O Feiticeiro Parte III - O Medalhão de Mu escrita por André Tornado


Capítulo 18
II.9 Uma nova estratégia.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo narrado na primeira pessoa.



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Aconcheguei-me num canto escuro e pus-me a contar os segundos, que eram demorados como minutos, infinitos. Talvez me deixasse dormir, entretanto, e esquecesse, nesse curto sono, que estava metida numa enorme trapalhada, por não ter escutado os conselhos de Gohan e de ter insistido em encontrar-me com Trunks.

A lembrança arrancou-me um sorriso. As minhas atribulações na Dimensão Real pareciam longínquas e irrelevantes naquele canto escuro, naquela minha existência de desenho animado.

No exterior, estava tudo calmo. Sem tremores de terra, sem explosões, sem grunhidos de bichos, sem passos no meu encalço. Apesar do terror, não conseguia adormecer e insisti na contagem dos segundos. Transformei-os em carneiros. Quando se contavam carneiros, saltando sebes e cercas, o sono vinha, assim diziam.

Escutei passos, os carneiros e os números sumiram-se, como bolhas de sabão rebentando. Puf, puf, puf. O demónio continuava à minha procura. Encolhi-me, a gemer.

Um pedregulho que cobria parte da entrada do meu esconderijo foi afastada, um vulto recortou-se na claridade.

Reagi, agarrei numa pedra, ia lançá-la, mas ele agarrou-me no pulso. Gritei.

- Shss – pediu em surdina. – Ana-san, sou eu.

- Quem?

- Goku.

Puxou-me, saímos do canto escuro. Estávamos nas ruínas do salão magnífico, havia labaredas, muito fumo e uma quietude artificial.

Colocou um dedo sobre os lábios, pedindo-me novamente pouco barulho, sussurrou:

- Estamos em território inimigo. Escuta… Vamos agora fazer uma viagem muito rápida. Quero que feches os olhos. Quando os abrires, estaremos a salvo.

Era a quarta vez que o via, a segunda que estávamos próximos um do outro. Estremeci emocionada. Segurava-me no pulso. Tinha um toque suave, mas decidido, transmitia segurança e calor. Acenei que sim e fiz como ele me pedia. Fechei os olhos.

A sensação foi como um lançamento abrupto para a estratosfera por meio do elástico gigantesco de uma fisga, nada sob os pés, em queda livre, sem gravidade. Durou o tempo de um pestanejar, pois abri os olhos com a aflição e quando o berro nascia nas cordas vocais descobri que estava no Palácio Celestial. Goku soltou-me o pulso anunciando com um sorriso:

- Tal como prometido, uma viagem muito rápida.

Uma pequena comitiva aguardava-nos. Para além de Dende e de Mr. Popo, de Toynara e de Ten Shin Han, totalmente recuperados do recontro com o demónio, certamente com a ajuda dos dotes curativos de deus, estavam Piccolo, com a sua estatura gigantesca que me impressionou e Vegeta. Ligeiramente afastados, Goten e Trunks.

Era a primeira vez que via Trunks na sua aparência normal, como era na realidade, com os traços fisionómicos peculiares conferidos pela Dimensão Z. Resumindo, em desenho animado, com aquela impressão estranha de ser de três dimensões ao toque e de apenas duas dimensões à vista, mas mais real do que alguma vez tinha sido no meu mundo. Nítido, perfeito, único. O meu coração começou a bater como um tambor.

Ele olhou para mim e eu olhei para ele. Quando ia atirar-me num abraço que mitigasse a falta que sentia dele, saber se o cheiro era igual ao que me lembrava, saber se aquilo que tínhamos partilhado no quarto da vivenda tinha algum peso agora que ele havia regressado a casa, Dende aproximou-se de nós e disse a Goku que lhe iria repor as energias, tal como já tinha feito com os outros. Provavelmente, não seria muito apropriado eu abraçar-me a Trunks, já que a assistência impunha respeito, a começar por Vegeta. Olhava-me de lado, continuava a não gostar de mim.   

Dende recolheu os braços, Goku agradeceu com uma vénia. Mr. Popo devolveu-lhe o bordão de madeira e com uma pancada breve no chão marmóreo indicou que a reunião iria começar.

- Meus amigos, devemos pensar no que iremos fazer a seguir para combater Zephir e os seus planos maléficos para conquistar o Universo. Por enquanto, a guerra foi suspensa. O feiticeiro ficou devastado com a destruição que aconteceu no Templo da Lua…

Vi Toynara torcer-se, camuflando ferreamente as emoções que se revolviam dentro dele, comoção e irritação. A destruição do templo também o tinha afetado e perguntei-me se culparia Zephir ou Goku do facto. Mr. Popo posicionara-se estrategicamente junto a ele, como se o vigiasse fingindo que o acompanhava.

- …E ordenou aos guerreiros que lutam por ele que retirassem – prosseguiu Dende sério. - Mas, acredito, será uma suspensão temporária, muito temporária. Zephir é calculista, irá planear o que fazer a seguir. Temos connosco a rapariga da Dimensão Real, mas ele tem a primeira metade do Medalhão de Mu, indispensável para a sua aspiração de se transformar num deus. O medalhão está dividido em duas partes, a segunda encontra-se algures neste planeta.

- Então, Zephir irá procurar pela segunda metade do medalhão de Mu.

- Hai, Ten Shin Han. Também julgo que é exatamente isso que Zephir fará a seguir.

- Nós também podemos procurar pela segunda metade do Medalhão de Mu. Se a encontrarmos antes de Zephir, impediremos que o medalhão fique completo e ficaremos em vantagem sobre o feiticeiro. 

- Mas a Terra é muito grande – observou Goku. – Por onde iremos começar a procurar?

- Não sejas idiota, Kakaroto – disse Vegeta, de braços cruzados. – Se queremos essa metade desse medalhão, vamos reunir as sete bolas de dragão e pedi-la a Shenron.

- Eh, Vegeta! Que ideia fantástica! – Exclamou Goku.

Vegeta fungou.

Dende disse:

- Concordo. Devemos ter connosco uma das metades do Medalhão de Mu.

- E devemos proteger a rapariga da Dimensão Real – acrescentou Piccolo e o vozeirão do guerreiro namekusei-jin a falar de mim causou-me calafrios. – Ela não pode voltar a cair nas mãos de Zephir.

- Hai! – Goku olhou para mim, depois para Trunks e para Goten. Chamou-os: – Rapazes. Vocês ficarão a cuidar da Ana-san. Levem-na para as montanhas, para o sítio onde me costumo treinar com Ubo. É relativamente secreto, longe de tudo. Existe uma cabana com as comodidades mínimas para passar lá uma curta temporada. A rapariga deverá ficar longe do alcance de Zephir e dos seus guerreiros, que certamente a irão procurar nos próximos dias.

Trunks e Goten entreolharam-se. Aceitaram a incumbência, acenando com a cabeça em simultâneo.

- Hai.

- Eu vou procurar pelas bolas de dragão – prosseguiu Goku.

- Eu também vou – disse Vegeta.

- Estás a falar a sério? Mas isso seria muito bom! Agradeço-te a ajuda, Vegeta.

- Dois a procurarem pelas bolas de dragão encontram-nas mais depressa. Devemos ir até à Capsule Corporation para buscar o radar do dragão e pedir a Bulma que fabrique um segundo radar.

- Depois de termos a segunda metade do medalhão, teremos de definir uma nova estratégia para eliminar Zephir – disse Dende apertando o bordão com ambas as mãos. – Tendo em conta as características singulares dos seus guerreiros. Vi o que aconteceu nas últimas horas no Templo da Lua. Os demónios são imortais, Keilo atinge o nível três dos super saiya-jin.

- Uma etapa de cada vez, kami-sama – alertou Mr. Popo. – Primeiro, o Medalhão de Mu. Segundo, proteger a rapariga da Dimensão Real. Só depois, devemos pensar em eliminar o feiticeiro e restaurar o Templo da Lua para Toynara.

O jovem feiticeiro mostrou-se surpreendido com aquela declaração.

- Tens razão, Mr. Popo. Uma etapa de cada vez.

- Piccolo? Ten? – Indagou Goku. – Se quiserem também nos poderão ajudar com as bolas de dragão.

- Ficarei aqui, a vigiar a vossa retaguarda – replicou Piccolo sorrindo.

Ten Shin Han negou com a cabeça.

- Bastam dois saiya-jin para procurarem pelas bolas de dragão. E também julgo que não vão precisar de mim nos próximos combates. No entanto, se necessitarem da minha ajuda, estarei pronto. Regresso a casa.

Goku rematou:

- Está decidido.

A conversa terminava, havia um novo rumo, cada um seguiria caminhos distintos. Agradou-me a perspetiva de passar uns dias com Trunks e Goten, nas montanhas, num sítio secreto e inacessível.

Inesperadamente, Goku despediu-se de mim, piscando-me o olho:

- Djá ná, Ana-san.

- Djá ná – devolvi atrapalhada.

Era curioso pois as vozes deles eram as originais, o timbre inconfundível, perfeitas como as suas imagens coloridas, mas eu entendia tudo o que diziam apesar de ser, e parecia-me mesmo que o era, em japonês. Também eu falava em japonês e era tudo tão esquisito que me fazia dor de cabeça e recusei-me a pensar mais naquilo.

Goku perguntou:

- Estás pronto, Vegeta?

- Sempre. Nem precisas perguntar.

Trunks passou um braço pela minha cintura. Arrepiei-me com o toque. Igual, igualzinho. Iríamos partir para as montanhas com Son Goten, voando.

Goku teletransportava-se com Vegeta para a Capsule Corporation.

A aventura mais louca da minha vida iria começar.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
A máquina das dimensões.



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