Se Hoje Fosse Seu Último Dia escrita por Gustavo Henrique


Capítulo 1
Capítulo 01 — O Primeiro Dia




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Eu sempre odiei o primeiro dia de aula.

Nunca fui bom em fazer amigos. Desde minha infância eu sempre fui o tímido, o quieto, o "estranho" que gostava de estudar. Como minha mãe trabalhava em uma grande companhia, sempre acontecia de ela precisar ir para outro setor e nós nos mudávamos. De novo e de novo.

Nova Iorque era a nossa quinta cidade. Depois de dois anos em São Francisco, eu já estava me acostumando à escola e não estava mal (mas nunca disse que estava feliz) por me formar nela. Mas, claro, no último ano do Ensino Médio tive que me mudar.

Não culpo minha mãe. Não mesmo. Eu sei que tudo que ela faz é por mim e, acreditem, cuidar de mim, sozinha, não deve ter sido fácil. Ela convivia diariamente com telefonemas das escolas, com denúncias de bullying ou com terapeutas que queriam discutir meu comportamento em sala.

Não me entendam mal, eu não era o valentão, era o alvo. Minha constituição sempre foi frágil e eu era a presa preferida de qualquer grandão com quem trombava nos corredores. Por isso, já tinha aprendido: Não tente se misturar. Isso só dá errado.

Acho que devo uma explicação para meu pessimismo.

Uma vez, na sexta série, no meu primeiro dia de aula na escola pública de Pittsburgh, eu tentei seguir os conselhos de minha mãe e fiz de tudo para causar uma boa primeira impressão: Apresentei-me aos meus colegas, querendo fazer amigos. Mas escutem, e escutem bem o que vou lhes falar: adolescentes podem ser maus. Durante o intervalo, um dos meninos maiores me puxou pelas calças e enfiou minha cabeça na privada.

Não foi legal.

Mas, impressionantemente e inacreditavelmente, meu primeiro dia na escola de Nova Iorque foi, na melhor definição da palavra, bom.

Ah, é mesmo, esqueci de me apresentar. Meu nome é Percy Jackson, e tenho dezessete anos.

Engraçado, não? Minha mãe colocara em mim o nome do herói grego, Perseus, mas ninguém nunca me chamava assim. Nem mesmo ela. E o irônico é que eu era o oposto da carga do meu nome. Corajoso, poderoso, importante? Nem de perto. Tente medroso, fraco e irrelevante.

Meu dia começou como todos os outros, só que em um apartamento diferente. Os sinais da mudança ainda estavam visíveis — meu quarto só tinha minha cama, uma pequena televisão, um armário vazio e uma mala cheia de roupas. Depois de minha terceira mudança, tomei uma decisão: Nunca desmontaria minha mala se não tivesse certeza que ficaria em um lugar por um bom tempo. Por isso, minhas roupas ainda permaneciam dobradas e arrumadas dentro da mala.

Bom, continuando. Como em todas as manhãs, coloquei o uniforme da escola e encarei o espelho. O cabelo estava uma bagunça. Alcancei um pente dentro das minhas coisas e tentei arrumá-lo, sem parecer o mais nerd possível. Não era fácil, sério. Era magro, mais que gostaria, e meus dentes não eram exatamente retos. Eram o suficiente para não me passar por dentuço, mas não para receber um "parabéns" da Associação Internacional dos Dentistas. Acho que a única coisa positiva naquele dia era a ausência de espinhas.

Arrumei o que tinha de cadernos e livros e fui à sala, chamando por minha mãe. O nome dela é Sally Jackson, a propósito. Depois de soltar alguns comentários como "O horário dessa escola é muito apertado" ou "Aqui, seu almoço", ela desceu comigo as escadas do pequeno prédio no qual alugamos o apartamento. Do lado de fora, era visível que não tínhamos lá muito dinheiro. O apartamento era pequeno, uma sala, dois quartos, cozinha e banheiro.

Outra explicação. Depois do incidente em Pittsburgh, que eu chamo "Cabeça-de-Privada", minha mãe passou a economizar em alguns aspectos para que eu pudesse frequentar escolas privadas. Eu não reclamei. Pelo menos eu não apanhava todo dia, só um dia ou outro.

Enfim, minha mãe me levou até à escola. Estacionou por perto, beijou-me na testa e disse, com um sorriso sincero no rosto:

— Tenha um bom dia filho. Vai dar tudo certo.

Eu só consegui sussurrar algo como "Claro, sempre dá", mas ela pareceu ignorar. Saí do carro, esperando o pior. Talvez alguém me batesse já na entrada, mas, felizmente, isso não aconteceu.

A escola era bem grande. Bom, eu acho que era, pelo menos. Não conheço os padrões nova-iorquinos. Ela tomava quase três quarteirões e era circundada por uma cerca viva. Os portões, brancos com detalhes em azul, estavam abertos e estudantes entravam enquanto falavam e riam, riam e falavam, como se adorassem aquela experiência. Ao passar pelo portão, pude ver todo o esplendor da instituição. Na entrada, uma grande fonte caracterizava o meio da passagem e bancos estavam espalhados nos cantos. À frente, o caminho se trifurcava. Na direita, enxerguei alguns campos esportivos, com adolescentes jogando tênis e futebol. Na esquerda, só vi construções, que, para ter mais detalhes, precisaria entrar.

Mas o que me encantou foi o que estava à minha frente.

O prédio da escola? Não, não. Era grande, com certeza, e compartilhava da coloração do portão, com símbolos da escola espalhados pelas paredes. Mas o que chamou minha atenção era muito mais bonito que a construção escolar.

Conversando com duas meninas que, sinceramente, não lembro como se pareciam, estava a menina mais linda que já tinha visto na vida. Segurava o material escolar com o braço esquerdo e a mão do braço livre arrumava as mechas de cabelo loiro encaracolado que tampavam-lhe os olhos.

E que olhos.

Dou-lhes três chances para adivinhar a cor. Azuis? Passou longe. Verdes? Não. Castanhos? Negativo.

Eram cinzas. E foi o que mais me chamou atenção. Os olhos acinzentados pareciam observar tudo à sua volta e, ao mesmo tempo, ater-se à conversa. Eram misteriosos e eu gostava de mistérios.

Devo ter me perdido naqueles olhos, pois não percebi uma pequena escada que subia na entrada e tropecei, caindo de cara no chão. Será que ela viu? Tomara que não. Vergonhoso, certo? Já estava acostumado. Levantei-me, limpei a poeira das calças e segui meu caminho, tentando encontrar meu armário.

Vocês acreditam em destino?

Cansado de andar de um lado para outro, confuso, finalmente encontrei o armário que possuía a numeração que a diretoria passara à minha mãe e eu agradeci por estar inteiro. Era o primeiro dia de aula, mas, como eu já disse, adolescentes podem ser maus. Abri o armário e coloquei meus livros lá, mantendo comigo apenas os que fosse usar para a próxima aula. Fechei-o e tomei um susto.

Pois eu acredito.

Do meu lado, a menina loira que eu descrevera (a mais bonita do mundo, aquela mesmo) tentava abrir em vão o armário ao lado do meu, dando-se por derrotada. Olhou para mim (e eu fiquei um pouco feliz, porque era um pouco mais alto que ela) e disse:

— Ah, oi.

E voltou ao armário. Não sabia se esquecera a combinação ou se estava emperrado, mas me ofereci para ajudar. A garota deu um passo para o lado e fiz minha mágica. Depois de passar por algumas escolas, eu sabia algumas coisas. Pressionei os pontos certos e, depois de um tapa no canto, a porta se abriu, revelando o interior, abarrotado com fotos de viagens e de atores de Hollywood.

— Obrigada! Achei que não abriria isso hoje.

— Não tem problema. - disse eu, evitando olhar diretamente para ela.

— Annabeth - falou, esticando o braço até mim. Apertei sua mão e respondi:

— Percy.

— Bonito nome, Percy.

Pensei em responder "você que é", mas o sinal me impediu.

— Bom, nos vemos depois — disse ela, virando-se para o corredor e indo em direção à uma sala.

— É o que eu espero.


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