No outro dia fui visita-lo, e me deparei dentro da casa de Marília.

– Mari, você não tem noção da notícia que nosso produtor nos deu ontem!! – ele disse.

– O que foi Dan, conta!!!

– Nosso show, Mari... Agente vai fazer um show em Londres!!!! – ele praticamente gritou, e deu um pulo para abraça-la. “Por favor, Deus, que ele não faça a loucura de levá-la”, pensei.

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Cap. 9

Fiquei observando por alguns minutos a comemoração dos dois, mas quando ele começou a beijá-la senti que não podia mais ficar ali e ver aquela cena. Eu odiava tudo aquilo.

Sinceramente, quando descobri que iria ser anjo de Dan fiquei muito feliz. Afinal de contas eu iria ficar perto dele, mesmo que fosse apenas como anjo. Mas agora aparece essa garota e acaba com a minha felicidade! Ela não tinha esse direito. Ou tinha?

O show em Londres seria daqui a um mês. Enquanto isso eu ia acompanhando Dan em todos os shows pelo Brasil, como eu havia prometido. Na verdade, eu estava com ele a todo instante, quer dizer, quase. É que toda vez que ele ia encontrar a bendita Marília, eu voltava para o céu, em uma tentativa de me esconder daquilo tudo.

Mas esse era o fato e acho que eu deveria aturar. Dan parecia feliz ao lado dela, e se eu deixasse por um minuto sequer o meu ciúme de lado, veria que ela não é uma má garota, pelo contrário, é uma “menina de família”. Mas eu não podia simplesmente deixar de lado todo o meu sentimento por ele por causa daquela garota. Esse papo de “quando você ama de verdade quer ver a pessoa feliz de qualquer jeito, mesmo que ela não esteja do seu lado” pra mim não existe. Claro que eu quero vê-lo feliz, mas não ao lado de alguém que não seja eu.

As semanas passavam e a banda ia se preparando para o dia do show. Três dias antes de eles embarcarem, Dan chamou Marília para almoçar com ele, pra falar do show. Dessa vez eu decidi ir.

– Mari, olha... dessa vez não vai dar pra você ir comigo. Gostaria muito que você estivesse lá, mas o nosso produtor... – quase gritei de alegria quando ouvi Dan dizer isso.

– Tudo bem, Dan. Tá tudo bem. Eu também não acharia legal que eu fosse, sei lá, primeiro show de vocês na Europa, então... Vou ficar torcendo por vocês aqui.

Dan sorriu e agradeceu a compreensão dela. Eu também sorri, bem não foram realmente risos, estavam mais pra gargalhadas... Ainda bem! Pelo menos ele iria ficar longe dela por alguns dias!!!

No dia do embarque, novamente eu estava lá. Agora eu poderia ficar por perto sem nenhum problema. Dan dormia tranquilamente na poltrona do avião, e eu o olhava em pé no corredor. “Mais parece um anjo” pensei. Lembrei-me do primeiro show que eu fui deles, e quando Dan apareceu no palco eu custei a entender que aquilo era real. Nunca pensei na possibilidade de ficar tanto tempo próxima a ele, sequer protegê-lo.

O show seria daqui a dois dias. Já em Londres, todos da banda acordavam cedo para ir passear pelas ruas e lojas da cidade, eles se divertiam como cinco crianças. Apesar de meu foco ter sido sempre o Dan, eu tinha um carinho muito grande por todos os outros integrantes da banda.

Quando finalmente chegou o dia do show, eu resolvi checar o palco. Era uma das melhores estruturas montadas que eu já vi, eu tinha certeza que aquele show ia ser o melhor de todos! Desci para o camarim pra ver como eles estavam. Os músicos ajeitavam seus instrumentos, conversando entre si. Dan era o único que estava mais isolado do grupo, lendo uma folha com a sequência de músicas que iriam ser executadas.

Fiquei de frente pra ele, e pude ver no seu rosto uma ansiedade que nunca vi antes. Ele balançava a perna freneticamente e passava a mão na testa, tentando limpar um suor que não existia. Eu nunca tive tanta vontade de ser de carne e osso como naquele momento. Queria abraçá-lo, queria que ele pudesse me sentir. Mesmo assim eu tentei. O abracei e disse no seu ouvido:

– Não fique assim. Você é o melhor cantor do mundo. Eu estou aqui, Dan. E vai dar tudo certo!

Quando o soltei, o produtor os chamou para entrar no palco. Ao ouvir a voz do anunciante, os outros integrantes entraram primeiro. Dan levantou da cadeira, respirou fundo e entrou no palco. Entrou no palco e fez o melhor show da vida do The White Sky.

No fim do show, a alegria tomou conta de todos da banda. O pátio de eventos absolutamente lotado deixou o show ainda mais bonito. Eles fizeram a maior festa pra comemorar todo o sucesso que tiveram. Depois foi cada um pro seu quarto. “Tentar” dormir depois de tudo aquilo parecia impossível.

Dan entrou no banheiro pra tomar banho. Eu sentei na cama do quarto pra esperá-lo sair. Um minuto depois, eu comecei a ouvir a voz dele, como se estivesse sussurrando no meu ouvido.

– Ah, meu anjo... você viu tudo aquilo?! Aquelas pessoas gritavam o meu nome, o nome da banda... Nossa, eu nem sei como te agradecer por ter dado tudo certo. – dizia ele.

Eu levantei de supetão e entrei no banheiro. A água quente do chuveiro embaçava o vidro do box e o espelho, até criava um tipo de névoa no chão. Dan estava embaixo do chuveiro com os olhos fechados, e sua boca parecia balbuciar algumas palavras.

Agora eu entendi. Ele estava fazendo uma oração pra mim. De onde quer que estejamos, os anjos sempre escutam quando os seus protegidos rezam pra eles. E pela primeira vez, Dan estava rezando pra mim. Um sorriso largo brotou dos meus lábios, e eu encostei meu rosto no vidro do box, para poder vê-lo melhor.

– Sei que te devo muitas orações, mas... – ele desligou o chuveiro e encostou o rosto no box, de frente ao meu. – ...prometo que vou tentar melhorar.

Quando ele abriu os olhos, eu tive a mesma impressão do dia da queda. Ele me olhava no fundo dos olhos, como se estivesse me vendo, e tentando me reconhecer. Seu coração batia descompassado, junto com o meu. Eu não sabia o porquê que achava que ele estava me vendo, então eu saí do banheiro e fiquei atrás da porta, do lado de fora. Pude ouvir Dan respirar fundo e os seus batimentos voltarem ao normal.

​Bem, agora nós voltaríamos ao Brasil. E voltaria tudo de novo, os shows, a Marília... Ah, essa garota... Eu não sabia mais quanto tempo iria aguentar vê-la perto dele.