O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado
Notas iniciais do capítulo
Capítulo narrado na primeira pessoa.
Engasguei-me com a risada. Já não aguentava mais, as forças escoavam-se dos braços, das mãos, dos dedos. Pressionei a cara contra a nuca dele, mas já não conseguia manter-me agarrada à túnica do dogi por muito mais tempo.
Corríamos na floresta, ziguezagueando entre as árvores, num percurso definido antes de cada estafeta. Claro que eu não corria, fazia-o às cavalitas de Trunks que se movimentava como se eu não lhe pesasse nada e não estivesse ali. Os solavancos, as arrancadas e as travagens bruscas, os saltos e os protestos faziam-me rir. Goten ultrapassava-nos, ficava para trás, gritava que fazíamos batota. Ao fim de cinco estafetas, em que subimos e descemos pelos montes, estava quase a cair se não chegássemos depressa ao nosso destino. Sentia-me na vertigem de uma viagem alucinante de um carrossel de um exclusivo parque de diversões. E estava a adorar cada segundo.
Regressávamos dos banhos na cascata, onde passámos a manhã inteira e ainda parte da tarde, depois de nos termos alimentado com uma refeição frugal de fruta e de termos conversado. Fiquei a saber que estudavam na universidade e que o filho de Goku estava a tirar um curso superior por causa de uma aposta.
Quando Goten chegara à cascata, depois de nos ter dado muito tempo para ficarmos a sós, voltara a distância controlada e polida entre mim e Trunks. Só que, percebendo desta vez o motivo, não me incomodara. Para voltar à cabana, os dois combinaram uma corrida com outra aposta – quem perdesse teria de caçar, acender a fogueira e preparar a refeição do final da tarde sozinho.
Trunks parou de repente, derrapando com os pés, levantando uma onda de terra. Eu ia saltando disparada por cima da cabeça dele. A cabana estava diante de nós, a uns bons cem metros, mas de Son Goten, nem sinal.
- Ganhámos, Ana.
- Achas? Isto parece-me estranho… Onde é que ele se meteu? Esteve sempre ao nosso lado.
- Hum…
Ficou imóvel, até susteve a respiração. Crispei os dedos, agarrando-me com mais força à túnica.
A floresta quedou-se suspensa. O zumbido dos insetos, o restolhar dos esquilos, o fuçar dos javalis, o marulhar das folhas, todos esses sons tornaram-se enervantes.
Escutou-se um silvo.
- Trunks…?
Ele girou a cabeça para a esquerda. Fletiu ligeiramente os joelhos, dobrou os braços pelos cotovelos, tinha dois punhos bem fechados. Continuava sem respirar.
Nisto, saltou.
Gritei com o solavanco. Trunks estava no ar. As minhas mãos abriram-se, caí de costas no chão duro. Vi duas manchas escuras passarem por cima de mim, chocarem, desaparecerem. Uma centelha breve estalou no ar.
Levantei-me, olhei para a cabana no preciso momento em que Goten e Trunks tocavam na porta. Com a ânsia da competição esqueceram-se de dosear a força e tinham-na desfeito.
- Cheguei primeiro! – Anunciou Trunks com um grito.
- Eu é que cheguei!
Aproximei-me, sacudindo a terra das calças.
- Parece-me que foi um empate, chegaram ao mesmo tempo.
Olharam os dois para mim. Tinham o braço alçado, a mão aberta a tocar o vazio, pois a porta jazia em pedaços aos pés deles.
- Quero desempatar – disse Trunks com um trejeito mimado.
Goten piscou os olhos.
- Desempatar?
- Podem fazê-lo… Janken? – Sugeri.
- Janken? – Indagou Goten.
- Concordo! – Exclamou Trunks.
Escondeu o punho atrás de si. Goten imitou-o.
Olhei para a entrada da cabana, a pensar que o perdedor, para além do jantar daquele dia, também teria de construir uma porta nova.
Começaram, em uníssono:
- Jan-ken! Jan-ken!
Mas como se conheciam tão bem um ao outro, os lançamentos eram idênticos. Pedra, tesoura, pedra, papel, tesoura, tesoura, papel. Até que Goten lançou pedra e Trunks lançou tesoura.
Goten elevou ambos os braços no ar, deu um pulo de alegria, aterrou apenas com uma perna.
- Ga…!
Cortou o entusiasmo ao olhar para o céu. Congelou a posição.
- Hai, ganhaste – admitiu Trunks aborrecido. Mas também ele ficou sério e olhou para o céu.
Senti um arrepio.
- O que é que se passa? – Perguntei num murmúrio, recuando para entrar na cabana.
- Alguém vem aí – disse Goten.
- Alguém…? O quê? Mas este lugar não era secreto?
Aguardaram calados. E eu cada vez mais apreensiva.
O mistério foi rapidamente desfeito quando Piccolo aterrou diante de nós. Apesar de saber que ele fazia parte dos amigos, coloquei-me atrás de Trunks. O tamanho dele intimidava-me.
Sem qualquer tipo de introdução, disse:
- Goten. Trunks. Têm de ir imediatamente para o Templo da Lua.
- O que é que se está a passar? – Perguntou Goten.
- Zephir também procura pelas bolas de dragão. Keilo está com ele, os demónios não. Devem andar pelo planeta a reunir as bolas de dragão. Son está junto ao templo, à vossa espera para entrar e roubar as bolas de dragão. Precisa de vocês para distrairem o saiya-jin e o feiticeiro. Devem partir imediatamente.
- E a Ana? – Perguntou Trunks.
- Eu fico com ela.
Engoli em seco. Fazia parte dos amigos, mas era um gigante carrancudo e assustador. A ideia de ficar sozinha com Piccolo, numa cabana sem porta numas montanhas inacessíveis, não me agradava.
Trunks encarou-me.
- Ana, não te preocupes. Ficas bem acompanhada.
Gaguejei:
- Eu… sei.
Apertou uma madeixa do meu cabelo entre os dedos.
- Ei… Vai correr tudo bem. Sou o filho de Vegeta, lembras-te?
Olhei para Goten. Pedi:
- Cuida bem dele, ouviste?
- Hai.
Depois, partiram os dois. Deixei de os ver em pouco tempo, distanciaram-se tanto que o céu não guardou qualquer marca da sua passagem.
Piccolo permanecia no sítio onde aterrara, imperturbável, os grandes braços verdes cruzados. O olhar dele era intenso e desviei a atenção daquele rosto severo.
- Ana-san, vai para dentro da cabana.
A voz grave não era ameaçadora, mas tinha um laivo de secura que me arrepiou. Obedeci sem contestar.
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Próximo capítulo:
As três bolas de dragão que faltavam.