A Filha Perdida escrita por ACL


Capítulo 19
A despedida


Notas iniciais do capítulo

Não tenho nenhuma responsabilidade com a versão do Tio Rick sobre a história descrita em "O Diário de Luke" até porque eu nem li essa história...
Eu só adaptei para o que seria melhor para a minha história e como eu imagino...
Enfim, aproveitem.



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Passamos mais algumas horas juntos no lago, abraçados (e dando alguns amassos, morrendo de medo de sermos pegos. Mas, já dizia o poeta: tudo o que é proibido é mais gostoso). Queria que tivesse durado uma eternidade, mas infelizmente o toque de recolher soou tivemos que ir dormir. Jake me acompanhou até a porta do meu chalé, que fica bem em frente ao dele. Ele me beijou antes de eu entrar, vermelha. Austin estava lá e me olhou com reprovação, mas eu não pude fazer nada, estou apaixonada. Ele me disse que não gostava de me ver andando por aí até tarde da noite com Jake e eu disse a ele para aceitar, já que agora estamos namorando.

Naquela noite, eu dormi melhor que em qualquer noite na minha vida.


– Mas Quíron, ele é meu irmão mais novo!

– Desculpe-me, Missy, mas não posso fazer nada. Regras são regras e eu não posso mudá-las.

Reviro meus olhos. Droga! Não estou pedindo nada demais, é só uma ligação para Jayme. Só para avisar que estou indo buscá-lo e que ele é, assim como eu, um semideus. Só para ouvir a voz aguda do menininho de quatro anos que eu amo mais que qualquer outra pessoa.

Quíron olha para mim eu vejo a fita de tristeza, que lembra os semideuses mortos que ele treinou. Eles parecem mais pesados e as rugas ao redor dos olhos ficam mais marcadas, fazendo-o parecer um pouco mais velho. Imagino o quão triste deve ser treinar séculos de heróis para dar a eles um tempo maior na Terra, se, de qualquer forma, eles vão morrer e Quíron vai permanecer vivo.

– As atividades de monstros aumentaram nas redondezas do orfanato – ele diz depois de um tempo, a voz um pouco embargada. – Algumas equipes de segurança foram mandadas para proteger o lugar e eu preferia que semideuses despreparados não fossem para lá.

Meu coração parou de bater por um segundo e agora bate desesperadamente. Meu rosto forma uma expressão totalmente apavorada e Quíron viu isso.

– Acalme-se – ordena ele, mas a voz é tranquilizadora, não autoritária. – Isso não quer dizer que você não vá para lá. Só que você precisa ser cautelosa. E é por cautela que não posso te deixar fazer essa ligação. Agora, vá se preparar para sair na missão.

Tenho vontade de quebrar tudo e descontar toda a raiva que estou sentindo no centauro de três mil anos, mas não faço isso. Eu apenas saio sem falar nada, com aparência tranquila. Aparência.


Eu e Jake deveríamos ter saído do acampamento ontem (dia da conversa com Quíron), mas um imprevisto mudou nossos planos. A mais ou menos chegada de três semideuses e um sátiro foi bem conturbada. Estão dizendo que uma delas é filha de Zeus e dizem até que uma das crianças se transformou em árvore! Como é boa a imaginação do pessoal aqui.

Eu não vi nada do alvoroço, já era noite e eu estava dormindo. Fui dormir assim que soube que nossa viagem não poderia ser ontem, de tão cansada que estava, psicologicamente, de tudo isso.

A mochila está pronta desde ontem, então, tudo o que eu faço agora é tomar banho e vestir um short jeans, a famosa camisa do acampamento e um tênis. Saio do banheiro coletivo e muito nojento feminino e vou para o chalé com a toalha no cabelo.

Vejo duas garotinhas andando pelo acampamento. Uma delas é minha quase irmã Silena. A outra é uma menininha muito bonita. Seus cabelos longos, loiros e cacheados me lembram uma princesa (mesmo que digam que princesas tinham o cabelo liso). Seus olhos cinzas são lindos (mesmo não sendo azuis, como são os das princesas)! Ela seria capaz de trucidar qualquer pessoa com o olhar, desde que não fosse o olhar apavorado que ela mostra agora.

Dou um abraço forte em Silena e afago a cabeça da outra garotinha e pergunto:

– Quem é essa princesinha?

– Ah, é campista nova – Silena responde. – Chegou ontem.

Dou um olhar de “entendi” para ela. Ela é uma das meninas da chegada conturbada que me impediu de ir buscar meu irmãozinho ontem. Eu sabia que eram crianças, mas quando falam crianças eu imagino pré adolescentes de doze anos. A menina tem bem menos de dez.

Sorrio para a menininha e a abraço também.

– E a princesinha tem nome?

– Annabeth – responde a garotinha, com uma voz grave para uma menina daquele tamanho.

– É um nome muito bonito.

– Obrigada.

– Atena? – pergunto a Silena, me referindo à qual é o parente olimpiano de Annabeth.

– Não sabemos ainda, mas ela tem as características, né?

Afirmo com a cabeça. Annabeth e Silena se despedem e saem e eu vou para o meu chalé. Pego minha mochila e dou tchau para meus irmãos. Olho bem para o chalé, me despedindo dele também.

Me encontro com Jake na casa grande. Estou armada com uma adaga, a que eu fabriquei e uma espada encantada para se transformar em uma miniatura de espada, que eu uso de broche e basta tirá-la da camisa para ela se tornar uma espada normal. Treinei com ela uns dias atrás e eu acho que não é a melhor opção para mim, mas tudo bem. Uma espada ruim é melhor que espada nenhuma.

– Onde está Kyle?

Pois é, ele vai conosco. Jake o chamou para ser o terceiro membro da missão.

– Na van.

Ele me beija e nós descemos a colina de mãos dadas.

É estranho, tem um pinheiro na fronteira entre o acampamento e o mundo mortal. E parece que a fronteira mágica está fortalecida.

– Então, a garota se transformou mesmo numa árvore? – pergunto para Jake.

– Bizarro, né? – Ele meio que responde. – Parece que a garota é filha de Zeus, mataram-na. O velho apiedou-se e transformou a menina num pinheiro. Um pinheiro! Muito estranho.

– Estranho mesmo – concordo.

Quando terminamos a descida, vejo uma figura masculina nos esperando ao lado da van da empresa de morangos que é o acampamento para os mortais.

– Missy – diz a voz muito conhecida de um garoto. Ela não é grave como a de Jake e nem de longe tão sexy quanto. Mas é uma voz que eu amo tanto ouvir quanto a de Jake, principalmente de uns dias para cá.

– Elius! – digo seu nome num grito agudo e corro para abraçá-lo.

Ele devolve meu abraço e eu me sinto segura e tranquila como não sinto há dias. Um calor gostoso percorre meu corpo. Não é o calor que eu sinto quando Jake me beija. É um calor mais familiar. Como o que eu sinto quando ouço a voz de Jay. É um calor que me faz ter certeza de que Elius sempre será meu e eu sempre serei dele, mesmo que como apenas amigos.

– Elius, seu idiota – continuo, ainda com a voz alta. – Como você faz uma coisa dessas comigo? NÃO. ME. IGNORE. MAIS. – a cada palavra dou um tapa nele.

– Melissa, acalme-se.

Respiro fundo. Tudo bem. Estou calma.

– Eu às vezes faço isso. Fico tão triste que não quero falar com ninguém, nem mesmo com você. Me desculpe por isso.

– Eu entendo. Eu fico assim também, mas não imaginei que fosse durar tanto tempo com você, né! Ai, Elius. Você é um idiota com I maiúsculo! Pensava que não queria mais falar comigo... Nunca mais!

– Missy, Missy, Missy, claro que não! Ah, posso pedir um...

Jake pigarreia. Droga, Elius me fez esquecer que meu namorado estava aqui. Fico vermelha ao perceber isso, mas logo me desculpo para mim mesma, dizendo que Elius é o meu melhor amigo e eu estava morrendo de saudade dele.

Elius revira os olhos e eu sinto o clima esquentar completamente. Decido intervir, antes que uma briga séria comece.

– Jake, meu amor, me espere na van. Vou para lá num segundo, só preciso falar um pouco com Elius – sorrio no final, para dar um ar de simpatia ao pedido. Preciso de muita simpatia para pedir isso.

– Não acho uma boa ideia, Mel.

– Por favor.

Posso ver que ele não está nada satisfeito em me deixar sozinha com Elius, mas ele sai mesmo assim. Só que ele me beija antes de sair e eu vejo que Elius ficou completamente desconfortável.

– Então, é verdade. Vocês dois estão namorando.

– Elius, desculpe. Você sabe que o coração fala mais alto. Eu amo o Jake.

– Eu sei. Bom, não há nada que eu possa fazer a não ser desejar que você seja feliz.

– Obrigada.

Não falamos nada por um tempo grande e eu até penso em ir para o carro, mas encontro a coisa certa para dizer para quebrar o silêncio.

– Então, o que você ia pedir?

A expressão de Elius muda totalmente do triste para o animado, mas eu ainda vejo uma sombra nos olhos dele.

– Ah! Não me chame de Elius. Sei lá, parece tão errado agora que você sabe a verdade. Além de que eu me sinto um velho de noventa anos quando me chamam de Elius.

– O que tem a ver?

– Sei lá. Eu me sinto assim.

Afirmo com a cabeça, rindo.

– Certo então, Eliott.

Ficamos em silêncio por mais um momento constrangedor, mas dessa vez, Elius... quer dizer, Eliott abre e fecha a boca, pensando no que vai dizer.

– Eliu... – começo, mas ele me olha com um olhar reprovador e eu mudo a palavra no final – ott. Eliott, se você tem alguma coisa a mais para dizer, por favor, diga logo. Eu preciso ir.

– Ah. Missão. Fiquei sabendo que seu irmão é um semideus.

– Pois é.

– Coitado.

– É.– Na verdade, eu só queria isso mesmo, me desculpar com você. Você me desculpa por eu ter agido como um idiota?

– Não há nada para desculpar, Eliu... Eliott. Você só estava triste. Droga, vou demorar a me acostumar a te chamar de Eliott.

– Não tem problema, desde que você me chame assim.

– Quero que você leve isso. – Ele me dá um broche em formato de lira.

Sorrio. Como eu queria não sair agora. Não estou dizendo que não quero ir buscar meu irmão, é só que eu quero demorar um pouco mais aqui, falando com Elius.

Eliott.

– Desculpa, Eliott. Preciso ir.

– Ah, claro. A missão. Bom, boa sorte.

Ele me abraça e eu agradeço. Retribuo o abraço, bem forte, como se eu fosse uma criança e um adulto me desafiasse a abraçar mais forte. Esse abraço faz eu me sentir em casa e eu quero levar essa sensação comigo.

Viro para ir para a van, mas Elius segura minha mão, me impedindo.

– Eu te amo, Missy. Não esqueça disso, tá?

Balanço a cabeça, sem conseguir dizer que sim. Não consigo dizer que o amo também. Sinto que se eu não sair dali agora, vou começar a chorar e eu não quero chorar na frente de Eli...ott. Na frente de Eliott.

Entro na van quase sem sequer olhar para ele. Lanço apenas um olhar de canto de olho e vejo que ele está olhando para mim.

Fecho a porta e Argus, o motorista do acampamento dá a partida. Kyle olha para mim com profunda pena e eu murmuro um oi para ele. Jake me abraça e eu choro em seus braços. Ele me pede desculpas por ter agido como um idiota, mas ele só estava com ciúmes. Tudo bem, é o que eu digo.

Mas não está nada bem. Eu não estou nada bem. Estou despedaçada por magoar o meu melhor amigo. Magoar Elius me magoa também.


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Notas finais do capítulo

Desculpa a imensidão do capítulo, mas sei lá... amei tanto escrevê-lo que nem percebi o quão enorme ele ficou...
E vcs, o que acharam?



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