Noite Escura escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 10
Noite Escura


Notas iniciais do capítulo

Um dos últimos capítulos da história,espero que agrade vocês ^^



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Não tentei dormir. E mesmo que tentasse jamais conseguiria.

Pensei em Rebecca a maior parte do tempo, ainda mal podia acreditar.

Finalmente tinha cumprido minha missão, poderia deixar que o Olimpo assumisse a partir dali e esquecer tudo o que se passou.

Porém, o Olimpo poderia ser cruel com traidores. Não podia simplesmente deixar Rebecca ser torturada ou/e mandada para o Tártaro.

Deitado em minha cama, tomei uma decisão. Iria confrontá-la e faria o que fosse preciso. O que fosse preciso.

Fui extremamente frio e distante durante as aulas e Rebecca percebeu; seu rosto de atriz demonstrando preocupação e angústia. Mas eram expressões das quais aprendi a desconfiar.

- Meu amor, o que foi? Por que está assim? – ela me questionou no intervalo.

Não pretendia conversar sobre aquilo ainda, mas não me contive.

- Não ouse me chamar de meu amor. Sua cínica mentirosa.

Ela se curvou como se tivesse levado um soco.

- Mas... Mas... Eu não entendo. – lágrimas brotavam de seus olhos.

- Não entende?Não entende o que? Não entende que você é uma traidora, uma fonte de Magia Negra? É isso que não entende, por acaso? Pois eu entendo muito bem.

As lágrimas cessaram e o semblante de Rebecca mudou, sua expressão agora era adornada por uma fúria gélida.

Ela sorriu. Um gesto agora extremamente diabólico.

- E o que vai fazer com essa informação. – ela desafiou.

Não tinha resposta.

- Vai chamar aqueles seus Olimpianos para te acobertarem? Ou vai chamar a sua mãezinha que se diz deusa da sabedoria, mas mandou o filho para a morte? Tem o celular deles? Eu posso esperar.

- Sua... – não tinha resposta novamente, diante da crueldade da garota parada a minha frente.

Empunhei Sabedoria e apontei-a para a garganta dela.

- Acha que uma simples adaga vai me vencer?

Ela deu um passo para trás e um giro, seu pé esquerdo jogando a adaga para longe de mim.

Antes que pudesse recuperar a posse da arma, Rebecca aplicou um golpe em meu peito, projetando-me para trás contra os armários. Desabei sem ar no chão do colégio.

Arquejando violentamente, tentei me levantar, mas o joelho de Rebecca foi mais rápido, acertando em cheio meu crânio e me fazendo colidir também com o chão do colégio. Não senti dor, apenas um leve formigamento e um torpor que começou a me dominar.

Vagamente, vi Rebecca manipulando a Névoa para os expectadores mortais.

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Tive sonhos totalmente febris e delirantes. Alguns muito ruins e outros totalmente sem sentido. Tentei acordar algumas vezes, mas era como se tivesse em um sono induzido. Toda vez que começava a despertar, vagava para a inconsciência novamente.

Quando acordei, tudo estava escuro. Uma brisa suave vinha de algum lugar próximo. Não morrerei asfixiado, lembro-me de ter pensado.

Estava acomodado sem nenhuma cerimônia em uma superfície de madeira e senti alguns espasmos de dor na cabeça e na coluna ao me levantar. Ao ser atingido pelas lembranças procurei instintivamente Sabedoria por baixo do casaco. Ela estava lá, apesar de que com certeza Rebecca tenha tentado tirá-la de mim.

Lembrar de Rebecca provocou uma pontada de dor em meu coração, ainda mal podia acreditar na traição dela.

Vasculhei rapidamente o local com o olhar, certificando-me de que era seguro e ao mesmo tempo tentando me localizar.

A compreensão me atingiu de repente; aquele lugar era o Auditório, sabia pois havia estado em uma palestra ali durante a aula de Geografia.

Se fosse mesmo o Auditório, não seria difícil sair dali.

Ainda com muito cuidado desci do palco e comecei a rastejar por entre os assentos na plateia.

Não podia me arriscar, não podia ser pego.

Foi quando as luzes se acenderam e iluminaram o palco.

Rebecca estava incrível, de um jeito perturbador. Usava um vestido preto justo e tinha o cabelo caindo em cachos ao redor da cabeça. Em contraste com a beleza vinha a parte perturbadora, ela usava um cinto atravessando o quadril de onde pendiam facas em forma de luas crescentes, usava um colar de ferro negro ao redor da garganta incrustado de rubis e acima de tudo tinha um belo punhal de ferro-estígio na mão direita.

- MARCOS!  - ela gritou exultante e uma luz focou em mim de repente.

Olhei com ódio e paixão para ela, por um lado queria matá-la, mas por outro...

Mãos fortes me agarraram por trás e me forçaram a ajoelhar, com uma rápida olhadela percebi que era o diretor.

- O que acha do diretor da escola? – ela perguntou.

- Não vai viver muito, assim como você.

Ela soltou uma gargalhada.

- Ele é um deus também, sabia?  – ela disse e fitei-a duvidando – Na verdade não é o diretor o deus e sim quem se apossou do corpo dele. Marcos você está na presença da essência de Fobos. O deus do pânico, meu pai.

Então tudo fez sentido, aquela sensação de pânico que me invadiu quando a vi pela primeira vez no Refeitório, não fora apenas o choque por ter sido flagrado encarando-a e sim minhas reações naturais e instintivas em reação a filha do deus do medo.

- Você é uma semideusa? Não pode ser. Como? – estava espantado.

- Sou filha de Fobos e como ele é tratado como um deus menor é fácil me esconder do Olimpo, dos monstros e de outros semideuses enxeridos.

“Mas minha magia não pode ser encoberta, e não queríamos isso, não é mesmo pai?” ela olhou para além de mim, para o diretor que na verdade estava hospedando Fobos; agora eu podia ver uma aura negra tremulando ao seu redor, seus olhos eram fendas escuras e assustadoras e quando ele focou em mim fui invadido pelo terror cego que ele podia causar “A magia que estava produzindo foi proposital, queríamos que o Olimpo mandasse um semideus para cá e conseguimos isso”.

- Por quê?  - só pude responder isso.

- Precisamos de sangue semideus para o ritual, que está quase na hora. – Rebecca disse isso tão seriamente e depois sorriu como se fosse divertido.

“Ah, e com relação ao monstro na roda-gigante, ele foi o único evento não planejado. Sua magia como filho de Atena o atraiu. Ah, mas aquele ciclope burro cometeu um erro, avisamos para os monstros que se mantivessem longe... Mas, enfim, eu sou uma boa atriz não é mesmo? Porque se eu tivesse continuado agindo normalmente com você, você teria desconfiado não é mesmo? Então eu fiz o papel de garota assustada que se convence de que você é bonzinho, após ser salva de quase ser afogada”.

- Armou tudo aquilo na praia! E, por isso você se jogou contra mim no momento que eu ia matar o ciclope, você tinha contratado-o para fingir tudo aquilo. E ele, - disse apontando o diretor – foi o ardil para que eu fosse à praia e te encontrasse em perigo.

A traição toda fazia sentido. Eu poderia ter percebido se tivesse parado para pensar. E agora iria morrer por conta daquilo.

- Olhe só pai, quem está aprendendo! Pena que é tarde. – ela fez uma expressão fingida de tristeza.

- Para um filho de Atena, devo dizer que não é tão esperto assim – disse Fobos. – Se deixou levar pelo coração...

Ele não terminou a frase, levantei de um pulo e atingi com o punho seu hospedeiro humano.

Corri rapidamente pelas várias fileiras de cadeiras do Auditório, em direção as portas principais que para minha sorte não estavam trancadas.

Para uma garota de vestido justo, Rebecca corria muito rápido e enquanto corria ela lançava suas facas em forma de lua na minha direção, uma passando perigosamente perto do meu pescoço.

Mas consegui chegar até o Refeitório, onde para meu azar, ela me alcançou.

- Pensa que vai escapar daqui para avisar o Olimpo? NUNCA!  

Só percebi que havia algo em suas costas quando ela esticou o braço para pegar. Era uma bainha contendo uma espada de ferro-estígio.

Esse povo é maluco por ferro-estígio,pensei.

Maluca ou não, Rebecca lutava muito bem. Eu me defendia com labareda de dragão, mas tinha medo de não conseguir contê-la. Era uma exímia espadachim.

Ela basicamente se concentrava em estocar, recolher a espada, se defender e voltar a estocar. Já eu tinha um padrão mais diversificado e Rebecca estava encontrando dificuldades em ultrapassar minhas defesas.

Até que consegui enfim uma brecha. Atingi-a na coxa esquerda e ela desabou no chão, o sangue escorrendo lentamente.

Silvio, o inspetor noturno,apareceu então e viu a cena que devia ser demais para o cérebro mortal dele.

- Ai meu Deus, você devia estar dormindo. E, você furou a menina!

Rebecca olhou para ele e esticou um braço em sua direção, Silvio caiu no chão e começou a tremer com os olhos desfocados.

- É isso que faz uma filha do pânico.

Ela olhou para mim e tentou a mesma estratégia, fui em parte dominado pelo medo, mas não me rendi e reprimi-o a todo custo!

Espetei a ponta de Labareda em sua garganta e ela parou de tentar.

- Você vai para o Olimpo comigo!E...

- NUNCA – ela gritou – PREFIRO MORRER!

Fobos entrou correndo na sala e viu a situação em que sua filha se encontrava.

- Pare Marcos. Não faça isso, ela é... É minha filha. – seus olhos se encheram de lágrimas.

- Pai, eu não vou ser pega pelo Olimpo! – ela olhou para ele com os olhos marejados – Eu te amo.

- NÃO FILHA, NÃO!

Mas já estava feito, Rebecca esticou os dois braços acima da cabeça e olhou para as palmas das mãos fixamente.

Então ela que já estava de joelhos, desabou totalmente. Começou a ter convulsões violentas; instintivamente tomei-a em meus braços e tentei ajudar. Mas em alguns instantes ela parou de se mexer.

- O que aconteceu? – meu olhar percorreu o refeitório.

- Ela se suicidou. – Fobos tinha lágrimas nos olhos e estava com certo ar soturno. – Ela se suicidou, usando os próprios poderes.

- Não pode ser... – disse e sem acreditar comecei a verificar a pulsação dela. Nada. – Rebecca, por favor, não! – dei tapas leves em seu rosto esperando que ela recobrasse a consciência. Nada aconteceu.

Não pude evitar e chorei. Apesar da traição dela, eu ainda a amava.

- Isso não ficará sem vingança, Marcos! – Fobos disse do outro lado da sala e então sua aura negra se desfez, ele havia libertado o hospedeiro.

E não havia mais nada para mim ali. De certa forma minha missão havia sido cumprida e eu deveria voltar para o Acampamento.

Com o peso de uma traição pairando sobre mim.


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Notas finais do capítulo

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Obrigado por lerem até aqui!