CCRM - Paradise escrita por A Duquesa Hetaliana


Capítulo 1
Paradise - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Paradise - Coldplay.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/325545/chapter/1

O homem de cabelos curtos e loiro-escuro que já saíam do corte teve sobressalto quando o lampejo causado pelo relâmpago iluminou o quarto por menos de um segundo, mostrando a imagem de um menininho parado na porta.

- Deus! Você me assustou, Alfred! – ele disse, pondo a mão no peito e tentando acalamar seu coração que batia em um compasso frenético e fora do normal.

Um som constante e baixo foi escutado e, depois de outro relâmpago, o homem pôde finalmente ver que o menino fazia uma cara de choro. O garotinho fungou três vezes consecutivamente.

- Oh, Al, venha cá – assim que o garoto escalou a cama alta com dificuldade, o homem perguntou, abraçando o menino enquanto este molhava o pijama verde e comprido do outro com suas grossas e quentes lágrimas que teimavam em lhe escorrer pelo rosto – O que houve, Alfred?

- Eu tô com medo... – o garoto de cabelos mais loiros que o do homem murmurou, entre fungadas e indiscritíveis sons baixos e constantes.

- Oh, Al... Por quê? – perguntou o mais velho.

- Tá escuro... E se um monstro vier me pegar?

- Eu jamias deixarei isso acontecer. E sabe por quê? Porque eu sempre estarei ao seu lado.

- Mas... E se você for um monstro?

- Eu não sou um monstro, Al, não seja bobo.

- Você me avisaria se fosse um? -  menino continuou, torcendo o lençol de um branco tão puro que mais parecia um límpido azul. Não chorava mais, porém seus olhos ainda estavam vermelhos e suas bochechas, quentes e rosadas.

- É claro, Al.

- Você promete?

- Sim, Al, eu prometo – ele falou, entre baixos risos – Ainda está com medo?

- Um pouquinho... É porque... Sabe, ainda está escuro... – ele choramingou, deixando de torcer o lençol para amarfanhá-lo e apertá-lo contra o pequeno e –aparentemente – frágil peito.

- “When it’s dark enough, you can see the stars” – o mais velho recitou.

- Mas é uma noite de tempestade! – Alfred retrucou, já se embrabecendo pelo fato de o mais velho usar sempre frases enigmáticas que, pela idade que o menino possuía, não o deixaria compreende-las.

O mais velho sorriu e resfolgou, e então, não conseguindo se conter, começou a rir, fechando os olhos e escondendo seu sorriso atrás de seu punho esquerdo cerrado. Percebendo que Alfred fazia biquinho e que seus pequenos e brilhantes olhos azuis-claros voltavam a se encher de lágrimas -  porém, desta vez, de raiva -  o mais velho tratou de, aos poucos, se controlar e acalmar o riso.

- Então feche seus olhos e sonhe – ele falou suavemente, com aquela paciência que parecia ser infinita.

- Sonhar com o quê? – o menor perguntou, deixando de ficar de joelhos para sentar de pernas abertas, assim como uma pessoa um pouco normal faria.

- Oh, Al, você tem sempre algo para perguntar – ele falou enquanto bagunçava carinhosamente os cabelos do Alfred – Sobre pode sonhar com... O Paraíso.

- Irmãozão... Você pode, pelo menos, ficar aqui do meu lado? – ele pediu.

- Eu jamais deixei o seu lado, não é mesmo? – e o ‘irmão’ mais velho sorriu.

Envolvendo o caçula, Arthur deitou-se atrás do Alfred, seus compridos braços aproximando o corpo da criança  para junto do seu, abraçando o ‘irmãozinho’ com ternura e carinho. O fato de Alfred não estar mais tremendo e nem soluçando o deixou muito feliz e calmo.

- Irmãozão Arthur – o caçula chamou, apertando carinhosamente a mão do ‘irmão’ mais velho.

- Sim, Alfred?

- Sabe como seria o meu Paraíso?

- Não, Alfred. Como seria?

- O meu Paraíso seria assim: Você estaria sempre do meu lado, me abraçando ou segurando minha mão. E então, o mundo inteiro, que antes estaria envolto em trevas por causa de uma tempestade tão escura e violenta como esta, iria se iluminar por completo por causa do seu sorriso, mostrando um lindo céu azul coberto pelas estrelas que você tanto gosta. Aí, tooodos os monstros teriam tanto medo da sua grandeza heroica que todos eles iriam fugir e nunca mais voltar!

Arthur simplesmente não sabia o que fazer. Ao escutar palavras tão doces, fofas e inocentemente puras vindas de seu ‘irmãozinho’, ele apenas sentia uma mistura confusa de sentimentos, dentre eles, o amor e o carinho que sentia pelo caçula -  sentimentos que jamais iriam se extinguir -  prevaleciam fortemente.

E depois, sabe o que eu iria fazer? Eu iria escolher as estrelas mais bonitas existentes e iria pegá-las para dar de presente para você! – o menor completou, sorrindo com a sua visão ideal de Paraíso.

E, naquela escura e conturbada noite tempestuosa, o ‘irmão’ mais velho abraçou o caçula com força e carinho, e, antes que Alfred acabasse por mergulhar em seus sonhos com o maior herói que existe neste mundo, aquele que o abraçava neste exato momento, Arthur murmurou, deixando que um soluço emocionado escapasse de seus lábios trêmulos que ameaçavam serem molhados por lágrimas que poderiam escorrer por seu rosto a qualquer momento:

- Eu te amo, Alfred.

- Eu te amo... Irmãozão... Arthur.

Alfred acordou de seu devaneio ao escutar o bipe do relógio digital de pulso de origem nobre, porém montado em um país oriental de mão-de-obra baratada e abundante. Olhou o horário e se surpreendeu em quanto tempo ficou parado no meio da rua apenas se recordando de uma antiga lembrança de muitos anos passados, puxada de um fundo distante e secreto de sua misteriosamente confusa e curiosa mente e tudo isso apenas porque, por pura coicidência – ou não – a letra da música que tocava naquele instante, vinda de dentro de uma loja de roupas e moda arrumada com enfeites natalinos, tinha muita semelhança com a lembrança antiga de sua doce e nostálgica infância.

In the night, the stormy night, she closed her eyes

In the night the stormy night, away she flied

And dreamed of Para-Para-Paradise

Segurando o imenso pacote rosa e retangular com uma fita verde mantendo a caixa e a tampa juntas, Alfred olhou para frente, encheu seus pulmões com o ar fresco daquela fria noite de inverno de transição de Novembro para Dezembro, e seguiu seu caminho, passando entre casais felizes ou pessoas que volta-e-meia paravam para observar os artigos expostos em uma vitrine de uma lojinha bem enfeitada e iluminada.

Depois de bater na porta e tocar a campainha ao mesmo tempo e de um modo irritantemente incessante, um homem de cabelos loiro-escuros que  já estavam saindo do corte atendeu a porta, o rosto franzido como sempre, porém, vermelho de raiva.

- Hey, Artie! – Alfred cumprimentou, sorrindo igual a um bobo-alegre.

- Você está atrasado – ele falou, ríspido.

- São só quinze minutos! – o mais novo reclamou.

- Atraso é atraso – resmungou o inglês, se virando e saindo da soleira, deixando a porta aberta para que o americano entrasse. Voltou-se imediatamente ao se lembrar de algo importante – Droga, Alfred F. Jones! Será que eu tenho que repetir toda a vez para que você tire seus sapatos antes de entrar na minha casa?

- Oopa! Foi mal aí, Art! –ele falou, sorrindo amarelo, já imaginando o rastro de neve no assoalho de madeira que estaria atrás dele –Desculpa, Artie, eu posso limpar depois.

- E pare de me chamar de “Art” ou “Artie”. Meu nome é “Arthur Kirkland”! O que houve com o “irmãozão” ou “irmãozão Arthur”? – depois de suspirar nostálgico, ele continuou – Aliás, o que houve com o garotinho inocente que me chamava daquele jeito tão fofo que eu adorava?

- Poxa, é assim que você me recebe? Mesmo depois de passar mais de um mês fora...? – Alfred perguntou, inconscientemente fazendo biquinho e choramingando, cheio de manha. Afinal, naquele um mês e meio apenas flutuando no espaço o fez sentir ainda mais falta do ‘irmão’.

- Oh, sinto muito... Da próxima vez, eu farei uma recepção tipicamente americana: Muita porcaria para comer e encher a cara com cervejas de péssima qualidade enquanto assistimos a um jogo onde brutamentes se jogam um em cima do outro e se espancam por causa de uma estúpida bola! – ele falou, perdendo o fôlego e a paciência.

- Por que você está sendo um babaca?

- Como você esparava que eu reagisse? – Arthur perguntou, se virando rapidamente – Se você não percebeu, você foi em uma missão sem sequer pedir minha opinião... De novo! E se a espaçonave tivesse explodido como aconteceu da última vez?

- Mas ela não explodiu, explodiu?

- Mas poderia ter explodido!

- Hey, eu não entendo! Quem foi para a joça do espaço sideral fui eu! Então por que você tem que ficar tão bravo e com medo? Quem estava quase tendo um derrame quando aquela lataria velha começou a tremer, minutos antes de eu sair de órbita, foi o Alfred aqui! – ele ele apontou o polegar da sua mão direita para si mesmo - E eu esperava que, quando eu voltasse, você me receberia com um sorriso e estivesse cheio de felicidade.

- Acredite, eu também queria que fosse assim, mas...

- Mas o quê?! Acredite, se eu soubesse que você seria um grosso comigo, assim como sempre foi, eu nem teria vindo!

- E nem há porquê! Aliás, para que vir? Você é crescidinho agora, já sabe tomar decisões, está completamente independente, não é?!

- É o seu aniversário!

- Eu nem tenho aniversário! – ele gritou, observando a expressão de cenho franzido do americano – Você não sabe, eu não sei, ninguém sabe!!

Um silêncio pesado encheu o ar e, segundos depois – sendo que mais pareciam horas - , o americano falou:

- Oh, sinto muito se eu estava sendo um incomôdo para você. Se o caso era esse, você podia simplesmente ter me falado, assim, teria me poupado de toda essa mentira que você me fez viver, achando que eu ainda significava o que você é para mim – ele parou um pouco e depois continuou - Aliás, eu sei que você não tem um aniversário, por isso mesmo que eu sempre venho no mês em que você me encontrou pela primeira vez. Lembra-se? Eu podia ter escolhido o Francis, mas eu não o fiz porque eu achei que você cuidaria melhor de mim, me amaria para sempre e jamais mentiria para mim. Mas vejo que me enganei – ele jogou com força o pacote de presente no chão – Feliz aniversário, Arthur.

Então, Alfred se virou e saiu a passos pesados do hall de entrada, fechando a porta de madeira atrás de si com um baque alto e forte.

Arthur subiu as escadas com pressa e se dirigiu para seu quarto, fungando e escondendo o rosto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A segunda parte será postada em cinco dias. E eu sinto muito que é cheio de drama. Só haverá mais uma de drama (por enquanto), as outras três estórias que escrevi até agora (e que, mais tarde, serão postadas) são basicamente comédia.
Aliás, esse conto é interligado com outro, que será a terceira estória que irei colocar, ok?
Gostaram da estória? Mereço reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "CCRM - Paradise" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.