retorno às 20hs.

Com as instruções de Frandal, Thor seguiu até o local que havia estado na noite anterior. A boate estava fechada naturalmente, mas ao se aproximar ele percebeu que a porta estava apenas encostada.

A mesma música de inverno tocava muito alto e ele pode ver Loki girando na barra, as luzes do local refletidas apenas nele.

- Loki! Loki...sou eu...- disse enquanto se aproximava.

- Quem está aí? – este perguntou tentando olhar com dificuldade, já que a claridade não permitia.

- Eu, Thor...

Loki desceu do palco com certa dificuldade. Ao se aproximar, Thor percebeu que ele havia bebido e parecia um pouco abatido.

- Oi...de novo.

- Eu vim buscar o carro do Frandal. Ele avisou que eu viria?

- Yeah...vem comigo. – Loki disse sorrindo e puxando-o pelas mãos, levando até atrás dos palcos onde havia um camarim.

Ali, Thor viu muitas roupas além de perucas e um espelho imenso.

- Eu guardei elas por aqui...- Loki comentou enquanto revirava as coisas de cima de sua mesa.

- Tá tudo bem? Você parece estar um pouco alto...

- Oh, não...estou ótimo. Viu?

Os dois se olharam e Thor concluiu que era exatamente o contrário.

- Por que a gente só gosta da pessoa errada? – o moreno perguntou enquanto se encostava na mesa, parecendo exausto.

- Eu não sei...

- Diga-me. É algo errado comigo não é? – ele se aproximou bem perto, fazendo Thor hesitar por um instante.

- Claro que não...

- Então por quê é sempre assim? Sempre termina assim? Minha vida é inverno, Thor...por mais que eu procure pelas outras estações...- Loki começou a chorar.

Thor então o puxou, abraçando-o muito forte.

- Ei...pare. Olhe para mim...olhe para mim.

Segurando o pescoço de Loki com força, eles trocaram um longo olhar antes do moreno procurar ansiosamente pelos lábios de Thor.

Thor o puxou para mais perto, sem ao menos entender o que estava fazendo ou o que estava sentindo.

As unhas de Loki cravadas no seu braço, sua língua desavergonhada implorando por mais. Aquilo era muito mais do que Thor podia lidar naquele momento.

Enquanto isso, a música melancólica terminava e começava outra vez.