Ragnarok - o Crépusculo dos Deuses escrita por Kisuki


Capítulo 2
Episódio 2 – Novo Ciclo




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Ragnarok

I

 The Awakening

 

Episódio 2 – Novo Ciclo

 

Debaixo do sol forte, nos campos montanhosos nas proximidades de Yuno, a terra avermelhada parecia ter luz própria. Sob a sombra de uma das escassas árvores, um homem estava sentado, as pernas cruzadas. Tinha a aparência jovial de alguém com, no máximo, 25 anos. Seus cabelos esverdeados estavam presos em um rabo de cavalo que descia até o meio das costas. Seus olhos castanhos, claros, miravam o nada de forma pensativa. Uma brisa soprou, ondulando a capa de mago que ele usava, obrigando-o a proteger os olhos com a mão enluvada para evitar a poeira. Com um suspiro, ele se levantou, limpando os fundilhos da calça. O jogo recomeçava.

O homem andava em direção ao sul, para a cidade de Al de Baran. Parecia ser uma piada do destino. Exatamente há 50 anos, este mesmo homem esteve andando por aquele mesmo caminho, porém no sentido contrário. Há 50 anos, ele estava usando uma capa de bruxo, e o seu poder era temido por muitos. Hoje ele usava uma capa de mago, e seu poder realmente não ultrapassava o de um. Aquela incrível demonstração de magia no AMRC parecia ter sido um surto a muito dissipado. Por alguma razão, naquele momento o homem simplesmente não conseguir lembrar-se dos encantamentos para utilizar as magias que tinha empregado ainda naquela manhã, e com certeza percebia que não tinha a energia para invocá-las, mesmo se conseguisse. Era como se ele tivesse regredido ao nível que tinha no dia que começara aquela jornada, há mais de 50 anos. Sendo assim, talvez ele devesse voltar ao lugar onde tudo começou. A cidade onde nasceu. Geffen.

O homem olhou para o horizonte, tinha pressentido algo. Alguém como ele, alguém com o poder para mudar o destino. Alguém nascido para matar. E estava vindo em sua direção.

 

~

O mesmo sol que brilhava sobre os penhascos de Yuno iluminava o deserto de Morroc. Este, porém, recebia do astro um calor que não era igualado em nenhuma outra parte do mundo. O terreno arenoso e o clima anecúmeno do deserto afastavam a maior parte dos viajantes e andarilhos. Apesar disto, era sabido por alguns que uma guilda existia naquele ambiente. Dizem que os seus membros são os mais profissionais assassinos de sangue frio de Rune-Midgard. Se isto é verídico, porém, não se sabe, uma vez que são nulos os relatos dos que sobreviveram após terem sido marcados como alvos pela Ordem dos Mercenários de Morroc.

No meio do deserto, em uma local cujo segredo era mantido guardado por gerações, estava a sede desta sombria guilda. Em algum lugar de sua arquitetura labiríntica encontrava-se a sala de treinamento dos novos assassinos, a maioria destes descendentes dos mercenários mais velhos. O treinamento árduo envolvia práticas de mira, estudos de anatomia, criação e utilização de venenos e combate direto em geral. Observando tudo de uma sacada no alto, um senhor grisalho, de aparência nobre e respeitosa, julgava o aprimoramento dos novatos de forma irrefragável.

Outro assassino, aparentemente mais graduado na organização, se juntou a ele na sacada. Eles trocaram um olhar significativo antes de iniciarem a conversa. O velho, com sua voz rouca e cansada, falou primeiro.

-Temos mais um trabalho para você.

O outro se limitou a assentir com a cabeça. A maior parte do seu rosto era escondida por um chapéu oriental, um sakkat de palha que protegia os olhos dos ventos do deserto.

-Encontre o peticionário no Gato Preto, em Morroc. Leve dois companheiros e seja discreto.

Pela primeira vez, o mais jovem esboçou alguma emoção, mostrando um sorriso um tanto cínico.

-Sempre sou.

Ele apoiou-se na sacada e pulou para o andar abaixo, pousando impune onde os novatos treinavam. Nada discreto, de fato. Todos pararam seus afazeres para observá-lo, cada um esperando que ele os escolhesse para acompanhá-lo na missão. No fim, ele selecionou dois mercenários recém admitidos e deixou a guilda imediatamente, ao lado deles. Os três partiram para Morroc, onde teriam sua misteriosa missão finalmente delegada. Os mercenários novatos estavam um tanto nervosos, mas o assassino experiente mostrava apenas sua frieza de sempre.

~

Gillian chegou a Al de Baran sem maiores problemas. Ele, porém, ainda estava desapontado por ter seus poderes tão restringidos, e de forma tão repentina. Mas sua maior surpresa foi ver uma foto sua na lista de procurados em um jornal da República de Schwaltzvald¹, ao lado de uma matéria sobre a destruição do AMRC. Por sorte, Gillian tinha deixado a República para traz, pelo menos por agora. Al de Baran era uma cidade do Reino de Rune-Midgard, e a legislação de Schwaltzvald não podia atingi-lo ali (O fato de haver um jornal daquele lugar em Al de Baran devia-se apenas a sua proximidade geográfica com Yuno). Ele, porém, não iria abaixar sua guarda. Gillian sabia que mesmo ali ele seria procurado, se não pelas autoridades, por caçadores de recompensas. Ele teria que ser mais cuidadoso dali para frente. Por sorte a foto era muito antiga, então ele não teria grandes problemas.

O mago sentou-se em um banco, admirando a Torre do Relógio, o mais famoso ponto turístico da cidade. Na última vez que ele passara por ali, o maquinário estava ainda em construção. Como era estranho rever aquele lugar 50 anos depois! Muita coisa mudara, era fato, mas em geral a cidade continuava a mesma.

Quando o sol caiu, Gillian alugou um quarto em uma taverna, para passar a noite. Quando o administrador solicitou o pagamento, ele deu um sorriso amarelo e apalpou as vestes. Como ele pode esquecer aquele detalhe? Mas a sorte parecia estar ao seu lado. Em um bolso interno da capa que pegou no AMRC, Gillian encontrou algumas providenciais moedas de ouro. Parecia que o destino ainda lhe sorria.

Naquela noite, ele dormiu tranqüilo, sem se preocupar com a viagem que faria no dia seguinte. O caminho para Geffen era próximo, mas ainda havia perigos pela frente.

~

O bar Olho de Gato era conhecido em Morroc, principalmente pela música. À noite, os trabalhadores se juntavam para ouvir a doce voz de Selena e alegremente embriagarem-se ao som de suas canções. O encontro estava marcado para acontecer assim que o bar fechasse. Dark chegou pontualmente, e sozinho. Os outros dois tinham ficado em uma hospedaria na cidade: Apenas o assassino graduado tinha permissão para lidar diretamente com os solicitantes. Os mais novos deviam apenas realizar o trabalho, sem perguntas.

Quando Dark entrou no bar, apenas uma cadeira estava ocupada. O resto do recinto estava vazio. A pessoa à mesa era a própria Selena, a famosa cantora. Dark não demonstrou nenhuma surpresa. A mulher arrumou os cabelos negros atrás das orelhas e encarou Dark com seus brilhantes olhos verdes.

-Então a guilda mandou você?

O mercenário apenas se sentou na cadeira diretamente a frente dela e simplesmente assentiu.

-Bom, tenho um trabalho para você. Apesar de ganhar a vida aqui, em Morroc, eu não nasci aqui. Em verdade, eu sou nativa da República de Schwaltzvald, de Yuno, para ser mais exata. Eu ainda recebo um jornal de lá, para ficar de olho nos acontecimentos da minha terra natal... Bom, indo direto ao ponto, eu quero que você assassine este homem.

A mulher colocou o jornal em cima da mesa e Dark viu a foto na primeira página. O assassino observou a foto intensamente por alguns segundos e se levantou logo depois.

-Feito- Foi tudo o que ele disse antes de deixar o bar.

~

Gillian sentia-se extremamente humilhado, enquanto corria da centopéia monstruosa que o perseguia incansavelmente. Ele não se recordava daquela área possuir criaturas tão agressivas.

-Ora sua... Fire Bol...

Antes que pudesse completar o encantamento, o monstro o alcançou. A dor causada pela poderosa mandíbula no braço esquerdo foi mais que o suficiente para cortar a concentração do mago. Gillian cerrou os dentes e afastou-se da criatura, reiniciando a fuga, segurando com cuidado o braço machucado.

-Droga, me deixa em paz!

Como se tivesse obedecido a sua ordem, o Argiope caiu pesadamente no chão. Uma flecha encontrava-se cravada em sua cabeça. Gillian surpreendeu-se e, hesitante, aproximou-se da carcaça, tencionando confirmar a morte do monstro. Ao ver que este estava realmente acabado, o mago extravasou sua raiva, chutando impiedosamente o corpo desfalecido. Uma cena cômica.

-É, suponho que ela mereceu isso. - Disse uma voz feminina.

Dos galhos de uma árvore próxima, uma garota desceu. Era jovem, aparentando cerca de 20 anos. Seu rosto amável era emoldurado pelo seu cabelo curto, de tom arroxeado. De acordo com o arco em suas mãos, parecia ter sido ela quem tinha dado um fim ao Argiope. Ela riu da surpresa do mago e estendeu a mão para que este a apertasse. Um pássaro, empoleirado no ombro da garota, observava GIllian fixamente

-Olá, meu nome é Anessa. Espero não ter roubado sua caça. Ah, esse passarinho besta aqui é o Ayre.

A ave estendeu a pata de forma cômica e piou. Gillian, rindo, apertou a mão da garota.

-Pode me chamar de Gillian... E não se incomode, estou feliz que você tenha acabado com essa maldita. Já estava me perseguindo há um tempo.

Ele deu mais um chute na centopéia para enfatizar a sua fala.

-Gillian... Que nome estranho. Importa-se se eu chamá-lo de Gil?- O sorriso da caçadora era irresistível. O mago, por sua vez, riu um tanto desconcertado.

-De forma alguma.

-Você está bem?

Gillian olhou para seu braço ferido, seu sorriso amarelando.

-Bom, já estive melhor.

-Você não tem nenhuma poção com você? É perigoso andar por esta área sem itens curativos. Você sabe, para as eventualidades.

-Bom, suponho que eu não possa dizer que estava realmente preparado para esta viagem...

A garota pareceu entender e remexeu na pequena bolsa que trazia presa a cintura.

-Tome uma das minhas. Deve pelo menos aliviar a dor.

Ela passou um frasco com um líquido amarelado, que Gillian bebeu avidamente. Os resultados foram instantâneos. O sangue parou de escorrer e a ferida se fechou parcialmente. Ele tentou não deixar transparecer sua surpresa, mas em sua época não existiam poções que funcionavam tão bem e tão rápido. Parecia que a alquimia tinha avançado bastante naqueles cinqüenta anos.

-Muito obrigado. A propósito, o que faz aqui tão ao norte?

A jovem sorriu e deu ombros.

-Caçando. É a minha profissão. Estou em uma missão para a guilda dos Bruxos.

Ela apontou para o monstro caído.

-Com este, minha missão está concluída.

-Então estamos indo para a mesma direção. Também estou indo á Geffen. Se quiser companhia, podemos ir juntos, o que acha?

Anessa respondeu que sim de imediato. Antes, porém, de seguirem viajem, ela abriu a carcaça do Argiope com uma faca, retirando habilmente o coração nojento da monstruosidade e o guardando em um pote de vidro. Com uma expressão meio enojada, a garota perguntou:

 -Você é um mago, não é? Por acaso você sabe para que tipo de feitiço eles usam essas coisas?

Gilllian, com um sorriso um tanto quanto sinistro, disse apenas:

-Prefira não saber.

~

A viagem durou até o meio do dia seguinte. A zona realmente era cheia de criaturas ferozes, mas os dois (três, se contarmos Ayre) deram cabo dos inimigos facilmente. Anessa era experiente em caçadas longas, e sabia extrair abrigo e alimento da natureza.

Os problemas começaram no dia seguinte, quando eles finalmente atingiram a ponte levadiça que marcava a entrada norte de Geffen.

-Tenho um mau pressentimento... - Anessa parecia tensa. O seu falcão, Ayre, também estava inquieto.

 Gillian confiava na intuição da parceira, mas não conseguia ver nada de estranho a sua volta. Bom, se ele não conseguia ver o que estava estranho só poderia significar...

O mago estalou os dedos e duas pequenas bolas de fogo etéreo apareceram a sua volta. Pelo menos essa magia ele ainda conseguia usar.

-Sight!- Aquele simples feitiço para revelar corpos invisíveis teve um efeito muito maior do que Gillian cogitava. Um vulto vestido de negro apareceu repentinamente atrás do mago, a lâmina da katar na sua mão a meros centímetros de distância da garganta de Gillian.

Anessa foi quem agiu mais rapidamente. Ela colocou a flecha no seu arco numa velocidade suicida, forçando o vulto a pular para traz. Para se esquivar de um tiro assim a queima roupa, com certeza ele era extremamente ágil.  Outros dois homens, com vestes idênticas ao primeiro vulto, apareceram do nada, ao lado dele. Os três empunharam suas armas para uma nova investida, mas Gillian estava preparado.

-Fire Wall!- A barreira de fogo que foi colocada entre eles comprou algum tempo para o mago e a caçadora se reorganizarem. Gillian já cogitava que os inimigos estavam atrás dele, talvez mercenários contratados pelo pessoal da República. Mas aqueles três não pareciam simples caçadores de cabeças. Eles eram profissionais.

-Anessa, fuja, eu seguro eles aqui!

-Tá brincando? Eu disse que nós iríamos juntos até Geffen. E nós vamos! Juntos!- A persistente caçadora colocou duas flechas no arco e preparou-se. A barreira de fogo começava a vacilar.

Assim que esta se extinguiu os assassinos avançaram com velocidade total, mas foram recebidos pelas flechas certeiras de Anessa.

-Double Strafe!- As duas setas que foram lançadas de uma só vez abandonaram o arco com tamanha quantidade de energia acumulada que o assassino em que a garota mirava (o mais a direita) pareceu receber no peito dois raios em vez de duas flechas: o impacto do ataque o jogou cerca de três metros para traz. Os outros dois não se moveram um centímetro para auxiliar o amigo, sem dúvida eram profissionais.

O mago concentrava energia para lançar outro encanto, mas porque demorava tanto? Quando a energia foi reunida, os mercenários já estavam a distância de combate corpo-a-corpo.

-Fire Ball!- Gillian arremessou a esfera de chamas bem a tempo. O dano causado, porém, foi mínimo. Parecia engraçado pensar que no dia anterior ele tinha demolido um prédio com aquela magia.

-Arrow Repel!- A caçadora utilizou uma flecha especial desta vez, que ao entrar em contato com o alvo, o assassino à esquerda, criou um impulso que o fez ser repelido cinco metros para traz. As flechas seguintes acabaram com ele antes que se aproximasse novamente. Agora sobrava apenas o do meio, aquele que quase degolou Gillian. Ele parecia ser o mais forte dos três, mas a caçadora também era experiente, e ele parecia perceber isso. Seria por isso que ele mantinha distância? Assim como os outros dois, ele usava um chapéu sakkat que escondia sua expressão facial.

Naquele meio tempo, Gillian conseguiu concentrar sua próxima magia.

-Fire Bolt!- Do círculo mágico criado em volta do mago emergiram dez lanças flamejantes, aquela era a habilidade mais poderosa que conseguia invocar naquele momento.

As hastes de fogo nunca acharam seu alvo. Quando estas foram lançadas, o Assassino tornou-se invisível. Felizmente Anessa já esperava por esse movimento.

- Ayre! Detect!

O falcão, sua visão muito mais apurada do que a dos humanos, pode ver através da habilidade do mercenário sem problemas. O pássaro atacou o alvo, mas este era muito veloz. A investida do pássaro o forçara a se revelar, mas seus ataques subseqüentes não o alcançaram. Parecia que a verdadeira luta tinha começado. Ele levantou o braço, liberando as bandagens que os cobriam. Uma estranha fumaça arroxeada começou a envolvê-lo.

-Venom... Dust...

Gillian e Anessa imediatamente recuaram, afastando-se da nuvem tóxica. Ayre levantou vôo imediatamente, evitando o ataque. O assassino aproveitou a oportunidade.

-Grimtooth... - Quando a katar do mercenário foi fincada no chão, uma onda de tenebrosas estalagmites, que lembravam bizarros dentes nascidos da terra, rumaram ao encontro de GIllian e Anessa. A caçadora bravamente empurrou o mago para fora do alcance da habilidade, colocando-se no lugar dele.

O “dente” transpassou seu abdômen. Sem energia, ela ajoelhou-se, derrotada.

-Não!- Gillian gritou, mas não havia nada que pudesse fazer. Naquele momento ele amaldiçoou sua magia que podia apenas machucar as pessoas. O poder da cura estava além do seu poder. O assassino não esboçou emoção alguma, apenas se aproximou da garota para aplicar o golpe de misericórdia.

Ajoelhada e sangrando, Anessa riu.

Um barulho metálico, estranho, foi ouvido, e o assassino gritou de dor.

Sua perna estava presa na arapuca da caçadora, uma espécie de armadilha para ursos. A mandíbula de metal segurava firmemente o tornozelo do mercenário, impedindo seus movimentos.

-Agora Gil! Acabe com ele!

O mago começou o encantamento para chamar suas lanças de fogo, mas antes que pudesse acabar de invocar o círculo mágico, outro foi visto pelo mago em volta de Anessa e do assassino. E aquele era dez vezes maior do que o seu. Ele mal teve tempo para sair do seu raio de efeito.

-Mas o que...

-Storm Gust!- Gillian mal podia acreditar em seus olhos. Anessa, assim como o mercenário, foram engolfados pela tempestade de neve que apareceu do nada. Aquilo era magia de nível elevado. Toda a ponte levadiça, assim como o rio que corria por debaixo desta, foi congelada.

Tanto o assassino quanto a caçadora foram petrificados pelo gelo mágico do encantamento desleal.

-Oh, perdão Dark, eu atingi você também? Ora, ora... Como eu sou má!

A bruxa responsável pela magia mostrou as caras. Dark, de dentro de sua prisão glacial, a reconheceu: Selena, a cantora do Olho de Gato. Que diabos...?!

A estonteante mulher aproximou-se da estátua congelada de Dark, acariciando seu rosto paralisado pelo gelo.

-Você não entende querido? Eu não menti. Eu sou da República. De fato, o meu chefe também. Ordens são ordens, queridinho. Aposto que você entende, sendo um mercenário, e tudo mais... Você também deve morrer. -A bruxa sensual beijou o gelo sobre os lábios do assassino. - Obrigado por cansá-los para mim. Como recompensa, eu vou acabar com a arqueirazinha primeiro, o que você acha?

-NÃÃÃÃÃÃOOO!!!!- Gillian berrou em plenos pulmões, mas em nada adiantou. Selena meramente despedaçou a estátua de gelo que continha Anessa com um relâmpago, como se não passasse de um brinquedinho desmontável. Ela riu insanamente, enquanto Gillian se dobrou sobre os joelhos, apertando os punhos com tamanha força que as unhas penetravam na carne. Lágrimas rolavam de seus olhos.

-Hohohohoho!

-POR QUÊ? O QUE ELA FEZ PARA MERECER ISSO?

Como resposta, Selena apenas riu mais. Aquele desespero... Era tão divertido!

Uma brisa passou, embaraçando os cabelos de Gillian. A brisa foi aumentando mais e mais, até virar uma verdadeira ventania. O mago levantou os olhos e percebeu que o vento girava a sua volta, como um tornado. O que aquilo significava?

Selena surpreendeu-se com o poder mágico que de repente explodiu no homem de cabelos verdes. Nem parecia mais o mesmo pobre coitado derrotado de antes. Parecia outra pessoa completamente diferente. E esta pessoa... Era assustadora. Selena ficou em guarda.

~

GIllian sentiu sua magia explodir, e a dor da perda da sua amiga foi o estopim. A aura que o rodeava era tão quente quanto ele se lembrava. Era um conforto recuperar seus poderes naquele campo congelado pela magia da bruxa maldita. Agora ela iria pagar. Ele conseguia se lembrar dos anos de conhecimentos acumulados. Sua fonte de energia mágica, transbordante como sempre fora, não o falhava agora. Ele se levantou e apontou a mão direita para o céu. Sem precisar falar uma sílaba sequer, um enorme círculo de magia apareceu sobre as cabeças dos presentes.

A inimiga não se deixou surpreender, ela havia visto a luta desde o inicio e sabia que a magia de Gillian era vagarosa. Bom, era realmente é o termo correto.

-Storm...

-METEOR STORM!!!!!!!

O enorme círculo mágico lá em cima funcionou como um portal, invocando para aquele mundo dez enormes esferas flamejantes. Uma verdadeira chuva de meteoros acometeu a ponte levadiça. Selena nem acabou seu encantamento, ela simplesmente ficou de boca aberta, enquanto os globos fulgurantes se aproximavam cada vez mais.

~

GIllian e Dark estavam sentados do outro lado do que sobrou da ponte levadiça que levava ao portão norte de Geffen. O homem de cabelos verdes trazia sua cabeça apoiada nos joelhos, tampando a visão de seu rosto com os braços. O outro, de pernas cruzadas, retirou seu Sakkat, repousando-o ao seu lado. Seus cabelos, na altura do pescoço, castanhos escuros, eram quase avermelhados. Os olhos eram de um negror ímpar. Ele sabia muito bem que a única coisa que o salvara dos meteoros foi o gelo que o aprisionara. Se não fosse por aquele detalhe, ele teria se juntado a caçadora no outro mundo. Mas ele não se importava, até achava que merecia. Dark conhecia muito bem os pecados que carregava.

-Então... Isso que dizer que eu sou um desses que... “Nasceram para matar”?

Gillian enxugou os olhos nas luvas, de costas para o outro, se recompondo.

-Sim, como eu. Este poder está dormente em você, por isso você também é um alvo para eles.

Dark suspirou. Vindo dele era uma grande demonstração de emoção.

-Então eu não tenho muita escolha, não é?- O mago balançou a cabeça negativamente.

-Sinto muito pela sua perda- Disse Dark, estendendo a sua mão.

 Gillian a apertou.

.

.

.

E aquele foi o início da Born to Kill.

 

[¹ República de Schwaltzvald – Continente ao norte no Reino de Rune Midgard, que compreende Einbroch, sua cidade satélite Einbech, Lighthalzen, Hugel e a capital Yuno.]

 


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