Sonhos Distorcidos - Original escrita por Marie Lolita


Capítulo 8
08 - Assediando um ARTISTA


Notas iniciais do capítulo

Olha mais um capítulo da fic aqui. Gente, eu ando lendo meus cap anteriores e percebi que tenho uns erros de gramatica muito monstros, tanto, que vou arrumar e reposta-los.
Enfim, dessa vez não demorei tanto para escrever o novo cap, o que é ótimo. Adorei escrever esse cap, ele está cheio de surpresas e vocês conheceram mais um possível Artista Misterioso *--*
Eu quero agradecer a todos que estão lendo a fic, vocês todos são lindos. Um agradecimento especial a Carolzinha, que está me dando um super apoio e já esta marcado que quando virar escritora irei tirar foto com ela e autografar sua copia do livro >.<
Já falei d+, é melhor vocês lerem de uma vez. Nos vemos no final.



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     Olho para todos os lados, como se estivesse procurando um assaltante que magicamente surgira do nada ou se avisto alguém olhando para mim de algum jeito diferente. Se bem, que devo estar parecendo uma paranóica e se alguém me olhar de forma diferente é somente consequência da minha paranóia. Enfim, eu estou paranóica mesmo, mas tenho motivos para isso. Afinal, é muito normal uma garota se travestir como o irmão gêmeo que fugiu de casa e pegar o lugar dele na academia de seus sonhos. Supernormal, minha gente.

      SE ACALMA FAYE!, grito em minha mente, mas a mensagem não é muito bem entendida, já que minha respiração continua meio falhada, como se a qualquer momento fosse parar de respirar e sinto que estou suando como um porco indo para o abatedouro.

       – T-tudo bem com você? – pergunta uma garota de rabo de cavalo sentada ao meu lado e assim que me viro para encará-la, ela se encolhe no assento.

       – Estou ótimo. Melhor impossível – digo, com um tom mais forçado possível, mas ela engole minha resposta e volta a cochichar qualquer merda com a amiga dela ao seu lado.

       Paro de morder o lábio inferior, quando sinto o horrível gosto de ferrugem na boca e volto a olhar para o enorme palco, esperando que alguém lembre que tem vários adolescentes trancados dentro de um enorme e luxuoso teatro.

       Ninguém, pensa que esse bando de adolescente, todos juntos, podem colocar fogo nesse teatro ou fazer uma orgia?, penso comigo mesma, mas eu tenho que lembrar que todos ali são pessoas e não vândalos ou macacos enclausurados.

        Arrumo o blazer branco do uniforme. Me ajeito na poltrona superconfortável do teatro e dou uma rápida olhada no uniforme que adquiri. Calças pretas com risca de giz vermelho de um tecido muito bom. A leve blusa branca que uso por debaixo do blazer branco com duas riscas grossas em cada lado, fundindo com os outros detalhes pretos do blazer é mais que confortável.

         Sempre que olho para esse uniforme me lembro que três dias atrás estava com a Mio vendo o resultado e quando vimos as palavras “É com muito orgulho que anunciamos que você foi selecionado para ser um aluno da Academia de Artes Royal. Parabéns!”, eu e ela quase caímos durinhas no chão. Eu realmente achei que estava ficando louca, mas depois de ler várias vezes percebi que ou eu não sei ler direito ou fui aceita de verdade.

         Mas olhe para mim agora. Eu estou usando o lindo uniforme da academia – que os alunos podem personalizar como quiserem. E eu vou personalizar o meu –, estou sentada nessa confortável poltrona e esperando alguma alma viva lembrar que existimos. Eu estou vivendo um sonho!

         Dou uma rápida olhada por todo teatro, vendo que todos os acentos estão ocupados. Ou seja, está lotado. Por um milagre divino, muitas pessoas conseguiram passar.

         Do nada, todas as luzes se apagam e só o que ouso é os gritinhos de surpresa das pessoas. Segundos após, uma música começa a tocar ao fundo, meio baixa e um refletor ilumina diretamente o meio do palco. Da onde sai uma mulher mediana, com seu cabelo castanho-azulado preso em um rabo de cavalo baixo, ela veste um ridículo terno azul bebê e começa a cantar e dançar. No começo não identifico a música, somente quando um bando de bailarinas se junta a ela e começam a fazer a coreografia todas juntas.

          – Gangnam Style? Ela está mesmo cantando e dançando Gangnam Style? – pergunto para mim mesma em voz alta.

          Mas ninguém precisa responder essas perguntas, pois ela chega ao refrão e faz o clássico passinho do “cavalo”. Mesmo que ela seja afinada e dança até que bem, não faz sentido algum tudo isso.

          No meio da apresentação, quando as luzes já iluminam todo o palco, fogos de artifício são acionados e tudo aquilo vira um verdadeiro show psicodélico. Com direito a um telão descendo do nada. Ele é ligado e amplia a imagem da cantora e das bailarinas.

          Algumas pessoas cantam junto e outras ficam iguais a mim; com um enorme ponto de interrogação na cabeça.

           – COMO ESTÃO TODOS VOCÊS? – a mulher vestida de Psy grita no microfone, interrompendo sua canção.

           O som reverbera pelo vestíbulo, pois seu grito fino foi amplificado umas dez vezes e tenho que tapar os ouvidos para não ficar surda. Acho que ninguém avisou a ela que aquilo é um microfone e que ligado não é preciso gritar como uma maluca.

            A música começa a ficar mais baixa, até que acaba finalmente e todas as bailarinas saem do palco, deixando somente a mulher com o terno azul, que é iluminada pelo refletor.

            A mulher respira algumas vezes, antes de levar o microfone para perto da boca e é evidente que está cansada e o suor escorre por sua testa, fazendo alguns fios do seu liso cabelo se grudar em seu rosto. Ela solta o cabelo e encara a todos ali.

            – Caramba, muitos passaram esse ano. O que ouve? – ela olha mais uma vez ao redor, tentando achar uma resposta, que obviamente não vem. – Ei Wendy, você estava de bom humor ou só ficou com preguiça de fazer o seu trabalho? – a mulher olha para o lado, atrás das cortinas, onde é provável que esteja Wendy e está se segurando para não pular em cima da mulher.

            A mulher vestida de Psy solta uma risada meio maléfica meio infantil e volta a encarar a todos nos.

            – Babi o que era que eu deveria dizer para esses adolescentes cheios de hormônios mesmo? – a mulher tapa a microfone, achando que não podemos ouvi-la e volta a olhar para o lado, onde deve estar à pessoa a qual ela se refere.  – O quê? Você está com pulga na calcinha, é isso?  – Pergunta ela, franzindo a testa.

           Uma cabeleira loira aparece de trás das cortinas e faz um gesto para o bolso da calça da outra mulher. Ela até gesticula com as mãos para o bolso e diz sem sair nenhum som “bolso da calça”, mas parece que nada disso ajuda a mulher vestida de Psy a entender a mensagem.

            – Está no bolso esquerdo da calça, diretora – a loira diz, quando alguém lhe entrega um microfone. No mesmo segundo que termina de dizer, ela já some da vista de qualquer um. Como um mágico que faz “puf” e some do nada.

            A mulher, que pelo que parece é a diretora – o que acho muito difícil – olha confusa para as pessoas atrás da cortina e coloca uma mão dentro do bolso esquerdo da calça. No mesmo segundo sua feição se transforma de surpresa com o conteúdo achado, para entendimento em tempo recorde.

            – Ah, é mesmo, tinha esses troços no meu bolso. Ora, por que você não disse antes Babi? – dizendo isso, ela voltou a olhar para todos os alunos no teatro e encarou os pequenos cartõezinhos, que deve conter suas falas. – Deixe-me ver... Eu me apresento para todos e digo quem sou – ela lê o primeiro cartão e volta a olhar para a gente. – Bem, eu me chamo Samantha Mackenzie, sou a diretora dessa bagaça toda aqui, como vocês todos podem ver – diz ela sem vontade alguma e começa a passar alguns cartões, com cara de tédio. – Aff, quem escreveu essas coisas aqui? – ela pergunta a alguém, que responde “você” e ela revira os olhos. – Enfim... – ela joga os cartões no chão e começa a pensar no que falar –, vejo que muitos passaram, mas aqui não é uma colônia de férias. É uma academia, e aqui seguimos regras – diz com um tom de voz autoritário – e devo dizer que... vocês devem usar preservativos – termina dizendo com uma felicidade invejável.

             Se eu não estivesse sentada, garanto que cairia no chão.

             Como ela pode ser a diretora? Quem colocou essa doida no poder deveria estar drogado e bêbado ao mesmo tempo.

              A diretora Samantha continua a dizer mais algumas coisas sobre preservativos, agarramento, kama sutra, o melhor lugar para ficar se ficar com o namorado, até que a mulher com a cabeleira loira – que deduzo ser a tal da Babi –, tira o microfone das mãos dela e a emburra para trás das cortinas. Depois volta para o centro do palco, arruma seu vestido em estilo oriental e passa a mão pelo coque no alto da cabeça.

              – M-me desculpem pela diretora. Ela não tomou os remédios essa manhã e fica assim quando não os toma. Ignorem tudo que ela disse, por favor. – Babi respira fundo e vejo que seu rosto começa a ficar vermelho como pimentão. Provavelmente ela é tímida ou não sabe como lidar com o público. – Quando vocês saírem, passem em um dos bancos de dados para saberem qual é o seu dormitório e número de quarto. Na se preocupem com as suas bagagens, elas já estão em seus devidos quartos. M-muito obrigada pela atenção. Estão dispensados.

             No mesmo segundo ela fez “puf” mais uma vez e sumiu do palco.

             Não entendi muito bem as coisas que ela disse, já que no nervosismo ela atropelou várias palavras. Mas entendi algo de quarto, bagagem, atenção e estão dispensados.

             Como um peixe fora d’água, eu decido seguir o fluxo de pessoas quando as luzes se acendem, iluminando todo o recinto. Todos se encaminham para as saídas e eu vou junto.

             Quando saímos, tenho que colocar a mão na frente dos olhos, pois a luz do sol me cega e meus olhos não se adequarão com a luminosidade da manhã.

             Olho ao redor e vejo que todos estão procurando aquelas telas de plasmas que ficam no lugar dos murais. Vejo que tem uma perto da porta de saída do teatro e uma pequena fila já se forma para ver, seja lá o que na tela. Eu entro na fila e escuto dois garotos a minha frente, vestindo o mesmo uniforme que eu, dizer que os últimos anos têm os melhores quartos e que os calouros que conseguem quartos no mesmo corredor que eles é muito sortudo.

            Quando chega minha vez, repito todo aquele processo que fiz três dias atrás. Coloco meus supostos dados pessoais e por fim as minhas digitais. De vez em quando olho por cima dos ombros para ver se ninguém está curiando, mesmo eu colocando todo meu corpo na frente da tela, para ninguém conseguir ler absolutamente nada.

             Na tela, aparece minha foto e o número do meu dormitório e quarto. Tento memorizar, mas um papel é cuspido da lateral da tela e tenho que me segurar para não procurar como aquilo imprimi. Pego meu papel com os dados que preciso e saio da fila.

             Ando pelo Caminho de Tijolos Amarelos, procurando qualquer indicio da ala dos dormitórios, mas meu senso de direção é pior que um cego em tiroteio.

           Quando percebo que estou perdida e andando em círculos, pois já vi aquela árvore que aprece ter um palhaço entalhado em seu tronco umas sete vezes, decido que é hora de pedir ajuda.

           Olho para os lados e vejo que está vindo em minha direção uma garota um pouco mais alta que eu, com os olhos grudados em uma prancheta de desenho. Me aproximo sutilmente dela, para que não ache que estou tentando roubá-la ou estrupá-la.

             – Com licença – digo, mas ela se sobressalta e recua dois passos, abraçando a prancheta com toda força. – Me desculpa, não queria assustá-la – digo, dando dois passos para trás.

             – Você não me assustou, apenas estava testando meus reflexos – ela diz com um ar de superior.

             Obviamente ela é uma pessoa que não gosta de ter o orgulho abalado e seus “reflexos” é uma boa desculpa para dizer que não esta com medo.

              – O que você quer? – pergunta ela. Sem rodeios.

              – Quero saber onde fica isso.

              Entrego o papel onde está o número do meu dormitório para que ela possa ver. Por alguns segundos a garota morde o lábio inferior e enrola uma mecha de seu curto cabelo liso entre o dedos. Depois de pensar um pouco, ela devolve o papel para mim, ajeita sua franja reta e aporta para a direita.

             – É só você andar reto por aqui e quando ver uma construção que parece um castelo, vire a esquerda e siga reto. Você achara os dormitórios sem muitos problemas. Ele é uma construção de pedras, com cinco andares e é enormeeeee.

             – Obrigada – digo, já me encaminhando para a direção que ela disse.

             – Não tem de que, Chay Mine – me viro para vê-la e ela levanta uma sobrancelha, que é coberta por sua franja lisa e depois volta a andar, para sabe se lá onde.

             Por um minuto fico vendo-a andando, até que ela vira uma das ruas do Caminho de Tijolos Amarelos e some de vez. Estranhamente, ela me desperta um ar de familiaridade, mas mesmo que pense, não consigo lembrar-me de onde a conheço.

             Talvez seja coisa da minha cabeça, tento me convencer.

             Sem mais delongas, sigo o caminho que ela indica. Passo em frente à construção que parece um castelo de pedra, que parece estar ruindo, mas mesmo com sua aparência de velho e destruído é lindo e se encaixa de uma maneira estranha a todo esse ambiente. Viro à esquerda e continuo andando. Até que alcanço uma calçada de pedras meio esbranquiçadas, que divide espaço com o que parece ser um jardim muito bem cuidado. Continuo andando por essa calçada, quando avisto a construção de cinco andares que a garota disse. Como ela disse, ele é todo feito de grossas pedras, sendo que o último andar parece ter somente coberturas, tendo grandes janelas de vidro e pelo que vejo, dá onde estou à construção forma um U gigante.

              Procuro uma entrada, mas nada ali me indica uma porta.

              Quando estou procurando a bendita porta, vislumbro do lado oposto que estou uma cabeleira muito parecida com uma que vi há 5 anos atrás.

              – É ele – um sorriso se forma em meus lábios quando penso que encontrei meu Artista Misterioso.

              Mas a cabeleira entra por uma enorme porta de vidro e some. Antes que eu possa pensar em qualquer coisa, minhas pernas já estão correndo atrás dele. Entro pela mesma porta que ele entrou. Olho todos os lados e não vejo nada além de um luxuoso hall de entrada. Antes que a decepção possa me tomar por inteira, vejo novamente a cabeleira entrando por uma porta e sumindo em seguida.

              Corro como uma louca até a porta e vejo que é a escadaria de incêndio. Não entendo muito bem do por que ele pegaria a escadaria se tem um elevador no prédio, mas pego a maçaneta gelada e abro a porta.

              Não consigo vê-lo nos primeiros lances de escada, mas escuto os passos pesados de alguém subindo os degraus de concreto. Começo a subir de dois em dois, o mais rápido que posso, sendo guiada pelo eco dos passos, mas sinto cada vez que chego mais perto, parece que ele está mais longe, mesmo que não esteja correndo e sim andando.

               – ESPERE! – grito para cima, mas ele não espera, continua subindo.

              Já estou ofegante e minhas pernas protestam em dar mais um passo sequer, mas a adrenalina corre em minhas veias e sou guiada por um só pensamento: encontrá-lo.

              Os batimentos do meu coração ecoam em meus ouvidos e quase não percebo quando o som dos passos dele some e é substituído pelo som de uma porta sendo aperta e fechada em seguida.

               Tento acelerar o passo e paro de frente a porta do quarto andar. Abro a porta apressada e entro no corredor com o carpete vermelho, todo sofisticado. Olho para todos os lados e pego um rápido vislumbre da cabeleira dele virando o corredor e sumindo. Corro apressada pelo corredor, tentando evitar esbarrar nas pintoras caras nas paredes e nos móveis no corredor.

               Coloco a mão na parede para evitar que eu caia, quando viro o corredor, não vejo ninguém no corredor, somente uma porta aberta e decido entrar naquele quarto.

                Ando a passos cautelosos. Até ficar na soleira da porta. Olho para dentro do quarto e como ele não está muito bem iluminado não sei dizer o que irei achar se entrar.  Mesmo com medo, eu tento ignorar tudo aquilo e entro dentro do vestíbulo a passos lentos. Consigo ver que todas as paredes estão revestidas com desenhos de cartas de baralho, iguais a do Alice no País das Maravilhas. Olhando para todos os lados, vejo uma mesa com vários artigos de artes e alguns cavaletes encostados na parede.

                No meio do quarto um cavalete com uma tela posta, mas não consigo ver quem está atrás da tela, mas mesmo com a má iluminação consigo ver a calça do uniforme masculino e o blazer junto com a blusa e a gravata no chão.    

                Não sei se aquele é o garoto da cabeleira ou outra pessoa, mas agora ele tem minha total atenção. Claro, que tenho minhas dúvidas se esse garoto está mesmo pintando vestindo só com as calças. Ando até o cavalete, mas o garoto sequer nota minha presença. Ele está muito submerso em seu trabalho para me notar. Ele olha algumas vezes para o espelho de corpo inteiro ao seu lado e volta a sua atenção para a tela, da qual vejo o próprio esboço do corpo dele.

                Fico meio decepcionada ao ver que não é quem eu estava esperando e sim um garoto branco como leite, com cabelo curto de um dourado intenso, com cachinhos que lembram muito de um anjo. O que no caso, ele realmente parece um anjo submerso em sua própria arte de auto-retrato. Tanto que ele nem percebeu quando eu estava quase ao lado dele.

                Ele termina de desenhar a parte do tórax que está exposta. Definindo muito bem cada músculo, o maxilar tenso com tanta concentração que ele faz. Quando dou por mim, já estava avaliando todo o corpo muito bem definido do rapaz, assim que percebo, desvio o olhar no mesmo segundo para a tela, já sentindo as minhas bochechas arderem. O que é loucura, já que ele sequer me percebeu.

                Depois de encerrar essa parte o garoto coloca as mãos no cinto da calça e o abre rapidamente.

                Ele realmente irá ficar nu? Comigo aqui?

                Esse pensamento e a visão de ver um cara nu me fazem arregalar meus olhos azul-esverdeados. Eu não faço à mínima ideia de qual é o problema desse cara, muito menos quero ficar para descobrir. Mas em um impulso, eu me jogo no chão e agarro as mãos dele, que já começava a abrir o zíper da calça. Quando ele sentiu que algo o impedia de continuar seu trabalho, ele olha para os lados e pisca algumas vezes, como se estivesse clareando a mente.

                 Depois de olhar para os lados, ele abaixa a cabeça e olha para mim, ainda segurando suas mãos, impedindo que ele abra o zíper. Em uma posição nada adequada para um garoto ficar.

                 – O que você está fazendo? – ele pergunta, olhando confuso para mim.

                 – Eu é que pergunto, seu louco – retruco, ficando mais vermelha que um pimentão. – Por que você ia tirar a roupa?

                Rapidamente tiro minhas mãos de perto dele e levanto do chão. Recuo uns quatro passos para trás e espalmo a sujeira dos meus joelhos, só para que ele não perceba que meu rosto está queimando de vergonha.

                O garoto olha para si mesmo, parecendo se dar conta somente agora de sua situação e fica vermelho no mesmo instante. Rapidamente ele coloca o cinto no lugar e pega a blusa social jogada aos seus pés, colocando-a com certa dificuldade, mas ele sequer abotoa.

                – Eu queria desenhar um corpo masculino nu. Então quis me usar como exemplo – explica ele, como se aquilo fosse muito normal.

                – Tudo bem que você está no seu quarto e você pode fazer o que quiser nele, mas por que não fechou a porta, oh inteligência?

                – Hmmmm – foi só o que ele disse, estreitando os seus olhos incrivelmente azuis como o mar, mas não entendi o que aquilo pode ser.

                Solto um suspiro pesado de derrota e massageio minha têmpora.

                – Você não me viu mesmo entrando, não é?  – Ele assente negativamente com a cabeça, – Céus! Não tem ninguém normal nessa academia – solto outro suspiro, esgotada. – Olha, se for continuar a fazer isso, lembre de fechar a porta para ninguém te pegar, porque não sei o que fariam com um cara pelado.

                 – Tudo bem. Vou me lembrar disso.

                 Eu espero que você lembre mesmo e que se esqueça de mim, do contrário já serei tachada como homossexual e nem tive meu primeiro dia, penso, mas se bem que aquele oriental imbecil já pensa que sou. Ah, tanto faz!

                 – Olha, já que estou aqui, você saberia me dizer onde fica o quarto 213? – pergunto. Oras, eu quase o vi nu, o mínimo que ele pode fazer por mim é me indicar meu quarto.

                  – É no quinto andar. Quarto das coberturas. Entre o 212 e o 214 – informa ele.

                  – Ah, claro. Óbvio que é no quinto andar e entre o 212 e 214. Como eu não pensei isso antes? – digo cada palavra com sarcasmo, porque ele pode não ter dado a entender que me chamou de burra, mas agora é pessoal seu Peladão.

                  Dou as costas para o garoto e ando em direção a porta. Pronta para deletar as cenas que vi dentro desse quarto da minha cabeça, quando ele me chama e eu olho para ele sob meus pequenos ombros.

                   – Eu não sei seu nome. Poderia me dizer? – pergunta ele, de forma inocente, o que só acentua a ideia dele parecer um anjo. Meio tapado, mas ainda um anjo.

                    – Eu me chamo Chay.

                    – Prazer Chay. Me chamo Jessy Parker. – Ele esboça um sorriso enorme entre seus lábios finos e rosados. – Muito obrigada, Chay.

                    – Pelo quê?

                    – Por me impedir. Quando eu começo a desenhar é como se o mundo a minha volta sumisse e só existisse eu, o carvão em meus dedos e a tela, nada mais – fala ele, olhando para a tela a sua frente com a paixão que queima em seus lindos olhos.

                    Não consegui conter um sorriso se formar entre meus lábios. Eu o entendo muito bem. Também sou assim. Então não posso crucificá-lo por tirar a roupa, pois se fosse eu, talvez fizesse a mesma coisa sem perceber (óbvio que em um lugar escondido).

                    – Não precisa me agradecer. Eu te entendo muito bem – dizendo isso, dou as costas para ele e saio do quarto.

                    Assim que fico sozinha no corredor, percebo que estou segurando o choro e minhas mãos estão tremulas. Esse é o preço da decepção e do cansaço. 

                   Aperto o botão do elevador e espero ele descer para que eu possa achar o meu quarto e desabar na cama. Em poucos instantes ele para no meu andar e abre as portas. Aperto o botão do último andar e espero a porta se fechar e o ambiente é invadido pela irritante música de elevador. Antes que a música atinja meus neurônios e eu acabe em uma prisão psicológica, as portas se abrem novamente.

                Sou recebida por um corredor igual ao de baixo e começo a procurar o número 213. Acho uma porta preta, cheia de desenhos brancos entalhados na madeira. Desenhos variados, contendo matérias da academia. Olho para uma pequena plaqueta preta ao lado da porta. Nessa plaqueta só contém dois nomes em uma letra curvilínea e bem desenhada.

           Mine

         Yori

             Óbvio que eu sou o primeiro sobrenome, já o segundo é um completo desconhecido para mim, mas com certeza é meu colega de quarto. Dou de ombros para esse. Pego o cartão que me entregaram junto com o uniforme e passo na porta, para que ela abra.

               Assim que coloco meus pés dentro vejo um amplo quarto, com duas camas em cada canto de uma parede. O quarto tem tons pastel que entram em contraste com alguns detalhes em preto e com alguns moveis em madeira.

               Devo confessar que pensei que teria até um lado com jacarés ou sei lá o que. Mas isso é supressa de mais para mim. É muito simples para meus olhos que já estão acostumados com toda frescura e luxo pelos cantos.

                – É tão... simples – digo em voz alta, quando entro e fecho a porta atrás de mim.

                – É simples porque eles dão ao aluno a opção de decorar como queira – diz alguém que acaba de abrir uma porta, provavelmente o banheiro e entra no quarto.

                 Quando vejo quem é, imediatamente congelo no lugar, estética.

                  De todas as pessoas que pensei que poderia ser meu colega de quarto, nunca imaginei que poderia ser ELE.

    


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Notas finais do capítulo

PELOS PODERES DO PANDA!!!! Cara, agora a coisa ficou seria. Quem será o colega de quarto da Faye minha gente? Será que é seu Artista Misterioso? Aí, eu sei, mas não vou contar para vocês, pelo menos, não agora >.
Digam o que acharam, pliz
Nos vemos no próximo capítulo

Beijinhos com açúcar



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