A Filha Perdida escrita por ACL


Capítulo 2
A adoção


Notas iniciais do capítulo

Só digo que eu ODIARIA se isso acontecesse comigo...



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Quando finalmente termino de lavar os pratos e minhas mãos estão engelhadas, vou correndo para o quarto me trocar para ir à aula. Perdi a hora do almoço por causa da maldita Olívia, mas acho que consigo comer alguma coisa na escola.

Antes de sair, passo no quarto 4, do terceiro andar, onde só estão Jay e um menininho de cabelos loiros que quase não fala. Jay vem correndo e me abraça. Eu devolvo o abraço.

– Cissa, eu não quero ir à escola.

– Por quê?

– Não gosto de lá.

– Mas tem que ir. Olha, vou te contar um segredo: eu também não gosto. Nem daqui. Mas a gente tem que ficar aqui um tempo, até eu fazer 18 anos. Vai passar rapidinho!

– Quando você vai fazer 18?

– Quando chegar a hora de ir embora eu aviso.

– Quero que chegue logo.

– Eu também, Jay, eu também.

Amarro o cadarço do seu tênis e saio com ele para a escola.



É sexta-feira e, como eu sou uma boa pessoa aqui dentro, tenho o fim de semana livre. Eu pensei em levar Jay para um parque aqui perto, mas ele não pode sair, a não ser que tenha algum evento do orfanato e não tem a alguns meses. Depois da aula, que eu, de jeito nenhum, consegui prestar atenção, eu fiquei com Jay, como sempre.

Mostrei fotos de mamãe, alta e magra, parece comigo. Menos os olhos, que eram pretos. Os cachos castanhos e a pele morena eram exatamente iguais. Os olhos pequenos e o nariz afilado. A boca e os dentes perfeitos. Ele guarda cada pedacinho dela na sua mente, tocando nas bochechas, carnudas, como as dele. Eu tenho pena dele. Foi difícil demais crescer sem pai, imagino como é para ele, sem pai nem mãe.

A noite chega logo e as histórias repetidas que eu conto para ele parecem novas. Jay se agarra a cada palavra como se elas fossem a nossa mãe. Chega a hora de ir dormir e eu levo Jay para o seu quarto e fico vendo ele dormir um pouco.

Nos fins de semana, é permitido ficar até um pouco mais tarde acordado, desde que não passe duas horas do toque de recolher. Eu fico olhando Jay. Ele me lembra muito a minha mãe e eu sinto falta dela. Nos fins de semana eu sempre vou para a cama chorando, com saudade dela e com pena dele. E de mim.

O sábado amanhece chuvoso, com um frio que eu detesto! Hoje eu não tenho nada para fazer e não posso ficar com Jay, ele precisa de contato com gente da idade dele e durante as manhãs de sábado e domingo ele é todo dos amiguinhos. Então, eu tento estudar alguma coisa, minhas notas não são das melhores, mas não adianta, graças à dislexia. Eu poderia usar a internet, mas é muito difícil eles deixarem alguém usar.

Lentamente, a manhã vira tarde e eu finalmente posso encontrar Jay. Estava quase chegando na “creche” do orfanato quando o anúncio foi feito:

– Por favor, todas as meninas entre doze e dezesseis anos venham para o salão principal. Venham bem vestidas, uma família quer adotar três adolescentes. Estejam aqui até uma hora e meia.

Eu sempre faço o máximo para não ser adotada. Quase do mesmo jeito que eu faço o máximo para que ninguém adote Jay. A diferença é que raramente alguém quer me adotar.

É quase uma hora e eu tenho que ir me arrumar. Então, dou meia volta e subo os dois lances de escada para o meu quarto, meu e de outra menina de 16 anos que não fala com ninguém. Visto um vestido preto simples e uma sapatilha nude com um detalhe de laço em cima. Não uso maquiagem, nunca uso. Passo um perfume bastante doce, a maioria das pessoas detesta.

Depois saio do quarto. São pouco mais de uma e meia e eu chego no pátio. Algumas já foram chamadas para conversar com os futuros pais. Faltam nove meninas, incluindo eu.

Espero cerca de meia hora até que me chamam. Estou nervosa, apesar de já ter feito isso antes. Entro na sala recém reformada e tem um casal do outro lado da mesa que eu devo sentar. A mulher é loira, com os olhos castanhos e o homem é alto e gordo e usa uma cartola que parece ter saído do século passado. Eles têm por volta de trinta anos.

– Boa tarde. Nós somos Elius e Jacqueline – diz o homem, estendendo a mão para me cumprimentar.

– Melissa – me apresento rudemente, respondendo à mão estendida do homem.

– Melissa – repete a mulher. – Nós vamos fazer algumas perguntas e você precisa falar a verdade, tudo bem?

Balanço minha cabeça, afirmando, sem saber ao certo o que eu estou fazendo, como se concordar fosse minha única opção.

– Então, como você chegou aqui? – pergunta a mulher da voz aguda.

– Minha mãe morreu quando meu irmão nasceu e eu nunca conheci nem meu pai nem o pai dele e não tenho mais ninguém – respondo quase hipnotizada.

– Com quem você veio?

– Não lembro. Talvez um antigo advogado do meu avô. Faz tempo e eu estava confusa.

– Seu irmão tem quantos anos?

– Quatro.

– O que você pretende do seu futuro? A verdade, certo?

– Certo. Pretendo fazer dezoito anos sem ser adotada para poder recuperar o dinheiro da minha mãe e tirar meu irmão daqui.

– A quanto tempo você mora aqui?

– Desde que meu irmão nasceu. Quatro anos.

– Tem alguém que te perturba aqui?

– Não – menti. Não tem para que dizer toda a verdade e eu não me sinto mais tão hipnotizada como antes.

– A verdade, lembra.

– Tem, uma garota de 15 anos, Olivia.

– Tudo bem, é só isso que a gente quer – diz o homem.

Eles saem da sala e me deixam lá. Eu volto para o pátio e depois de uma hora, eles dizem quem decidiram adotar.

– Julia Drew – uma garota de 12 anos, morena, que é tão sociável quanto eu, volta à sala. – Olivia Peterson – Olivia a segue. – E Melissa Campbell. Venham conhecer seus novos pais.


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