Caro Felipe, você não está em casa. É claro que não, seu primo Vinícius está na cidade, e você como bom anfitrião está levando-o pelo centro para que ele não fique entediado aqui em Leopoldina, eu nunca realmente entendi o porquê dele sempre vir passar as férias aqui, e não o contrário, você passar as férias no Rio de Janeiro, afinal, lá sim, deve ter muita coisa para se fazer. Há essa hora vocês devem estar em cima do Morro do Cruzeiro vendo toda a cidade, ou então no clube tomando banho de piscina, de qualquer forma não importa.

Eu parti da premissa de que não te encontraria em casa, sua irmã Luísa, por outro lado está. Ela nunca ligou muito para esses tabus de educação que você tem, então o meu plano é simplesmente deixar essa caixa na sua varanda, tocar a campainha e ir embora.

Como você está passeando, você não ouvirá o barulho que a caixa - essa onde você encontrou essa carta – fez quando bateu no chão de sua varanda, e sim sua irmã e pelo barulho ela pode supor que uma coisa muito pesada foi jogada pra dentro de seu quintal. Pesada e frágil.

O engraçado disso tudo é que assim que você vê-la não saberá do que se trata e muito menos o quê raios está fazendo na sua casa. Você não entenderá. E na verdade você nunca realmente entendeu. Você nunca percebeu como coisas pequenas fazem a diferença. Só quando ler a frase, essa que está escrita na tampa da caixa, na minha letra cursiva saberá quem a deixou na varanda.

O nosso “lance“, como você o chamava, aconteceu de 5 de Junho até dia 12 de Outubro. No mês em que tudo começou estava frio e chovendo, e você sabe como eu amo isso, porém para mim sempre teve um significado diferente do que tinha pra você. E agora já é Dezembro, e o dia está lindo, um daqueles dias em que você iria querer passar dentro de casa jogando, e eu debaixo de uma árvore lendo um livro enquanto levo meu cachorro pra passear.

Hoje não é um dia bom, não o suficiente para ter escrito tudo isso, porque se isso fosse um livro estaria chovendo, e eu iria até a sua casa e falaria com você cara a cara, porque de alguma forma eu quero que você saiba.

Acontece que a caixa não foi jogada, ela foi deixada com todo o cuidado por Daniel, - sim, Daniel, aquele que para você sempre será seu rival – no chão, e mesmo ele sendo cuidadoso ela fará um barulho, pois afinal ela guarda coisas importantes. Essa caixa Felipe, foi onde encontrei aquela ninhada de gatinhos e os levei para casa comigo, e foi nela também em que comecei a guardar todas as nossas bugingangas. Todos aqueles nossos suvenirs de amor que no começo me pareciam lindos e cheios de significado e agora eu os estou devolvendo. Sim Felipe, estou devolvendo todas aquelas coisas, como se fosse carnaval e tivesse muita sujeira na rua que no final eram varridas de volta ao lixão, onde é o lugar delas.

A diferença, porém, é que dessa vez é você que está sendo jogado fora.

O tump – que a caixa fez – confesso me fará sorrir. Uma coisa que está acontecendo com mais frequência do que nos meses que nós passamos juntos. Enquanto tínhamos nosso lance eu parecia Lucinda Price em Fallen, um livro, um best-seller, você não leu. Ela é uma menina que morre e reencarna por causa de uma maldição, quando vai dar o primeiro beijo o garoto literalmente pega fogo, fazendo com que ela sorria apenas duas vezes em todo o verão no livro. A primeira é quando conhece os mocinhos do livro, e não é nessa vez que estou pensando. É aquela do final, quando a Lucinda finalmente entende que vai poder ficar com o carinha que ela tanto queria desde o começo, porque ela já o conhecia de vidas passadas, então aquilo era como estar em casa para ela.

Eu entendo o porquê da comemoração. O mundo finalmente voltou ao normal, o sorriso é por isso. Eu acredito em novos começos e em fechar ciclos, acontece que eu nunca poderia ter nada novo com Daniel, se eu não deixar para trás todas essas coisas, inclusive você, para fora de minha vida.

Eu sei que você nunca entenderá Felps, mas talvez com essa carta, comigo te contando exatamente tudo o que aconteceu, você finalmente entenda o porquê de eu tê-lo escolhido ele, e não você.

Eu não te amo mais, é claro que não, porém tem coisas que eu ainda posso te ensinar. Você sabe que eu quero ser escritora, mas você na verdade nunca conseguiu ler os livros que se passam na minha cabeça, e foi por isso Felps, que a gente não deu certo.

Eu me apaixonei e essas são as minhas últimas palavras sobre o assunto, estou escrevendo enquanto escuto “janta“ do Marcelo Camelo, sim, o ex vocalista do Los Hermanos, aquela banda que eu e você adoramos.

Porque o nosso amor, exclusivo da minha parte ficou para o tempo decidir que ele não deu. Mas como diz a musica, pelo menos deu pra sentir a vontade.