A Física Das Possibilidades escrita por Jessy Hell


Capítulo 22
O amor por cima das teorias


Notas iniciais do capítulo

“O amor é uma experiência consumptiva. A paixão e a psicose obsessiva-compulsiva compartilham vários elementos em comum, ambos os estados associam-se a baixos níveis cerebrais de serotonina, que nos ajuda a lidar com situações estressantes. E as teorias dizem que, os níveis de hormônios como dopamina só são altos no início do flerte, que a convivência produz amor...” E Sheldon e Judy estão demonstrando como o sentimento deles podem derrubar algumas teorias...



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— B-Boa n-noite... – a voz de Judy saiu clara, apesar da gagueira costumeira, ao se dirigir ao motorista, que abriu a porta do carro para ela. Benjamim sorriu.

— O-Obrigada! – Ela sorriu de volta, sendo seguida do agradecimento de Sheldon, entrando logo em seguida.

** Casal engraçado ** Benjamim riu consigo mesmo.

O interior da limusine estava gelado. Sheldon percebia que Judy tremia levemente. A garota sorria mesmo assim, um pouco sem graça pelo braço machucado que a impedia de se aquecer. O motorista fora super simpático e educado, perguntando sobre o ar condicionado, as bebidas e todo o resto. Jack tinha sido extremamente exigente em cada detalhe. E Benjamim estava seguindo à risca. Ele só não sabia como proceder em certos “detalhes”.

─ Judy, posso? – Sheldon se prontificou a abraçá-la pelos ombros, fazendo a garota corar.

─ S-Sheldon... – Ela olhou para o chão, muito tímida.

─ Você está espetacularmente maravilhosa.

Judy arregalou os olhinhos verdes, radiante de felicidade. O elogio de Sheldon tinha saído de forma rápida, mas muito doce. Ela percebia que Sheldon não era muito de elogios, por isso ficou radiante.

─ O-Obrigada... Você também está lindo. Muito, muito mesmo. Mais do que já é, entende?

Ela riu nervosa e se calou de forma abrupta. Sheldon também soltou sua risadinha característica.

─ Estamos nervosos hoje, né? – Ele coçou a ponta do nariz – Seu irmão me ajudou em muitas coisas. Gosto dele. Acho.

Judy sorriu e se aninhou no colo de Sheldon. Ele sentiu a pele esfriar em expectativa. O aroma que emanava daquela garota era inebriante. Queria se perder naqueles orbes esmeraldinos, tão brilhantes. Começou a deslizar as pontas dos dedos finos pelo ombro desnudo de Judy, fazendo ela suspirar.

Benjamim riu enquanto arrumava o quepe e dirigia de forma lenta. Jack tinha lhe dado praticamente um dossiê do casal (um tanto engraçado, na visão do chofer), com manias, preferências e gostos. Sabia que Sheldon não gostava de velocidade no transporte. E viu que estava dirigindo de forma que agradava seu cliente, já que o físico não estava reclamando. (Benjamim leu que, segundo o depoimento de um tal de Leonard, que Sheldon DETESTAVA que dirigissem rápido demais, e reclamaria tanto que faria o motorista querer rasgar a licença). Mas Benjamim desconfiou que Sheldon poderia estar num carro de rally e nem se importaria com velocidade ou sacolejos, contanto que a ruiva estivesse presente. De preferência, ao seu lado.

Benjamim também tinha abastecido a limusine com sucos de laranja e maçã, os preferidos de Judy. Além de doces, como alcaçuz e pudim de pote. O motorista tinha achado a garota uma fofura. Tão pequena e tão bonita, além de educada. Sentiu raiva ao ver o braço no gesso, imaginando se tinha sido uma queda ou alguém pudesse ter batido naquela bonequinha. Era isso que Judy era, uma bonequinha de porcelana, com gestos delicados e voz doce. Se imaginou amigo dela, já que ele tinha demonstrado um certo interesse curioso no irmão dela, logo queria atender as expectativas da garota e do irmão, e assim ganhar uns pontos com o ruivo de voz dominante.

─ OH! Eu gosto dessa música!! – Judy exclamou sorridente, enquanto o motorista aumentava o som de “Rain on Me”, de Lady Gaga e Ariana Grande. Ela começou a sacudir a cabeça e os ombros ao ritmo da música. Benjamim sorriu enquanto lutava para não entrar na sintonia da garota. Sheldon simplesmente admirava aquela pequena se balançando de forma simples, mas encantadora.

Sheldon percebeu que gostava de cada pormenor de Judy. O perfume do corpo dela, algo suave como torta de maçã. A textura da pele, delicada e macia. Muito macia. Aquela temperatura agradável, quentinha. O som de sua voz, suas risadas. Seus olhos. Como ficou deslumbrado com eles. Não só pela cor, mas pela vida que eles transmitiam. Toda a ferocidade e suavidade que aquela menina tinha transbordavam pelos olhos. Que olhar magnífico de se presenciar.

Os cabelos, tão leves ao toque. Tão cheirosos. Se permitiu aspirar o topo da cabeça ruiva, tomando todo o cuidado de não desmanchar uma só mecha de cabelo. Percebeu que todo aquele cuidado com a aparência que ela teve para essa noite era importante. E ele tinha gostado. Ele, que sempre se achou tão autossuficiente, tinha que admitir que a ajuda do irmão de sua adorada foi mais do que necessária e satisfatória. Sheldon adorou entregar o melhor dele logo de cara. Depois repensou: ainda não era o melhor dele que ele pode oferecer. Ele quer oferecer tudo. TUDO para essa garota.

─ Estou lhe machucando? – Ele questionou ao notar que a cicatriz perto da raiz capilar tinha sido disfarçada com band-aid. Ela soltou um muxoxo ao perceber para onde ele olhava:

─ Ah isso? Não doi tanto, sério. Você não me machucou! – Ela responde rápido ao notar o olhar assustado dele a palavra “doi” – Gosto quando mexe no meu cabelo e...

Ela se calou ao perceber como ele a encarava. Era um olhar penetrante. Ela corou novamente enquanto Sheldon deu um sorrisinho.

─ Seus óculos. Você os esqueceu.

─ Hã? Ah, não... O Fagulha comprou lentes de contato pra essa noite. Confesso que meus olhos lacrimejaram no começo, mas tô bem feliz de não estarem vermelhos.

─ Garanto que ainda assim, estaria linda. Falo com veemência.

Judy sorriu e o abraçou.

─ Qual o roteiro de hoje, Shelly? – Judy questionou num sorrisinho. Sheldon se sentiu mais confortável e relaxou na cadeira, puxando Judy de forma carinhosa para mais próximo dele.

─ Jantar, passeio pela cidade, observar o luar na praia... – Sheldon comentou como se contasse uma lista de compras. Judy riu.

─ Praia? Com terno e vestido? – Judy se surpreendeu. Sheldon deu de ombros.

─ Não gostou? São roupas nossas, não são alugadas. Se acontecer alguma avaria, não haverá danos... Mas se quiser, eu posso mudar o programa e... – Sheldon começou nervoso, mas Judy sorriu e o abraçou.

─ Não! Eu gostei bastante. De verdade. – Ela gargalhou – Está um clima ameno, vai ser divertido ver o luar na praia e...

Sheldon deu um selinho. Ele se controlou muito, muito. Mais do que ele imaginaria suportar. Mas ficar perto daquela garota sem querer beijá-la era impossível. Judy sorriu.

─ E... E pode me beijar mais, se quiser... – Ela disse de forma boba, num suspiro. Sheldon riu.

─ Desculpe, eu... Não consegui esperar mais. Fiquei nervoso com a suspeita de você não ter gostado da programação. Afinal, eu não tenho muito material de apoio para embasamento nessa área no meu círculo de amigos. Não teria como perguntar como é um encontro para o Leonard, ele riria de mim. Ou para o Howard, ele seria obsceno.

─ E para o seu amigo baixinho? – Judy indagou com curiosidade. Ela achara Raj sofisticado até. Sheldon soltou um suspiro bravo.

─ Raj? Negativo. Não quero conselhos dele sobre você. Não quero ele pensando em você. Hunf!

Judy fez uma careta de confusão. Não entendia o motivo da súbita raiva do parceiro.

─ Então, eu fiz o que qualquer pessoa em minha bucólica situação faria – Sheldon continuou solene – Pesquisei “romance” no Google e vi as opções mais válidas para um primeiro encontro.

Judy arregalou os olhos e corou. Uma vez ela tinha pesquisado isso, nos seus tempos de faculdade, para caso algum garoto fosse convidá-la ao baile (coisa que nunca aconteceu. Ela soube que garotas da banda não são chamadas para sair) e a sua pesquisa deu numa cama com pétalas de rosas, com lençóis de seda carmim, regado a vinho. Ela olhou para Sheldon, sem saber se a pesquisa dele tinha dado a mesma coisa. Resolveu procurar algo para beber e achou um suco de laranja. Ela estranhou, mas resolveu beber.

─ Acho que uma taça de vinho seria bem-vinda agora, não? Ou prefere durante o jantar? – Sheldon perguntou inocente, fazendo Judy engasgar com o suco de laranja.

─ Perdão, Sr. Cooper. Mas a pequena dama não pode beber nada alcoolico. Ordens do patrão Winters. – Benjamim revelou subitamente, fazendo Sheldon se sobressaltar. O físico tinha esquecido do motorista.

─ Mas pesquisei que vinhos são ótimas combinações com massas e...

─ Hã... Shelly, o fagulha tem razão nisso – Judy começou e mostrou o gesso quando uma expressão de questionamento surgiu no Cooper – Estou tomando antibióticos e anti-inflamatórios por conta da fratura, esqueceu? Não posso beber álcool.

─ Oh! E agora?? – Sheldon se preocupou, mas Judy sorriu.

─ Suco de uva, oras. Senhor motorista, desculpe... Não sei seu nome... – Judy perguntou.

─ Benjamim. Às ordens – O motorista inclinou a cabeça levemente, olhando Judy pelo retrovisor.

─ Sr. Benjamim, prazer! É... Conhecendo meu irmão como ele é... Ele lhe deu QUAIS ordens?

Benjamim empalideceu, o que era incrível um homem daquele porte começar a suar com o questionamento da pequena. Sheldon sorriu ao ver aquela determinação. A mesma determinação que ela teve na loja de quadrinhos.

─ S-S-Só sobre bebidas alcoolicas...

No dossiê estava: “Judy é extremamente assertiva quando quer. NÃO SE DEIXE ENGANAR POR AQUELE ROSTO BONITINHO. Ela é má quando quer. Sabe tirar informações de jeitos extremamente rápidos, ela é sagaz”. E Benjamim descobriu que era verdade ao observar aquele olhar fixo, com a sobrancelha ruiva arqueada. Um semblante que demonstrava astúcia. Ele suspirou ao imaginar o “patrão Winters” com aquele olhar. Ele respirou fundo e disse a frase mágica (macete dado pelo irmão da pequena inquisidora):

─ Temos pudins de pote e...

─ PUDIM DE POTE?! CADÊ? – Judy sorriu aberto, procurando no frigobar do veículo. Sheldon sorriu também ao ver a expressão de alívio no rosto do motorista.

─ Olha! É de chocolate! Abre pra mim, por favor? – Judy pediu num sorriso doce, fazendo Sheldon esquecer de ralhar sobre sobremesa antes do jantar. A ruiva teve o maior cuidado para comer o pudim sem se sujar. Sheldon só observava, decorando cada detalhe daquela mulher.

Ela era tão bonita, no seu jeito simples e autêntico. Transparente. Ela não tinha travas e continuava desse jeito, mesmo passando por aquilo. Lembrar da revelação fez as entranhas de Sheldon ferverem de ódio. Como alguém pôde machucá-la...?

─ Estava muito bom e... – Judy tinha acabado de jogar a embalagem no lixeiro quando sentiu as mãos grandes de Sheldon lhe segurarem pelos ombros.

─ Vou lhe proteger de tudo, Judy. Você é especial demais para sofrer...

Judy o encarou atônita. E sorriu com aquela demonstração de carinho. Sheldon lhe beijou no rosto, sussurrando em seu ouvido:

─ Sonhei com você algumas vezes. Eu...

Ele a encarou, limpando o canto do lábio dela que continha um pingo de chocolate.

─ Necessito de você. Do seu toque, da sua voz... Nos meus sonhos você aparece de uma forma tão... Tão... Ó céus, morro de vergonha de lembrar, mas não consigo parar. Eu não quero parar. Sonhar com você é maravilhoso, porém... Ter você aqui, assim... Ao alcance do meu toque...

─ Oh Sheldon... – Ela tremeu ao senti-lo se aproximar de seu ouvido novamente, praticamente rosnando em seu lóbulo:

— Necessito lhe beijar. Posso? – Ele pediu, enquanto mordiscava a orelha da garota, com certa força. “Droga de brincos!”, ela pensou.

─ C-Cl-Claro... Eu... ah...

Benjamim se assustou quando viu pelo retrovisor o físico descendo os lábios pelo pescoço da garota. O motorista levantou o visor de vidro negro, que separa ele do casal. ** Meu Deus, quando foi que saiu do 0 aos 100km em três segundos? ** Benjamim pensou. Sheldon ouviu o leve ruído, que indicava o vidro subindo e sorriu.

─ Sh-Shel... Ah, carambola... – Judy tentava argumentar sobre aquela exposição, mas a lucidez estava indo embora enquanto sentia aqueles lábios quentes pelo seu pescoço, além da mão grande segurar a parte detrás da sua nuca e a outra deslizando pelo seu ombro, lhe fazendo arrepiar.

Ele resolveu olhar sua garota. Ele suspirou com o pensamento. SUA. Judy era sua, assim como ele era dela. Era tão óbvio quanto 2+2=4. Tão fascinante quanto física quântica. Tão belo quanto o nascer do sol. Ela o olhou de volta, com um olhar tímido, mas provocante. Aquele rostinho corado, aqueles lábios molhados. Ele se revoltou com aquele batom rosado. Queria tirá-lo aos beijos, em mordidas naquela boca carnuda. Ele resolveu beijá-la. De forma leve no começo, segurando-a pelos braços. Foi baixando a luva, querendo sentir aquela pele. Judy aprofundou o beijo e isso fez Sheldon sair do rumo, segurando a cabeça pequena da mulher de forma urgente. Parecia que ela desapareceria se ele não a beijasse da forma mais selvagem que pudesse.

Sua língua ia fundo, explorando cada centímetro daquela boca úmida e quente. Como adorou sentir o gosto do chocolate naquele beijo, neutralizando o ardor do enxaguante bucal dela (jogaria fora na próxima vez que fosse a casa dela). E a leve acidez do suco de laranja. Doce. Doce como ela. Ela suspirou quando ele saiu do beijo, ofegante. Ele voltou a segurar a nuca da ruiva, respirando rápido. Encostou a testa na dela, com cuidado para não tocar no machucado.

─ Céus Judy... Como você...

Sheldon segurou-a com mais veemência, apertando a cintura fina. Judy ofegou. O cetim do vestido fazia a mão do Cooper deslizar. Os olhos azuis se abriram e recaíram no pequeno decote da garota. O colo dela era tão lindo, tão puro. Ele foi tomado por um instinto estranho e lambeu toda a extensão do pescoço da menina, fazendo ela gemer.

─ Minha...

Judy arregalou os olhos novamente. Observou seu amado. E lá estava aquela faceta, sem álcool. Aquele Sheldon lascivo, só dela. Somente dela.

─ Sua...

Ele precisava de um anel. Agora tinha certeza. Não que a amasse, era ilógico amá-la com pouco tempo. Mas era nítido que tinha se apaixonado por Judy. Queria-a. E precisava mostrar ao mundo que ambos eram um do outro. E um anel era um símbolo mais do que suficiente. Mas para isso, precisava firmar compromisso. E compromisso requer sentimento. Ele tinha paixão. Era suficiente.

Paixão caminha para amor. E ele desejava isso em seu íntimo. Amor. Com essa mulher à sua frente.

Os dois ouviram batidinhas no vidro do chofer. Se arrumaram em alguns segundos. Judy pediu auxílio para a luva. Benjamim sentiu que era seguro baixar o vidro e riu sem graça.

─ D-Desculpe a intromissão, mas... Chegamos ao Old Town, a Trattoria está à espera do casal.

Judy deu sua risada nervosa, roncando um pouco pelo nariz, que fez Sheldon rir. Ela tinha ficado cabisbaixa de vergonha, mas o físico logo a fez levantar o rosto, olhando para ele.

─ Nunca mais se envergonhe de quem você é. Adoro seus trejeitos. Vamos?

Judy sorriu, muito vermelha. Benjamim saiu do veículo, abrindo a porta para o casal. Sheldon saiu primeiro, arrumando e alisando a calça bege (já tinha se acostumado com as reações de seu baixo ventre perto de Judy. Então já não ficava surpreso. Até conseguia disfarçar), e deu o braço para sua dama.

Judy quis chorar. Era tudo tão bonito. O prédio histórico com arquitetura do século XVII, as luzes sóbrias, as conversas e a música. O barulho típico da Itália. Esse calor humano e esse clima festivo lembrava seu pai. Isso lhe fez soltar uma lágrima saudosa.

─ Você está bem? É o seu braço? – Sheldon perguntou nervoso. Ela negou.

─ Estou mais do que bem. Estou feliz. Obrigada, Shelly – Ela se aninhou no braço longo do querido enigma de olhos azuis ao seu lado. Ele coçou o nariz, envergonhado.

─ Vou lhe dar a noite mais incrível da sua vida, Judy. Tudo o que você quiser...

Ela sorriu novamente. Benjamim disse que esperaria na esquina, que avisassem no BIP quando saíssem do restaurante, que viria buscá-los. O casal entrou no restaurante, decorado com lírios brancos. O lugar era modesto, mas de certa forma requintado. Shledon suspirou aliviado ao ver aqueles olhinhos verdes passeando freneticamente por cada canto, com um sorriso enorme. Ele tinha escolhido a dedo aquele lugar, não teria toda aquela pressão de um restaurante cinco estrelas (fora que não teria como ele fazer uma reserva para algum na mesma noite), então a Trattoria tinha sido perfeita.

Um homem muito baixo e gordo, ostentando um belo bigode, usando uma camisa de flanela vermelha e calças azuis e com ar bonachão veio recepcionar o casal. Sheldon se prontificou:

─ Buonanotte! Ho fatto una prenotazione per due a nome mio. Cooper. Sheldon Cooper.

Judy se admirou com o italiano fluido do parceiro. Quase sem sotaque. O homenzarrão riu, deu uma tapa nas costas de Sheldon (o que fez o físico dar um tropeço para frente) e falou alto:

─ Hohoho! Buonanotte, bella coppia! Sua mesa já está pronta, hã? Venham, bem-vindos a Trattoria dos Russo! – O senhor os levou até uma mesa perto da janela – Io sono Mario Russo. Muito feliz em conhecê-los, hã? – Mario apertava avidamente a mão de Sheldon, fazendo Judy rir.

─ Boa noite, signor Mario! Eu tenho uma pergunta: qui devi ordinare TUTTO in italiano? Non parlo molto... – Judy perguntou ao senhor sorridente, arriscando num italiano apressadinho, se ali deviam fazer os pedidos todos em italiano. O homem riu.

─ No, cara signora! Aqui podem pedir em sua língua materna que entenderemos e traremos os melhores pratos da mãe Itália! Mas tu parlas molto buono – Mario deu mais uma risada.

─ Ai, que bom! Não saberia pedir nem uma água direito! – Judy deu uma risadinha.

— Pois eu acho que você falou muito bem, coelhinha! – Sheldon comentou, fazendo Judy corar violentamente. Mario pigarreou:

─ Io posso trazer a carta de vinhos?

─ Não, obrigado. A dama não pode beber por conta do braço – Sheldon explicou. Mario deu um muxoxo de compaixão.

─ Então vou trazer o melhor suco de uva que tivermos na adega, hã? Enquanto o casal escolhe o antipasto, si? – Mario entrou para cozinha, deixando o casal rindo. Judy tinha adorado o lugar.

─ Aqui tem bastante gente! Não está incomodado? – Judy perguntou tocando a mão de Sheldon sob a mesa. Ele negou.

─ Estou me sentindo muitíssimo bem! Estou com a melhor companhia que existe!

Judy cora, bebericando uma taça com água que um garçom comprido havia deixado à mesa.

─ É engraçado, você teve um colapso quando fomos ao shopping, no nosso primeiro “encontro” – Judy comenta numa risada. Sheldon infla as bochechas.

─ Culpa sua, sabia disso? – Sheldon confessa numa careta de ofendido, Judy fica confusa.

─ Minha culpa? Como assim?

─ Claro, seu sorriso me dava tremeliques, me fazia suar frio. Eu tive uma crise nervosa, igual quando eu fui à sua casa, como expliquei no dia em que o lamentável episódio aconteceu...

─ Quando cantei “gatinho macio”? É uma música bonitinha! – Judy sorriu – E você nem me deu sua aula sobre suas práticas sociais, lembra?

─ Ainda com medo sobre os “strikes”, ah coelhinha... – Sheldon acaricia as pequenas mãos da garota, como se mexesse em algo muito precioso – Nem se você quebrasse meu Nintendo 64 eu iria me afastar... – Judy sorriu, agradecida.

─ Eu agradeço por ter ido aquele dia à loja de quadrinhos. Mesmo sendo ali o lugar em que Stuart trabalha... E o jeito em que você me desafiou. Talvez isso tenha me feito gostar de você. Mesmo que no começo eu tenha tentado negar... – Sheldon comenta enquanto o senhor gorducho se aproxima:

─ Buono!!! Aqui estão o antipasti: caponata de berinjela e pesto alla Siciliana! Manja, manja!! – Mario surge com várias travessas pequenas contendo fatias de torrada, berinjelas junto com um refogado de tomate, pimentão, alho e cebola em azeite, temperada com alcaparra e um molho de tomates com alho, parmesão, castanhas, pinolis, manjericão e azeite extravirgem, servido como patê. Judy saliva em expectativa.

─ Obrigada! Parece estar delicioso, Signore Mario! – Judy agradece sorrindo, já pegando uma torrada e se servindo de patê. Sheldon agradece também.

─ Já trago o suco, rapidinho! – Mario gargalha e sai. Sheldon se serve das berinjelas.

─ Confesso que eu me irritei no começo, sua prepotência para com o quadrinho me deixou brava! Carambola, eu tinha comprado antes! – Judy aponta a torradinha para o parceiro, fingindo braveza. Sheldon sorri – Mas depois, ao olhar em seus olhos... Não sei lhe dizer direito, mas tive uma sensação de que já conhecia você... – Ela deu uma mordidinha novamente na torrada.

─ Aqui, suquinho de uva bem gelado para o belo casal! – Uma senhora loira aparece à mesa trazendo uma garrafa de vidro e serve os dois. Eles agradecem e bebem um pouco. Judy continua:

─ Falando nessa minha impressão... Preciso perguntar uma coisa, porque depois de lhe conhecer e tudo o que está acontecendo entre nós... Você passou a infância em Galveston, não é Shelly?

─ Sim, morei. Minha mãe mora lá, ainda. Eu adoraria lhe levar lá no futuro...

Judy fica vermelha, mas continua:

─ E entre quarks e neutrinos... O que você prefere? – Judy pergunta o encarando. Ela tinha uma intuição forte, mas precisava confirmar antes de bancar a maluca.

─ Neutrinos, oras! Mas por qu... – Sheldon começaria a resmungar, até ter um estalo de memória e olhar assustado para a companheira:

─ A MENININHA RUIVA! É VOCÊ?!

Judy fica vermelha com o rompante do físico, mas confirma. Ela começou a rir, para dispersar os olhares curiosos dos mais próximos por conta do grito de Sheldon.

─ Hihihi, sim... Eu sou a menininha ruiva, neta da Sra. Sol Winters... E eu ainda tenho o bichinho que me deu... – Ela toca os indicadores dos dedos nas mãos juntas sob a mesa, num sorriso sem graça.

─ Oh céus, é mesmo. A Sra. Winters... Céus, céus... Você... – Sheldon estava aturdido demais com a nova descoberta. Seu coração sentiu um calor diferente. Ele imaginava por onde aquela menininha ruiva, tão amável, estaria.

E ela estava ali, à sua frente. Mais linda ainda, mais amável ainda. Seu sorriso tão caloroso quanto no dia em que lhe deu o coelhinho de pelúcia, como agradecimento por ela lhe proteger de uma briga. Como era o nome do coelho...?

─ O Seu Cenourinha! Você o perdeu no dia... da briga! – Sheldon sorriu ao se lembrar de tudo – Eu lembro agora que, no dia em que você foi embora, eu tinha separado minha gravata borboleta favorita para dar...

─ Ao nosso coelhinho, sim... – Judy confirma, com uma lágrima querendo surgir.

─ E você também tinha um curativo na testa quando lhe dei o presente. Que coincidência! – Sheldon sorri.

─ Meu Deus, verdade! – Judy riu e tocou de leve no band-aid.

─ Por que não voltaram no verão? – Sheldon indagou agora afoito. Sua infância teria mudado tanto. Seria melhor, ele tinha gostado tanto da menininha ruiva. Mas logo ele se calou. Ele se arrependeu de perguntar, porque agora ele lembrara o motivo:

─ A vovó passou mal e trouxemos ela pra Nova Jersey... – Judy olhou para as mãos – Ela faleceu seis meses depois. O papai vendeu a casa da vovó Sol.

Sheldon se calou. Com Judy falando, sua memória saiu do torpor... Ele tinha chorado em seu quarto quando viu a placa de “vendido” na casinha da sua amiga. Sua mãe não tinha permitido que ele pegasse os livros de Solange, os quais que ele gostava tanto de ler.

─ Perdão, eu... – Ele começa acabrunhado, mas Judy sorri.

─ Tudo bem, a vovó adoraria saber que nos encontramos novamente...

Sheldon beijou a mão alva da garota, fazendo ela corar.

─ Era você o tempo todo... Desde sempre – Sheldon estava bobo, olhando Judy corada.

Por isso ele tinha se rendido tão rápido e tão fácil, ele JÁ conhecia Judy. Por isso tinha reconhecido a autoridade de Jane, já conhecia ela. A garota quark! E agora... A mesma garota que tinha lhe dado tanta paz naqueles dias em Galvestone, era a mulher a sua frente, lhe tirando a mesma paz, mas de forma deliciosa. Ele suspirou, resignado.

Apaixonado.

Desde aquele tempo, ele tinha aquele sentimento pela garota. E ele ainda estava processando isso.

─ E eu não tinha sentindo nenhuma sensação de conforto, de segurança aqui em Pasadena, desde que me mudei para cá. E vendo você, e eu estava tão sozinha... Tão triste. Queria amizades... – Judy queria se justificar, mas não entendia o motivo. Ela não tinha nada para justificar. Afinal, ela tinha sido atacada por seu ex-chefe em seu antigo trabalho, mas isso não a impediria de tentar encontrar amizades, não?

─ Eu compreendo. Foi o que me levou a você na infância. Essa... conexão.

─ Sim. Estávamos ligados, aparentemente... – Judy confirma, solene.

O casal se olhou e sorriu. Aquela sensação era adorável. Relembrar como começou, o motivo de se unirem. Era deliciosa a descoberta. Sheldon queria beijá-la, mas a distância não permitia. Judy apertou a mão do físico.

─ Acho que devemos pedir os pratos, estou com fome! – Judy riu sem graça após seu estômago roncar alto, fazendo Sheldon se assustar.

─ Certamente, já viu o que gostaria de comer?

─ Hum... Isso é difícil, afinal a culinária italiana é tããão variada! – Judy ri ao pensar no que escolheria – Mas acho que eu gostaria de uma lasanha, já que seria imperdoável eu pedir uma bisteca fiorentina sem poder beber um Chianti para acompanhar, não é?

─ Ah, então minha adorável companhia gosta de carnes? – Sheldon tentou provocar. Ele achava que Judy, por sua aparência pequena e delicada, seria mais ligada à saladas e afins. Judy sorriu.

─ Ah sim, gosto muuuito de churrasco. Uma vez fui à Argentina e nossa! Que carnes suculentas! – Ela fica com uma feição de adoração no rosto miúdo, fazendo Sheldon rir.

─ Certo, então ficarei com o Cacio e Pepe e... – Sheldon começaria a explicar o prato, que é composto de massa, queijo pecorino e pimenta do reino preta, quando viu Judy balançar a cabeça, de forma negativa:

─ Não, por favor! Tem pimenta e eu não gosto de pimenta!

─ Mas não é você quem vai comer e... – Sheldon resmungou até ver Judy fazer uma careta brava.

─ Ué, contudo eu pretendo beijá-lo ainda, esta noite. Sabia? E não quero pimenta na sua boca!

─ Aaaah, hahaha! Agora sim, você teve argumentos convincentes, minha cara! – Sheldon riu enquanto Judy o encarava ainda brava – Ok, o que sugere, então?

─ Depende, posso ter um pedacinho do que eu escolher? – Ela barganha fazendo bico. Sheldon concordou.

─ Acho bom escolher certo, porque vou querer muitos beijos depois!

Judy corou, riu e assentiu. Pôs o dedo no queixo enquanto lia o cardápio. Sorriu, apontando para a foto:

─ Gnocchi de ricota e espinafre!

─ Mas espinafre é amargo, lembra? – Sheldon riu e Judy se assustou, ela tinha esquecido.

─ Oh céus, carambola! Tá certo, tá certo... Humm... Tá! Continuamos com as massas, então! Fettuccine com molho marzano, que tal?

─ Esplêndido! E para sobremesas?

─ Tiramisu e cannoli, óbvio! – Judy comenta olhando para cima, como se a pergunta do parceiro fosse algo absurdo de simplório. Sheldon concordou, solene.

─ Quando estivermos na sua casa, eu escolho os pratos... Calma, gostei de suas escolhas! – Sheldon se explica ao ver o semblante da garota murchar – É que eu também quero demonstrar tanta confiança em culinária como você!

─ Quando meu braço curar, podemos fazer um curso de culinária! Tem doces, tem salgados...

O casal fez os pedidos e estavam tão absortos na conversa que nem perceberam o senhor Mario realizando altos convivas para um trio formado por um ruivo, um negro alto e uma loira. Que logo foi silenciado pela encarada raivosa e silenciosa de Jane.

─ Certo Benjamin, vai dando o relatório. O louva-a-Deus humano tentou alguma graça com a minha irmã? – Jane interrogou o motorista assim que eles conseguiram uma mesa no canto oposto. Benjamin arrumou uma mecha de dread que caiu fora do coque:

─ N-Não! – O motorista suou frio com aquela voz gélida. Ele jamais falaria do amasso que quase viu. Era muita intromissão daquela mulher. Ele mesmo nem entendia como estava ali naquele restaurante. Só lembrava que estava do lado de fora da limusine, quando sentiu mãos fortes o agarrarem pelo braço e ser puxado em direção ao restaurante.

E ele começaria uma luta com o raptor, se não tivesse visto os olhos azuis escuros e o sorriso digno de derreter sorvete de tão caloroso. Jack o puxava numa risada, enquanto a mulher loira ia atrás, atenta:

─ Ois Ben, tá com fome?

Benjamin corou e concordou. Mesmo se tivesse acabado de comer, não negaria nada para aquele cara. Jack sorriu de novo e andou de braços dados com o motorista, que ficou mais aturdido ainda. E agora ele estava ali, sentado entre a irmã loira maluca e o ruivo gracinha, vendo torradinhas recheadas e bebendo água.

─ Sei que falamos tudo por telefone, e não estou duvidando de sua capacidade, querido – Jack piscou para Benjamin, que corou e afirmou com a cabeça – É que aquela ruivinha é especial pra gente e tá tendo seu primeiro encontro. Eu vim porque queria MUITO ver um romancinho água com açúcar hoje. E essa maluca veio porque quer vigiar.

─ Já disse que...

─ Blá,blá,blá, já sei! “Proteger a faísca”. Não permitirei que estrague a noite dela! Ben e eu seremos firmes nisso, né Benzinho?

 O motorista engasgou ao sentir Jack piscar para ele, enquanto tocava em sua mão. Benjamin também queria ver um romance hoje, e não era de Judy e Sheldon.

─ Estamos longe demais, não dá pra escutar nada! – Jane reclama. Jack solta um muxoxo de impaciência:

─ Quando ele vai pedir ela em namoro?

─ Namoro? Tá maluco? – Jane retruca, furiosa. Jack dá de ombros:

─ Ben, pedi água pra gente, mas se quiser um suco, pode escolher! Só não pode beber, tá dirigindo!

─ Jack, não sei porque permiti esse encontro. E se isso não der certo entre eles? – Jane deixou escapar, um tanto nervosa. Jack sorriu. Gostava desse cuidado da irmã, quando ela deixava transparecer.

─ Jane, olha pra eles! – Jack aponta discretamente e os três veem o casal se admirando, num sorriso que acalentava o coração. Era algo bonito. Fofo. Puro.

─ Eu... Só não quero que ela se decepcione, ainda mais descobrindo o que aconteceu... – Jane fecha os olhos, tentando controlar uma lágrima teimosa – Não confio totalmente no Sheldon. E tem a mamãe e...

─ Não começa! Tem a mamãe porque você foi bocuda de falar do acidente da faísca! – Jack se enfurece e Benjamin se controlou para não suspirar – Eu confio no Sheldon e você também daria um voto de confiança, se permitisse se aproximar dele.

Jane olha o casal novamente, vendo Sheldon aproximar a cadeira para perto de Judy, não se importando com a falta de etiqueta. Ela ria de alguma coisa. Jane suspirou.

─ Eu falhei com ela. Me sinto uma merda... – Jane bebeu uma taça de vinho – Sinto que falhei com papai também.

─ Ei, nada a ver! Papai estaria orgulhoso de você cuidar da gente, mesmo sendo neurótica! Ele só falaria pra pegar mais leve. A Faísca sabe se virar. Vamos cuidar dela DE LONGE, e permitir um pouco de felicidade pra nossa nanica, sim?

Jane sorriu cansada, mas concordou. Judy merecia aquilo e se ela tinha se apaixonado por aquele cara comprido e esquisito, Jane ajudaria no que pudesse. Mesmo contrafeita.

─ Certo, vamos vigiar de longe... – Jane começou, arrancando um sorriso aberto de Jack – Mas se aquele caniço tentar algo, vou usar as algemas, entendeu? – Jane termina enérgica, fazendo Jack balançar a cabeça negativamente, descrente que ela não mudaria – Enfim... Querem espaguetti à carbonara?

 


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