If I Die Tomorrow escrita por Tcrah


Capítulo 14
Só ficarei com você por mais uma noite




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Olhei para os lados e levantei, cambaleando. Estive tantas vezes em tantos hospitais que já tratava os médicos com certa intimidade. Dênis veio ao meu encontro, forçando para que eu sentasse.

_ O que aconteceu? Por que eu estou com dor de cabeça? – Tentei lembrar de tudo o que aconteceu horas antes, mas minha cabeça doía tanto que parecia que meu crânio se partiria ao meio. – Cadê a Renata? Ela estava caindo, e... E eu... Eu tentei pegá-la, mas algo... Eu só lembro-me de ter caído. Eu caí? – Dênis balançou a cabeça negativamente.

_ Você escorregou, por causa da correria. Os médicos disseram que, bom, ao ver o sangue de Renata pelo chão, sua pressão caiu. Com toda a correria, esbarraram em você. Mark te pegou antes que caísse no chão. A mãe de Renata gritava com seu corpo inconsciente, dizendo que devia ser você na maca e não a filha dela, hm... Bom, Mark disse... Quer dizer, insinuou que ela devia voltar pra casa do, hm, caralho (?). – Ri de nervoso, pensando se dava tempo de eu matar o Mark antes da mãe da Renata me matar.

_ E cadê a Renata?

_ Ela está numa cirurgia.

_ O que aconteceu? Por que todos estavam gritando? O que houve naquele banheiro?

_ A mulher que gritou disse que os médicos que estavam tomando conta do banheiro saíram e pediram para ela ficar de olho. Renata não pensou duas vezes, viu que não teria qualquer outra oportunidade e aproveitou para... Enfim, a mulher disse que viu sangue saindo por debaixo da cabine e berrou. Foi achado um... Um bilhete pra você. E para mãe dela. Um pro Mark também, e um para mim, mas nós ainda não temos permissão de lê-los.

_ Por quê?

_ Bom, ela deixou bem claro que nós só poderíamos ler depois que ela já estivesse... Morta.

_ Eu.Quero.Todos.Os.Bilhetes. – Sibilei. – Onde estão? Quero ler todos.

_ Eu posso te entregar o seu, e permito que leia o meu, mas definitivamente não posso dar os outros. E mesmo assim, estaríamos indo contra as vontades dela.

_ Você sabia? Ela te deu os bilhetes antes de morrer. Você sabia que ela se mataria esta noite e não me avisou! Dênis, eu achei que...

_ Escuta, eu não sabia de nada. Ela só me entregou os bilhetes num envelope e correu para o banheiro. Disse que dentro dos bilhetes tinham umas regras e que eu deveria segui-los ao pé da letra, e que se eu não seguisse, seria considerado um desrespeito à decisão dela. Eu não entendi muito bem, mas não abri o envelope. Depois que tudo aconteceu, eu te trouxe ao hospital, com ajuda de Jordan. Mark achou melhor acompanhar seus sogros ao hotel. Ele me ligou minutos antes de você acordar, dizendo que eles estavam uma fera. Juraram que processariam vocês dois e disseram que você estava acabando com a vida da filha deles. Disseram algo sobre... É... – Ele hesitou.

_ O que eles disseram?

_ Antes de Renata morrer, ela falou com a mãe. Estava chorando. Disse que não aguentaria mais nem um dia, tendo que dividir você com o Mark. – Ele olhou para os lados, meio que com medo de Renata aparecer do nada, mesmo sabendo que isso não aconteceria. – Eu não devia estar te falando isso. – Ele suspirou. – Mark me pediu para não contar.

“Você sabe que Renata tem alguns, hm, problemas. Ela precisa de 100% de atenção, e precisa se sentir amada. Ela já se sentia dividida, achando que te perderia a qualquer instante para o Mark, e agora teria que te dividir com mais três filhos, três bebês, que tomariam toda a sua atenção. Ela não suportaria Thamires. Você sabia que uma hora ou outra, esse momento chegaria. O momento em que ela... Desistiria.” Dênis se sentou, exausto. “Eu queria poder ajudar.”

_ Ela não desistiu! – Explodi. Percebi que estava tremendo de raiva. – Ela vai ficar bem, por que ninguém acredita nisso? Eu nunca a deixaria de lado, NUNCA! Ela não desistiu. Ela só passou um pouco mal, só isso.

_ Thamires, você sabe que não é só isso.

_ É SÓ ISSO SIM! – Meus olhos embaçaram, estava chorando. – ME DÊ AS CARTAS. PRECISO LÊ-LAS.

_ Você precisa se acalmar! – Disse Dênis, levantando-se e aumentando o tom da voz. – Você acha que eu queria isso? Eu não quero. E se eu te entregar as cartas, estarei desonrando a memória de Renata.

_ EU SOU A ESPOSA DELA, EU SOU A ÚNICA QUE CUIDEI E ME IMPORTEI COM ELA POR TANTOS ANOS. EU ESTOU CARREGANDO TRÊS FILHOS DE RENATA, EU SOU O MAIS PRÓXIMO QUE ELA TEM DE AMOR! – Deixei me jogar na cadeira, chorando. Dênis segurou uma das minhas mãos.

_ Você não devia se estressar assim. – Sussurrou. – Não faz bem para os bebês.

_ Eu sou médica. – Sibilei. – Tenho direito de entrar para fiscalizar.

_ Você não trabalha neste hospital. E mesmo que trabalhasse não poderia, pois está envolvida demais com a paciente.

_ Me leve para galeria então. Eu tenho direito, como médica, de observar a cirurgia. Onde fica a galeria?

_ Tudo bem... – Respondeu, cansado. – Tudo bem, vamos.

Estava um pouco mais aliviada, mas muito ansiosa. Subimos até a galeria e nos juntamos à meia dúzia de outros médicos, que faziam anotações.

_ Com licença. – Disse Dênis, sentando-se e guardando lugar para mim.

Me levantei e encostei as costas da mão no vidro, como se estivesse assistindo um jogo de futebol, torcendo pela vida da minha esposa.

Algumas horas depois, não suportava mais ficar em pé. Alguns médicos vieram falar comigo, perguntando se eu precisava de ajuda, mas apenas me ajoelhei e sussurrei, cantando “Eu morri todos os dias esperando você. Amor, não tenha medo, eu te amei por mil anos. E te amarei por mais mil anos. E o tempo todo eu acreditei que te encontraria. O tempo trouxe o seu coração para mim. Eu te amei por mil anos, eu vou te amar por mais mil”. Assim que terminei de cantar, ouvi o que tanto temia. O “piii...”. Levantei exaltada, Dênis apareceu atrás de mim, segurando meus braços.

_ Não, não, não! – Gritei.

Um dos médicos, que estava na galeria desde que cheguei, levantou, pulou para o interfone e disse:

_ Não deixe esta menina morrer. Faça o que for preciso. Dê seus órgãos para ela, se preciso. – Percebi que o médico era o doutor Maglik e senti uma onda de alívio que me fez cambalear. – Doutor Dênis, tire Thamires da galeria, leve-a para a sala de espera. Vou descer para ajudar.

 Agora estava tudo bem. Maglik não deixaria Renata morrer, nem que desse sua vida pela dela. Voltei para a sala de espera, abraçada com Dênis. Percebi que as manchas de sangue do meu vestido haviam secado.

_ Dorme um pouco. Ela está em boas mãos. – Disse Dênis.

_ Ela teve uma parada. – Sussurrei. Meus olhos pesados de sono. Eu devia estar nervosa por causa da parada cardíaca que ela teve, mas estava num estado de êxtase ao ver um médico do qual gosto e confio, e acabei lembrando que também sou humana. Sinto fome, sede, sono. E, naquele momento, tudo isso estava me dominando. O medo e a angustia foram embora, fui tomada por uma onda tão profunda de sono, que me deixei levar. Contra minha vontade, dormi.

Acordei horas depois, mas Dênis não estava mais ao meu lado. Em seu lugar, estava Sadie, amante de Renata, chorando.

_ O que houve? Cadê o Dênis? – Bocejei. Percebi que ela estava chorando, então me recompus.

_ Ele... Ele... Ele foi c-c-c-omer. – Ela soluçou.

_ Está tudo bem com a Renata?

_ Eu n-n-n-não sei.

Olhei para Sadie, imaginando que ela estava tirando uma com a minha cara.

_ Por que você está chorando? – Tentei soar como se me importasse

_ Eu não pu-d-d-d-e ir à fe-festa, e me conta-ta-taram que Renata tinha se machucado. – Disse ela, os olhos roxos e inchados. – Estou tã-tã-tã-tão preocupada, minha prince-e-e-e-sa.

_ Você está brincando, né? – Ri desdenhosa. – Sua princesa? Você a conheceu quando? Ontem? Vai se tratar! – Explodi. Ela me olhou, como se não entendesse. – Não se faça de sonsa! Eu conheço Renata desde sempre! EU AMO RENATA DESDE SEMPRE! EU ESTIVE COM ELA SEMPRE QUE ELA PRECISOU! E O QUE VOCÊ FEZ? CHUPOU O PESCOÇO DELA? TRANSOU COM ELA UMA OU DUAS VEZES? SE ENCHERGUE! VOCÊ NÃO DEVIA TER CORAGEM DE MOSTRAR A CARA POR AQUI, GAROTA. POR CAUSA DE VOCÊ, EU E RENATA QUASE TERMINAMOS. E VOCÊ TEM CORAGEM DE VIR AQUI?! EU AMO RENATA. A RENATA É MINHA PRINCESA, É A MINHA VIDA. E VOCÊ... VOCÊ É SÓ... Você é só uma distração.

_ Senhora, por favor, contenha-se, estamos num hospital. – Disse uma enfermeira.

_ Sim. Estamos num hospital. E até onde eu sei, eu PASSEI a vida num hospital. Em VÁRIOS hospitais. Eu passei a vida ao lado de Renata, e não esta... Coisa. Só porque você está chorando? Não me comove. Renata nunca te amou.

_ Eu sei d-d-d-isso. – Respondeu, tremendo. – Renata nunca me amou. Ela sempre falou d-d-d-d-e você, falava tão b-b-b-bem. – Ela limpou as lágrimas com o casaco. – Eu e Renata éramos amigas, ok? Nós nos gostamos, respeitamos, eu tenho todo o direito de...

_ VOCÊS O QUE? – Ri de nervoso. – VOCÊ ESTÁ BRINCANDO, NÉ? OU VOCÊ ACHA MESMO QUE EU ACREDITO QUE, EM UMA SEMANA, VOCÊ CONSEGUE AMAR RENATA TANTO OU MAIS DO QUE EU AMEI A VIDA TODA? ACHA VADIA, ACHA?

_ Senhora, se continuar gritando, será forçada a se retirar.

_ Você precisa me escutar. – Sussurrou Sadie. – Eu sei que Renata te ama, e ela não conseguiria viver sem você. Eu vim aqui para te ver, não para ver Renata. Eu estou chorando, mas eu não queria ter vindo. Eu vim porque ela me pediu. Eu vim porque eu sabia que Renata se mataria esta noite. Renata não queria que eu fosse à festa para não te avisar, mas eu consegui convencê-la de que não faria nada. Eu tentei impedir. Eu estou chorando, porque a morte dela é culpa minha. Eu era a única que podia fazer alguma coisa, mas cheguei tarde demais.

_ Mas... – Tentei assimilar todas aquelas informações. – O QUE?

_ Ela me falou – Sadie me interrompeu, antes que pudesse voltar a gritar. – Que você estaria desolada, e que gostaria de ouvir palavras de conforto. Disse também que Mark, Jordan, Dênis, Maglik, tentariam te consolar, mas que ninguém é tão parecido com ela quanto... Eu. E que se ela conseguia te entender, eu também poderia. Logo, eu sou a única que sabe o que você está sentindo, eu sou a única que sei o que Renata te diria nesta hora e sou a única que posso te consolar. – Ela esperou que eu respondesse, mas eu apenas assenti com a cabeça. – Ela quer que você vá para Amsterdã. Era o lugar que ela sempre sonhou em ir. Quer ser cremada, e as cinzas jogadas lá. Ela vai te acompanhar na viagem, em forma de cinzas, mas quer ser deixada lá. Ela também queria que você soubesse... Que ela... Bom, ela deixou uma carta te explicando tudo. Mas ela queria que você acreditasse em mim quando digo que tenho que ir nessa viagem com você.

_ Responsáveis pela Renata? – Perguntou um enfermeiro, antes que eu pudesse responder à Sadie. – Doutor Maglik acabou a cirurgia e deseja falar com vocês.


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Notas finais do capítulo

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